Patrimônio cultural alemão no Brasil e na Romênia. BRASIL-EUROPA 134/26. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





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BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Museu Brukenthal, Sibiu

Museu Brukenthal, Sibiu. Foto A.A.Bispo

Museu Brukenthal, Sibiu. Foto A.A.Bispo

Museu Brukenthal, Sibiu. Foto A.A.Bispo

Palacio Brukenthal, Sibiu. Foto A.A.Bispo

Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/26 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2835


Academia Brasil-Europa


Museu Nacional Brukenthal e Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica Emil Sigerus
Consciência patrimonial em populações de ascendência alemã na Romênia e no Brasil


Ciclo de estudos da A.B.E. na Romênia dedicado a questões de patrimônio cultural. Sibiu/Hermannstadt, 2011

 
Museu Domingos Martins, Espirito Santo
Em reflexões dedicadas aos museus coloniais ou da imigração européia no Brasil, em particular às relacionadas com a colonização alemã, entre outras ocasiões em encontro da A.B.E. realizado no museu municipal de Domingos Martins, Espírito Santo, em 2007, salientou-se que o significado de centros de cunho museológico em regiões marcadas pela imigração não deve ser apenas considerado no fato de possibilitarem a conservação de bens, documentos e fomentarem estudos, contribuindo à história local e regional. Também a própria iniciativa do colecionar testemunhos, de conservá-los e expô-los deve constituir em si objeto de atenção, pois revela o alcance de uma consciência histórica de comunidades que, suficientemente fortes, motivam trabalhos que exigem altruisticamente dispêndio de tempo, meios e a superação de inúmeros obstáculos.


Sob esse aspecto, é a própria história dos museus e das reflexões e da prática museológica que passa a ser objeto principal dos estudos téorico-culturais. Para além da consideração de circunstâncias locais e regionais específicas, torna-se necessário estudar os contextos mais amplos em que as respectivas iniciativas se inserem.


Uma das questões que aqui se levantam diz respeito à inserção dos museus da imigração alemã no Brasil no quadro geral dos museus de regiões marcadas pela colonização alemã em outras partes do mundo. Nos estudos transnacionais da imigração e colonização, a atenção é dirigida às instituições que marcaram a tomada de consciência de comunidades para além de fronteiras, procurando-se constatar similaridades e diferenças nos desenvolvimentos. Esse intento, necessário para o próprio trabalho nos diferentes contextos,  representa pressuposto para a colaboração científica entre instituições e pesquisadores de diferentes países.


Relações entre preocupações patrimoniais, Estudos Culturais e Educação


A consciência da necessidade de consideração do patrimônio cultural "imaterial" representado e.o. por festas, folguedos, música, dança e contos na Educação não é recente. Já de muitas décadas, os caminhos percorridos apresentam uma história própria que necessita ser considerada e constantemente revista para um desenvolvimento refletido de teorias e métodos.

Uma das questões que vêm preocupando pesquisadores e educadores diz respeito ao relacionamento histórico da área de estudos culturais do Folclore com ideários nacionalistas que marcaram profundamente concepções, conteúdos e interpretações. Essa questão levanta-se com toda a evidência em contextos culturais marcados pela imigração e colonização européia do passado. Constataram-se, aqui, já há muito, defasagens e incongruências entre as expressões e tradições que são objeto de ensino com base nos estudos específicos e o contexto cultural dos estudantes. Estes são confrontados com danças, festas, folguedos, música, dança, contos e outras expressões culturais populares que lhe surgem como estranhas ou distantes, enquanto que aquelas de seu próprio contexto surgem, na melhor das hipóteses, como contribuições à formação de um folclore nacional.

Essa situação vem sendo modificada gradualmente com o redirecionamento das atenções segundo concepções patrimoniais. Sob esse conceito, tem-se encontrado caminhos para a pesquisa, o estudo, o cultivo e a valorização de expressões culturais de grupos populacionais de ascendência imigratória. Em particular sob a noção de patrimônios regionais e locais, compreendidos como contributos à diversidade na unidade, abrem-se perspectivas para uma transformação gradual de concepções e posições nos estudos culturais.

Museu Emil Sigerus, Sibiu
Essa situação e essas tendências da pesquisa específica e de suas implicações na Educação foram expostas em conferência proferida pela Profa. Dra. Rose Marie Agrifoglio em nome de instituições dedicadas aos estudos culturais do Rio Grande do Sul por ocasião do Congresso de Estudos Euro-Brasileiros realizado para o término do triênio de eventos pelos 500 anos do Brasil, em 2002.

O emprêgo da concepção de patrimônio local ou regional para a justificativa do estudo, da prática e da valorização de expressões culturais de grupos com características diferenciadas de identidade não deve ser visto apenas como veículo para que se possa contornar receios de descaracterização cultural do país através do cultivo de "folclore estrangeiro" por parte de pesquisadores, educadores e responsáveis por assuntos político-culturais.

Para isso, porém, torna-se necessário um procedimento refletido de ambos os lados através de um direcionamento da atenção a processos culturais. Nesse intento, a consideração  de tendências e soluções encontradas em outros países pode oferecer contribuições para o desenvolvimento das reflexões.

Emil Sigerus (1854-1947) e a consciência patrimonial em Sibiu/Hermannstadt


Emil Viktor Martin Peter Sigerus representou, para a região dos Siebenbürgen, uma determinada fase do desenvolvimento dos estudos culturais. Essa fase foi caracterizada pelo trabalho de pesquisadores que, movidos por amor à sua terra e à sua própria cultura, dedicaram-se ao registro de tradições e "antiguidades", de histórias de localidades, a crônicas e ao registro de documentos vários. Mesmo sendo autodidata, tornou-se um dos fundadores da pesquisa da cultura popular da região.


Observações e conhecimentos empíricos e resultados de pesquisas históricas se interrelacionam nos textos de Sigerus, tornando-se difícil inseri-los univocamente em determinado ramo disciplinar.


O amor à terra de Sigerus explica-se pelo fato de ter tido uma infância feliz e ter crescido em família vinculada a círculos burgueses e conservadores. Sendo o seu pai secretário da associação agrícola, levava-o consigo nas suas visitas a regiões rurais, adquiriu conhecimentos e elos afetivos com o modo de vida do povo. Como livreiro, obteve conhecimentos da história e das tradições regionais. Em estadias em Laibach e em Viena teve contato com tendências voltadas ao estudo de tradições populares.


Os seus escritos foram, em geral, produtos de trabalho produzido ao lado das obrigações profissionais e refletem práticas jornalistas de divulgação ampla. Assim, Sigerus foi funcionário e diretor da sociedade Transsylvania de seguros, e redator, a partir de 1880, do principal jornal alemão dos saxões de Siebenbürgen, o Siebenbürgisch-Deutsches Tageblattes, editado em Hermannstadt.


O próprio autor e sua obra tornam-se, assim, objeto dos estudos culturais, uma vez que testemunham uma fase de conscientização da própria comunidade relativamente a sua história e identidade. Assim, foi Sigerus que aguçou a sensibilidade dos habitantes da região para o valor da arte popular tradicional saxo-siebenburguesa, colecionando objetos de cerâmica, de estanho, tecidos, bordados e tapetes.


Numa época marcada pelo desenvolvimento industrial e pela mudança de hábitos e modos de vida, quando objetos do passado passaram a ser considerados como "velharias", Sigerus teve o mérito de reconhecer o seu valor e divulgá-lo em escritos. Ao lado de objetos populares, colecionou ilustrações, pinturas, manuscritos, ex-libris e outros documentos.


A sua atenção especial voltou-se às rendas e aos tecidos populares, procurando conservar técnicas e modêlos, ciente que na sua ornamentação encontravam-se resíduos de tradições de muitas partes da Europa, enriquecidos por influências húngaras, rumenas e orientais (Siebenbürgisch-sächsischen Leinenstickereien, 1906). 


Com base no trabalho de Sigerus relativo a bordados e tecidos, que serviu de modêlo a trabalhos posteriores, o artesanato saxo-siebenburguês pode ser salvo. Similarmente, o seu empenho pela cerâmica, cujos objetos procurou classificar, contribuíram para que essa passasse a ser valorizada e considerada em museus.


De 1881 até 1901, Sigerus foi secretário da Sociedade dos Cárpatos. Em 1885, já tinha colecionado ca. de 500 objetos, base do Museu dos Cárpatos, por êle fundado. Pertenceu ao presídio da Sociedade de Embelezamento de Hermannstadt, de 1914 a 1921 e publicou livros turístico-culturais sôbre a cidade.


Essa sua atuação a favor da conservação estendeu-se também à arquitetura, reconhecendo o valor histórico-artístico das fortificações de defesa de igrejas-burgo da região.Em 1900, publicou um álbum com ilustrações dessas construções e que contribuiu a que fossem conservados, sendo declarados como patrimônio cultural (Siebenbürgisch-sächsische Burgen und Kirchenkastelle) (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Igrejas.html).


No âmbito da história local, publicou, entre outras obras, crônicas da cidade de Hermannstadt (Chronik der Stadt Hermannstadt e Vom alten Hermannstadt, 1922 -1928). Organizou publicações com notícias do passado e estórias transmitidas oralmente por pessoas de idade (Von alten Leuten und alten Zeiten, 1937). Essas publicações serviam fundamentalmente ao fortalecimento da identidade cultural da população de ascendência e idioma alemão, sendo em parte posteriormente proibidas e impedidas de serem traduzidas.


Museu Bruckenthal e Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica "Emil Sigerus"


Em 1918, a coleção do "Museu dos Cárpatos" foi adquirida pelo Museu Bruckenthal.


Círculos influentes da cidade, fazendo jus à sua imagem de "pequena Viena", orientando-se segundo tendências da Europa Central e Ocidental e procurando equiparar a vida cultural local àquela dos grandes centros europeus, tiveram a sua atenção voltada à valorização da própria cultura.


As pesquisas deviam contribuir à definição de uma cultura própria com características diferenciadas. O círculo de língua alemã da região assumiu nesses intentos um papel predominante. Pesquisadores passaram a coletar objetos de arte, livros raros e documentos históricos, a realizar pesquisas de numismática e de heráldica, a desenvolver estudos históricos, arqueológicos e histórico-naturais, e que fundamentaram o trabalho do atual Museu no Palácio Brukenthal.


Em 1957, a coleção formada por Sigerus passou a constituir o fundo básico do Departamento de Cultura Popular criado no Museu Bruckenthal.


Com o objetivo de abrigar o acervo específico de objetos representativos da cultura saxônico-siebenburguesa do Museu Bruckenthal, juntamente com as do Museu ASTRA, fundou-se, em 1997, o Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica "Emil Sigerus".


Tendo sido enriquecido por doações, o museu possui hoje ca. de 7000 objetos. O seu acervo compreende três coleções: a de cerâmica, com ca. de 2700 objetos, provenientes dos mais importantes centros saxônicos, magiares, szekler e rumenos da Transilvânia; a de
objetos de madeira e de ferro, sobretudo de móbeis pintados policromaticamente, representativos do trabalho de carpintaria da região e de costumes, tecidos e rendados, com mais de 4000 peças. Estes são divididos segundo costumes populares tradicionais e de festividades, de calçados e acessórios, assim como de toalhas e rendas.


A exposição permanente de título Transylvanien Tiles (the 15th-19th Centuries), aberta em 1998, é a mais completa do gênero. Foi baseada em pormenorizada pesquisa, completada com a edição de um catálogo. Os objetos são dispostos cronologicamente, salientando técnicas de trabalho, iniciando-se com exemplos de motivos bíblicos e míticos do século XV. Apresenta um panorama da transformação estilística através dos séculos, terminando com exemplos de pinturas policromáticas do século XIX. 



Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Museu Nacional Brukenthal e Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica Emil Sigerus
Consciência patrimonial em populações de ascendência alemã na Romênia e no Brasil". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/26 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Museu-Emil-Sigerus.html




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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