Kaltner, Leonardo F., Mem de Sá, herói épico. Revista BRASIL-EUROPA 128. Bispo, A.A. (Ed.). Organização de estudos culturais em relações internacionais





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BRASIL-EUROPA

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 128/27 (2010:6)
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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2683




Mem de Sá, herói épico

 

Prof. Dr. Leonardo Ferreira Kaltner,

Universidade Federal Fluminense


            

Resumo

Consiste o presente texto em um estudo da métrica épica clássica, e do estabelecimento de texto e tradução do verso 29 ao verso 75 da editio princeps de 1563 do poema épico De Gestis Mendi de Saa escrito pelo Pe. José de Anchieta, SJ (1534-1597) em latim clássico no Brasil Quinhentista, o poema que inaugura a Literatura Brasileira. Traduzimos os versos que narram a chegada de Mem de Sá ao Brasil. Para esse intuito, analisaremos alguns aspectos que auxiliem a leitura do poema, como questões estéticas, relativas à métrica épica e ao espírito de aventura épico e o Humanismo renascentista europeu enquanto uma didática estética para criação poética e literária no Nouus Mundus.


Palavras-chave: Letras Clássicas, Educação, Romanística, Interculturalidade, Anchieta.




A epopéia e a métrica épica clássica


Uma das primeiras manifestações poéticas da humanidade foi a poesia épica. Se considerarmos, na tradição do oriente próximo da Jônia, os poemas homéricos Ilias e OdysseaI e a Aeneis de Publius Vergilius Maro, na tradição latina do Império Romano, veremos que a poesia épica forma uma das bases pedagógicas das Humaniores Litterae, da Cultura e da Literatura Clássicas, sendo também um ponto de intersecção intercultural nas mais antigas relações Oriente-Ocidente. O espírito de aventura épico do mundo greco-latino, que marcou a expansão da cultura grega no mundo mediterrânico e a expansão a posteriori do mundo latino no continente europeu, encontra-se nestas três obras monumentais sobre o ciclo do cerco, da guerra e da conquista da cidade de Tróia. Obras estas, que, em suas singularidades, representam, em momentos históricos diversos, um aspecto único e comum à poesia épica: o epos.II

Das nove Musas inspiradoras das artes da Antiguidade Clássica, descendentes de Apolo e de Mnemósina, uma era inteiramente dedicada à inspiração épica. CalíopeIII, a que tinha a mais bela voz, era a Musa da epopéia, e através de sua inspiração, o poeta clássico compunha o epos, o poema cantado, sobre os combates e os feitos dos heróis e dos deuses, suas aventuras e desventuras, seus ritos e mitos originários, suas viagens iniciáticas pelo mundo desconhecido e migrações, a fundação de colônias, como o Lácio troiano. O principal atributo da Musa inspiradora da épica era a voz, porque originariamente, seria a epopéia um poema cantado, um longo poema cantado com uma unidade de ritmo constante, o verso épico.

A essência épica, assim, é a fusão da voz com a poesia. Por isso, a evidência estética originariamente mais característica da épica clássica foi o ritmo dos versos compostos pelos aedos, os poetas épicos, e cantado pelos rapsodos, os intérpretes dos aedos. O diálogo Íon de Platão nos revela como eram, por exemplo, estimados os rapsodos e a poesia épica no período grego clássico, logo executar um poema homérico era uma prova de virtuose artística.IV Compor e cantar os versos hexâmetros dactílicos, narrando os feitos de heróis e dos deuses, primeiramente em dialeto jônico e posteriormente em latim clássico, era um estilo poético bem característico, que no estudo ontológico da Cultura Clássica chamamos de poesia épica.

O ritmo do verso hexâmetro dactílico é uma das essências da poesia homérica. Este verso compõe-se de seis pés métricos que se distribuem ritmicamente organizados através de um simples sistema de quantidade e duração das vogais, típica resultante da fonética vocálica indo-europeia do dialeto jônico. A partir de um simples padrão, em que temos dois tipos de vogal, a longa e a breve, a primeira equivalendo a um tempo (semínima) e a segunda a meio tempo (colcheia), um complexo sistema de ritmos foi criado na Antiguidade Clássica para a composição da poesia enquanto palavra cantada. O hexâmetro dactílico surgem primeiramente em jônico, o dialeto homérico do Oriente próximo, e que, posteriormente, também foi apropriado pela cultura ocidental latina, a partir da geração dos poetas latinos, os neoteroi, que receberam influência da estética alexandrina.

O hexâmetro dactílico, o verso épico, compõe-se de seis pés métricos, podendo ser estes pés de variadas formas. Apresentemos, pois, estas variações, que serão consideradas a partir de uma convenção indicada abaixo.


Legenda: L (sílabaV longa, vale 1 tempo)

    B (sílaba breve, vale ½ tempo)



Pés métricos do hexâmetro dactílicoVI:

Dáctilo:  L-B-B (ex.: carmina)

Espondeu: L-L  (ex.: leges)

Troqueu: L-B     (ex.: legis)


Os quatro primeiros pés do verso hexâmetro dactílico podem ser Dáctilos ou Espondeus, enquanto o quinto pé é geralmente um Dáctilo. Por fim, o último pé pode ser um Espondeu ou um Troqueu. Há em cada pé o ictus, o acento, que representaremos por: ‘, que recai geralmente sobre a primeira sílaba de cada pé. Além disso, ainda há a cesura, a caesuraVII, uma pequena pausa, provavelmente para a respiração do declamador, que deve formar uma unidade de sentido no verso. No estilo métrico de Vergílio a cesura ocorre, geralmente, no terceiro pé, após a thesis ou arsis, que indicamos por: //VIII.



Vejamos, por exemplo, o primeiro verso da epopéia de Vergílio, a Aeneis, que segue em seus mais de nove mil versos este padrão métrico da épica:


Arma uirumque cano Troiae qui primus ab oris



A estética épica do poema De Gestis Mendi de Saa de AnchietaIX


O poema De Gestis Mendi de Saa é o primeiro registro deste ritmo poético no Nouus Mundus. Esteticamente, os versos do poema epicum de Anchieta seguem o padrão métrico dos hexâmetros dactílicos da tradição grega, que foram absorvidos em Roma, a partir das primeiras experiências de Catulo até firmar-se no esplendoroso e sublime apogeu da epopéia de Vergílio. Anchieta, ao imitar a metrificação vergiliana, é, assim, o introdutor deste antiqüíssimo padrão métrico oriental no Nouus Mundus em sua composição ficcional, o poema épico De Gestis Mendi de Saa.

Ainda que a métrica da poesia épica seja específica e uma das essências da epopéia propriamente dita, o fato de um poema estar metrificado em hexâmetros dactílicos não é esteticamente o suficiente para que seja um poema épico, e isto Aristóteles já havia analisado criticamente na Arte Poética. Isto porque a métrica da poesia épica é uma forma, e enquanto objeto formal permite que o conteúdo dos versos seja o mais variado o possível. Assim, sobretudo a partir do período alexandrino, o dialeto jônico e o hexâmetro dactílico passaram a ser utilizados para a criação dos mais variados tipos de poemas, sobre qualquer tema.

O verdadeiro epos torna-se então não só uma questão estética voltada apenas à versificação e à métrica, o verdadeiro epos constitui-se, por fim, de um poema cantado cujo tema principal é a ação de heróis, o que exige um espírito de aventura e um mundo por aventurar-se. Anchieta ao narrar a saga de Mem de Sá, apresenta-nos a origem do Brasil com este espírito de aventura no De Gestis Mendi de Saa. O poema anchietano portanto apresenta-nos as duas estruturas necessárias para a criação estética da épica clássica, a versificação em hexâmetros dactílicos e a narração de uma aventura heroica.


A métrica no De Gestis Mendi de Saa: versos 29-32


O poema épico De Gestis Mendi de Saa, escrito na época da Renascença, em que viveu e se educou o seu autor, é o primeiro texto literário do Brasil, logo é o marco inicial da Literatura Brasileira. O poema reflete, assim, a educação humanística de Anchieta em Coimbra, e sua composição, desde a forma ao tema, se remete ao processo intercultural transatlântico da formação do Brasil, através de seu sincretismo com sua matriz cultural européia, logo o poema de Anchieta apresenta a recepção da Cultura Clássica no Brasil quinhentista, ao narrar a fundação do Nouus Mundus a partir de uma perspectiva ficcional e poética.

Ainda que não exista nenhum estudo que tenha esgotado o assunto da métrica adotada por Anchieta, nos mais de três mil versos de seu poema épico, que se inicia por um poema elegíaco, o Pe. Armando Cardoso dá-nos a indicação de que escandiu todos os versos ao estabelecer o texto, e que todos, excluindo-se obviamente a elegia introdutória, são hexâmetros dactílicos no padrão vergiliano.

Por amostragem, selecionamos alguns versos para escandir e analisar o padrão métrico e rítmico do De Gestis Mendi de Saa. Nosso intuito neste estudo não é exaurir este tópico, mas apenas oferecer um exemplo do trabalho estético desenvolvido por Anchieta na composição deste complexo poema, que transporta para o Brasil colonial a estética épica clássica latina e ocidental de Vergílio, oriunda, por sua vez, da cultura clássica jônica, da poesia homérica, do oriente próximo asiático.

Apresenta-se a escansão métrica dos versos 29 ao 32 do De Gestis Mendi de Saa, versos tirados da edição de 1563:


Obtenebrata diu Barathri caligine caeci,

Gens fuit Australis, saeui subiecta Tyranni    30

Colla iugo, cassum diuini lumminis aeuum

Traducens, multisque malis immersa, superba,




O Herói Mem de Sá


Os versos relativos à chegada de Mem de Sá ao Brasil no poema demonstram o espaço ficcional em que será travado o combate épico, ao apresentar o Mem de Sá como um herói épico renascentista. Na narrativa ficcional, Mem de Sá lutará por fundar o Brasil, originário de uma aliança luso-tupi, a que se somam os missionários jesuítas, que enfrentarão seus principais inimigos, os índios tapuias, na Baía, os tamoios, no Espírito Santo e os franceses calvinistas invasores no Rio de Janeiro. O inimigo descrito nesta primeira parte do poema, que apresentamos a seguir, é a nação dos indígenas tamoios do Espírito Santo, mas há uma alusão indireta a todos os índios tapuias, os indígenas que não falavam tupi, inimigos das tribos tupisXIX.

Vejamos então estes versos sobre o herói épico Mem de Sá, seguindo-se a tradução:


Obtenebrata diu Barathri caligine caeci,

Gens fuit Australis, saeui subiecta Tyranni    30

Colla iugo, cassum diuini lumminis aeuum

Traducens, multisque malis immersa, superba,

Effrenis, crudelis, atrox, fusoque cruenta

Sanguine, docta necem rapidis inferre sagittis,

Immanesque tigres feritate, luposque uoraces,    35

Et rabidos superare canes saeuosque leonesXV.

Humanis auidam pascebat carnibus aluum,

Multa diu scelera intentans, immanibus atri

Regnatorem Erebi (qui mortem primus in orbem

Induxit, primos seducens fraude Parentes)XVI    40

Sponte sequens factis, multorum corpora saeuo

Discerpens leto, crudeli superba furore

Christicolas multo populabat funere gentesXVII.

Donec ab aethereis spectans regionibus oras

Brasilles Pater omnipotens, loca nocte sepulta    45

Horrifica, humano sudantes sanguine terras,

Misit ab Arctois ultoris criminis oris,

Criminis infandi ultorem, qui pelleret iras

Crudeles terra, qui funera dira cruentis

Perpetrata modis compesceret, horrida sedans    50

Bella, feros animos mulcens, rabidisque cruorem

Rictibus humanum pasci non ferret inultus.

Et iam ter centum, bis senaque tempus in orbem

Lustra reuoluebat, postquam genitricis ab aluo

Virginis intactae magni fabricator Olympi    55

Factus homo egrediens claríssima lumina toti

Praebuerat mundo peccati nocte sepulto.

Expectata diu cum Ponti erepta periclis

Applicuit classis Sinui (cui cuncta dederunt

Agmina Sanctorum nomen)XVIII quae Tethyos undis    60

Ereptum mediis ingentem Heroa uehebat,

Magnanimum Heroem Mendum, cui sanguis auorum

Nobilis, et longo generosus stemmate clarum

Saa dat cognomen, multis qui grandior annis

Canities mentum decorat, cui plurima uultu    65

Maiestas, hilaris facies, grauitate senili

Ornata, atque alacres oculi, cui maxima uirtus

Corporis, et ualidae iuuenili robore uires.

Ast animus longe excellens, quem plurima rerum

Cognitio, longusque usus, doctaeque Mineruae    70

Expoliunt artes, mediisque infixa medullis

Vera Dei pietas, et sancto insignis amore

Haud turbata fides Christi, seruensque sub imo

Pectore, Caelesti succensus Flamine, zelus

Eruere e Stygio Brasilles carcere mentes.    75


Tradução


Obscurecida há muito tempo pela penumbra do infernal

Báratro foi uma tribo do sul, sujeita ao jugo30

Do feroz tirano infernal em seus pescoços, atravessando as eras esvaziadas

Da luz divina, também imersa em muitas maldades, soberba,

Desenfreada, cruel, atroz, até sedenta do sangue derramado,

Instruída em causar a morte por rápidas flechas.

Superava até os terríveis tigres por sua ferocidade, até os lobos35

Vorazes, até os cães raivosos e os selvagens leões.

Este povo que alimentava o estômago ávido com carne humana,

E que há muito tempo intencionava grandes crimes, seguindo o senhor

Do sombrio Érebro infernal por sua própria vontade com ações terríveis,

(O rei infernal que, primeiramente destinado, introduziu a morte no mundo,40

Seduzindo nossos primeiros ancestrais pela fraude); esta tribo que

Esquartejava os corpos de muitos com selvagem morte, devastava soberba

Os povoados cristãos com cruel furor, através de grande matança.

Até que Nosso Pai onipotente, observando das regiões acima do Éter

Os territórios brasileiros, lugares antes sepultos pela noite45

Horrífica, terras que suavam o sangue com sangue humano,

Enviou das regiões do norte um vingador deste crime,

Um vingador deste crime inaceitável, para que expulsasse desta terra

A ira desumana, para que detivesse os malditos assassinatos

Executados de maneiras cruéis, apaziguando a hórrida 50

Guerra, acalmando espíritos ferozes, para que não permitisse

Que o sangue humano alimentasse impunemente goelas raivosas.

E já cerca de mil quinhentos e sessenta anos o tempo desenrolava

No mundo, depois que o Contrutor do sublime Olimpo, oriundo do ventre

Da Virgem intacta, gerado como homem, apresentava55

As luzes mais intensas ao mundo todo, antes sepulto na noite do pecado,

Quando aportou uma armada na Baía, Baía à qual

Deram o nome de Todos os Santos. Esta armada trazia um valente herói,

Tirado bruscamente do meio das ondas de Thétys, o magnânimo herói

Mem, que possui um sangue nobre pelos antepassados, e também60

Nobre apresenta o ilustre sobrenome Sá de antiga origem. Ele que

Se mostra com idade avançada por muitos anos, cuja cor grisalha orna a barba,

Ele que possui uma tão sublime dignidade em seu aspecto, apresenta uma face bem

Humorada , ornada pela gravidade da velhice, também um olhar vivo, apresentando

O vigor máximo de seu corpo, e forças vigorosas com um rubor juvenil.65

Por outro lado o seu espírito é de longe distinto, espírito este que uma vasta

Compreensão do mundo aperfeiçoa, e uma longa experiência, até as artes da sábia

Minerva aperfeiçoam-no, junto à verdadeira Piedade de Deus, fixada

Profundamente em seu coração, e a Fé em Cristo jamais conturbada,

Insigne pelo sagrado amor, que ele conserva no fundo70

De seu peito, inflamado pela Chama Celeste, quando surge

Seu zelo de arrancar estas mentes do Brasil do cárcere do Estige.



Conclusão


Mem de Sá é descrito pelo poeta como um magnânimo herói, por sua Fides e Pietas, as mesmas categorias épicas com que Vergílio descreve Enéias na Aeneis, a partir de termos que foram muito importantes para os latinos na época do Império Romano. Desta forma, podemos apreender que o poema anchietano resgata, com espírito renascentista cristão, a poesia épica clássica, sobretudo a poesia vergiliana. Em sua recriação ficcional da colonização do Brasil, Anchieta descreve, a partir de uma perspectiva humanística, a realidade com que conviveu, recriando esteticamente o Nouus Mundus e a origem do Brasil a partir de uma visão de mundo clássica.

A estética de criação ficcional de Anchieta pauta-se no modelo épico da poesia vergiliana. Tanto a métrica, quanto o estilo, o vocabulário poético apresentam um texto literário da mais alta qualidade, escrito por um humanista que dominava plenamente o latim clássico. Até os dias atuais, é uma demonstração de intensa virtuose para qualquer latinista dominar o idioma a ponto de nele expressar-se como Anchieta conseguiu no Brasil quinhentista.

Podemos concluir que o De Gestis Mendi de Saa é um poema épico que nos apresenta as relações interculturais que motivaram a fundação do Brasil e do Nouus Mundus. A Cultura Clássica, que se originou como mediação das relações interculturais da Antiguidade, com sua base greco-latina, se constituiu a partir de um eixo de relações Oriente-Ocidente, perpetuando-se a partir da época da Roma clássica no Ocidente europeu. Serviu de fonte de inspiração, na época da Renascença, para a composição do poema anchietano, poema este que, por sua vez, caracteriza-se por ser um processo de criação artístico e estético-estilístico transatlântico, em que apresenta a interculturalidade entre o Brasil colonial e a Europa renascentista. Desta base, surge inicialmente a Literatura Brasileira.




BIBLIOGRAFIA


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ANCHIETA, José de. De Gestis Mendi de Saa. Excellentissimo, singularisque fidei ac pietatis Viro Mendo de Saa, australis, seu Brasillicae Indiae Praesidi praestantissimo. Conimbricae. Apud Ioannem Aluarum Typographum regium. MDLXIII. Ed. fac-similada da editio 1563, com introdução de Eduardo Portella. Rio de Janeiro: Ed. Biblioteca Nacional, 1997.


ARISTÓTELES. The works of Aristotle. Translated by Ingram Bywter et alii. Chicago: Britannica, 1952, 2v.


BALLY, Anatole. Dictionnaire Grec - Français. Paris: Hachettte, 1970.


NÓBREGA, Vandick Londres da. Novo Método de Gramática Latina (elementar e superior). Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1962.


PEREIRA, Moacyr Soares. A navegação de 1501 ao Brasil e Américo Vespúcio. Rio de Janeiro: Asa, 1984.


PLATO. The dialogues of Plato. Translated by Benjamin Jowett. Chicago: Britannica, 1952.


SARAIVA, Francisco Reis dos Santos. Novíssimo dicionário Latino-Português. Rio de Janeiro: Garnier, 2000.





I. Não há como precisar a data da composição de cada parte dos poemas homéricos, menos ainda confirmar a autoria e a existência de um autor comum a ambos os poemas, nem mesmo como compilador de poemas mais antigos. Homero é uma lenda tão poderosa quanto os mitos clássicos, é o príncipe dos poetas de quem se originaria a paideia clássica e desta forma servirá de modelo a Vergílio no século I a.C.

II. O sentido deste mote por BALLY, 1970: “epos: ce qu’on exprime par la parolle”

III. Calíope era também considerada a mãe de Orfeu, cf. SARAIVA, 2000, p. 170.

IV. No Ion, Sócrates (Cf. PLATO, 1952, p. 142) assim relata a arte do rapsodo: “ I often envy the profession of a rhapsode, Ion; for you have always to wear fine clothes, and to look as beautiful as you can is a part of your art. Then, again, you are obliged to be continually in the company of many good poets; and especially of Homer, who is the best and the most divine of them; and to understand him, and not merely learn his wrotes by rote, is a thing greatly to be envied. And no man can be a rhapsode who does not understand the meaning of the poet. For the rhapsode ought to interpret the mind of the poet to his hearers, but how can the interpret him well unless he knows what e means? All this is greatly to be envied”.

V. Consideramos o centro da sílaba como a vogal.

VI. Segundo Vandick Londres da Nóbrega (NÓBREGA, 1962, p. 364-365), o Dáctilo estaria no compasso de 2/4, o Espondeu também no compasso de 2/4 e o Troqueu no compasso de 3/8. Podemos notar que o compasso de 2/4 é predominante em alguns gêneros populares da música brasileira, como o samba-enredo. A marcação do ritmo do Espondeu é praticamente a mesma dos surdos de primeira e de segunda de uma bateria de escola de samba. Já a marcação do Dáctilo, poderia nos remeter a uma outra célula rítmica bem comum também no samba, que poderia ser executada pela caixa com o surdo, ou com atabaques, ou com a voz na própria melodia, por exemplo.

VII. A cesura geralmente ocorre nos versos longos como o Hexâmetro Dactílico com seis pés, sendo um corte entre sílabas do mesmo pé. A cesura é dita masculina caso venha depois da arsis, feminina quando vem depois da thesis, triemímere quando vem depois do segundo pé, pentemímere quando vem depois do terceiro pé, quando a pausa se verifica no fim de um pé é chamada diaeresis. Cf. NÓBREGA, op. cit. , p. 364 e seguintes.

VIII. A arsis é a parte do pé métrico que recebe o acento tônico, também chamado de ictus, que equivale ao tempo forte, a parte restante do pé métrico chama-se thesis, que constitui-se sobretudo de vogais átonas. Em carmina, o ictus recai em /car-/ . Cf. NÓBREGA, op. cit., p. 365.

IX. Consideramos ser de Anchieta a autoria do De Gestis Mendi de Saa, a partir sobretudo da comprovação de autoria desenvolvida pelo filólogo Pe. Armando Cardoso, SJ, principal editor das obras anchietanas. Seu trabalho de Crítica Genética desenvolvido nas edições do De Gestis Mendi de Saa são fundamentais para esta discussão, que analisaremos mais profundamente em um próximo texto. Encontramos uma síntese deste magnífico trabalho de comprovação de autoria do De Gestis Mendi de Saa, elaborado pelo Pe. Armando Cardoso, logo no Capítulo I: História e edição do poema, da edição de 1970 do De Gestis Mendi de Saa, cf. ANCHIETA, 1970, p. 7 – 26.

X. Cf. Aristóteles, vol. 2, p. 681.

XI. Para a quantidade das vogais seguimos o Dicionário de Saraiva, citado na Bibliografia.

XII. Sílaba longa por posição.

XIII. Sílaba longa por posição.

XIV. Os tamoios apoiavam a invasão francesa no Brasil português, sendo aliados da França Antártica em um acordo franco-tamoio que se opunha ao grupo luso-tupi.

XV. A comparação de Anchieta dos tapuias, os índios não-tupis, com tigres, lobos, cães e leões apresenta um alto valor simbólico e antropológico. Os guerreiros tapuias são homens possuídos durante o combate por uma anima feroz, espíritos de animais selvagens, são adversários que se alimentam com a carne dos guerreiros que derrotam, são homens-lobo, homens-tigre e homens-leão. Na Cultura Antiga, o ato de um guerreiro derrotar um leão foi um dos temas mais importantes da arte, e sua simbologia, do conflito com as forças naturais, está vivo nos murais assírios que retratam Assurbanipal caçando leões, como outrora esteve presente também no mito sumério de Gilgamesh, que enfrentou homens-leão e um homem-escorpião.

XVI. Alusão a Adão e Eva.

XVII. Povoados cristãos formados por portugueses, índios convertidos e missionários.

XVIII. A Baía de Todos os Santos (Cuncta Agmina Sanctorum) está situada no atual estado da Baía e recebeu este nome em primeiro de Novembro de 1501, Dia de Todos os Santos, véspera do Dia de Finados. Esta é a maior Baía do litoral brasileiro, com mais de cinqüenta ilhas, sendo a maior Itaparica. Consta que a armada que a avistou e nomeou em 1501, comandada provavelmente por Gaspar Lemos, tinha como integrante Américo Vespúcio, cf. PEREIRA, 1984, p. 261.



Ferreira Kaltner, Leonardo. "Mem de Sá: herói épico". Revista Brasil-Europa 128/27 (2010:6). www.revista.brasil-europa.eu/128/Mem-de-Sa.html

 

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