Descobrimento português do Canadá. Revista BRASIL-EUROPA 128. Bispo, A.A. (Ed.). Organização de estudos culturais em relações internacionais





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 128/2 (2010:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2658




Do descobrimento do Canadá pelos portugueses
Terra do Labrador e "Terra dos Bacalhaus"


Ciclo "Indian Summer" preparatório aos 300 anos da ida ao Canadá de Joseph-François Lafitau (1681-1746)
pioneiro dos estudos culturais comparados, da Antropologia Cultural e disciplinas afins
Maritime Museum of the Atlantic, Halifax, e Peggys Cove, Fisherman's Monument

 




Peggys Cove, Nova Scotia.A.A.Bispo©


Peggys Cove, Nova Scotia.A.A.Bispo©


Peggys Cove, Nova Scotia.A.A.Bispo©


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Peggys Cove, Nova Scotia.A.A.Bispo©


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Peggys Cove, Nova Scotia.A.A.Bispo©


  1. Fotos A.A.Bispo
    ©Arquivo A.B.E./I.S.M.P.S.e.V.



 
Halifax. A.A.Bispo©
Os estudos culturais que relacionam o Canadá e, em geral, a América do Norte com o Brasil encontram, sob a perspectiva histórica, os seus fundamentos na história das navegações e dos descobrimentos europeus.


A visão brasileira dessa história é, naturalmente, pela própria formação do país, marcada pelos empreendimentos portugueses. Nomes, fatos e ocorrências da história marítima de outras nações são, em geral, insuficientemente considerados.


Halifax. A.A.Bispo©
A necessária ampliação de perspectivas para o estudo adequado das relações entre o Norte e o Sul do continente americano, correspondendo aos anelos de aproximação interamericana, exige que se considere de forma mais pormenorizada a perspectiva das viagens de outros povos e a inserção de Portugal em contextos globais de fins da Idade Média e início da era moderna e os determinantes geográficos dos empreendimentos marítimos.


Halifax. A.A.Bispo©
Essa maior atenção às diferentes pespectivas relativas às viagens de navegação e de descobrimentos, assim como à inserção de Portugal na Europa de sua época ganha também especial atualidade no contexto da aproximação dos países europeus entre si.


Halifax. A.A.Bispo©
No caso do Canadá, porém, devido ao predomínio da literatura em francês ou em inglês, e a influência que exercera informações compiladas em obras de larga divulgação e em enciclopédias, a história dos descobrimentos é sobretudo marcada por perspectivas da Inglaterra e da França.


O observador brasileiro pode até mesmo surpreender-se em constatar dados e argumentações relativos a prioridades portuguesas nas descobertas da América do Norte, discutidas já há muito por diferentes autores. Essas posições revelam-se como de especial relevância, uma vez que até mesmo relativam a prioridade histórica de Colombo quanto ao Descobrimento do continente americano.

Halifax. A.A.Bispo©

A consideração desses diferentes enfoques, das suas justificativas, dos diferentes contextos geográficos e culturais a que se referem representa uma tarefa particularmente promissora para os estudos culturais em contextos globais.


Um tal estudo permite que se analise a perspectiva histórica dos diferentes países europeus e da recepção de correntes do pensamento e imagens histórico-geográficas de acontecimentos nos países americanos. Não se trata de tomada de posição relativamente a prioridades, mas sim do direcionamento da atenção ao modo pelo qual os diferentes povos europeus viram e vêem a história dos descobrimentos.


Peggys Cove. Nova Scotia.A.A.Bispo©

Local de reflexões: Peggy‘s Cove, Nova Scotia


Um local particularmente sugestivo para o desenvolvimento dessas reflexões é Peggy‘s Cove, povoado não muito distante de Harlifax, Nova Scotia, na St. Margaret‘s Bay. Transformou-se, pelas suas condições naturais e pelo monumento ali existente, em localidade de significado cultural, visitada por artistas e interessados na história canadense.


Peggys Cove. Nova Scotia.A.A.Bispo©
O povoado, inicialmente chamado de Eastern Point Harbour, posteriormente de Peggys Harbour, foi fundado oficialmente em 1811 por famílias de colonos de origem alemã, que passaram a dedicar-se à pesca e à agricultura. O nome Peggy parece ter-se derivado do apelido de Margaret, referindo-se a St. Margaret‘s Bay. Segundo outros, derivaria de uma jovem que teria sido a única sobrevivente de um acidente de navio ocorrido no Halibut Rock.
Peggys Cove. Nova Scotia.A.A.Bispo©

Peggys Cove. Nova Scotia.A.A.Bispo©
Essas qualidades naturais e quase que míticas do local foram aproveitadas pelo artista finlandês William Edward de Garthe (1907-1883). Tendo emigrado para o Canadá em 1926, após estudos desenvolvidos em Montral, na Mount Allison University em Sackville, New Brunswick, e em academias européias, passou a dedicar-se à pintura de motivos marinhos.


Vindo a residir em Peggy‘s Cove, com a sua mulher, Phoebe Agnes (1906-2008), concentrou as suas atividades culturais e artísticas no tratamento de motivos relacionados com o homem e o mar. A sua mais considerada obra é aquela que esculpiu em rochedo na área de sua casa: um mural de 30 metros, com a representação de 32 homens de mar, e que constitui, hoje, o principal monumento da região.


Peggys Cove. Nova Scotia.A.A.Bispo©

Da descoberta da América pelos escandinavos


A disposição geográfica do continente americano, aproximando-se do Norte da Europa pelas suas regiões mais ao Norte torna compreensível a existência de contatos com os países norte-europeus, em particular escandinavos da Idade Média.


Essa predisposição criada pela menor distância e pela existência de terras intermediárias, a Groenlândia e a Islândia, traz à consciência a inserção das águas da América do Norte no âmbito da história das atividades de pesca dos povos norte-europeus, dirigindo a atenção à esfera do Mar do Norte e do Leste. Correntes marinhas favoráveis torna também compreensível uma vocação natural das ilhas britânicas e da Bretanha para empreendimentos nessas regiões.


A questão do descobrimento da América pelos Wikingers, 500 anos antes de Colombo, despertou discussões e polêmicas. Inicialmente considerada como mera suposição, passou a ter validade em geral reconhecida.


Os fundamentos desses elos do continente americano com o Norte europeu encontram-se em duas sagas da Groenlândia. Em 1963, a hipótese recebeu uma fundamentação mais segura com o descobrimento de vestígios de povoamentos de Wikingers em Anse-aux Meadows, na costa da Terra Nova, pelo pesquisador e escritor norueguês Helge Markus Ingstadt (1899-2001).


De forma sumária, o conteúdo da saga é o seguinte:


Em 1002, Leif, filho de Erik o Vermelho, de Steilhang , teve notícia, na Groenlândia, de uma terra desconhecida a oeste, vista por um Bnarni Herjulfssohn. Armou um navio e velejou à sua procura, com 35 homens. Encontrou, de inicio, uma terra coberta de geleiras e de rochedos planos, denominando-a de terra das pedras lisas (supõe-se ser Labrador, ainda que aqui não haja geleiras). A seguir, encontrou, de fato, um país coberto de árvores e muito fértil, a que chamaram de terra das florestas ou terra verde (Terra Nova). Após dois dias, chegaram a uma nova terra, sob ótimo tempo, ali encontrando um orvalho extremamente doce. Continuando a viagem, entre uma ilha e a costa de montanhas, encalharam, encontrando um grande rio. Subiram-no, atingindo um lago. Construiram casas, ali passaram o inverno, retornando no início do ano seguinte. O escandinavos ficaram surpreendidos com a riqueza de peixes na região. Esta apresentava também melhores qualidades de vida do que a a Groênlândia ou a Islândia, sobretudo pelo fato das noites não serem tão longas. Descobriu-se vinho e a terra foi denominada de Winland (Nova Scotia). O seu irmão, Thorvald, que quis repetir a empresa, não teve sorte, tendo sido morto em conflito com índios (Skrälinger = os fracos, nome de esquimós da Groenlândia e do Canadá, também usado para os índios da Nova Scotia, os Micmac). Nessa época, sendo a Groenlândia já cristã, uma cruz foi levantada no local onde Thorvald teria sido enterrado.


Do papel desempenhado por um alemão no descobrimento


O significado das visões nacionais e nacionalistas no tratamento da história dos Descobrimentos torna-se evidente no fato de ter-se publicado na Alemanha, nos conturbados anos da Segunda Guerra, um livro destinado a salientar o papel dos alemães no conhecimento do globo e no descobrimento dos continentes.


A publicação tinha um escopo expressamente de difusão popular a serviço de fortalecimento da consciência nacional. Assim o tratamento da prioridade dos alemães em muitos empreendimentos pioneiros foi aberto com a participação do alemão Tyrker no contexto da viagem de Leif Erichssohn no início do século XI. (Erich Mindt, Der Erste war ein Deutscher! Kämpfer und Forscher jenseits der Meere, Berlin-Ulm: Verlagsgemeinschaft Ebner und Ebner, 1942)


O nome Tyrker é interpretado como forma deturpada de Dirk. Este seria procedente de alguma região alemã marcada pela vinicultura, o que explicaria o fato de ter reconhecido a existência de vinho e ter dado o nome à terra descoberta de Winland. Ao encontrar uvas ou frutos dos quais se pode extrair bebida fermentada, embriagando-se, ter-se-ia recordado de sua infância. Assim, Dirk seria sido o primeiro alemão na história dos descobrimentos.


„Quando terminaram com a construção da casa, Leif disse a seus companheiros: Agora quero dividir o nosso grupo em duas partes e quero que a terra seja descoberta... Uma tarde, ocorreu que faltava um no grupo, o alemão Tyrker. Leif ouviu isso com aborrecimento, pois Tyrker estava há muito com êle e com o seu pai, e o havia amado muito na sua infância. Leif gritou a seus companheiros e se pôs a caminho para procurá-lo, e 12 homens estavam junto a êle. Mas, tendo andado apenas um curto trecho do caminho, Tyrker veio a êles ter. O saudaram com grande alegria. - Leif notou porém, que o seu velho amigo estava fora de si, e por isso perguntou-lhe: ‚Porque vens tão tarde, meu pai de criação, separado dos companheiros?‘ Então aquele falou longamente em alemão, dirigindo os olhos a todos os lados, torceu a boca e ninguém entendia o que falava. Depois de algum tempo, passou a falar em nórdico e disse: ‚Eu não fui muito longe, e posso relatar uma nova descoberta: eu encontrei vinhas e uvas.‘ - ‚É verdade, de fato, pois cresci numa região onde não havia falta nem de uvas nem de vinhas...‘ (op.cit., 21-22, trad. A.A.B.)


Descoberta pelo italiano Giovanni Cabotto (ca. 1450-1498) a serviço da Inglaterra?


O papel dos portugueses no descobrimento do Labrador e da Terranova foi recentemente reafirmado por Joaquim Veríssimo Serrão, presidente da Academia Portuguesa da História (Portugal en el mundo: Un itinerario de dimensión universal, Madrid: Mapfre 1992). Em primeiro lugar, o autor relativa a prioridade de Giovanni Cabotto (ca. 1450-1498), considerado por muitos como o verdadeiro descobridor da América. Na forma inglesa de John Cabot, a Inglaterra remonta a êlê a primazia e a legitimidade de seus direitos no Novo Mundo.


A sua exposição parte do interesse despertado na Inglaterra pela descoberta de terras no Atlântico ocidental pelos portugueses. O projeto, ali apresentado por Giovanni Cabotto, a serviço das armadas de Bristol, foi bem recebido por Henry IV (1366/7-1413), que decidiu patrocinar o empreendimento por apresentar perspectivas de poder ser realizado com sucesso. Essas expectativas fundamentavam-se nas boas condições marítimas propiciadas pela corrente fria que vinha do estreito de Davis e que levava à ilha de Baffin. Em 1497, Cabotto, juntamente com o seu filho Sebastiano (1474-1557), deu início à viagem, alcançando a costa do continente americano a 24 de junho. Alcançou o Cabo Bretón e descobriu Terra Nova, pensando ter chegado ao Oriente.


Essa corrente permitiu que se aproximasse da terra posteriormente chamada de Labrador, na península de Terra Nova. Assim, segundo Veríssimo Serão, explicar-se-ia o fato de ter feito época a opinião que Giovanni Caboto havia descoberto o Labrador na viagem que efetuou em 1498. Nessa segunda viagem, percorreu o litoral da Groenlândia em direção ao sul, até o cabo Hatteras. Veríssimo Serrão salienta, porém, que essa segunda expedição foi um fracasso marítimo, invalidando a hipótese que tivesse desembarcado na península do Labrador. (op.cit. 306-308)


O filho de Giovanni Caboto, Sebastiano, que serviu alternadamente à Espanha e à Inglaterra, autor de um mapa mundo (1544), esteve no Brasil a serviço da Espanha, em 1526 e 1530, à procura do caminho às Molucas pelo Ocidente. Na Inglaterra, como conselheiro em questões navais, dirigiu os Merchant Venturers a partir de 1553, levando-os a procurar uma passagem pelo nordeste, o que deu origem, em 1557, ao comércio marítimo entre a Inglaterra e a Rússia (Archagelsk).


Prioridades portuguesas: explorações de regiões atlânticas a ocidente por Diogo de Teive


Veríssimo Serrão salienta que o Atlântico foi explorado em longitudes mais a ocidente por navegadores como Diogo de Teive, que cerca de 1452 chegou ao mar dos Sargaços, às ilhas do Corvo e das Flores, podendo ainda ter atingido os bancos da Terra Nova, segundo uma hipótese (controversa) de Jaime Cortesão.


Diogo de Teive foi capitão de caravelas e escudeiro da Casa do Infante D. Henrique (1394-1460), o que o insere no contexto de maior importância histórica da história das navegações portuguesas. Chegou à ilha de Jesus Cristo (Terceira), a primeiro de janeiro de 1451, como ouvidor do Infante, tendo realizado duas viagens de exploração do mar a ocidente dos Açores. No regresso de sua segunda viagem, em 1452, descobriu as ilhas das Flores e do Corvo que, consideradas como um arquipélago, receberam o nome de Ilhas Floreiras. Em 1452, fechou um contrato com o Infante para a instalação de um engenho de açúcar na Madeira.

Tem-se levantado a hipótese de estar relacionado com o desaparecimento do flamengo Jácomo de Bruges, capitão donatário da ilha. Diogo de Teive vivu na Ribeira Brava, após 1472. Juntamente com o seu filho, João de Teive, tiveram direitos até 1474, quando esses foram adquiridos por D. Fernão Teles de Meneses.

João Fernandes e a Terra do Lavrador


Segundo Veríssimo Serrão, hoje haveria argumentos seguros para partir-se da opinião de que o Canadá foi encontrado por João Fernandes, da Ilha Terceira. Esse açoriano prometera a D. Manuel I (1469-1521) descobrir terras no Atlântico, devendo, então, ser nomeado capitão das mesmas. Por carta de 28 de outubro de 1499, esse pedido foi aceito.


No seu empreendimento, João Fernandes foi acompanhado por Pedro Barcelos, da vila da Praia, na Ilha Terceira. Um documento de 1506 informa que a ação durou três anos, e João Fernandes é mencionado expressamente como „labrador“, indicando que era proprietário de terras ou vivia de agricultura.


João Fernandes, em 1499, fechou um contrato com negociantes de Bristol concedendo o senhorio das terras que descobrisse no continente americano. Supõe-se, assim, que João Fernandes dirigiu-se primeiramente ao porto inglês para pedir apoio para a viagem. Ignora-se, porém, a participação concreta dos negociantes de Bristol no empreendimento.


Já em 1501, o mapa de Peraro se refere ao „Cavo Laboradore et Insula Laboradore“. Tudo indica, portanto, segundo Veríssimo Serrão, que cabe a João Fernandes a prioridade no descobrimento do Labrador uma vez que Giovanni Caboto não teria ali descido.


O topônimo Laboradore indica que a expedição realizou-se em 1499-1500 e que o seu nome reflete aquele pelo qual era conhecido popularmente. Segundo Veríssimo Serrão, não existem argumentos sólidos contra essa elucidação do descobrimento da terra e da denominação do Labrador.


João Vasco Corte Real e a Terra dos Bacalhaus (Terra Nova)


As águas de Terra Nova foram de particular importância para Portugal, pois nela pescadores de Viana, de Aveiro e dos Açores iam buscar o bacalhau.


Hoje, segundo o historiador português, aceita-se que João Vaz Corte-Real foi primeiro europeu que atingiu a costa americana, mais de vinte anos antes de Colombo. A principal fonte histórica que fundamenta é a de Gaspar Frutuoso (1522-1591).

Gaspar Frutuoso  afirma que João Vasco Corte Real realizou uma viagem à Terra dos Bacalhaus (Terra Nova), pouco antes de 1474, ou ao redor de 1472. Pouco pode-se questionar a seriedade dessa informação, uma vez que o seu autor foi historiador e sacerdote, nascido em Ponta Delgada e falecido em Ribeira Grande, personalidade de alta formação, bacharel em Artes e Teologia pela Universidade de Salamanca e doutor em Teologia.

João Vasco Corte Real teria, assim, realizado várias viagens que o teriam levado à costa da América do Norte, explorando as margens do rio Hudson e São Lourenço e atingindo a Península do Labrador.

Em 1474, foi nomeado capitão-donatário de Angra, acrescentando-se, a partir de 1483, o da ilha de São Jorge. Os seus três filhos também foram navegantes e envolvidos no empreendimento paterno no Canadá: Gaspar Corte-Real, Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real. Segundo Veríssimo Serrão, não havendo provas seguras que Caboto tivesse chegado a Terranova na viagem de 1498, o rei D. Manuel I deu a Gaspar Corte Real autorização para o empreendimento. Esse realizou-se em 1499 ou no início de 1500.

Tragédias nos empreendimentos açorianos no Canadá

Na segunda metade de 1500, Gaspar Corte Real realizou de novo uma viagem procurando a região fria e de muitos arvoredos que chamara de Terra Verde (Nova Scotia?), e da qual havia trazido alguns indígenas. Em 1501, realizou uma terceira viagem, com esquadra de três navios. A nave que capitaneava se perdeu, permanecendo em outro navio, nunca mais retornando.


Supõe-se que morreu ou caiu no poder de indígenas, dando início à saga da tragédia dos Corte Real no descobrimento da Terra Nova. Para procurar o seu irmão, Miguel obteve a autorização para realizar uma nova viagem, partindo a 12 de maio de 1502. Também o seu vestígio se perdeu entre os habitantes da Terra Nova. A situação parecia grave demais para que se realizasse uma nova viagem, agora sob a direção de Vasco Eanes Corte Real em 1504. Assim, não se deu prosseguimento à empresa.


Assim, as expedições marítimas levaram ao desaparecimento de Gaspar e Miguel, emprestando aos empreendimentos portugueses no Canadá uma aura de tragédia.


O mapa de Cantino, de 1502, traz a notícia de que a terra foi descoberta por mandato de D. Manuel por Gaspar Corte Real, cavaleiro da casa real. Em meados do século XVI, o nome de „Terra Verde“ passou a ser substituido por de terra dos Corte Reais.


Pedra de Dighton na perspectiva portuguesa do Descobrimento


Veríssimo Serrão lembra de uma já antiga discussão iniciada em 1916 por Edmundo Burke Delabarre (1863-1945), da Universidade de Brown, a respeito da Pedra de Dighton, na embocadura do rio Taunton, Massachussets. Nesse pedra, descobriu-se uma inscrição, em gótico, com texto que misturava português e latim (Miguel Cortereal D Dei Hic Dux Ind A D 1511), e uma imagem rústica que poderia sugerir o escudo manuelino, lida como „Miguel Corte Real voluntate Dei hic dux indorum anno Domini 1511“.


Um médico luso-americano, Manuel Luciano da Silva, também historiador e pesquisador, compenetrando-se do significado da descoberta, empenhou-se na sua difusão. Em 1973, construiu-se um abrigo octogonal para a pedra, criando-se o Museu da Pedra Dighton, hoje parque nacional.

Miguel Corte Real não teria assim morrido, mas sim caminhado em direção ao sul, atingindo a baía de Narragansett. Ali, os portugueses teriam tido um conflito com os indígenas, no qual teria morrido o chefe da tribo. Esse cargo teria sido ocupado por Miguel Corte Real, continuando vivo ao redor de 1511.

Assim, o achado de Dighton deu origem a um debate que dá margens a desenvolvimentos fantasiosos e a polêmicas.

Segundo Veríssimo Serrão, o problema foi marcado nos últimos anos sobretudo por razões de ordem sentimental, não científica, que pouco esclarecem o mistério do fim dos irmãos que alcançaram e, sem dúvida, teriam povoado a ilha de Terra Nova. (op.cit. 305-310)


João Álvares Fagundes (ca. 1518) e a suposição de tentativas de colonização


Provavelmente ao redor de 1518, João Álvares Fagundes, de Viana do Castelo, explorou os litorais da Nova Escócia, das ilhas de cabo Bretão, da Terra Nova e das ilhas das Onze Mil Virgens. Supõe-se tentativas de povoamento próximo ao cabo Bretão. Diogo de Barcelos, filho de Pêro de Barcelos, procedeu a explorações antes a 1531. Procurou-se criar um povoado numa ilha, talvez no golfo de S. Lourenço.


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Indicação bibliográfica para citações e referências:


Bispo, A.A (ed.). "Do descobrimento do Canadá pelos portugueses:„Terra do Labrador“ e "Terra dos Bacalhaus". Revista Brasil-Europa 128/2 (2010:6). www.revista.brasil-europa.eu/128/Descobrimento-do-Canada.html






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