Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Vanuatu. Foto A.A.Bispo ©

Vanuatu. Foto A.A.Bispo ©

Vanuatu. Foto A.A.Bispo ©

Instrumentos de Vanuatu

Instrumentos de Vanuatu

Instrumentos de Vanuatu

Vanuatu-Indonesia

Vanuatu-Indonesia

Vanuatu-Indonesia

Vanuatu-Indonesia

Vanuatu-Indonesia

Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 136/24 (2012:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2884


A.B.E.


O Workshop Angklung Vanuatu-Indonésia
e as dimensões internacionais de uma cultura musical do bambú

Vanuatu e Brasil na Etnomusicologia e no estudo de processos músico-culturais em contextos globais

Nasonal Miusium Blong Vanuatu

Ciclo de estudos Rio 92-Sydney 2012 da A.B.E. no Pacífico Sul. Port Vila, Vanuatu

 
Vanuatu-Indonesia
Após 20 anos do Congresso Internacional realizado no Rio de Janeiro, motivado pela passagem dos 500 anos do Descobrimento da América e dedicado a questões de fundamentos da cultura musical e das bases teóricas da própria pesquisa específica, decidiu-se reconsiderar alguns aspectos então discutidos à luz dos trabalhos das décadas posteriores em diferentes regiões do mundo, entre elas também na Oceania (Vide Tema em Debate, nesta edição: http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Australia-Melanesia-Brasil.html).

O congresso de 1992 tratou de questões que, na distribuição convencional dos estudos musicológicos, cabe sobretudo à área designada de Etnomusicologia. Assim, nele se iniciou um projeto de levantamento de conhecimentos e de atualização de perspectivas das culturas indígenas.

Entretanto, a concepção da Etnomusicologia que orientou os trabalhos inseriu-se na tradição de inovação teórico-cultural dessa área de estudos que remonta à introdução da disciplina no início da década de 70 no Brasil.

Comemorava-se, em 1992, os 20 anos do redirecionamento da Etnomusicologia e da própria musicologia em geral segundo critérios científico-culturais, iniciativa que partiu pioneiramente do Brasil. Em 2012, comemora-se a passagem dos 40 anos da introdução dessa área disciplinar nos estudos superiores do Brasil e de sua reorientação culturológica.

A introdução desse ramo de estudos na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo foi precedida e acompanhada por reflexões sôbre o seu conceito, objeto de estudo e metodologia, em particular no concernente às suas relações com a História da Música e o ramo de estudos do Folclore e da pesquisa da Música Popular.

Essa orientação teórico-cultural inovativa, nascida das condições e do contexto brasileiro, tem sido apenas nas últimas décadas, após muitos anos de discussão até mesmo polêmicas com pesquisadores estabelecidos nos Estados Unidos e na Europa, em geral aceita, assimilada e imitada. Independentemente dessas rêdes paralelas, o desenvolvimento das reflexões teve continuidade até o presente, sendo os impulsos, perspectivas e o direcionamento teórico constantemente atualizados a partir de perspectivas que se abrem em diferentes contextos.

A Oceania na Etnomusicologia e na Musicologia de direcionamento teóríco-cultural

Entre os complexos temáticos que demonstram a exigência de aprofundamento, diferenciação e atualização encontra-se aquele da pesquisa musical que focaliza a Oceânia. Essa região do globo foi considerada no Brasil já no início da década de 70 no âmbito da unidade semestral dedicada ao Pacífico, quando, porém, os estudos apenas puderam basear-se na limitada bibliografia disponível.

Esses estudos tiveram prosseguimento no âmbito internacional com o trabalho desenvolvido pelo editor desta revista no departamento de Etnomusicologia de instituto da organização pontifícia de pesquisas musicais a partir de 1977, contando-se para isso com a colaboração de pesquisadores da região, representados sobretudo pelo Prof. Dr. Andrew  McCredie da Universidade de Adelaide, Austrália.

No âmbito dos estudos de processos culturais e de estudos culturais em relações internacionais desenvolvidos pela A.B.E. e pelo I.S.M.P.S., a consideração de questões que relacionam o Brasil com a Oceânia teve lugar em cursos e seminários, tais como aqueles da série "Música no Encontro de Culturas" realizados em universidades alemãs.

Em ciclos de estudos promovidos no Pacífico e no Índico, esses trabalhos puderam ser atualizados sob vários aspectos (Vide textos em números anteriores desta revista, e.o.http://www.revista.brasil-europa.eu/126/Havai-Portugal-Brasil.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/125/Musica_do_Tahiti.html).

Entretanto, os diferentes países que alcançaram a sua emancipação política nas últimas décadas e o desenvolvimento de regiões que se encontram em processo ainda aberto de decisão a respeito de sua situação política impõem considerações mais especificadas contextualmente, que atentem não apenas a desenvolvimentos globais ou regionais oceânicos, mas sim também às singularidades dos respectivos contextos político-culturais.

Instrumentos Vanuatu/Indonesia. Foto A.A.Bispo ©

Significado de Vanuatu para os estudos musicais

Vanuatu - o arquipélago conhecido no passado como Novas Hébridas - merece, entre as ilhas da Oceânia, uma atenção especial por diferentes razões. Uma delas reside nas características especiais da sua história colonial, marcada que foi pela forma singular do Condomínio francês e inglês, o que o faz participar mais intensamente das duas esferas políticas e culturais européias que determinaram a colonização e a missionação dessa parte do mundo. Ainda que emancipado, o país participa de ambos os contextos e culturas do saber sob o ponto de vista de relações globais.

Um fator que salienta o significado de Vanuatu para os estudos culturais voltados a relações internacionais é o fato de abrigar uma universidade de estudos do Pacífico, centro de formação e de pesquisas de estudantes vindos das inúmeras ilhas da região.(Veja artigo a respeito, nesta edição) Para Portugal e o Brasil, não é sem significado o fato de uma das ilhas do arquipélago, Espirito Santo, ter sido descoberta por um português (Veja  http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Oceania-Descobrimento-Portugues.html)

O complexo processo de identidade nacional das muitas ilhas do arquipélago, das quais as mais conhecidas são Espírito Santo, Malekula, Pentecoste, Aoba, Maewo, Ambrim, Tana e Efate, manifesta-se também no significado de estruturas tribais em esferas político-administrativas, fato que se evidencia pela Casa dos Chefes que se levanta em área privilegiada da capital Port Vila, à frente do Parlamento, tendo a seu lado o Museu Nacional.

Essa Casa é marcada de forma emblemática por um (assim-chamado) tambor de fenda de extraordinárias dimensões que se levanta à sua frente. Esse instrumento, que surge como talvez o mais importante pelo seu conteúdo simbólico das culturas musicais da Melanésia, indica pela sua configuração antropomórfica o sentido músico-antropológico que deve ser percebido e estudado no edifício das concepções relativas ao mundo e ao homem de seus povos. Empregado em todo o arquipélago em diferentes dimensões e modos de execução representa um dos principais elementos da unidade dos povos de Vanuatu. As dimensões desse instrumento à frente da Casa dos Chefes da acrópole de Port Vila podem ser avaliadas comparando-as com as do observador que se coloque a seu lado.

Vanuatu merece, devido ao papel desempenhado pelas comunidades e culturas nativas, especial atenção por parte de estudos voltados a nações indígenas no continente americano e que constatam movimentos de reconscientização histórica, de reconstrução cultural e de definição de uma situação diferenciada dentro de unidades nacionais, como nos EUA (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Estereotipos-Panindigenismo.html).

Os kanaks e o Patrimônio Cultural da Humanidade - terreiro de dança sôbre tumba do rei

A valorização da cultura nativa na criação da identidade nacional de Vanuatu se manifesta no fato de se ter proposto, em 2006, três sítios para serem reconhecidos como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

A justificativa da proposta residiu no fato de que essas áreas desempenham importante papel na narrativa legendária ou na história mítica do Chefe Rei Mata: a ilha de Eretoka, local de enterramento desse rei, a aldeia história de Mangaas, a sua moradia ou farea, abandonada após a sua morte em respeito à sua memória, e a gruta de Feles, onde teria dado o seu último suspiro e onde se encontram exemplos de arte rupestre, algumas delas datando de ca. 3000 anos.

Essa narrativa oral relacionada com a morte e o enterro do Chefe Rei Mata, que se supõe ter quatro séculos, fala da morte desse chefe juntamente com um número de outros e suas esposas, sendo o local de sepultura tabuizado.

Após a sua morte, ter-se-ia realizado uma cerimônia durante cem dias, sendo o local de sepultamento tratado para tornar-se local de dança. Após esses cem dias, o segundo nível da tumba recebeu os restos de ca. 50 outros membros do clan. Estes teriam tomado uma forte bebida (kave) relaxante antes de terem sido mortos. Por fim, uma das mulheres foi enterrada viva, tendo braços e pernas amarradas, provavelmente aquela que jaz aos pés do Rei Mata.


Museu Nacional de Vanuatu - papel da música

O Museu Nacional de Vanuatu oferece-se como instituição de particular significado para estudos etnomusicológicos, em particular organológicos. A música, instrumentos musicais e a dança ocupam importante posição nos documentos e objetos expostos.

Quanto aos objetos expostos e às informações transmitidas, o museu procura documentar principais aspectos da cultura musical das antigas ilhas das Novas Hébridas e da própria história da pesquisa. Apresenta, assim, antigas fotos, entre elas de mulheres Matantas da Big Bay, Espírito Santo, de 1895, de arquivos da coleção Phara, como a da Dança da Serpente de Banks. Salienta-se, aqui a riqueza de instrumentos musicais da ilha de Ambrim, entre êles a flauta de bambu e o tantam, exemplificada numa fotografia que mostra quatro homens tocando flautas de bambu.

A coleção inclui também fotografias tiradas por pesquisadores mais recentes, como K. Müller em Ambrim, em 1970 ou da publicação de Ronald van de Platt, de 1984 (Ronald van de Platt, This is Vanuatu: people, customs & art. Sydney: Braynart 1984).


Revelando música e expressões culturais indígenas

De particular interesse relativamente ao movimento cultural mais recente é a documentação do III Festival Nacional das Artes em Port Vila, realizado em novembro de 2009. As fotografias apresentadas registram, por exemplo um "concerto de tantam" no qual se vê um tambor de fenda deitado horizontalmente no chão, com cabeça esculpida, no qual a parte da fenda é percutida por dois jovens sentados, provenientes da ilha Akham (Malakula). Essa forma de disposição horizontal do tambor de fenda é própria nas ilhas de Malakula e Ambrim.

O exemplar perante a Casa dos Chefes representa a disposição vertical do instrumento, encontrada também no sul e que tem também uma face esculpida na sua parte superior. Na forma de caixa, esse tipo de execução pode ser constatado em outras ilhas da Oceania, por exemplo na Nova Caledonia. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Dialogo-Brasil-Ilhas-Lealdade.html)

No Museu Nacional de Port Vila conservam-se numerosos exemplares verticais e horizontais do assim-chamado tambor de fenda, de diversos tamanhos. Ali se apresentam registros do seu uso em ritos mortuários de Malekula, demonstrando as possibilidades que oferecem para a realização de complexas configurações rítmicas.

O exemplar perante a Casa dos Chefes traz à lembrança o uso desse instrumento em funções cerimoniais e para o anúncio de assembléias e de eventos, também como porta-voz de mensagens e declarações. Em algumas situações de aldeias missionadas, chega a substituir o sino nas suas múltiplas funções.

O Museu oferece também registro fotográfico de um ato de significado para as relações interinsulares da Oceania e para a solidariedade supra-nacional na valorização da cultura dos Kanaks: o da cerimônia de entrega do pássaro esculpido Nambaal e da imagem masculina Herenene à delegação do ADCK (Kanak Cultural Development Agency) pelos chefes de Vao aos representantes do Centro Cultural Jean Marie Tjibaou em Noumea, Nova Caledonia, a 11 de fevereiro de 1997.

Danças, organização social, visões do mundo e artes

As relações entre as danças e a organização social, espacial e mesmo a estruturação das concepções cósmicas das culturas insulares são elucidadas no museu a partir da participação distinta de grupos masculinos e femininos.

Os homens constituem nas danças o grupo central, compacto, circundado por grupos menores daqueles que aspiram a maior prestígio. As mulheres, em grupos pequenos, dançam ao redor da assembléia central. Os movimentos se caracterizam ou pelo dançar no próprio lugar ou por movimentos de avanço e recuo, podendo também realizar voltas ao redor do grupo central. Assim como os homens, e deles separadas, giram em sentido anti-horário.

Essas danças se realizam sobretudo à noite, em pequenas clareiras destinadas ao dançar de grandes ou pequenos grupos, dependendo das condições locais. No centro do espaço se situam os tocadores de tambores e os cantores; o acompanhamento e feito ou pelo entrechoque de canas de bambú ou pelo bater das mesmas no chão. Resumindo o resultado de pesquisas mais aprofundadas, o museu salienta que apenas as danças realizadas durante o dia incluem imitações do conteúdo dos cantos. Esses movimentos, de cunho simbólico, são realizados por todo o grupo ou por apenas dois dançantes de particular destreza.

Devido à inserção da música no edifício global de concepções e de visões do mundo e do homem, dança e canto relacionam-se também estreitamente com as cerimônias, das quais as principais são o Namangi e o secreto Naluan, assim como com as artes, em particular com a plástica.

As esculturas para os ritos Namangi são feitas em geral em tronco de uma árvore específica, cujos nós são cortados. A superfície é alisada com terra, com uma camada protetora de sumo da árvore-pão. As pinturas são efetuadas com tintas minerais que possibilitam as cores amarelo, vermelho ocre, vermelho terra e branco terra; o prêto é obtido de charcoal pulverizado. Essas esculturas de tronco apresentam similaridades com aquelas de pedra, exemplificadas no museu pelo grande tambor da ilha de Ambrim e da parte sudeste de Malekula. A face de grandes dimensões desse instrumento apresenta um perfil côncava. Em figurações circundantes, surge o motivo mais frequentemente encontrado no arquipélago, o do losango que envolve uma face.

No litoral sul de Malekula,  a morte é representada por figuras com corpo de tronco, recebendo uma pasta de folhas de bananas decompostas. As partes da imagem são cobertas com uma pasta feita de liana, fibra de madeira e látex. No topo da imagem é colocada uma caveira do morto, tratada com pasta. Essas técnicas de feitura da face humana se refletem na estrutura, parte importante das máscaras e de coberturas  de cabeça rituais, muitos deles desempenhando papel fundamental nas cerimônias secretas do Naluan.

Um dos cocares mais expressivos apresentados dos grandes acervos do museu é o Davas da ilha de Mota, onde surge na cerimônia Subwe. Somente a pessoa que acompanha os demais no ingerir 18 tipos de comida tabuizada tem o direito de executar uma dança usando esse atributo.

Instrumentos tradicionais e a valorização de instrumentos de bambú

Entre os instrumentos expostos, salientam-se aqueles feitos de conchas de triton baeng, nas quais uma das pontas é cortada, formando bocal pelo qual se sopra (Pupu). O instrumento é usado como sinal para a reunião de pessoas para um encontro, uma cerimônia ou para noticiar um falecimento. Significativamente, essas conchas são também usadas como sinais para marcar uma sepultura. Pequenas conchas são usadas também em feixes como idiofones, presos aos tornozelos daqueles que dançam.

O significado reconhecido nesses instrumentos para a cultura kanak manifesta-se no seu uso em encenações no museu ao ar livre ou aldeia cultural de Ekasup, Vanuatu (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Floresta-e-museu.html). Ali, os visitantes são conduzidos pela floresta ao som de um tocador de concha, enquanto passam a ser observados e seguidos por guerreiros por entre as árvores. (Veja fotos: http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Indice_136.htm)

O Museu apresenta também várias flautas, mencionando-se aqui uma flauta dupla de Ambrim, também encontrada nas ilhas de Pentecostes e Ambae (paobleblao), assim como um tipo de flauta feito de duas secções internodais de bambu, com duas embocaduras.

Esse tipo de flauta, que hoje apenas homens de mais idade sabem tocar, apenas tem sido constatado nas citadas ilhas componentes do arquipélago de Vanuatu.

Outras flautas apresentadas, hoje raras em Vanuatu, são aquelas tocadas lateralmente de Toman, Malakula, designada como neinveui, com a embocadura num dos lados e dois orifícios. Entre outros instrumentos, salientam-se as flautas-Pã e o arco musical.

A flauta-Pã, muito difundida no passado, pode ser encontrada na forma de instrumentos com o grande número de 10  tubos, de regiões mais afastadas da ilha Espírito Santo. Pelas possibilidades que oferece, sobretudo em texturas a varias vozes, esse instrumento é alvo de especial interesse na atualidade.

Com a valorização da flauta-Pã, estabelece-se uma certa proximidade com a músical latino-americana de conotações indígenas, sobretudo àquela dos países andinos. Torna-se aqui possível retomar a discussão a respeito do uso da flauta Pã, seu significado e técnica construtiva realizado no Amazonas em paralelos com Vanuatu sob a perspectiva de questionamentos teóricos mais recentes. (Veja A.A.Bispo, "Zur Situation der Forschung in den einzelnen brasilianischen Bundesstaaten: Amazonas", in "Die Musikkulturen der Indianer Brasiliens: Stand und Aufgaben der Forschung 3", Die Musikkulturen der Indianer Brasiliens III, Jahrbuch 1998/99, Rom/Siegburg 2000, 9-44, 43)

Entre os instrumentos que apresentam maior singularidade organológica salienta-se o temes naainggol, encontrado em Ambrim e Malekula: vasos de madeira são usados como bojos de ressonância nos quais se inserem alternadamente um tubo de cana que é soprado.


Revelando relações internacionais: Indonesia-Vanuatu

No espaço do museu, entre os objetos expostos, criou-se um auditório para apresentações musicais. A presença de grande número de instrumentos novos, construídos segundo modêlos ou impulsos tradicionais demonstra o intuito de diálogo cultural criativo no contexto da prática musical e composicional da atualidade.

Trata-se aqui da música de conjuntos marcados por instrumentos de bambús que denotam elos com a tradição e inovações. Esta são evidenciadas pelo uso da afinação e da escala ocidental e no refinamento artesanal e ténico. O repertórío inclui cantos considerados como folclóricos e peças da música popular internacional.


Esses instrumentos, usados no Workshop de Angklung Indonesia-Vanuatu, vêm de encontro ai tradições do instrumentário de bambús difundido na Melanésia, tanto relativamente a instrumentos de percussão como de sopro. Poder-se-ia dizer que relacionam o princípio da flauta pã ao do tubo de percussão, indicando também claramente impulsos recebidos de xilofones ocidentais.


O observador surpreende-se sobretudo com a complexidade construtiva e a qualidade artesanal de feitura dos instrumentos, apesar da simplicidade dos materiais empregados. Essa complexidade se manifesta antes nos instrumentos que apresentam bambus verticais.

Nos conjuntos desses instrumentos, constata-se uma distribuição de funções; para a execução da melodia, do baixo e das vozes intermediárias, ocorrendo também canto e acompanhamento de violão.


Surge como produtivo, nesse fenômeno do relacionamento entre os conjuntos de bambú da Melanésia e a tradição musical da Indonésia tecer-se paralelos com a marimba na América Latina e no Caribe, seus significados e os processos culturais em que se inserem.


Grupo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "O Workshop Angklung Vanuatu-Indonésiae as dimensões internacionais de uma cultura musical do bambu. Vanuatu e Brasil na Etnomusicologia e no estudo de processos músico-culturais em contextos globais". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 136/24 (2012:2). http://www.revista.brasil-europa.eu/136/Etnomusicologia-Vanuatu-Brasil.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.