Museu Franz Binder. BRASIL-EUROPA 134/25. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





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BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo

Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo

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Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo

Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo

Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo

Museu Franz Binder, Sibiu. Foto A.A.Bispo


Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/25 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2834


Academia Brasil-Europa

Instituições em visita

Muzeul de Etnografie Universala "Franz Binder"
Fundos patrimoniais de museus como objeto de estudos culturais:
coleções de povos extra-europeus à época austro-húngara da Transilvânia
Arthur Soterius von Sachsenheim (1852-1913)


Ciclo de estudos da A.B.E. na Romênia dedicado a questões de patrimônio cultural. Sibiu/Hermannstadt, 2011

 
Museu Franz Binder, Sibiu. Foto A.A.Bispo

Os estudos culturais voltado às relações entre nações, no caso a Romênia e o Brasil, exige colaborações entre pesquisadores e instituições. A visita de museus, bibliotecas e centros de pesquisas pode fomentar esse intercâmbio, estreitar laços humanos e científicos e possibilitar a observação direta do interesse que a cultura do próprio país vem despertando nos centros de estudos do outro país. Torna-se possível, assim, constatar desenvolvimentos, mudanças em diversas situações históricas e políticas e avaliar a imagem do país no Exterior de forma contextualizada numa determinada nação.


No caso do Brasil, uma atenção particular merecem instituições voltadas a culturas extra-européias, compreendidas no passado não apenas no sentido mais específico da etnografia ou etnologia, mas no sentido amplo de um "Conhecimento de Povos".


Museu Franz Binder, Sibiu. Foto A.A.Bispo
Com esse objetivo, visitou-se o Muzeul de Etnografie Universala Franz Binder, em Sibiu/Hermannstadt no âmbito dos trabalhos da A.B.E.. Esse museu se apresenta como o primeiro e único museu de etnografia extra-européia da Romênia. Foi fundado em 1993, pouco tempo depois do término do sistema autoritário comunista, representando assim a nova fase política então iniciada do país e das novas tendências do pensamento e da cultura.


O museu "Franz Binder" faz parte do complexo museal nacional ASTRA de Sibiu (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/ASTRA.html) e é instalado no centro dessa principal cidade da região de Siebenbürgen. Situa-se nas proximidades de outros museus locais, o da História Farmacêutica, o da "Casa Luxemburguesa" e o da Torre do Conselho, esta destinada a abrigar uma "Exposição Permanente da História da Civilização Sibiana". Encontra-se instalado na casa da antiga Associação de Artesanato que, após ter sido usada para diferentes funções, foi restaurada em 1989.


A presença desse museu no âmbito do complexo museal ASTRA contribui de forma significativa para fortalecer a imagem de Sibiu/Hermannstadt como cidade que empresta particular atenção à cultura. Essa imagem vem sendo cultivada desde a sua nomeação a "Capital da Cultura Européia 2007", fato que marcou duradouramente a identidade da cidade.


Sibiu, Romenia. Foto A.A.Bispo


Interesse pelos povos extra-europeus em Siebenbürgen à época áustro-húngara


Os materiais apresentados no Muzeul de Etnografie Universala "Franz Binder" são muito mais antigos do que a recente fundação e sua imagem atual como o principal museu do gênero da Romênia. Os fundos remontam em grande parte ao século XIX e os empreendimentos que a êles levaram necessitam ser compreendidos no contexto histórico de uma época na qual a região da Transilvânia (Siebenbürgen) ainda não fazia parte do reino da Romênia surgido da união do Moldau com a a Valáquia. Apenas em 1918 a região da Transilvânia passou a fazer parte do território romeno.


Desde 1848, a Transilvânia inseria-se no campo de tensões austro-húngaro; os anelos húngaros eram os da reintegração da região na Hungria, fundamentando-se em razões históricas de remotas origens medievais. Havia sido um rei húngaro que fomentara a colonização da região por alemães na Idade Média (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Minoria-Educacao.html). Entretanto, com o apoio russo, a Áustria conseguiu manter a integridade do Império.


Em 1866, a região perdeu direitos seculares de auto-administração, unindo-se à Hungria; assim, a Transilvânia passou a integrar a parte húngara da Dupla Monarquia. Gozando de autonomia em assuntos internos, a Hungria deu início a um processo de intensa magiarização. Os saxões-siebenburgueses da Transilvânia, de língua alemã, procuraram resistir a esse processo, acentuando para isso a sua identidade através do cultivo do idioma alemão, da afirmação de sua confissão evangélica e do fomento de instituições culturais.


O papel relevante da cultura para Sibiu/Hermannstadt não é, assim, resultado de desenvolvimentos recentes, mas remonta a exigências de uma situação histórica experimentada pela população de ascendência alemã no século XIX. Foi, assim, resultado de processos de manutenção de identidade e de diferenciação perante a pressão de hungarização cultural e, de forma crescente, de romenização. Somente com a derrota do Império dos Habsburgs na Primeira Guerra Mundial é que a região foi entregue à Romênia, país que havia sido aliado dos vencedores.


Considerando-se esse quadro histórico aqui apenas esboçado, constata-se ser inadequado considerar-se o desenvolvimento dos estudos voltados às culturas do mundo na região da Transilvânia sob a perspectiva histórica de um país ao qual apenas posteriormente passou a pertencer.


Para os estudos euro-brasileiros, cumpre, assim, distinguir, no caso dos elos com o mundo extra-europeu, os contextos da Transilvânia daqueles que do reino da Romênia então constituído pelo Moldau e pela Valáquia.


Também no complexo romeno os elos com o Brasil relacionaram-se estreitamente com personalidades dedicadas aos estudos culturais. Inseriram-se, porém, em outro contexto da história da pesquisa, antes relacionados com a França e com o mundo ibérico. Do ponto de vista disciplinar, os elos romenos ou moldavio-valáquicos foram antes guiados por estudos dirigidos às tradições européias, ou seja ao folclore e à latinidade, tendo como mediadora a França (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Iasi.html).


Na consideração do contexto da Transilvânia (Siebenbürgen), diferentemente, os elos são antes com o mundo cultural alemão, em particular com a Áustria-Hungria, e possuem uma orientação dirigida mais marcantemente às culturas extra-européias ou, pelo menos, a outros contextos geo-políticos das relações entre a Europa e outros continentes.


A consideração da história cultural e dos interesses pelos estudos culturais da Transilvânia adquire significado para o Brasil sobretudo pelo fato do país possuir consideráveis parcelas populacionais de ascendência alemã. Cotejos com a situação de Siebenbürgen, e do papel nela desempenhado pela cultura em situação sentida como de risco quanto à identidade podem aguçar a sensibilidade para análises de desenvolvimentos no contexto brasileiro.


Inserção na Dupla Monarquia e no contexto da Europa de língua alemã


O desenvolvimento dos estudos voltados ao conhecimento de povos na região de Siebenbürgen na segunda metade do século XIX correspondeu a tendências da Europa Central de língua alemã e, em particular, aos elos comerciais internacionais da Áustria-Hungria que, com o seu porto de Trieste, também era potência marítima. Foi fundamentalmente resultado de viagens e estadias em países distantes, ou seja, vinculou-se estreitamente com a história das viagens, do intercâmbio comercial e das atividades diplomáticas.


Os primórdios do interesse pelo conhecimento de outros povos na região de antiga colonização alemã da atual Romênia relaciona-se, assim, com o estudo histórico da navegação e do papel desempenhado por viajantes que observaram a natureza e os modos de vida dos países visitados, realizando coleções.


Essas atividades colecionadoras eram em geral não-especializadas, ou seja, esses viajantes traziam para a Europa objetos vários, históricos, arqueológicos, etnográficos, documentos das mais diversas proveniências, sendo as coleções marcadas por heterogeneidade. Esse fato, considerado até pouco tempo como deficiência proveniente de amadorismo, surge, sob novas perspectivas, como de especial interesse para estudos contextualizados da época e das circunstâncias das coleções.


Pressuposto para tal valorização, porém, é que a atenção não se dirija apenas aos objetos colecionados e conservados, mas sim e sobretudo aos próprios colecionadores, a seus motivos, a suas atividades e às concepções que orientaram as suas ações. Trata-se, assim, antes de um interesse dirigido à cultura do observador, à história da história, à história cultural da história do interesse cultural.


Os responsáveis pelo museu "Franz Binder" são conscientes que esse significado não se reduz àquele de documentar a curiosidade pelo exótico do século XIX, como visto de forma desvalorizante no passado recente. Salientam que os materiais coletados constituem documentos da história cultural das viagens como forma de obtenção de conhecimentos e de motivação de reflexões. Assumem não apenas significado como representativos de uma fase do desenvolvimento da Etnologia, como também sob o aspecto das reflexões mais recentes dos estudos de processos culturais em contextos globais.


Os materiais que consistuem o fundo principal do Muzeul de Etnografie Universala "Franz Binder" dizem respeito sobretudo à África e à Ásia. O acervo que hoje faz de Sibiu/Hermannstadt centro significativo para estudos etnológicos diz respeito em primeiro lugar à história cultural africana e ao interesse pela África na Europa. 


Peru no Museu Franz Binder, Sibiu
Franz Binder (1824-1875), comerciantes , navegadores e diplomatas da Áustria-Hungria


O principal doador das coleções do museu que hoje leva o seu nome foi um mercador que, entre 1852 e 1861, atuou na África, no Egito e, posteriormente, no Sudão. Em 1857, tornou-se vice-cônsul do Império Áustro-Húngaro na capital sudanesa. Durante esse período, coletou ca. de 500 objetos, na sua maior parte provenientes de grupos nilóticos. Após o seu retorno, em 1862, doou-os a uma sociedade que então se instituira em Sibiu/Hermannstadt.


Se a atividade colecionadora de Franz Binder foi resultado de seus interesses comerciais e das atividades resultantes a serviço do Império Austro-Húngaro na África, outros viajantes que tomaram parte da tripulação de navios da Dupla Monarquia doaram materiais provenientes de outras regiões do mundo visitadas.


Um nome a ser salientado é o de Hermann von Hannenheim, que, no início do século XX, durante estadia como cônsul austro-húngaro no Egito, adquiriu objetos e, sobretudo, a múmia com
sarcófago e uma peça de mais de 2000 anos que hoje constituem os principais tesouros do museu de Sibiu/Hermannstadt.


Médicos viajantes e interesse por Ciências Naturais em Siebenbürgen


Alguns desses viajantes possuiam formação superior, sobretudo os médicos que atendiam às tripulações. Este foi o caso de Andreas Breckner (1844-1890), que atuou em viagens da corveta "Fasana". Tendo estado, entre 1871 e 1873, na China, no Japão, na Tailândia, Indonésia, em Sri Lanka e na Índia, trouxe de suas viagens objetos que hoje enriquecem o acervo do Museu.


Entre aqueles de formação científico-natural mais específica deve-se considerar Carl Friedrich Jickeli (1850-1925), que participou, em 1870/71, de uma expedição à Etiópia. Ao
retornar, ocupou o cargo de presidente da Sociedade Ardeleana de Ciências Naturais, onde se distinguiu como biólogo e filósofo natural (u.a. Arnold Müller, "Dr. Carl F. Jickeli, der Biologe und Naurphilosoph", Klingsor 2, 1925, 186-190). Entre as suas obras, salienta-se aquela dedicada a aracnídios do Egito e da Abissínia (Ludwig Koch e Carl Friedrich Jickeli, Aegyptische und Abyssinische Arachniden: gesammelt von Herrn C. Jickeli, Bauer & Raspe 1875).


Constata-se, pelos programas do Ginásio de Harmannstadt, um grande interesse por questões científico-naturais em Siebenbürgen. Um documento dos estudos ali desenvolvidos é um artigo a respeito dos besouros de Siebenbürgen de Karl Fuß, professor do Ginásio, iniciado em 1857 ("Die Käfer Siebenbürgens", Programm des Gymnasiums A.C. zu Hermannstadt und der mit demselben verbundenen Lehranstalten für das Schuljahr 1857/8, ed. J. Schneider, Hermannstadt 1858)


Franz Binder e outros doadores de materiais ao museu de Hermannstadt devem ser considerados no rol de viajantes austríácos que, hoje esquecidos, contribuiram, no século XIX ao aumento de conhecimentos de culturas extra-européías na Europa Central de língua alemã. Um dos mais destacados desses autores foi Josef Lehnert, tenente de navios de linha da Marinha de Guerra da Áustria-Hungria que, em 1878, publicou o seu "Ao redor do mundo", esboços de viagem de cirumnavegação realizada pela corveta "Arquiduque Friedrich" nos anos de 1874, 1875 e 1876. (Josef Lehnert, Um die Erde. Reiseskizze, Viena: Alfred Hölder, 1878)


Arthur Soterius von Sachsenheim (1852-1913) e objetos do Brasil


Sob a perspectiva dos estudos euro-brasileiros, cumpre considerar mais especialmente Arthur Soterius von Sachsenheim, a quem remontam objetos relativos ao Brasil no Muzeul de Etnografie Universala de Sibiu/Hermannstadt.


Como Andreas Breckner, também realizou as suas viagens como médico de navios. Com interesses culturais múltiplos, aproveitou o fato de poder percorrer várias regiões do mundo para fazer coleções que, mais tarde, em 1896/97, doou à Sociedade de Ciências Naturais de Hermannstadt. Os seus objetos provém de vários países asiáticos, entre êles da China, do território de Hong Kong, da India e de Sri Lanka, da África, sobretudo de regiões do Leste Africano mas também das Ilhas do Cabo Verde, da Turquia, da Noruega e do continente americano.


Nascido na Hungria, em Békéscsaba, filho de um oficial, teve a sua formação ginasial em Mediasch, realizando estudos universitários, entre 1870 e 1877, em Viena, Graz, Berlin e Würzburg. Adquiriu, ao lado de seus estudos de medicina, que terminou com o doutoramento, em 1881, conhecimentos em diferentes esferas do saber em importantes centros da vida intelectual e cultural européia.


Correspondendo à tradição familiar, a sua carreira médica desenvolveu-se no meio militar. Realizou um curso de medicina militar em Viena e, em 1882, praticou no hospital da guarnição de Trieste, portão cosmopolita dos elos da Áustria-Hungria com o mundo extra-europeu.


A partir de 1883, passou a exercer as funções de médico do vapor "Minerva" do Lloyd austro-húngaro, realizando várias viagens em diferentes regiões do mundo. Ao retornar, passou a praticar no meio romeno da região de Siebenbürgen. Tornou-se, em 1885, médico em Feldioara/Marienburg. Dando continuidade a suas atividades de médico de navios, atuou no vapor "Danzig" do Lloyd norte-alemão, entre 1895 e 1896.


Passando a praticar em Sibiu/Hermannstadt, participou de forma significativa da seção médica da Sociedade de Ciências Naturais. Doou a essa sociedade, em 1896/97, como mencionado, objetos provenientes de vários países. Foi médico "segundo", em 1898, e, a partir de 1904, "primeiro" médico no Hospital Franz-Joseph, onde fêz renome pelo seu empenho na atualização do tratamento médico e da formação profissional.  Digno de menção foi o seu interesse pela cultura física, explicável pela tradição militar em que se inseria, tornando-se um dos promotores da prática de esportes no Siebenbürgen e desempenhando o cargo de presidente do club de ciclistas local.


Apesar de suas atividades na Romênia, continuou a participar de viagens marítimas. Em 1906, viajou pelo Egito; em 1909, tomou parte, como médico, das viagens do vapor "Ultonia" a New York e, em 1911, no "Atlanta". Este, saindo de Trieste, passou por Patras, Algier e portos da Espanha em direção à Argentina. (Österreichisches Biographisches Lexikon 1815-1950, 12 (Lieferung 58, 2005), 432 ss.)



Outras regiões representadas no museu - "Fundo novo" e "fundo especial"


Ao lado de suas coleções relativas à África e da Ásia, o Muzeul de Etnografie Universala "Franz Binder" salienta-se pelos seus materiais procedentes da Austrália e Oceania. O acervo correspondente remonta às atividades de Gustav A. Schoppelt, geologista, que trabalhou na Austrália, em 1896, assim como também na Sibéria, em 1898, e na Guiana Holandesa, em 1902. Nessas estadias, realizou coleções diversificadas de objetos de interesse botânico, zoológico e etnográfico, aqui em particular da Austrália. Relativamente à esfera da Oceania, o museu conta sobretudo com materiais enviados por Karl Meliska, um pesquisador de Sydney que foi membro correspondente da Sociedade Ardeliana de Ciências Naturais.


O "fundo novo" do museu é constituído por doações e aquisições mais recentes. Entre elas salienta-se a coleção de Catalin e Violeta Rang. Como professor convidado pelo Zaire nos anos setenta, Catalin Rang coletou objetos da África Central, entre eles um conjunto de máscaras e objetos rituais.


O "fundo especial" do Museu, constituído por ca. de 450 peças, é constituido por presentes oferecidos por representantes de países não-europeus ao antigo Presidente da Romênia, entre 1965 e 1989. São peças artesanais, cujo principal interesse reside em documentar o que se considerou como digno de representar oficialmente nações no contexto das relações internacionais.


Contribuições de embaixadas - presença da América do Sul


Dos objetos de procedência mais recente, cumpre mencionar aqueles possibilitados por embaixadas de diferentes países no período posterior à mudança do regime e como resultados de intercâmbios. Assim, em 1993, o museu adquiriu uma coleção de brinquedos tradicionais japoneses como resultado de intercâmbio com o Museu de Brinquedos de Hyogo, em 1993. As doações de representações diplomáticas compreendem objetos considerados representativos para a imagem do país. Assim, a Embaixada da China em Bucareste, doou, em 1994, coleção de trajes característicos de minorias chinesas; em 2003 o museu recebeu doações da Embaixada da Indonésia.


Relativamente à América Latina, cumpre salientar a doação de ca. de 100 peças por parte da Embaixada do Equador e, sobretudo, a de trajes tradicionais peruanos por parte da Embaixada do Peru. Essa última doação, consistente de 25 trajes e 16 bonecas ou pares de bonecos, vindo de encontro ao particular interesse rumeno por trajes e brinquedos, possibilitou a realização de uma exposição, em 2008.


Nessa mostra, procurou-se demonstrar que os trajes tradicionais do Peru teriam sido resultado de interações de elementos do vestuário pré-hispânico com o europeu, salientando-se o papel desempenhado pelos trajes tradicionais para a identidade de comunidades em zonas rurais. Segundo a interpretação apresentada, as mulheres peruanas teriam transformado o "anacu", tradicional peça inca, nas conhecidas "polleras". As suas faldas, segundo a região negras ou adornadas com fitas coloridas, são combinadas com anáguas bordadas, brancas ou de cores. Exemplificado nas bonecas, mostrou-se aos rumenos que também no Peru o chale, de lã ou sêda, surge como um elemento importante do vestuário. Naturalmente, salientou-se o poncho, usado por cima de calças largas e de uma camisa. Segundo a interpretação dos responsáveis pela exposição a sua origem remontaria ao século XVII, parecendo ser uma variante do traje masculino "unku" dos indígenas.


Uma das preocupações dessa exposição foi a de expor diferenças regionais segundo 10 "zonas etnográficas" representadas pelas 16 bonecas. Salientou-se o significado dos trajes característicos no cultivo de danças tradicionais como a Marinera de regiões costeiras, na qual, correspondendo a seu cunho elegante, o algodão das vestes foi substituido por sêda. Também aqui, portanto, a representação diplomática do Peru veio de encontro ao interesse especial romeno, que se caracteriza por uma apreciação de expressões lúdicas e de dança do folclore associadas ao cultivo de trajes tradicionais de diferentes comunidades.



Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo






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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Muzeul de Etnografie Universala "Franz Binder". Fundos patrimoniais de museus como objeto de estudos culturais: coleções de povos extra-europeus à época austro-húngara da Transilvânia". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/25 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Museu-Franz-Binder.html



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  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.