UCLA-Los Angeles. BRASIL-EUROPA 129. Bispo, A.A. (Ed.). Organização de estudos culturais em relações internacionais





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 
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Guiomar Novais. Arquivo A.B.E.
Os estudos voltados à cultura nas relações Brasil-Estados Unidos-Europa não podem restringir-se à costa Leste, ao litoral atlântico da América do Norte e aos processos que daí partiram, ainda que aqui os elos transatlântico-interamericanos sejam mais evidentes.


A história cultural da costa do Pacífico dos Estados Unidos merece também particular atenção, sobretudo a partir da década de trinta do século XX.


A imigração de artistas e intelectuais judeus da Europa Central de língua alemã, fugidos do regime nacionalsocialista da Alemanha, marcou um período de extraordinário florescimento cultural e, em especial, musical.


O significado dos Estados Unidos na história cultural e da música em dimensões globais do século XX foi em grande parte determinado pela ação dessas personalidades. Pode-se citar, entre outros nomes, Arnold Schönberg (1874-1951), Thomas Mann (1875-1955), Lion Feuchtwanger (1884-1958), Alma Mahler-Werfe (1879-1964), Max Reinhardt (1873-1943), Alfred Döblin (1878-1957), Kurt Weil (1900-1950), Bruno Walter (1876-1962) e Erich Wolfgang Korngold (1897-1957).


Vários desses exilados passaram a residir na Califórnia. Trouxeram consigo experiências européias, deram ali continuidade a tendências e correntes, adaptando-as às circunstâncias e ao contexto cultural, transformando-as de acordo com as suas amargas experiências existenciais do passado e com as exigências da integração na nova sociedade, contribuindo, com o desenvolvimento que tiveram no novo contexto, à história cultural em nível internacional.


Processos identificatórios vivenciados desses intelectuais e artistas, resultantes da acomodação no novo ambiente e da necessidade de nele integrarem-se e projetarem-se fazem com que uma orientação teórico-cultural dos estudos musicológicos do século XX surja como uma exigência para o tratamento adequado do desenvolvimento histórico-musical no seu todo.


Concepções marcadas pela cultura judaica, em parte revitalizadas com a reconscientização étnico-religiosa forçada pelas medidas repressivas do nacionalsocialismo, exerceram influência na configuração da vida cultural americana, em particular da Califórnia, intensificando a já intensa vida marcada pela cultura hebraica nos Estados Unidos .


Pouco considerado é que, nesse contexto americano, - resultado portanto de processos político-culturais euro-americanos -, também o Brasil esteve presente, em especial através da pianista Guiomar Novaes (1895-1979).


O concerto que essa intérprete brasileira ali realizou, em 1937, se considerado adequadamente no seu contexto, adquire muito maior significado do que poderia sugerir numa primeira aproximação.


Inseriu-se numa já intensa vivência da pianista de círculos marcados pela cultura judaica nos Estados Unidos e preparou, pelos contatos realizados, desenvolvimentos futuros, também e sobretudo em outras regiões dos Estados Unidos, em particular em Nova York.


Esses elos podem ser estudados sob diferentes aspectos, sociais, político-culturais, de conformação de repertórios, do seu papel em concepções estéticas e outros. Assumem, naturalmente, particular interesse para os estudos culturais no âmbito de relações Brasil-Israel, contexto no qual também o compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959) desempenharia um papel não sem significado.


No sentido de examinar de forma contextualizada esses vínculos, realizou-se, em 2010, uma visita à University of California, Los Angeles. Essa visita efetuou-se dentro de um programa dedicado à consideração de elos transatlântico-interamericanos em universidades de projeção internacional, tendo sido algumas das instituições visitadas no Canadá e nos Estados Unidos tratadas em relatos no número anterior desta revista.(Veja artigo)


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University of California, Los Angeles - UCLA

A University of California, Los Angeles, localizada em Westwood, nas proximidades de Los Angeles, impressiona os seus visitantes pela sua privilegiada localização e pela monumentalidade e nobreza de seus edifícios históricos, dispostos paisagisticamente em área verde.


O seus edifícios mais antigos, em particular os mais vestustos da College Library, do Royce Hall, a Physichs-Biology-Building e a Chemistry Building, atualmente Powell Library, assim como a Humanities Building e o Haines Hall, que, juntamente com o famoso Royce Hall emolduram pictoricamente uma grande praça central, manifestam um acentuado cunho europeu.


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Criando um campus universitário que no seu cerne surge como mais europeu do que as áreas universitárias européias, o conjunto arquitetônico evidencia paradoxalmente a americanidade de uma instituição em região marcada por processos coloniais tardios e pela imigração.

O Royce Hall, o edifício mais famoso do conjunto arquitetônico, que traz o nome do pensador californiano Josiah Royce (1855-1916), formado em Berkeley, recapitula e reinterpreta, nada menos, do que a Basílica de Santo Ambrósio, de Milão!


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Apesar da historicidade que os seus edifícios originais transmitem, a universidade remonta ao período posterior à Primeira Guerra Mundial: em 1919, foi criado, na Vermont Avenue, Los Angeles, o campus sul da Universidade da Califórnia.

O vir-a-ser da universidade surge como uma gradual emancipação regional dessa universidade, em parte à revelia da instituição central, o que se manifestou em tensões com Berkeley. Somente em 1927 o campus adquiriu a designação sob a qual passou a ser conhecida a universidade, e somente em 1929 foram dados os primeiros cursos de gradução no atual campus. Apenas em 1933 obteve a instituição o direito de conceder o grau de master, e somente em 1936 o de doutorado.

Sob o ponto de vista musical, a música já esteve presente nas suas origens, em 1919, e a nova universidade já possuia, em 1929, uma considerável banda de música.

Em 1934, nela alcançou grau acadêmico o renomado crítico e musicógrafo Bruno David Ussher. A sua fase de apogeu, porém, teve início em 1936, quando se fundou a Philharmonia e quando, um ano depois, a presença de Arnold Schoenberg passou a fundamentar a projeção internacional do Departamento de Música. Nesse mesmo ano de 1937 inaugurou-se a primeira estação artística do Royce Hall com a participação do The Budapest String Quartet, The Los Angeles Philharmonic e de artistas de renome, entre êles dos cantores Marian Anderson (1897-1993) e John Charles Thomas (1891-1960).

O ano de 1937 representou, assim, um marco para a Universidade, merecendo uma particular atenção quanto à sua inserção no contexto geral da vida musical de Los Angeles.


A consideração dos acontecimentos que foram marcados pela vinda dos intelectuais e artistas fugidos das perseguições do regime nacionalsocialista alemão necessita partir dessa juventude de uma instituição que se manifestava, nas suas edificações, como expressão de uma continuidade da herança cultural européia.


Também sob o particular ponto de vista musical compreende-se à luz da juventude da instituição muito dos desenvolvimentos e das posições daqueles europeus que para ali vieram em consequência dos negros caminhos que a Alemanha tomava. A juventude da instituição associava-se a anelos de nobilitação histórica através de atitudes conservadoras. Testemunhos da impressão paradoxal que artistas e intelectuais europeus receberam ao se confrontarem com essa situação sul-californiana conhecem-se da maior personalidade da vida musical dessa época em Los Angeles: Otto Klemperer.


Otto Klemperer (1885-1973)

Ao vir para os Estados Unidos, Otto Klemperer trazia ao mesmo tempo sólida formação, profundos conhecimentos e experiências do repertório clássico e abertura e interesse para as mais avançadas correntes estéticas.

Estudara no Dr. Hoch's Konservatorium em Frankfurt a. M., instituição na qual também se haviam formado há décadas vários americanos de projeção, entre êles, Edward Mac Dowald e Percy Grainger (1882-1961) (Veja artigo). Ao lado da sua formação em piano com James Kwast (1852-1927) em Berlim, que também lecionara no Dr. Hoch's Konservatorium, estudara composição e regência com Hans Pfitzner (1869-1949). Pfitzner era uma personalidade imbuída de profundos sentimentos germânico-nacionais, da mais alta consciência de continuidade histórica e de tradição, que, radicalizando-se, chegou até mesmo a posições antisemitas.

Otto Klemperer foi substituto de Pfitzner em Strassburg à época da Primeira Guerra e, de 1917 a 1924, atuou como Diretor da Ópera de Colonia, cidade marcada pela sua cultura católica e tradicional. Nada mais poderia testemunhar a consciência de Otto Klemperer pelo patrimônio cultural e espiritual do Ocidente, na sua expressão alemã, do que o fato de ter-se convertido ao Catolicismo através da influência de um monge da tradicional Abadia de Maria Laach.

O vir-a-ser de Otto Klemperer foi assim marcado por esforços extraordinários de aceitação, integração, reconhecimento e ascensão social e artística na Alemanha segundo os mais elevados critérios de consciência do patrimônio cultural e espiritual do Ocidente.

Ao mesmo tempo, porém, como expressão dessa mesma inserção ema corrente histórica que sempre foi marcada pela sua dinâmica, dedicou-se à execução e ao fomento de obras do repertório contemporâneo.

Tendo sido Diretor Geral da Música de Wiesbaden, de 1924, a 1927, adquiriu projeção como intérprete de composições avançadas da época sobretudo como diretor da Krolloper, em Berlim. Também sse empenho por compositores vivos e expressões progressistas levaram a que fosse mal visto pelos radicais nacionalsocialistas de ideologia antisemita. Mesmo a sua inquestionável capacidade como um dos principais intérpretes do patrimônio clássico alemão não o poupou de perseguições por motivos racistas: as suas interpretações de obras alemãs foram criticadas como degermanizantes e decadentes.

Com a tomada de poder pelos nacionalsocialistas, em 1933, emigrando para os Estados Unidos, onde tornou-se regente da Los Angeles Philharmonic Orchestra, Otto Klemperer confrontou-se com uma situação que necessariamente deveria parecer-lhe paradoxal.


Encontrou uma atmosfera que, ao sol da California, na juventude de suas instituições, era marcada sobretudo por um interesse pelo patrimônio clássico europeu e pelo "ter" as suas obras e expressões.


Sob o pano de fundo de suas experiências na Alemanha, onde destacara-se como intérprete e promotor de obras contemporâneas, essa situação não poderia deixar de surgir como desconfortante, uma vez que passava a ser unilateralmente aceito sobretudo como exponente do cultivo do patrimônio cultural alemão.


Esse fascínio pela grande cultura musical européia dissoava também das possibilidades de execução locais, já de alto nível técnico, mas sem o lastro cultural correspondente. Precisou certamente constatar uma certa dissonância entre o anelo clássico e a música na vida do dia-a-dia, entre o fascínio pela forma e a informalidade de atitudes, pelo erudito e pela vivência mais intensa do popular de expressões até mesmo claramente comerciais.


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Singulares devem ter parecido a Otto Klemperer sobretudo aspectos organizativos da vida musical americana, entre outros o do significado do empenho privado, em particular de círculos femininos para a manutenção de orquestras e a realização de concertos.


Um desses círculos era o salão da senhora Joine Alderman. Nesse salão, representou-se, nas noites de 16 e 17 de fevereiro de 1937, uma pantomima britânica sobre "Aladim e a sua lanterna mágina", com uma matinée para crianças na tarde do dia 16, a favor da Los Angeles Philharmonic Orchestra, sob a sua direção.


Essa pantomima, apoiada por artistas de cinema e músicos, era  assistida por Ida Lupino e sua mãe, prominentes personalidades da vida social de Los Angeles. Em forma de comédia musical, em estilo satírico, alguns papéis foram desempenhados por membros do salão da Sra. Alderman, assim como outros voluntários.



Otto Klemperer, o "Ano Beethoven" de 1937 na Califórnia e a política de repertórios


Otto Klemperer trouxe consigo em especial o renome de ser um importante intérprete de Beethoven e uma autoridade no conhecimento da obra do compositor alemão. A administração da associação estava consciente que essa especialidade de Klemperer deveria ser aproveitada: "While we have Klemperer let us have Beethoven".



Este princípio explicava a razão pela qual, no ano de 1937, a orquestra de Los Angeles oferecia o ciclo completo dos concertos de L. van Beethoven. Esse ano devia, segundo os desejos de seus promotores, entrar na história da música da California como "Ano Beethoven".


O ciclo fora planejado para ser inaugurado no dia 30 de janeiro de 1937, com a Los Angeles Phlharmonic Orchestra. Com uma série de seis concertos, previam-se programas adicionais em fevereiro, março e abril.


O management da Southern California Symphony Association, convidando cinco artistas para solistas, colocava a condição de que todos fossem californianos -  testemunho do acentuado "patriotismo local".


Em primeiro lugar, apresentar-se-ia Olga Steeb, que já atuara diversas vezes com a orquestra. A ela seguir-se-iam Webster Aitken, Lilian Steuber, Edward Steuermann e Richard Buhlig. Juntamente com o quinto concerto seria executado o concerto para violino de Beethoven. Era a primeira vez na história do Oeste dos EUA que todos esses concertos eram oferecidos sob a direção de um único regente.


Durante o ciclo Beethoven, todas as nove sinfonias foram apresentadas. A nona sinfonia deveria encerrar, com os seus coros e solistasa estação de 1936/37 de forma triunfal.


A direção da Associação salientava publicamente que a primeira pessoa que havia comprado uma entrada para todo o ciclo de Beethoven de Southern California havia sido Sigmund Romberg (1887-1951), um compositor de origem austro-judia que gozava de grande popularidade pelas suas canções e óperas leves, entre outras The Desert Song e Blossom Time.


A política cultural da Southern California Symphony Association era não apenas a de aproveitar o renome e a capacidade de Otto Klemperer, como regente, mas sim como a de um Klemperer que, como diretor musical, cultivava um repertório de aceitação ampla e desenvolvia uma política musical que focalizava artistas de projeção internacional, chamando a atenção à cidade de Los Angeles.


Essa intenção pragmática, comercialmente dirigida ao alcance do sucesso material, não poderia, naturalmente satisfazer plenamente uma personalidade que se empenhara por expressões avançadas da estética contemporânea na Alemanha.


Guiomar Novaes sob Otto Klemperer em Los Angeles


Um evento de excepcional significado na história das relações culturais entre o Brasil e os Estados Unidos da década de 30 do século XX foi o concerto da The Philharmonic Orchestra do dia 21 de janeiro de 1937, uma quinta-feira, às 20:30 horas, repetido no dia 22 de janeiro, à tarde, às 14:30 horas, sob a direção de Otto Klemperer.


O centro das atenções desse programa foi a pianista brasileira Guiomar Novaes, solista do Concerto em fá menor opus 21 de F. Chopin, que abria a segunda parte. A programação incluia ainda obras de W. A. Mozart (Abertura The Abduction from the Harem); E. Bloch (Poema sinfônico Voice in the Wilderness) e, seguindo à execução da pianista brasileira, Richard Strauss (Poema sinfônico Till Eulenspiegels' Merry Pranks - Ather the Old-Fashioned Rogueish Manner, in Rondo Form, opus 28).



O contrato para a realização do concerto em Los Angeles fora assinado por Haensel & Jones, Division of Columbia Concerts Corporation of Columbia Broadcasting System, de Nova York, como agente da pianista brasileira, a 26 de outubro de 1936, e L. E. Behymer, como manager local em Los Angeles, California.


O contrato determinava a apresentação dos dois concertos, com um ensaio no dia 20 de janeiro, oferecendo à pianista, como honorário, 650 dólares, pagáveis em banco de Nova York por ordem da Columbia Concerts Corporation.


Os dois concertos pertenciam à 18a. saison da Southern California Symphony Association, correspondente aos anos de 1936 e 1937. Desde o fim da Primeira Guerra, essa associação já promovera 1270 concertos, sendo os da pianista brasileira os de números 1271 e 1272. A sua concepção cultural baseava-se na realização de "pares de concertos", um vespertino, de cunho mais formal, e um outro, - a sua repetição -, à tarde, de natureza mais popular, visando atingir camadas mais amplas da população.


A pianista brasileira foi apresentada ao público de Los Angeles com uma breve menção de sua formação e de que a sua interpretação do Concerto em fá menor de Chopin prometia ser inusualmente interessante. Salientava que a pianista havia, nos anos anteriores, dado concertos na Europa, mas agora retornava aos Estados Unidos, recebendo um bom acolhimento:


"Recent years have seen Novaes concertizing in Europe, but this season she comes back to America to find a royal welcome awaiting her"


Bruno David Ussher, a conotação feminina em Chopin e a feminilidade de Guiomar Novaes


Os comentários do programa estiveram a cargo do Dr. Bruno David Ussher, que recebera a sua formação no conservatório de Leipzig, na universidade dessa cidade e em Oxford. Estudara matérias musicológicas com grandes teóricos alemães, entre êles Arnold Schering (1877-1941), além de filosofia com Oswald Spengler (1880-1936). Encontrava-se, assim, pela sua origem judaica e pela solidez de sua formação alemã, em situação de tensões contraditórias similares à de Otto Klemperer. Havia emigrado, porém, muito antes, em 1910. À época do concerto, pertencia ao círculo de críticos do Herald Express e era conhecido pelos seus comentários do Holliwood Bowl.


No seu texto, de cunho romanceado de popularização de conhecimentos, salientou uma conotação feminina da música de Chopin e o fato da obra não ter sido executada tão frequentemente nos últimos anos. O concerto de Guiomar Novaes surgia, assim, como uma espécie de revalorização do mestre polonês, fato significativo no período de crescente tensão política dos anos anteriores à Guerra.


It was the age of romanticism in music and literature. Beethoven had not lived in vain, but his music was unknown as yet. It was the age of and for virtuoso performers and virtuoso composers. As far as the two piano concerti were concerned, the young Polish master wrote them to provide himself with program vehicles. Of course, they are more than ornamented music designed to show off dexterity. The Adagio - or Larghetto - is a tone-picture of his ideal feminine - just as Berlioz almost at the same time, poured his passion for a red-haired Irishwoman into his erratic Symphony Fantastique. A decade later Schumann chanted in symphony and song about Clara. Chopin required not the literary background of the German. (...) The ideal he admired so ardently was still a student at the Warsaw conservatory. (...)


As a composition, the F-minor concerto is readily followed, although it appears relatively rarely nowadays on concert programs, most soloists preferring to demonstrate that they can play heavier than the gentle Pole. Incidentaly, one wonders, why he did not appeal to the lovely Constantia by sending her songs of his own making. He might have won the lady, although the few compositions for voice by Chopin indicate that the vocal settings were not his metier. But, then, Constantia might have taught him.




Ernest Bloch (1880-1959) - Voice in the Wilderness - declaração profética ao mundo


Entre o grande número de primeiras audições da estação, salientou-se o Voice in the Wilderness, apresentado nesse concerto. Do compositor suíço Ernest Bloch, tambem judeu, então residente em Los Angeles, a partitura exigia orquestra e violoncello obbligato, este executado por Alexander Borisoff (1898-1983), originário de Odessa, também imigrado.


Os californianos apoiavam o suíço-americano Ernest Bloch, cujo renome havia sido estabelecido quando, a convite de Artie Mason Carter, grande promotora e arrecadadora de fundos para o Hollywood Bowl, regera o seu Three Jewish Poems em Hollywood. Foram repetidos por Walter Henry Rothwelln (1872-1927). 


Foi no Bowl de Holliwood e sob a ação de Artie Mason Carter que Los Angeles vivenciou a primeira apresentação do Concerto Grosso de Ernest Bloch. Da sua obra, apresentara-se também o trio e o quinteto e a sonata para viola. O rabino Edgar F. Magnin havia possibilitado que Los Angeles conhecesse a sua obra para o Sabbath Service.


Bloch's newest message then should prove a prophetic declaration to this community of music lovers, though his may be a Voice in the Wilderness in a tragically disturbed world at large.


A première em Los Angeles havia sido precedida por uma audição em Ney Sork, possibilitada por G. Schirmer Inc., dirigida por Dr. Carl Engel (1883-1944). Este salientara o cunho profético da obra, o seu caráter hebraico, a sua atmosfera oriental, o seu tom melancólico e passional:


Bloch's Voice in the Wilderness speaks with prophetic force. The style is unmistakably his, Oriental of general atmosphere and idiom, but one hears Bloch and Bloch always from within. (...)

Bloch, the preacher speaks of more than one subject, although his tone is melancholic, at times primitively fierce, but in the end compassionate and surpassingly understanding.


Guiomar Novaes e Ernest Bloch


O jornal Los Angeles Times, em coluna assinada por Isabel Morse Jones (+1951), musicógrofa, autora de Hollywood Bowl (New York/Los Angeles: Schirmer 1936)  sob o título de Concert at Auditorium Noteworthy (January 22, 1937, 18) comentava a apresentação da pianista brasileira como sendo o ponto alto da programação:


The audience was earnestly patient with the Bloch, pleased with the playing of Alexander Borisoff as solo violoncellist, wildly enthusiastic over Mme. Novaes and applauded Klemperer many minutes after Till.


Quanto a Bloch, Isabel Morse Jones salientou o cunho "alto-testamentário" da sua obra e que colocava dificuldades à sua compreensão e apreciação:



In spite of careful preparation neither the players nor the audience succeeded in fathoming the mysterious message buried deep in momentous sound. It is Old Testament music and no more intelligible at first hearing than the Hebrew scriptures.

The sombre mood, the cry of anguish, the brooding sorrow and the clear light of compassion are all in the marvelous orchestral writing. (...) This is deeply religious music and has that combination of oriental mysticism and long meditative wandering that has bewildered and fascinated Bloich's followers for two decades.


Quanto a Guiomar Novaes, Isabel Morse Jones acentuou a feminilidade de sua arte, a elegância refinada de sua interpretação de Chopin:


She is a romantic and lovely little person and has the grace to play like a woman. With quiet dexterity, she gave this favorite Chopin an ardent life of its own and refrained from decorating it with personal mannerisms of any sort. (...) She has the true Chopinesque elegance and the restraint of a fine artist. (...) It is seldom that Los Angeles tenders any soloist such a spontaneous ovation as the symphony audience gave Novaes last night.


A atriz de cinema Florence Lawrence (1886-1938) sobre Guiomar Novaes


O jornal Los Angeles Examiner, que se designava como "A paper For People Who Think", na sua edição de sexta-feira, 22 de janeiro de 1937, incluiu um comentário sobre o concerto, assinado por Florence Lawrence.


Ainda que o próprio título salientasse que o significado principal do evento residia na apresentação do novo poema sinfônico, a atenção foi dirigida à variedade e o excepcional interesse do programa. A apresentação da Voice in de Wilderness é citada a mesma altura da apresentação de Guiomar Novaes:


The conductor chose for his outstanding events a first performance of Ernest Bloch's new symphonic poem Voice in the Wilderness, and also presented the famed Brazilian pianist, Madame Guiomar Novaes.


Florence Lawrence salientou, no seu texto, o sucesso do concerto da pianista brasileira, aplaudida até mesmo pelos músicos de forma entusiástica:


Madame Novaes' performance of the Chopin concerto in F minor with orchestra created a great furor, and musicians applauded her splendidly emotional interpretation with fervor. Technically equipped for this difficult work, and temperamentally well suited to its variety of phases, the artist played the four movements with spirit and fine cooperation from the orchestra. (Los Angeles Examiner, 22 de janeiro de 1937, 17)


George Gershwin e The Los Angeles Philharmonic Orchestra


Como o mais significante e excitante concerto de toda a saison via-se a apresentação de George Gerschwin e a The Los Angeles Philharmonic Orchestra, em convênio com a Southern California Symphony Association, dirigida por Alexander Smallens.


O evento teve lugar na Merle Armitage, Philharmonic Auditorium. Em dois concertos, nos dias 10 e 11 de fevereiro, apresentavam-se An American in Paris, Concerto in F for Piano and Orchestra, com George Gershwin ao piano, Excerpts from Porgy and Bess, com Todd Duncan e membros de um Negro Choir, sob a regência de George Gershwin, a Cuban Overture e Rhapsody in Blue, com Gershwin ao piano.




Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A.."Da universidade na sua inserção em processos culturais transatlânticos V: UCLA, University of California, Los Angeles. A imigração judaica nos anos 30 e a presença do Brasil na vida musical da Califórnia. Otto Klemperer (1885-1973), Ernest Bloch (1880-1959) e Guiomar Novaes (1895-1979)". Revista Brasil-Europa 129/25(2011:1).
http://www.revista.brasil-europa.eu/129/UCLA_-_Los_Angeles.html



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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 129/25 (2011:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2711




Da universidade na sua inserção em processos culturais transatlânticos V:
UCLA, University of California, Los Angeles
A imigração judaica nos anos 30 e a presença do Brasil na vida musical da Califórnia

Otto Klemperer (1885-1973), Ernest Bloch (1880-1959) e Guiomar Novaes (1895-1979)


Universidades em visita: University of California, Los Angeles. Herb Alpert School of Music. Trabalhos da A.B.E./I.S.M.P.S. e.V. 2010

 

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