Historismo e ecletismo: Sião. Revista BRASIL-EUROPA 135/8. Bispo, A.A. (Ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Chakri Maha Prasad

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Fotos A.A.Bispo

Coluna: quatro superiores -Palácio Real
inferiores: Wat Benchamabopitr
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 135/8 (2012:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2849


Academia Brasil-Europa


Retomada de continuidades e re-composições na arquitetura e nas artes
Refletindo sobre o Historismo e Ecletismo em contextos internacionais: o exemplo do Sião



Ciclo de estudos Tailândia/Brasil da A.B.E..Chakri Maha Prasad e Wat Benchamabopitr

 

Constata-se nas últimas décadas, em várias cidades do mundo, uma revalorização de edifícios de fins do século XIX e primeira metade do XX que até um passado relativamente recente, sob a alegação de ecletismo, haviam sido desqualificados no seu valor estético e histórico-cultural. A demolição de muitos desses edifícios descaracterizou a fisionomia de muitas cidades, inclusive do Brasil, e é hoje reconhecida como ato lamentável de destruição de patrimônio cultural.

Assim como essas ações demolidoras no passado, o tratamento revalorizador que esses edifícios passam hoje a receber influenciam imagens, memórias e identidades urbanas. A mudança na apreciação e na consideração de valor dessas construções pode ser vista, em si, como fenômeno que merece atenção nos estudos culturais.

A superação ou relativação dos imperativos desqualificadores resultantes do predicado eclético não significa necessariamente perda de critérios de apreciação estética e artística. Significa antes uma transformação no olhar a realidade construida, e a observação dessa transformação passa a constituir objeto da atenção.

Tudo indica que, de uma atitude antes de julgamento apodítico e de declaratória perante o construído tenha-se acentuado o momento da leitura, da procura de compreensão de contextos nos quais as construções se inseriram e das transformações de sentido que se processaram com o decorrer do tempo. Essa transformação corresponderia a uma reorientação de natureza teórico-cultural do considerar obras edificadas, o que traz consequências para o pensamento teórico-arquitetônico e, mais à frente, ao projeto.

Essas dimensões de uma atitude dirigida ao ler o edificado apenas podem ser alcançadas se a apreciação não se resumir a uma fruição passiva, mas sim se for acompanhada conscientemente por reflexões daquele que observa, assim como sobre a sua posição e os critérios adequados a ser empregados na leitura e na análise.

Nesse intuito, o observador se compenetra da insuficiência de conceitos por demais genéricos que, tais como etiquetas, parece terem sido principais fatores de julgamentos indiferenciados do passado. Entre esses conceitos de conotação negativa podem ser mencionados o do ecletismo e do historismo. Em ambos os casos, ainda que com diferentes acepções e significados, manifesta-se a necessidade de esforços de maior diferenciação.

Diferenciação de significado das referências historicistas e exóticas segundo contextos

O neo-românico, o neo-gótico, o neo-renascentista, o neo-barroco e outras denominações que não deixam de despertar associações pouco positivas não podem ser considerados apenas como designações de expressões arbitrárias e gratuitas de misturas e modismos irrefletidos, substituíveis entre si, sem maiores diferenças. Devem ser analisados nas suas inserções com movimentos e tendências do pensamento, como indícios de posições relativamente ao passado e ao presente, nas suas implicações político-culturais e mesmo religiosas e filosóficas.

Essa necessidade de maior diferenciação na leitura do edificado diz respeito não apenas à questão da compreensão da história, às relações entre o passado e o presente, mas também ao europeu e ao não-europeu.

A nova atenção ao exotismo nos estudos histórico-culturais relativos ao século XIX na Europa, conduzidos em geral sob o conceito da alteralidade, aguça a consciência para a necessidade de questionamentos e análises mais sensíveis. O indianismo não pode ser subsumido sem maiores cuidados sob o mesmo título que o orientalismo. Este - como aquele - apresenta diferentes faces, tanto relativamente às suas referenciações histórico- e geográfico-culturais quanto ao contexto em que teve a sua expressões. O neo-mourisco não pode ser igualado a expressões que se orientaram mais pelo antigo Egito, pelo Oriente Próximo ou pelo Extremo Oriente. Edificações de referências orientais levantadas na França, na Inglaterra ou na Alemanha possuiram outros pressupostos culturais e despertavam outras associações e levavam a outros efeitos de acordo com os diferentes contextos, sobretudo daqueles derivados de relações coloniais.

O mesmo deve ser considerado relativamente à recepção de estilos de diferentes épocas e regiões em países extra-europeus. Se a arquitetura mourisca na França deve ser considerada sob diferentes ângulos de visão da recepção do neo-mourisco francês na própria Espanha, mais ainda exige ser tratada distintamente daquela neo-mourisca de palácios ou de mesquitas do Oriente.

Trata-se de uma questão de conservação do patrimônio arquitetônico e da própria consciência histórica de mutias nações reconsiderar-se, sob novas perspectivas, edificações que revelam estreitas relações internacionais. Sobretudo em regiões que se encontravam ainda sob a administração colonial européia, a questão da discussão de critérios adequados para a reinterpretação de edificações adquire hoje atualidade.

A inserção dessa arquitetura em situações político-culturais passadas não pode mais levar a furores iconoclastas, mas impõe - para a própria conservação do patrimônio - a sua aceitação refletida como parte da experiência histórica da respectiva nação. O estudo da recepção das diferentes expressões do historismo europeu nas regiões extra-européias e ainda mais das singulares repercussões do Orientalismo no Ocidente nos países orientais abre portas para análises de processos culturais em contextos globais, também de significado para auto-estudos das nações envolvidas.

Reconsiderações do Historismo em função de diferentes relações com o passado

O núcleo real de Bangkog, Rattanakosin, apresenta uma singularidade de implantação urbana que já havia caracterizado a antiga capital do Sião Ayutthaya: a do fato de ser edificada numa ilha artificial, definida por um lado pelo rio Chao Phraya e por outro separada da terra firme por um canal (Khlong Lord).

Naarisaranuwatiwongse
Essa configuração tem sido vista sobretudo como expressão de uma necessidade de defesa, tal como aquela dos fossos de castelos medievais europeus. Entretanto, há uma dimensão simbólica que nem sempre é suficientemente considerada e que diz respeito à terra firme, ao sêco que se eleva das águas. Esse sentido da implantação urbana da cidade real de Bangkok relaciona-se com o intuito de ali fazer ressurgir o antigo Sião poderoso e de antigas tradições de Ayutthaya. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Portugueses-no-Siao.html) Essa vontade reconstrutora no novo local tem implicações para a consideração das relações do então presente com o passado, pois nela a memória desempenhou necessariamente importante papel. Não tanto a continuidade histórica a ser entendida linearmente, mas sobretudo o reatamento de uma continuidade cultural a partir da memória e da tradição determinou o ressurgimento do antigo Sião em Bangkok. Edifícios foram reconstruídos segundo os antigos moldes e mesmo materiais foram em parte trazidos das antigas ruínas, e o esplendor que se constata nas construções indicam que ressurgiram em maior brilho, em forma renovada e idealizada de originais.
Edifício de mais alto sentido simbólico e religioso nesse reatamento de continuidade com um passado remoto é o Wat Phra Kaeo, o templo do Buda de Esmeralda, a imagem mais venerada da Tailândia, O templo é dedicado ao cumprimento dos deveres religiosos do monarca, nele não vivendo monges. Foi construído em 1782 por Rama I segundo o modêlo do templo real do grande palácio em Ayutthaya. A imagem, de apenas 75 cm de altura, de jade, encontra-se sobre um altar dourado, de 11 metros de altura, sob um aparador de 9 degraus. É ladeada por bolas de cristal que representam o sol e a lua. No início de cada estação, o rei muda a vestimenta da imagen: no verão uma tunica dourada, com diamantes, à época das chuvas um traje azul, bordado a ouro, nos meses frios um manto de ouro. Nas paredes ao redor de um pátio interno vêem-se cenas do Ramayana na sua versão tailandesa. Cada cena é elucidada em placas de mármore. Essas pinturas foram realizadas sob Rama III (1824-1850).

A singularidade da história do Sião, marcada por uma cisão e por um ressurgimento em retomada do passado, traz à consciência a necessidade e o significado de reflexões mais diferenciadas da questão do Historismo.

No Ocidente, o Historismo do século XIX também é manifestação de uma intensificação da memória e revalorização do passado, expressão de um movimento de Restauração e, nas suas dimensões mais profundas, de impulsos de Recatolização e reconscientização de uma Europa cristã medieval, de Romantismo e de valorização de tradições distantes no tempo e no espaço, abrindo aqui portas ao fascínio pelo exótico. Edificaram-se, assim, com intenções reconstrutoras mas de forma idealizada, igrejas e edifícios (neo-) góticos, por vezes quase que mais perfeitos e representativos do que construções medievais.

A história da Tailândia sugere aqui singulares paralelos, como se até mesmo precedesse de algumas décadas o impulso de reconscientização do passado e de revalorização de tradições. Sob esse aspecto, a cidade real de Bangkok surge não tanto como monumento de vetustas origens, mas sim como obras de retomada do passado que o fazem ressurgir quase que romanticamente com maior esplendor, o que explica o fascínio e o encanto lendário que delas emanam.

Nessa interpretação, um impulso comparável àquele designado como Historismo no Ocidente não seria desconhecido no Sião. Seria, assim como o europeu, marcado pela memória do próprio passado, auxiliado por estudos de fontes históricas e tradições. Com a intensificação do processo internacionalizador no decorrer do século XIX, deu-se também no Sião, a recepção de correntes do pensamento e das artes ocidentais, entre elas daquelas de orientação historista. Considerando-se a abertura dos reis siameses à aceitação de conhecimentos e às relações exteriores em espírito de amizade (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Amizade-Siao-USA.html), assim como os seus intentos de auto-afirmação e representação, compreende-se a adoção de correntes estéticas da Europa.

Poder-se-ia dizer que, dada a tendência de reatamento do próprio passado, a assimilação de correntes que manifestavam elos com expressões históricas teria correspondido ao modo de pensar do Sião. Entretanto, o passado a que os impulsos estilísticos europeus remontavam não era aquele do Sião. Assim, se houve paralelos quanto ao princípio de referenciação da arquitetura e das artes pelo passado, surgiu uma dualidade de referenciações histórico-culturais no decorrer do processo internacionalizador.

Estudo de caso: Chakri Maha Prasad


O exemplo mais significativo da assimilação de correntes arquitetônicas e artísticas da Europa de meados do século XIX no Sião é o Chakri Maha Prasad, construido por motivo do Centenário da dinastia Chakri, sob o govêrno de Rama V (1868-1910), edifício magnificente com sala de audiências e de recepções reais.

O edifício foi projetado por um arquiteto inglês em estilo Renascença. Indica, assim, os elos culturais do Sião com o mundo cultural inglês, aqui representado por uma corrente determinada do pensamento arquitetônico e que apenas pode ser compreendida nas suas conotações a partir do contexto britânico. No complexo das edificações da cidade real, com os seus templos e palácios que retomam modêlos de Ayutthaya, o palácio em estilo renascentista, que com êles compete em magnificência e brilho, documenta a mudança de referenciais histórico-culturais com o passado.

Os problemas que aqui se levantam foram percebidos pelos próprios siameses. As críticas feitas à estética ocidental do edifício levou a que o mesmo fosse coroado com um telhado e torres agudas de estilo tailandês. Sob a torre central, encontram-se urnas douradas com as cinzas de soberanos da dinastia, nas torres laterais as urnas dos seus príncipes. O palácio europeu foi, assim, subsumido sob uma arquitetura de conotações culturais do país, integrado no complexo cultural de sua própria tradição, tal como essa, no passado, amalgamara em si diferentes influências. Para o observador ocidental, o edifício surge como expressão insólita de ecletismo, de mistura de arquitetura siamesa e européia, o que, entretanto, não corresponde a uma leitura mais sensível.


As salas de recepção do Grande Palácio adquirem particular significado sob o aspecto dos estudos culturais nas relações internacionais. De grande magnificiência, a consideração desses espaços pressupõe o conhecimento do extraordinário papel concedido à diplomacia e à diplomacia social e cultural no Sião. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Schomburgk-em-Bangkok.html).

Significativo é o fato da sala apresentar-se como galeria de arte, cujo centro, num de seus lados, é o trono real ladeado por grandes dentes de marfim. Separadas por colunas de mármore com capitéis coríntios, as paredes são divididas em arcadas formando espaços que comportam respectivamente a uma grande pintura a óleo de um soberano em molduras barrocas. À frente de cada coluna se encontra um pedestal com bustos de soberanos estrangeiros, muitos dos quais foram conhecidos pessoalmente por Rama V° durante as suas viagens. Digno de menção é a presença de reis portugueses nessa série de representações de soberanos.

À frente do Dusit Maha Prasad encontra-se uma construção que é considerada como o mais belo pavilhão da Tailândia, o Arporn Phimok Prasad. Foi construído à altura da maca do rei, de modo que este podia ali descer comodamente do seu elefante, antes de dirigir-se à sala das audiências. Rama V. mandou que se construisse um similar na sua residência de verão em Ayutthaya.

Do lado esquerdo do Chakri Maha Prasa, um portão leva ao edifício das mulheres e a um jardim com fontes e pequenos pavilhões. Com exceção do rei, homens não podiam penetrar nesses recintos de um harem que foi o maior do mundo e que era guardado por mulheres armadas. Ao norte da área feminina encontra-se a sala Borom-Phiman. Foi construida segundo modêlos franceses para residência de Rama VI, então príncipe real.


Estudo de caso: Wat Benchamabopitr


Um outro monumento arquitetônico que merece particular consideração sob a perspectiva de processos internacionalizadores e da questão do historismo e exotismo em contextos extra-europeus é o Wat Benchamabopitr. Trata-se de uma obra da passagem do século XIX ao XX, iniciada em 1899 pelo rei Rama V, cujas cinzas se encontram no altar. Também aqui percebe-se o intuito de retomada de continuidade, uma vez que o edifício foi projetado para substituir um convento mais antigo, situado em outro local, onded o rei na sua juventude havia feito a sua reclusão, e cujo nome foi conservado para designar o novo edifício.

O seu arquiteto, o príncipe Narisaranuwatiwongse, ousou nesse edifício relacionar concepções estéticas de diferentes proveniências sem, porém, prejudicar a identificação da obra com a tradição do Sião. Se observadores europeus perceberam que os antigos monumentos de Bangkok haviam sido muitas vezes com materiais modestos, empregou-se nesse edifício mármore de Carrara, importado da Itália, o que levou a que se tornasse conhecido como templo de mármore.

O edifício apresenta também referências à cultura chinesa, sobretudo nos telhados e nos grandes leões de mármore que ladeiam a porta principal. A internacionalidade não diz respeito apenas às relações arquitetônicas estabelecidas mas apresenta dimensões religiosas expressas numa galeria com 53 imagens de Buda que representam as diferentes correntes do Budismo siamês e também de muitos outros países do Oriente.

Singularidade do processo (re-)criador no Sião e internacionalização

Observadores europeus registraram já no século XIX a dinâmica combinatória de elementos e impulsos na arquitetura e em expressões culturais do Sião. Perceberam a existência de um processo (re-)criador com características singulares, no qual não apenas a continuidade do passado era mantida, mas sim continuamente renovada, sendo o repertório tradicional de expressões apto a incluir elementos novos, também ocidentais.

Essas observações foram difundidas na Europa em publicações de divulgação popular de conhecimentos. Como exemplo pode ser citado um artigo de Georg Wegener publicado em coletânea de viagens pelo globo, no qual também o Brasil se encontra representado. (Georg Wegener, "Aus dem buntesten Asien", Rund um die Erde: Moderne Weltreisen. Expeditionen und Entdeckungsreisen in das Innere unerforschter Gebiete in populärer Darstellung, ed. Theodor Andersehen, Berlin: W. Herlet, s/d, 369 ss.)

Nesse texto, o autor trata do "estranho mundo" de Bangkok, repleto de maravilhas. O maior impacto que a êle causou dos exóticos aspectos da cidade foi não aquele de restos já mortos de um tempo passado, mas sim a sua vitalidade, e que Wegener atribui à força vital de sua essência.

Se em Bangkok e nas suas circunvizinhanças havia templos em ruínas em grande quantidade, a seu lado surgiam outros, novos, porém, com as mesmas formas:

"(...) novas colunas se levantam, novas agulhas Dagoba, novas pinturas murais, brilhantes e coloridas, repletas de figuras cobrem as paredes. Tudo no estilo antigo e tão vitalmente à procura de novas formas de expressão que até procuram reproduzir de forma artístico-realista a aparência externa do europeu que lhes é estranho. Ao lado dos velhos guardiães de templos de faces felinas de pedra pode-se ver também figuras enormes com casacas e cartolas." (loc.cit.)

Para Wegener, a pintura no Sião encontrava-se em alto grau de desenvolvimento, o que se manifestava na riqueza de cenas de paisagens, na plenitude e vitalidade das figuras, no brilho e na força das cores. Algo, porém, chamou-lhe a atenção, a ausência de representações eróticas.

"Na arte siamesa misturam-se claramente elementos brâmanes e budistas, ambos provenientes da Índia. O elemento sensual é extraordinariamente forte sobretudo na arte indo-bramânica, até mesmo cenas altamente lascivas são representadas em esculturas de templos da India com uma liberdade que, sem se ter visto, não se poderia crer como possível. Mas também nos conventos dos monges budistas que visitei no Himalaia encontrei - ainda que não tão rudemente sensiual como na India, mas antes místico-simbólico - a maravilha da força reprodutora da natureza glorificada em figuras e imagens. A arte dos siameses, ao contrário, que tão ricamente se manifesta e que é tão rica em objetos, é, segundo os nossos critérios, decente, não como expressão de uma estética inimiga da natureza, como em muitos casos a arte da nossa Idade Média, mas pelo que parece de uma ingenuidade completamente natural e óbvia. As minhas observações, certamente, apesar de toda a minha atenção, podem tem apenas um caráter superficial; aqui, porém, reside sem dúvida um problema de interesse demopsicológico." (pág. 394)

Para o autor, dificilmente haveria na Ásia de sua época uma região com expressões ainda tão originais, pouco conhecidas e vida própria que exercia fascínio também para a Europa como o Sião. Entretanto, como em todo o lugar na Ásia, também ali tudo se encontrava em rápido processo de transformação que levaria à destruição do singular a favor da "lamentavelmente grande cultura mundial européia com a sua uniformidade prosaica".

O Sião, com a sua reduzida população e com a sua incapacidade material de resistência, não poderia resistir a esse processo uniformizador. Por essa razão, seria desejável que pesquisadores eruditos e bem formados artisticamente ali trabalhassem, antes que fosse tarde demais. Wagner não podia imaginar que houvesse uma outra parte do globo que tivesse maior necessidade de artistas e cientistas que ali trabalhassem. No Sião haveria uma obra de alto valor para a Humanidade a ser realizada. (pág. 395)

Grupo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo




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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Retomada de continuidades e re-composições na arquitetura e nas artes. Refletindo sobre o Historismo e Ecletismo em contextos internacionais: o exemplo do Sião.". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 135/8 (2012:1). http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Ecletismo-extra-europeu.html




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