Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Grande Muralha da China. Foto A.A.Bispo©

Grande Muralha da China. Foto A.A.Bispo©

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Grande Muralha da China. Foto A.A.Bispo©

Grande Muralha da China. Foto A.A.Bispo©

Grande Muralha da China. Foto A.A.Bispo©

Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 137/19 (2012:3)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2903



Instituições em visita


Ciência, auto-análise cultural e o primado do Caráter
no campo de tensões entre ideologia política e tradição filosófica
nas relações entre a China e o Ocidente
- reflexões a partir de Mencius -

Instituto Cultural Confúcio


Ciclo de estudos em Peking/Beijing e Manchester
no ano da participação da China como nação convidada na Feira de Hannover 2012
Pelos 500 anos da presença portuguesa na China
em atualização de trabalhos da A.B.E. em Hong Kong e Macau
à época da transferência de soberanias européias à China (1996). Instituto Cultural Confúcio

 
A participação da China como nação convidada da edição de 2012 do maior evento tecnológico do globo - a Feira de Hannover, na Alemanha -, trouxe novamente à consciência a relevância da China  na técnica, nas ciências aplicadas, no comércio e na economia da atualidade em suas dimensões internacionais.

Ao mesmo tempo, reavivou questões relativas a problemas político-sociais, a Direitos do Homem, a Direitos de autor e de propriedade intelectual, à Proteção e Direitos de outros Seres Viventes e à Ética em geral, questões que exigem de forma ainda mais sensível e aprofundada diálogos e esforços recíprocos de compreensão de modos de pensar, de situações e tendências mentais e emocionais.

A esse entendimento mútuo e ao refletir em conjunto podem contribuir estudos de processos culturais que esclareçam caminhos históricos nas relações entre a China e o Ocidente que condicionaram situações atuais.

Análises desses processos prometem revelar constantes sistêmicas, estruturas e mecanismos de edifícios culturais em interações e configurações no tempo, pressupõem, porém, que sejam conduzidas de forma refletida, ou seja, que sejam acompanhadas por esforços de sua fundamentação teórica e mesmo filosófica.

Também nesse trabalho reflexivo deve-se procurar considerar diferentes perspectivas, tradições e tendências do pensamento dos dois contextos envolvidos. Nessa tentativa, realizaram-se, em 2012, trabalhos em Peking/Beijing e Manchester (veja Tema em Debate).

Emprestou-se, de forma contextualizada nessas duas cidades, particular atenção respectivamente 1) à reconscientização do pensamento na tradição confuciana - que se constata por exemplo em atividades do Instituto Cultural Confúcio - e 2) à retomada do pensamento de crítica marxista a tendências dos estudos culturais das últimas décadas que se registra em Manchester, cidade vinculada ao nome de Friedrich Engels (1820-1895), ao de Karl Marx (1818-1883) e ao desenvolvimento do pensamento sociológico, de crítica nacional-econômica, socialista e marxista.

Cidade Proibida. Foto A.A.Bispo

Forum Manchester-Shanghai. Crítica atual ao capitalismo e Cultural Studies

De 12 a 14 de Abril de 2012 teve lugar, na Universidade de Manchester, a segunda edição do Forum Manchester-Shanghai em Estética Marxista. Esse evento foi organizado por membros da School of Arts, Histories and Cultures da Universidade de Manchester em colaboração com a Faculdade de Humanidades da Universidade Shanghai Jiao.

As principais conferências foram as de Janet Wolff, Manchester e Kevin Anderson, California, Santa Barbara, cuja presença foi possibilitada pelo Jean Monnet Centre for Excellence.

Kevin Anderson tratou do tema "Karl Marx and the Present Moment: Beyond Resistance and Toward Human Emancipation". Partindo da atualidade da "primavera árabe" e do movimento Occupy, que teriam trazido de novo os conceitos de revolução e anti-capitalismo à tona dos debates e reflexões, K. Andersen criticou a orientação teórica predominante dos estudos culturais das últimas décadas: estes, em "décadas de postmodernismo e do pensamento postcolonial" teriam levado antes a uma política de resistência do que a de uma de emancipação humana.

Na sua conferência, K. Anderson procurou considerar o pensamento de Karl Marx à luz desse legado, salientando que a
sua crítica ao capital foi acompanhada por uma visão de futuro "radicalmente humanista" para além de relações de capital explorador e alienante. A sua visão dialética multidimensional, baseada em Hegel, teria compreendido já outros tipos de "totalidades", tais como capitalismo, assim como outras especificidades, tais como nação, etnicidade, gender e resistência anti-colonial.

Janet Wolff tratou do tema "Sociology's Third Stand: Confronting the Turn to Affect in Cultural Theory". Nessa comunicação, também J. Wolff procedeu a uma crítica dos Estudos Culturais, salientando que tendências atuais desses estudos levaram a uma "evaporação" do social na teoria visual e cultural. Ela incluiu, nesse "turn to affect", a crescente visibilidade da neuro-estética, as discussões relativas à presença e imediaticidade na experiência estética e a revitalização de interesses em fenomenologia nos estudos visuais e literários. Wolff procurou acentuar a importância de um aporte mais histórico-social dos estudos, retomando debates sôbre elos entre as humanidades e a sociologia discutidos nas décadas de 70 e 80.

Aproximações a posições chinesas quanto a relações entre política e estudos culturais


Essas preocupações do evento de Manchester necessitam ser consideradas nas suas relações com desenvolvimentos chineses.


Como constatado em Beijing/Peking, a imagem de Mao Tse-Tung mantém-se onipresente, marcando monumentos e resignificando emblematicamente edifícios históricos, como à entrada da Cidade Proibida. Se não se pode deixar de registrar as transformações no pensamento político-cultural ocorridas nas últimas décadas, sobretudo em meios intelectuais e estudantís, também não se pode deixar de registrar a permanência do pensamento maoísta na China. Esse fato traz à consciência a necessidade de uma consideração mais atenta desse pensamento nos estudos culturais, uma vez que representa pressuposto para a condução de diálogos e cooperações.


Dos aspectos considerados no ciclo de estudos, pode-se salientar aqueles que mais explicitamente dizem respeito a questões culturais e artísticas, assim como ao imperativo do aprender que caracteriza as concepções.


Para Mao, a teoria de Marx, Engels, Lenin e Stalin seria aplicável universalmente, não devendo porém ser vista como dogma, mas sim como condutora da ação. O estudo dessa „ciência da revolução“ não podia ser realizado no sentido de aprendizado superficial de términos e expressões, ou apenas no de tentar compreender as leis gerais formuladas pelos pensadores ocidentais, mas sim de suas atitudes e seus procedimentos perante problemas e suas soluções. („O Papel do Partido Comunista da China na Guerra nacional“, outubro de 1938), cit. Das Mao Tse-Tung Brevier: Der Katechismus der 700 Millionen, ed. F. C. Steinhaus, Würzubrg: Marienburg-Verlag 1967, 201)


Na crítica literária e da arte haveria, segundo Mao Tse-Tung, dois critérios, o político e o artístico. A questão que se coloca diria respeito às relações entre ambos. Para êle, a política não poderia ser igualada à arte e uma visão global do mundo não poderia ser igualada a um processo de criação artística e da crítica. Mao negava que houvesse uma norma abstrata e politicamente imutável, mas também que houvesse uma norma absoluta para as artes. Cada classe e cada sociedade teria os seus próprios critérios artísticos. Todas elas, porém, colocariam o critério político em primeiro lugar e o artístico em segundo lugar. O que
Mao defendia era a unidade entre Política e Arte, a unidade de conteúdo e forma, a unidade do conteúdo político revolucionário e da forma artística. Obras de arte sem qualidade não teriam efeito, mesmo se fossem progressistas politicamente. Por isso, Mao era contrário tanto á arte com mensagens que fossem errôneas politicamente como àquela com características placativas ou de reclame. Em questões de literatura e de arte devia-se conduzir uma luta em duas frontes ("Discursos no Forum Yenan de Literatura e Arte", maio de 1942, op.cit. 198-199)


Mao defendeu singularmente o livre desenvolvimento de correntes de pensamento como política para o fomento do progresso nas ciências e nas artes. Formas e estilos diversos na arte deviam desenvolver-se livremente, o mesmo valendo para diferentes orientações de pensamento na Ciência. Para a promoção da arte e da ciência seria prejudicial fomentar um determinado estilo artístico ou uma determinada corrente de pensamento científico. A questão do que é certo ou falso em arte e em ciência deveria ser discutida e solucionada no livre intercâmbio e no trabalho prático em círculos científicos. („Sobre o tratamento correto de contradições no povo“, 27 de fevereiro de 1957, op. cit. 199)


Essas posições correspondiam a um imperativo do aprender. Para Mao, na transformação de um país agrícola atrasado como a China em nação industrial progressista tornava-se necessário uma atitude de constante aprendizado. As circunstâncias mudavam-se constantemente, tornando necessário uma adaptação contínua do pensamento às novas situações. Mesmo aqueles que haviam assimilado plenamente o Marxismo deviam aprender, assimilar o novo e repensar os problemas. ("Discurso na Conferência Nacional do Trabalho Proletário do Partido Comunista da China", 12 de março de 1957, op.cit. 200).



Refletindo sôbre a situação dos estudos em perspectiva euro-brasileira

O debate concernentes a tendências do pensamento teórico das últimas décadas fêz com que se tornasse oportuna uma reconsideração auto-crítica do desenvolvimento das reflexões no âmbito dos trabalhos  euro-brasileiros concernentes às relações entre a China e o Ocidente.

As décadas de 80 e 90 do século XX caracterizaram-se por trabalhos motivados pela passagem de datas que representam marcos históricos em processos desencadeados pela expansão do Ocidente. Naqueles anos completaram-se 500 anos de vários acontecimentos na História dos Descobrimentos, entre êles o da viagem de Bartolomeu Dias, o do Descobrimento da América, o do Descobrimento do Caminho Marítimo para as Índias por Vasco da Gama e o Descobrimento do Brasil.

Ao mesmo tempo, porém, encerrou-se todo um período secular da presença européia no Extremo Oriente com a transferência da soberania de Hong Kong e Macau à China e o fim do Padroado Português do Oriente.

Essas datas deram ensejo a congressos, colóquios, seminários e conferências que se dedicaram ao estudo de questões voltadas a fundamentos dos acontecimentos e dos processos então desencadeados e às bases epistemológicas de seus estudos.

A série de trabalhos motivados por passagens de 500 anos de acontecimentos na história de ações de europeus no mundo extra-europeu teve a sua continuidade no presente século com a consideração da conquista de Goa e de Malaca, levando à realização de ciclos de estudos na Índia, na Malásia e em Singapura em 2010 e 2011 (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/131/Indice_131.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Indice_127.html).

O assentamento de portugueses em Malaca possibilitou o alcance do Sudeste Asiático, o que também foi considerado em ciclos de estudos levados a efeito na Tailândia e no Vietnam (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Indice_135.html). Esse passo foi auxiliado por chineses a partir de Malaca, o que também lançou bases para a entrada e a ação dos portugueses na esfera do Mar da China.

A realização do ciclo de estudos em Peking/Beijing em 2012 insere-se, assim, numa lógica do desenvolvimento de trabalhos e de reflexões.

Uma preocupação constante nesses esforços e realizações foi o da necessária auto-reflexão do pesquisador ocidental no concernente ás suas próprias inserções culturais e que condicionam as suas visões e os seus estudos.

Nesse sentido, procurou-se, a partir do reconhecimento da necessidade de relacionamento de estudos empíricos e históricos que levou à constituição, em 1968, da entidade que hoje constitui a Organização de Estudos de Processos Culturais e sua academia A.B.E., rever fontes documentais da Antiguidade e da Idade Média européia de relevância para estudos dos pressupostos tanto dos desenvolvimentos históricos da expansão européia como do próprio universo cultural no qual se insere o pesquisador ocidental.

Essa preocupação auto-reflexiva relativa a condicionamentos resultantes das próprias inserções culturais tem aguçado a sensibilidade para a necessidade de releitura de interpretações de processos históricos e de exposições historiográficas, o que inclui a revisão crítica de visões por demais unilaterais de procedimentos de ocidentais nos seus contatos e interações com povos de regiões não-européias.

Como procedimentos refletidos e sistematicamente conduzidos de intervenção cultural com objetivos transformatórios de culturas podem ser estudados sobretudo relativamente à história eclesiástica - também devido ao maior número de fontes disponíveis -, a atenção vem sendo dirigida sobretudo à consideração crítica de métodos empregados por missionários.

Nesses estudos, reconheceu-se de forma cada vez mais diferenciada que a ação cristianizadora foi marcada pelas inserções histórico-culturais de congregações, de instâncias eclesiásticas, de correntes do pensamento e da vida religiosa e, ao mesmo tempo, por exigências resultantes da prática e das circunstâncias nas diferentes situações extra-européias, com repercussões na própria Europa, co-determinando estrategias de ação e fundamentando uma reciprocidade em processos receptivos.

Um marco no desenvolvimento das reflexões foi a sessão realizada na Universidade Urbaniana de Roma, em 1991, na qual considerou-se o significado do Padroado Português a ser reconhecido no estudo de processos culturais em contextos globais, superando-se perspectivas unilaterais de enfoques que partem da fundação da Congregação de Propaganda Fide, em 1622, inadequadas para o tratamento diferenciado de campos de tensões assim criados no mundo extra-europeu, sobretudo no Oriente.

Diferentemente do Brasil, a China levou a que a ciência e a técnica representassem o caminho de entrada, integração e "conquista espiritual" de missionários, em particular da Sociedade de Jesus. A história das relações da China com o Ocidente é marcada, nos seus primeiros séculos, por missionários que atuaram como matemáticos, astrônomos, físicos e construtores de instrumentos técnicos e musicais (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Confucionismo.html).

Esse significado da ciência - em particular da disciplinas matemáticas do antigo quadrivium do sistema disciplinar das artes liberais do Ocidente, e ao qual pertencia a música - foi discutido nos trabalhos levados a efeito pelo I.S.M.P.S./A.B.E. em 1996 pelo fim da soberania européia em Hong Kong e em Macau e pelo término do Padroado Português do Extremo Oriente, e, a seguir, em sessão especial realizada na Universidade de Colonia.

Em Macau, em época também marcada pela fundação do Instituto Inter-Universitário, reconsiderou-se, à luz dos acontecimentos que finalizavam uma época e inauguravam uma nova, os procedimentos acomodativos do passado e os intuitos aculturativos das décadas pós-conciliares do presente. Mais uma vez constatou-se, nesse colóquio, as dificuldades resultantes da inserção dos próprios pensadores em contextos culturais e correntes de pensamento.

Consideração de ângulos de visão do Outro e auto-análise cultural

Em cursos e seminários que se seguiram ao evento de Hong Kong e Macau de 1996, a atenção foi mais intensamente voltada ao receptor de ações ocidentais e que condicionaram o modo por que se processaram recepções. A questão que se colocou foi a de como aqueles que foram confrontados com procedimentos acomodativos de europeus, ou seja, com aqueles que aprendiam o idioma, assumiam modos de trajar, costumes e usos com intuitos de propagação religiosa viram aqueles que assim procediam.

Considerou-se, nas discussões, que a literatura referente aos métodos acomodativos foi quase que exclusivamente conduzida sob o ponto de vista dos agentes, não daqueles que foram alvo dos métodos empregados; nas exceções, pronunciaram-se os receptores sob a influência ou no sentido daqueles.

O cerne dos problemas que aqui se levantam dizem respeito a intenções subjacentes, veladas, nem sempre expressas de interferência transformatória em culturas e sociedades por missionários que não só aprendem o idioma como se adaptam exteriormente quanto a trajes e modos de vida à cultura daqueles que pretendem transformar.

Esses problemas não dizem respeito a expressões de simpatia e de intuitos de integração em outros contextos culturais, mas sim à da manutenção de escopos premeditados de transformação espiritual do outro, o que faz com que o ato de revestir-se culturalmente assuma características de mascaramento de intenções.

Esse procedimento torna-se ainda mais questionável quando há a intenção de uma integração cultural mais profunda, de uma identificação com a sociedade que se quer transformar sem o abandono desses intentos modificadores, pois como estrategia de transformação a partir do interno do contexto no qual o agente conscientemente se integrou corresponde a ato de subversão e pode ser percebido como manifestação de falsidade e hipocrisia da integração e de traição.

Sob essa perspectiva de auto-crítica ocidental, a consideração de processos acomodativos do passado - e suas correspondências no presente - revela dimensões questionáveis de procedimento sob o ponto de vista ético.

Estudos assim conduzidos manifestam uma instrumentalização de questões culturais para o alcance de objetivos através do seu mascaramento enganoso em abuso da simpatia e da boa fé daqueles que devem ser conquistados emocionalmente para os fins não-expressos e premeditados.

O pesquisador assim sensibilizado surpreende-se, ao ler documentos da correspondência missionária do passado em constatar como alguns autores estiveram em condições de, vivendo por vezes décadas entre pessoas que o consideravam como amigos e dignos de confiança, considerarem a seus superiores o estágio em que se encontravam no processo metamorfoseante em andamento.

Essa situação de multiplicidade de inserções e elos culturais faz com que essas fontes do passado surjam como objetos de análises de estudos culturais voltados a questões atuais de complexos multiculturais e de múltipla identidade. Podem ser, assim, considerados à distância, relativados, o que não implica necessariamente em julgamentos valorativos.

Considerados porém sob a perspectiva ética, os procedimentos e modos de comportamento que assim se manifestam revelem-se como questionáveis, fazendo com que os seus autores e as estruturas institucionais em que se inseriam surjam com conotações negativas de falta de caráter e integridade.

No caso das relações entre a China e o Ocidente, a problemática dos métodos empregados diz respeito mais especificamente à ciência devido ao significado que os conhecimentos e as técnicas desempenharam nos procedimentos missionários e nas interações sino-européias. A perspectiva ética desses estudos assume papel de primeira grandeza devido às próprias características do edifício de pensamento de tradição confuciana, marcada pelo significado concedido a concepções de caráter.

Aspectos das reflexões encetadas no "edifício do cultivo do caráter"

Há, na antiga cidade dentro da cidade, no espaço velado da "Cidade Proibida" um edifício construído na época da dinastia Qing, em 1776, e que representou uma cópia do Yang Xin Dian, a "sala do cultivo mental".

O original Yang Xin Dian era o mais importante edifício do complexo palacial após o edifício da "suprema harmonia". O primeiro imperador da dinastia Qing, Shunzhi (1638-1661), ali morreu. Foi o imperador que, sem abandonar o Budismo, manteve uma posição de abertura para com missionários ocidentais que atuavam como cientistas e eruditos no Império. 

A partir da época do terceiro imperador Yongzhen (1678-1735), todos os oito imperadores Qing ali residiram; o espaço servia para a condução de negócios de Estado e a audiências. Desde essa época, era nessa "sala do cultivo mental" que os imperadores dormiam.

O Imperador Qianlong (1711-1799) nutriu o plano de viver no edifício Yang Xin Dian após a sua abdicação, o que, porém, não chegou a realizar. Sabe-se que, em 1781, a sala foi utilizada para um encontro de príncipes, altos oficiais, chefes mongóis e nobres manchus, o que poderia ser comparado a um simpósio na antiga tradição ocidental: o princípio da cultivo do caráter expresso na dedicação da sala devia marcar as relações políticas e humanas do Estado, no seu interior e nas suas relações externas.

Um outro registro do uso da sala diz respeito já ao fim do Império chinês, época tardia da dinastia Qing. Quando a viúva-imperatriz Ci Xi (1835-1908) residia na "sala da feliz longevidade" -, tomava ali as suas refeições. Em 1903, quando o Imperador Guangxu (1871-1908) ali vivia, êle e a Imperatriz Ci Xi usavam do edifício para a recepção de espôsas de representantes de nações estrangeiras; em 1909, ali realizou-se ato de homenagem à viúva Long Yu (1868-1913).

Essas menções relativas a um espaço designado sob o lema do cultivo do caráter indicam os princípios que foram vistos como idealmente normativos na condução de assuntos internos da sociedade do Império e, sobretudo, nas relações internacionais.

A expressão Yang Xing do lema é derivada de Mencius, com o significado de "cultivo do caráter para o alcance da benevolência".

Da tradição do pensamento confuciano na tradição de Mencius (c. 372-289 A.C.)

Os pensamentos contidos nos sete capítulos do livro de Mencius serviram como ponto de partida para as reflexões. (A Selected Collection of Mencius, Beijing: Sinolingua 2006, ISBN 978-7-80200-219-7)

Os ensinamentos atribuídos a Mencius foram assimilados como principal corrente da tradição confuciana pelas classes dirigentes já nos períodos Song (960-1279) e Yuan (1271-1368). Em 1330, foi denominado como sábio do Estado de Zou e, em 1530, passou a ser considerado como o "sábio por excelência".

Como um dos clássicos da escola confuciana, o livro de Mencius constituia um dos Quatro Livros ao lado do Grande Aprendizado, da Doutrina do Sentido e das Analectas de Confúcio. Nessa obra encontram-se pontos de vista de Mencius e seus discípulos sobre política, educação e filosofia. Teria sido, segundo uns, escrito por êle próprio com a assistência de seus discípulos, dos quais os principais teriam sido Wan Zhang e Gongsun Chou. Segundo outros, tratar-se-ia de uma compilação de ensinamentos realizada após a sua morte por discípulos.

Sob vários aspectos, em particular se lido de forma menos profunda como fonte histórica, os seus ensinamentos podem ser explicados como resultantes de circunstâncias de sua época de vida. Tendo nascido no pequeno estado de Zou (hoje Província Shandong), de nome Ke e de nome de cortesia Ziyu, foi um sábio confuciano do período de guerras (475-221 A.C.). Após recebido a sua primeira formação com a sua mãe, teve como mentor um discípulo de Zisi, o neto de Confúcio. A sua missão foi a de percorrer terras para difundir ensinamentos voltados à superação da situação marcada por tensões, ataques e vinganças, tendo atuado sobretudo nos países de Liang e Qi, ocupando aqui o posto de ministro convidado do rei Huan.

Esse contexto permite que se compreenda a orientação dos ensinamentos transmitidos a questões de relações entre povos e entre homens do próprio povo, opondo-se a agressões militares, ao ataque e à anexação de estados pela força e defendendo um govêrno benevolente e justo para com o povo. Conceitos básicos dos ensinamentos são, assim, do ponto de vista da política interna, o da benevolência e da justiça, apresentados como normas para dirigentes e para todo o homem nas suas diferentes posições na sociedade.

O ser benevolente exigia o ser homem do Bem, e isso era resultado do cultivo do coração. O cultivo do coração surge como fundamental para a conquista de uma bondade que seria original da natureza humana, ainda que perdida. O govêrno benevolente baseava-se no auto-govêrno do homem conduzido pelo anelo de ser benevolente e era visto como fundamento de uma unificação do mundo.

Pensamento contrário ao utilitarismo de alcance de proveito - integridade de caráter

Intenções de procedimentos dirigidas ao alcande de proveito contrariavam ensinamentos fundamentais de Mencius.

Assim, segundo a narrativa, quando este, vindo de longe, foi recebido em audiência pelo rei Hui, indagado do que poderia sugerir para o proveito do reino, salientou que não se devia partir da idéia de proveito ou lucro, mas sim apenas de benevolência e justiça.

Se o rei - no ápice do edifício do Estado -, partisse da idéia de proveito, essa idéia seria assumida pelos oficiais, que passariam a pensar em proveito para as suas famílias, e o mesmo aconteceria nas camadas inferiores da população, colocando todo o edifício do Estado em perigo.

Se, porém, a cabeça do todo se orientasse segundo os princípios da benevolência e justiça, essa orientação também passaria às partes do corpo social. Se aquele que governa pratica uma política benévola e justa, por exemplo mitigando punições, reduzindo taxas, cultivando e educando segundo princípios de amor e respeito aos mais velhos, de honestidade, de manutenção da palavra dada e de integridade, então todos os demais membros do todo assumiriam essas normas, havendo ordem no Estado e este estaria em condições de resistir a ataques externos.

Um governante sem benevolência seria um bandido, aquele sem justiça seria um selvagem.

O princípio da integridade, relacionado com honestidade Yi, adquire no pensamento de Mencius posição condutora. Havendo integridade no comportamente, o proveito, o lucro material surge como uma decorrência quase que automática. O homem poderia ser comparado aqui com um artista que cria uma obra em veracidade; o proveito, o lucro, corresponderia à valorização que a obra recebe ao ser apreciada por aquele que a contempla, e que surge como uma decorrência automática da integridade do artista na criação de sua obra.

Assim como se conhece também do pensamento filosófico da Antiguidade Clássica, a argumentação em termos de Estado em Mencius dizem respeito ao Homem, da sua mente e das suas demais faculdades. A vontade dirigida ao bem e o sentimento de justiça, produtos do cultivo do coração, diriam respeito ao modêlo ideal do homem, determinando uma integridade no seu todo.

O homem não-íntegro é aquele que corresponde à desordem no Estado, ao banditismo de uma cabeça não benevolente e à selvageria da falta de justiça e, como consequência, à barbárie de um coração não cultivado.

O homem de coração cultivado é aquele capaz de contemplar a natureza, animais e aves sem ter o desejo de os possuir. Aquele que é guiado por intuitos de posse e proveito não é virtuoso.

A concepção da unificação do mundo e do homem através da virtude

Fundamental no pensamento de Mencius é que não se deve fazer aos outros o que não se deseja para si, ou, em outras palavras, amar os outros como a si próprio.

Extender aquilo que se deseja para si e para os próximos a outros, por exemplo generalizando o respeito por familiares idosos a todos os idosos e o amor aos filhos a todas as crianças surgem como caminho para a unificação do mundo. A estabilidade do mundo apenas pode ser mantida segundo este caminho que vai do próximo ao distante ou generalizado, não o contrário. Assim, o cultivo do coração em cada indivíduo, das suas boas intenções, justiça e, portanto, da sua integridade surgem como ponto de partida para o todo.(op.cit. 16)

O livro de Mencius lembra que Confucius detestava pessoas que ajudavam pessoas não-benevolentes a aumentar o seu poder ou aqueles que lutavam para pessoas não benevolentes. Detestava, assim, pessoas que ajudavam tiranos a ocupar cidades, a saqueá-las e a cometer mortandades, detestava pessoas belicosas, que faziam alianças agressivas e que exploravam o povo, cooperando para o enriquecimento de alguns.

A prática de uma atitude de benevolência leva, segundo Mencius, à glória, caso contrário ocorre humilhação. Se o homem não quer ser humilhado, deve dar grande importância à ética, ao respeito de eruditos e, quando governante, à colocação de pessoas virtuosas e capazes em postos de importância. (op.cit. 50)

Para Mencius, uma pessoa benevolente, ainda que forte, devia servir ao fraco. Um forte que assim age pode adaptar-se a todas as circunstâncias. O fraco, porém, que tem que servir a um forte, e é sábio, tem precaução em tudo. (op.cit. 21)

A Ética no edifício de pensamento de tradição confuciana

O papel fundamental da Ética no pensamento confuciano representado por Mencius é uma decorrência dessas concepções. Se na Côrte muito valia títulos de nobreza, se no convívio social valia o critério da idade, para o govêrno nada seria mais importante do que a Ética. Se alguém procura dominar outros pela força, estes não se submeterão sinceramente, fazendo-o apenas por coerção ou por não poderem resistir. Se, porém alguém tem autoridade ética, todos se submetem com prazer, valendo aqui o exemplo dos 70 discípulos de Confúcio. (op. cit. 48)

Partindo do Homem, Mencius afirma que a justiça não é algo fora do pensamento, devendo-se ter o cuidado de cultivá-la, sempre mantendo-a na mente, não porém para fins particulares. Assim, o fazendo, o princípio que leva da cabeça ao todo acarreta uma contínua intensificação ou acumulação da justiça, a uma força ampla e forte, universal. Expresso diferentemente, poder-se-ia partir da existência de uma grande força ética, existente sôbre o todo, que não deveria ser cultivada e ferida de nenhum modo, sempre sendo mantida na mente. (op.cit. 46-47)

O abominável da discordância entre o que se ensina e aquilo que se faz

Pregar algo e não proceder segundo aquilo que se fala surge no sistema de Mancius como abominável. Dessa convicção derivava princípios básicos de educação. Segundo estes, por exemplo, um homem cultivado não devia ser o professor do seu próprio filho, um princípio que que levara no passado até mesmo trocas de filhos entre pais para educá-los. Esse procedimento era resultado dos riscos resultantes do ensino de filhos para a integridade dos pais: se os educandos tivessem dificuldade de algo aprender, isso levaria a sentimentos e atitudes de contrariedade do educador, opostas ao ensino que ministrava, ou seja ao imperativo da benevolência. Assim, ocorreria um distanciamento entre o filho e o pai, pois aquele constataria que este não procedia segundo o que dizia; envergonhando-se mutuamente, se distanciariam um do outro. (op.cit. 116)

Papel da integridade pessoal: não palavras, mas a sinceridade do olhar

No edifício de concepções assim delineado, a integridade pessoal, surgindo como fundamental levava à exigência de equivalência entre palavras, aparência e intenções. Uma discordância entre o que é dito e representado e as convicções, sentimentos e intuitos é sentida como abominável.

Por essa razão, o homem devia procurar conhecer os motivos internos de procedimentos e atos. Não devia fiar-se em palavras e na aparência, mas sim procurar conhecer o íntimo do próximo através do olhar. Ao contrário das palavras, os olhos nunca dariam má informação. Para conhecer-se uma pessoa não haveria melhor caminho do que olhá-la diretamente nos olhos enquanto falava, pois esses não podem esconder o que se passa na mente; assim, olhos límpidos e brilhantes indicam um consciência limpa. (op.cit. 111)

O ser íntegro, o falar aquilo que realmente se pensa surge como pré-condição para o ser benevolente e justo para com os próximos e, deles para o todo. (op.cit. 117)

Significado da sinceridade e o do ser sincero para consigo mesmo como pré-condição

O agir em sinceridade surge como principal critério de comportamento. Com sinceridade, ninguém deixa de ser movido, sem sinceridade, ninguém quer ser movido.

Ponto de partida é o ser-se sincero consigo mesmo, o que implica em auto-reflexão. Para ser-se sincero consigo próprio, deve-se saber conhecer o que é o certo para si, o que lhe faz bem. Apenas sendo sincero sôbre o que se é, pode-se servir ao próximo com sinceridade. Apenas sendo-se sincero sobre si próprio para os mais próximos da família pode-se ganhar a confiança de amigos, e somente com a confiança de amigos pode-se ganhar a confiança de superiores e, com essa, assumir posição de governar outros.

Assim, descobrindo-se que alguém não age com sinceridade, pode-se concluir que este não é sincero consigo mesmo, ou seja, que vive uma mentira. (op.cit. 107)

O homem livre é o homem benevolente, deixando de ser benevolente, escraviza-se. Se este se envergonha de sua falta de liberdade, ou seja de não ter magnanimidade, deve cultivá-la. Assim como um atirador que, errando o alvo, não deve culpar os vencedores, mas procurar o êrro em si próprio, assim deve ser o sábio. Envergonhando-se de não ser benevolente, deve procurar libertar-se interiormente através do reconhecimento do que é, superando a mentira sobre si próprio e recuperando a integridade. (op.cit. 56)

Partindo desse significado da benevolência, surge como a maior virtude de um homem aquela de fazer boas coisas em conjunto com outros homens, ou seja, a cooperação no bem. Aprender boas coisas de outros é fazer boas coisas em conjunto. Assim, nunca se deve cessar de aprender de outros, deixando-se corrigir e ter os seus êrros apontados. Nunca se deve deixar de aprender. (op.cit. 58)

Significado do aprendizado e da formação a partir de qualidades inatas

A partir desses ensinamentos revela-se o significado do aprendizado e da formação. A formação adquire um papel fundamental no sentido de possibilitar a recuperação de uma boa constituição ética.

Essa basear-se-ia em quatro qualidades que são vistas como inatas ao Homem. O senso de simpatia é o início do vir a ser benevolente; o senso de vergonha - no sentido de envergonhar-se de não ser livre para a magnanimidade - é o início do vir a ser justo, o senso de modéstia é o início da polidez, e o senso do discernimento entre o certo e o errado o início da sabedoria. O homem nasceu com essas quatro faculdades e não deve desperdiçá-las. Se forem desenvolvidas e cultivadas, cresceriam como um riacho que se torna caudaloso rio. Aquele que desenvolve e cultiva essas faculdades pode chegar a proteger o mundo. (op.cit. 54)

A recuperação e o desenvolvimento do sentido de Compaixão

Segundo Mencius, o objetivo do estudo consiste apenas o da procura do "coração perdido". Como somente o aprender torna o homem humano, o aprendizado, o adquirir conhecimentos surge estreitamente vinculado com a formação do coração e do caráter.

Correspondentemente, instituições voltadas ao ensino e ao aprendizado são antes de mais nada instâncias voltadas à Ética e à formação do coração.

Desses objetivos, o principal é o desenvolvimento da capacidade de Compaixão. Essa capacidade, embora inata, precisa ser recuperada e desenvolvida.

Antiga filosofia e o debate atual


A consideração desses e de outros pensamentos de Mancius abre portas tanto para uma diferenciação maior de processos culturais colocados em vigência com a chegada dos portugueses no século XVI como para a superação de impasses e incongruências no debate teórico do presente.


O papel concedido ao coração e à Compaixão no edifício de concepções surge como o grande fator positivo das relações sino-européias, sobretudo naquelas decorrentes de contatos espontâneos. Esse significado revela-se como decorrente de similaridades e intercomunicações de imagens relacionadas com a Compaixão, a Graça e a Misericórdia em tradições orientais e ocidentais. Pode ser estudado sobretudo em expressões de veneração e festivas de homens do mar de ambos os contextos culturais e que relacionam imagens da divindade do mar e dos céus do Oriente com a veneração de Maria, em particular sob invocações de Nossa Senhora da Misericórdia, da Graça ou da Luz. Refletir sôbre os fundamentos dessas similaridades surge não apenas como tarefa específica das Ciências Comparadas das Religiões, mas sim como pressuposto para estudos culturais das relações sino-européias em geral e de procedimentos fundamentados teórico-culturalmente. Esses estudos dirigem a atenção à noção de uma instância que escuta, que ouve, que percebe o sofrimento e as súplicas das criaturas, ou seja, salienta em geral o significado de uma atitute do ouvir e da percepção sensível do Outro(veja http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Budismo-aplicado.html).


O papel concedido no edíficio de pensamentos de tradição confuciana à integridade, à correspondência entre o parecer e o ser, assim como à sinceridade nos procedimentos pode ser visto como indicador de problemas fundamentais da história das relações sino-ocidentais. O procedimento refletido dos missionários, baseados em estrategias de acomodação, tenham sido estas simples mimicry quanto a trajes, gestos e expressões, ou incluindo o uso da ciência e da tecnologia para a conquista espiritual dos chineses, surge em contradição a esses princípios do pensamento chinês. O mascaramento de intenções, o uso de pessoas, da ciência e das artes para o alcance de proveitos segundo as próprias finalidades contradizeram bases do edifício de pensamento confuciano. Representaram aqui necessariamente expressões de hipocrisia, de falta de sinceridade, de integridade, de uma deficiência de caráter, de inveracidade para consigo próprio e para com os outros.


Não os contatos espontâneos dos comerciantes e dos homens do mar, mas sim o procedimento dirigido dos missionários, cientistas e eruditos ocidentais surge sob essa perspectiva como o grande fator negativo na história das relações sino-ocidentais.


As análises culturais devem extender-se também aos edifícios de pensamento político-doutrinário que marcam a história mais recente da China e que remontam, sob muitos aspectos, a recepções de correntes ocidentais do século XIX. Sob essa perspectiva analítico-cultural pode-se considerar relações da ideologia politíca com a antigas tradições de pensamento chinês, com correntes ocidentais, com as transformações desse próprio pensamento no Ocidente e na China, assim como com a Revolução Cultural chinesa, suas consequências e superações. Tratar-se-ia, assim, de um restabelecimento do primado da perspectiva científica no tratamento de questões culturais sino-ocidentais, diferenciando-se neste sentido da orientação do Forum de Manchester.


Fundamental para todos esses intuitos é, porém, a lição que já agora se ganha do estudo do passado das relações sino-ocidentais: pressuposto para todos os procedimentos e cooperações é a preocupação ética. Esta exige integridade de caráter e, por conseguinte, sinceridade para consigo próprio dos envolvidos.


grupo de trabalho sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo


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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Ciência, auto-análise cultural e o primado do Caráter no campo de tensões entre ideologia política e tradição filosófica nas relações entre a China e o Ocidente". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 137/19 (2012:3). http://www.revista.brasil-europa.eu/137/Primado-do-Carater.html





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