Surfe em Waikiki e Ipanema: significado cultural. Revista BRASIL-EUROPA 126. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

Por motivo da passagem dos 25 anos da oficialização alemã do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS), tendo-se escolhido o Havaí para a realização de estudos músico-culturais relacionados com a comunidade local de ascendência portuguesa (Veja tema em debate, nesta edição), não se poderia deixar de dirigir a atenção a uma prática que caracteriza de forma especial a cultura havaiana: a do surfing.

Cantos narrativos tradicionais do Havaí transmitem a memória das antigas raízes dessa prática, fazendo supor que já em período anterior ao século XV reis do Havaí o praticavam na forma do he'e nalu, constituindo este até mesmo um distintivo real em determinadas praias, tabuizando-as para o povo comum.

Os seus praticantes possuiam orações e cantos próprios, relativos à própria prática, estreitamente vinculada com o edifício global de visões do mundo e do homem. Havia observâncias até mesmo para a construção de pranchas, para as quais apenas determinadas madeiras podiam ser utilizadas. Os estudos da cultura musical do Havaí confrontam-se assim com as concepções transmitidas de forma cantada, e a atenção é dirigida à imagem do homem a elas inerente.

Significado especial para o Brasil

A presença da cultura havaiana no Brasil se manifesta na prática do surfe nas praias do país, podendo-se aqui lembrar, entre outras, a de Ipanema. Ainda que seja pouco notado por pesquisadores, surgindo antes como um divertimento ou atividade esportista de moda, sem maior relevância para estudos culturais, o surfe assume, sob muitos aspectos, significado relevante e mesmo transcedência, sobretudo se considerado à luz da atual discussão referente a uma "filosofia Intercultural", ou melhor, às relações entre a filosofia e os estudos de processos inter-e transculturais.

Em primeiro lugar, o observador mais atento a fenômenos sociais contemporâneos não pode deixar de constatar a existência de uma "cultura do surfe", caracterizada pela existência de rêdes, de uma geografia própria determinada pelos locais privilegiados para a sua prática, de revistas especializadas, de competições, de terminologia e práticas específicas a grupos. Percebe a necessidade de se considerar o fenômeno sob perspectivas supra-regionais ou mesmo internacionais, uma vez que seus praticantes, à procura de locais de condições mais adequadas, viajam e valorizam mares e praias de diferentes regiões e países segundo o critério de suas ondas.

Os estudos sociais e culturais de fenômenos atuais confrontam-se assim com questões relativas não apenas à mobilidade, mas sim também com aquelas relativas a processos de recepção e assimilação de expressões, correntes e tendências, de suas transformações e elos recíprocos.

Esse direcionamento das atenções a caminhos de difusão e de constituição de rêdes faz com que se perceba que há uma história do surfe e de sua expansão, marcada por eventos e nomes de surfistas que se destacaram, e que essa história se insere naquela naquela mais ampla de relações culturais entre nações e continentes.

Necessitando ser assim estudado sob uma perspectiva histórico-cultural ampla, o surfe contribui, reciprocamente, para o desenvolvimento dos estudos culturais inter-e transculturais. Ele dirige a atenção ao fato que, diferentemente de muitos outros esportes, não representa uma contribuição de países colonizadores aos colonizados, da Europa ao resto do mundo. Não é um resultado da expansão imperial britânica, por exemplo, que levou à difusão da hípica de expressão inglêsa; difere-se, sob esse aspecto, também da história da expansão mundial do futebol, do tênis, do golfe e de muitas outras práticas esportivas. Revela-se, ao contrário, como contribuição do mundo extra-europeu à Europa e aos outros continentes, inserindo-se em complexo cultural de dimensões mundiais, marcado por intensa dinâmica de intercâmbios, relações recíprocas e transformações.

Torna-se compreensível, assim, que o surfe adquira um significado especial sob a perspectiva do homem polinésio, uma vez que constata a expansão internacional de uma prática que foi um dos elementos caracterizadores de sua antiga cultura.

O surfe desempenha um papel a ser considerado nos estudos da identidade polinésia nas suas diferentes contextualizações insulares, regionais e nacionais. Embora diga respeito a vários grupos culturais do universo do Pacífico, é sobretudo o Havaí que tem a sua imagem mais marcada pela prática e pela valorização dessa prática como expressão cultural. Há aqui um fenômeno similar ao da tatuagem, que, também generalizado no mundo insular oceânico, surge na atualidade sobretudo como expressão emblemática do Taiti. (Veja número anterior desta revista)

Assim como o tattoo taitiano apresenta valorações diversas daquela da tradição da tatuagem ocidental, inserindo-se em diferente edifício de concepções, representando um modo de vida e uma imagem do homem que pode ser até mesmo analisada sob o aspecto músico-antropológico, o surfing havaiano revela-se, numa aproximação mais atenta, como expressão cultural de sentido mais profundo, também fundamentada originalmente em complexo cultural que reflete uma visão da natureza ou do tipo ideal do homem, apta a ser estudada sob o aspecto de uma antropologia de orientação musicológica.

Se o tattoo, gravado no corpo, pode ser considerado como uma segunda vestimenta ou uma segunda pele simbolizando um estado primordial do homem, o elo a ser estudado do surfing com concepções antropológicas exige maior atenção e esforço de abstração, uma vez que se trata de uma ação, de uma prática que reflete um proceder na temporalidade.

Ipanema e Waikiki: simples elitismo ou antes nobreza do homem ideal?

No arquipélago havaiano, o culto à cultura do surfe marca em especial Waikiki, o bairro praiano por excelência de Honolulu, centro de veraneio de renome internacional pelas suas qualidades naturais, urbanas e histórico-culturais.

O surfe se insere aqui, assim como em Ipanema, em ambiente de área de nível social privilegiado e que se manifesta nos seus hotéis de alta categoria e no refinamento de seu comércio, em particular nas suas casas de moda.

Em Waikiki, porém, a conotação aristocrática, os elos com concepções de nobreza são mais evidentes devido a constantes referências ao passado monárquico do Havaí, perpetuado em nomes de ruas, monumentos e parques.

Pertencendo o Havaí aos Estados Unidos, o norte-americano tem, em Waikiki, a singular possibilidade de vivenciar uma atmosfera marcada por sinais de realeza, única no republicano país, experimentando, pelo menos temporariamente, o fascínio da superioridade e da liberdade que deve ter o homem que paira sobre as necessidades, sobre as vagas da existência.

Dentre os sinais da nobreza havaiana, manifestados em instituições tradicionais com conotações de realeza e nos vários monumentos que ornamentam os jardins de Waikiki, encontram-se expressas referências ao surfing. A administração de Honolulu, em particular atraves do seu Conselho de Cultura e Artes, configurou o local com placas informativas em forma de pranchas e com estátuas de surfistas. Mesmo fatos e vultos da história política do Havaí são expostos em molduras com forma de prancha de surfe.


Criou-se, assim, um parque com conotações culturais, denominado segundo o príncipe Jonah Kuhio Kalaniana'ole (1871-1922), herdeiro do trono havaiano, e que se salientou na defesa dos direitos do Havaí autônomo como delegado ao Congresso dos Estados Unidos. O atual Kuhio Beach Park situa-se no local de sua residência, Pualeilani, com praia aberta ao público em 1918, sendo a propriedade cedida posteriormente à municipalidade.

Nesses textos com dados sobre a história de Waikiki, salienta-se que esse nome significa "spouting water", designação explicável por ter sido a região cortada por várias correntes, entre êles a do Kuekaunahi.

Desde as mais remotas eras, esse local de águas foi um local privilegiado para o surfing, e, em tradição secular, ali residiam ou acampavam chefes nativos para a sua prática. Embora considerado "esporte de reis", era por todos cultivado, assumindo uma extraordinária relevância na vida da sociedade.

Dentre os nomes de surfistas perpetuados em Waikiki salienta-se o de Kalehuawehe, o "tira o lehua". Essa designação referia-se àquele "herói das ondas" que tirava o seu lei de lehua para dá-lo à mulher do chefe principal que havia sido o seu companheiro no surfing, um ato de nobre cortesia e galanteria.

Os responsáveis pelas elucidações nos jardins da praia de Waikiki fazem questão de salientar que o surfing, ainda que hoje surja como incompreensível, foi alvo de combate dos missionários cristãos no século XIX, chegando quase a desaparecer.

Como se explicaria tal aversão por parte dos evangélicos, qual seria a incongruência que viram entre essa atividade aparentemente tão inofensiva com o Cristianismo que pregavam?

Já essa questão chama a atenção para o significado de um estudo da história do surfing sob o ponto de vista das relações entre povos e de processos inter- e transculturais.

Apesar da animosidade dos missionários e de seus crentes para com essa prática, também estrangeiros tentaram praticá-los. Assim como vários europeus quiseram tatuar-se em Taiti no século XIX (Veja número anterior desta revista), assim tambem visitantes do Havai procuraram praticar o surfe. Esse foi o caso, lembrado nas praias de Waikiki, do escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) que, na sua obra relativa a Waikiki (1866), descreve de modo expressivo como falhara com a sua falta de habilidade e arte.

Salienta-se, assim, que o surfing atual representa uma revalorização ou mesmo um renascimento de uma prática tradicional ameaçada de ser abandonada e extinta atraves da ação e da influência missionária. Esse ressurgimento relaciona-se com uma reconscientização de valores culturais do Havaí. Torna-se compreensível, assim, que nomes de surfistas famosos sejam perenizados em monumentos como representantes exponentes da cultura havaiana e mesmo como autoridades na difusão de uma concepção do homem e de sua relação com a existência.

O monumento de maiores dimensões de Waikiki é, significativamente o de Duke Paoa Kahanamoku (1890-1968). Esse atleta, vencedor várias vezes de jogos olímpicos na disciplina da natação, surge como principal representante do renascimento do surfing e no seu reconhecimento internacional. Com o prestígio que alcançara na natação, esteve em condições de valorizá-lo, sobretudo inicialmente nas esferas do mundo mais vinculadas com o universo do Pacífico, na Austrália e na Califórnia. A sua estátua assume, assim, um significado simbólico que transcende aquele de memorial comemorativo de um destacado esportista. Compreende-se, assim, ser escolhida como emblema por acadêmicos e para fotografias de classes de absolventes de escolas superiores.


Makua e Kila: surfing é mais do que um esporte


Que surfistas passam a ser considerados como autoridades na difusão de uma concepção do homem e da existência, isso o demonstra o monumento que a Comissão de Cultura e Artes de Honolulu levantou a duas figuras de um livro para crianças do surfista e escritor Fred van Dyke: Makua e Kila.

A escultura, de Holly Young, mostra o jovem surfista Makua, que vive na praia (Makua Lives on the Beach) no seu estreito relacionamento com a foca Kila, esta o auxiliando nas águas, aquele amparando-a quando machucada.

As autoridades havaianas elucidam o seu intuito como homenagem aos valores havaianos de amor e respeito para com a vida dos mares e com a família (ohano), compreendida assim em acepção ampla. Correspondem, assim, à convicção de Fred van Dyke de que o surfe é mais do que um simples esporte, representando um modo de vida e valores que merecem ser transmitidos às novas gerações de forma lúdica, por meio da literatura infantil.


Paradoxos da história cultural do surfing

Já a partir dessas informações fornecidas aos visitantes de Waikiki, o leitor constata singulares paradoxias na história das relações entre o Havaí e os Estados Unidos. Justamente aqueles que hoje mais apreciam e valorizam a atmosfera aristocrática de Waikiki, dando-lhe um brilho nostálgico e sentimental, foram aqueles que levaram à queda da monarquia havaiana.

O pesquisador percebe, aqui, a necessidade de estudos mais aprofundados, pois constata que houve modificações sensíveis na apreciação de expressões culturais, uma verdadeira reviravolta de posições, uma vez que a situação atual contradiz o empenho dos missionários do passado em transformar a cultura dos nativos. A sensação de paradoxia resulta do fato de que foram círculos derivados desses missionários que mais contribuiram à queda da forma monárquica e à anexação do Havaí aos Estados Unidos.

Seria a mudança de atitude perante o esporte explicável pelo fato de agora tratar-se de uma expressão americana? Ou seja, teriam os missionários norte-americanos combatido uma expressão de particular significado para a auto-consciência havaiana a serviço - ainda que inconsciente - da destruição de sua autonomia, mudando os americanos os critérios de avaliação logo após terem tomado posse do arquipélago?

O tratamento diferenciado dessas questões é relevante sob muitos aspectos, e um deles diz respeito à possível suposição de que a expansão da prática do surfe em várias regiões do mundo - também no Brasil - representa um sinal de americanização de contextos culturais.

Seria, porém, uma redução indevida da complexidade cultural a que se prende o surfe se assim fosse considerado.

O estudo histórico-cultural dessa expressão cultural apenas pode ser desenvolvido segundo uma perspectiva que considere as relações da Europa com o Pacífico.

O surfing na história das relações entre a Europa e o Pacífico

A antiguidade da pratica do surfing no Havaí é documentada por uma prancha feita de madeira da árvore da fruta-pão (Veja artigo no número anterior desta revista) descoberta, em 1905, em túmulo em Ko'Okena, Big Island. Supõe-se tratar do veículo pessoal para a pratica aquática de uma mulher, a chefe Kaneamuna, reinante no início do seculo XVI.

A quase que inexistência de documentos arqueológicos exige que se considere sobretudo as fontes escritas após o contato com os europeus. Esses relatos representam testemunhos da visão européia, valendo antes de mais nada para estudos da própria história cultural dos europeus confrontados com a cultura da Polinésia. Já os textos de descobridores e navegantes de fins do século XVIII e início do século XIX documentam a impressão que a habilidade natatória dos polinésios despertou nos europeus.

Um dessas referências é a do oficial russo de origem alemã Otto von Kotzebue (1788-1846) (Veja artigo no número anterior desta revista), que mencionou a prática do surfing como divertimento praticado mesmo em locais difíceis e riscantes.

"Running races, in which the girls took part, and apparently dangerous exercises in swimming amidst the surfing, were also among their amusements." (A New Voyage Round the World in the Years 1823,24, 25, and 26, 2. vols., II, London: Colburn and Bentley, 1830, 176; em alemão: Neue Reise um die Welt in den Jahren 1823-1826, 2 vols, Weimar 1830)

Surfing entre Antropologia e Missão: William Ellis (1794-1872)

Referências feitas por missionários representam as fontes mais importantes para o estudo do "cavalgar as ondas" no processo de transformação cultural do Havaí e de outras regiões da Polinésia.

Esses textos apresentam registros de expressões culturais tradicionais em desaparecimento, vivências pessoais e apologias da ação missionária. Podem servir assim para estudos conduzidos sob diferentes perspectivas, - da etnografia, da história inter- e transcultural, da história missionária -, exigem, porém, uma leitura particularmente crítica devido justamente às interações entre as observações, as experiências pessoais e as concepções missionárias.

Uma personalidade que testemunha de forma particularmente expressiva relações e problemas entre Etnologia e Missão no Hemisfério Sul é a de William Ellis (1796-1872). Proveniente de família de modestas origens, teve a sua formação no âmbito da London Missionary Society e no Homerton College, ordenando-se em 1815. Com a sua mulher, Mary Mercy Moor, partiu para o Pacífico, em 1816. Passou a desenvolver intensa atividade missionária nas Ilhas Sociedade (Taiti), exercendo influência sobre a família real. Preparou a vinda de outros missionários da London Missionary Society, entre êles John Muggridge Orsmond (1788-1856) e John Williams (1796-1839), com as respectivas esposas.

Em 1822, Ellis chegou às Ilhas Sandwich concomitantemente com um navio que trazia canhões para o rei Kamehameha II (1797-1824), um dos motivos que levaria esse chefe à viagem que o traria ao Brasil (Veja artigo nesta edição).

Como no Taiti, a missão desenvolveu-se paralelamente com o processo de transformação cultural e com questões de poder interno da sociedade. Após uma nova estadia no Taiti, Ellis transferiu-se para o Havaí, em 1823. Acompanhando missionários norte-americanos que procuravam locais para atividades, encontrou-se com a rainha Keopuolani (1778-1823), em Maui, importante agente na mudança cultural da sociedade. (Veja artigo sobre Kamehameha II nesta edição) Ellis impulsos a varias missões, entre elas a Mokuaikaua Church, Imiola Church, Kealakekua Church e Haili Church. Aprendeu a língua havaiana e a transcreveu no alfabeto latino.

Com o seu retorno à Grã-Bretanha, via New York, Ellis passou a escrever a respeito de suas observações na Polinésia, adquirindo renome como autor de obras de cunho etnográfico e geografico. Em 1823, publicou, nos Estados Unidos, o seu relato de viagem pela atual Big Island (A journal of a tour around Havaí'i, the largest of the Sandwich Islands, New York: Crocker and Brewster, 1823, reed. Honolulu: Mutual Publishing, 2004). Em 1827, publicou a sua narrativa de viagem em segunda edição, agora com menção expressa de seu conteúdo histórico-natural e etnográfico (Narrative of a tour through Havaí: or Owhyhee; with observations on the Natural History of the Sandwich Islands, and remarks on the manners, customs, traditions, history, and language of their inhabitants, Second Edition, Enlarged, London: H. Fisher, Son, and P. Jackson, 1827). Em 1829, surgiu, agora sob o título de pesquisas polinésias, uma obra em 3 volumes que desempenhou papel fundamental na divulgação dos conhecimentos sobre essa região (Polynesian researches, during a residence of nearly six years in the South Sea Islands, vols. 1 e 2, Fisher, Son & Jackson, 1829; Polynesian researches during a residence of nearly eight years in the Society and Sandwich Islands, vol. 3, Fisher, Son & Jackson, 1832).

Ellis chegou no Havaí em época na qual o surfing ainda representava uma das mais importantes atividades dos havaianos. Cultivava-se ainda a memória de Kamehameha "O Grande" (ca.1758-1819) (Veja artigo nesta edição), celebrado como grande surfista. Ao mesmo tempo, chegou numa época que marcava o processo de perda desse significado. O ano do início do reinado de Kamehameha II, 1819, foi aquele que se realizou a última festa Makahiki, ocasião na qual se realizavam competições do "cavalgar ondas".

A narrativa de viagem de Ellis inclui pormenorizados dados a respeito da prático do surfing, hoje de particular significado como testemunho de uma situação na fase inicial do processo de transformação cultural. Com a sua descrição, os europeus tomaram conhecimento dessa arte havaiana. Registra, no seu texto, a entrada do surfista no mar com a sua prancha, a distância que percorria, de um quarto de milha ou mais, dando atenção à aproximação das ondas e "furando-as" até atingir o recife. Descreve, então, como os nadadores se deitavam sobre as pranchas e, esperando uma onda maior, remavam com mãos e pés, e seguiam a onda de volta às pedras. Salienta que o observador, esperando vê-los estraçalhados, se espantava com a sua destreza vendo-os ressurgir de entre as pedras ou deslizar da prancha a tempo, antes que a onda se quebrasse com ruído ensurdecedor. O efeito dessa arte era aumentado pelos gritos e risos dos nativos. Os especialistas trocavam frequentemente a sua posição na prancha, às vezes sentando-se, às vezes ficando em pé. Ellis salienta a habilidade que era necessária para manter-se no cimo da onda.

"When playing in these places, each individual takes his board, and, pushing it before him, swims perhaps a quarter of a mile or more out to sea. They do not attempt to go over the billows which roll towards the shore, but watch their approach, and dive under water, allowing the billow to pass over their heads. When they reach the outside of the rocks, where the waves first breack, they adjust themselves on one end of the board, lying flat on their faces, and watch the approach of the largest billow; they then poise themselves on its highest edge, and, paddling as it were with their hands and feet, ride on the crest of the wave, in the midst of the spray and foam, till within a yard or two of the rocks or the shore; and when the observers would expect to see them dashed to pieces, they steer with great address between the rocks, or slide off their board in a moment, grasp it by the middle, and dive under water, while the wave rolls on, and breacks among the rocks with a roaring noise, the effect of which is greatly heightened by the shouts and laughter of the natives in the water. Those who are expert frequently change their position on the board, sometimes sitting and sometimes standing erect in the midst of the foam. The greatest address is necessary in order to keep on the edge of the wave: for if they get too forward, they are sure to be overturned; and if they fall back, they are buried beneath the suceeding billow." (Narrative of a tour through Havaí: or Owhyhee; with observations on the Natural History of the Sandwich Islands, and remarks on the manners, customs, traditions, history, and language of their inhabitants, William Ellis,  Missionary from the Society and Sandwich Islands. Second Edition, Enlarged, London: H. Fischer, Son, and P. Jackson, 1827, 374)

Ellis menciona também o uso de canoas leves em determinadas ocasiões, manobradas de forma similar, sendo porém mais difíceis de serem controladas.

O missionário registra expressamente a importância do surfing na vida social dos habitantes do arquipélago. Às vêzes, quando o vento soprava fresco, a grande maioria dos habitantes de uma aldeia saia para praticar esse esporte, passando a maior parte do dia na água. Todas as classes e idades o praticavam. Êle próprio vira Karaimoku e Kakioeva, alguns dos chefes de maior importância da ilha, ambos entre cinquenta e sessenta anos de idade, bastante corpulentos, balançando-se nas suas pranchas estreitas, com tanta satisfação como se fossem jovens de dezesseis anos. Os havaianos divertiam-se muitas vezes na bôca de um largo rio, onde a corrente encontrava-se com o mar, em condições que seriam fatais para um europeu. Quando o rei, a rainha ou qualquer dos grandes chefes brincavam, ninguém do povo aproximava-se do local. Os chefes orgulhavam-se muito de sua perícia e excelência. Taumuarii, o último rei do Tauai, era celebrado como o mais experiente surfista das ilhas.

Segundo Ellis, a única coisa que abalava o prazer dos havaianos no viver no mar e no praticar o surfing era a aproximação de um tubarão. Quando isso acontecia, fugiam em todas as direções, gritando alto e fazendo estardalhaço como se quisessem espantá-lo. Quando retornavam do divertimento, sempre eram indagados se tinham visto algum tubarão.

O vínculo dos nativos com a água era tão evidente que chamava a atenção de todo aquele que visitava as ilhas. O navegante, muito antes de atingir a costa já os via vir nadando de encontro a seu navio.

"Occasionally they take a very light canoe; but this, though directed in the same manner as the board, is much more difficult to manage. Sometimes the greater part of the inhabitants of a village go out to this sport, when the wind blows fresh towards the shore, and spend the greater part of the day in the water. All ranks and ages appear equally fond of it. We have seen Karaimoku and Kakioeva, some of the highest chiefs in the island, both between fifty and sixty years of age, and large corpulent men, balancing themselves on their narrow board, or splashing about in the foam, with as much satisfaction as youths of sixteen. They frequently play at the mouth of a large river, where the strong current running into the sea, and the rolling of the waves towards the shore, produce a degree of agitation between the water of the river and the sea, that would be fatal to an European, however expert hemight be; yet in this thex delight: and when the king or queen, or any high chiefs, are playing, none of the common people are allowed to approach these places, lest they should spoil their sport. The chiefs pride themselves much on excelling in some of the games of their country; hence Taumuarii, the late king of Tauai, was celebrated as the most expert swimmer in the surfing, known in the islands. The only circumstance that ever mars their pleasure in this diversion is the approach of a shark. When this happens, though they sometimes fly in every direction, they frequently unite, set up a loud shout, and make so much splashing in the water, as to frighten him away. Their fear of them, however, is very great; and after a party return from this amusement, almost the first question they are asked is, "Were there any sharks?" The fondness of the natives for the water must strike any person visiting their islands; long before he goes on shore, he will see them swimming around his ship (...)" (loc.cit.)

Ellis também deixou registros sobre o surfing no Taiti, chamado de faahee, testemunhando que ali a prática era tão intensa quanto no Havaí. O "nadar na onda" quando essas eram altas e quebravam em espumas e jorros entre recifes consistia um dos favoritos passatempos para pessoas de todas as classes e idade, de ambos os sexos. Escolhiam, em geral, um recife ou entradas de baías, onde as ondas se encontravam majestosamente com os rochedos. Ellis documenta o uso de uma prancha pequena entre os taitianos, chamada de papa faahee. Descreve tambem aqui expressivamente como os surfistas entravam pelo mar até à considerável distância de quase uma milha. Observavamentão o despertar de uma onda, e quando esta os alcançava, colocando-se na parte mais curta da prancha, montavam sobre ela e, em meio a espumas e jorros, cavalgavam na sua crista em direção à praia. Estavam tão familiarizados com a água que raramente acontecia algum acidente.

One of their most favourite sports, is the faahee, or swimming in the surfing, when the waves are high, and the billows break in foam and spray among the reefs. Individuals of all ranks and ages, and both sexes, follow this pastime with the greatest avidity. They usually selected the openings in the reefs, or entrances of some of the bays, for their sport; where the long heavy billows of the ocean rolled in unbroken majesty upon the reef or the shore. They used a small board upon the reef or the shore. They used a small board which they called papa faahee - swam from the beach to a considerable distance, sometimes nearly a mile, watched the swell of the wave, and when it reached them, resting their bosom on the short flat pointed board, they mounted on its summit, and, amid the foam and spray, rode on the crest of the wave to the shore: sometimes they halted among the coral rocks, over which the waves broke in splendid confusion. When they approached the shore, they slid off the board, which they grasped with the hand, and either fell behind the wave, or plunged toward the deep, and allowed it to pass over their heads. Sometimes they were thrown with violence upon the beach, or among the rocks on the edges of the reef. So much at home, however, do they feel in the water, that it is seldom any accident occurs." (William Ellis, Polynesian Researches ... I, op.cit. 304-5)

Surfing e a "civilização" da Polinésia: John Williams (1796-1839)

Também o companheiro de Ellis da London Missionary Society, John Williams, de orientação calvinista metodista, que, com a sua mulher Mary Chawner estabeleceu a primeira estação missionária em Raiatea (Veja número anterior desta revista), dali realizando atividades em várias outras ilhas, deixou registros referentes à cultura do surfing na Polinésia.

John Williams utilizou-se do princípio congregacional de propagar o Evangelho através dos próprios nativos para evangelizar as ilhas Cook, Rarotonga e Samoa. Retornando em 1834 à Inglaterra, trazendo um nativo cristianizado de Samoa, supervisionou a impressão do Novo Testamento na língua de Rarotonga. Publicou o relato de suas experiências e atividades na Polinésia  (Narrative of Missionary Enterprises in the South Sea Islands, Londres 1836) e retornou à Polinésia em 1837. Foi morto e comido em Erromango, em 1839. (Ebenezer Prout, The Martyr Missionary of Erromanga: Or The Life of John Williams (1844), Kessinger Publishing 2009).

Assim como as publicações de Ellis, também o livro de Williams contribuiu para o revitalizar de interesses por essa região do mundo na Europa. Se a obra de Ellis apresenta um cunho mais científico, de particular interesse etnográfico e histórico-natural, o livro de Williams apresenta uma tendência mais acentuada para valorizar a contribuição "civilizacional" da ação missionária segundo as idéias congregacionais vigentes na Grã-Bretanha.

Nessa obra, também Williams  documenta o "cavalgar em triunfo na crista da onda" como uma das principais ocupações e diversões da vida do polinésio. O surfing é mencionado no mesmo contexto e à mesma altura de outros valores culturais, tais como a recitação de narrativas tradicionais e as danças.

Williams salienta o grande trabalho que representou aos missionários tirá-los desse modo de vida. Foi necessário criar novos hábitos, e isso foi particularmente difícil pelo fato dos nativos não compreenderem a importância das mudanças pretendidas e a razão pela qual deveriam deixar de praticar surfe. Os meios utilizados pelos missionários para criar novos costumes, para os quais os nativos não tinham tendência, e superar os antigos, foi o de mostrar as vantagens da nova cultura, o conforto proporcionado por objetos e pelo modo de vida europeu, ou seja, despertar necessidades que apenas poderiam ser saciadas com a adoção de uma vida de trabalho árduo. Levando-os assim a trabalhar, não tinham tempo para dedicar-se ao "cavalgar em triunfo sobre a crista da onda".

"(...) to ride in triumph upon the crested wave, to race, wrestle, and recite their traditions; or at evening, to mingle in the wild froe, or the favorite dance, were among the chief occupations and enjoyments of their life, except, when inflamed by revenge or stimulated by fear, they girded themselves for the battle. What a task to induce them to exchange such a state, for the patient and continuous labor of acquiring knowledge, and forming habits, the importance of which they could but dimly discern!

But this was accomplished, and by the only means adequate to so great an effect. While presenting every secular motive which the natives could understand to excite them to labor, the missionaries knew well that the force of all such considerations as their personal and domestic comfort, would, if urged alone, be insufficient to overcome the habits and propensities by which they were opposed." (Ebenezer Prout, Memoirs of the Life of the Rev. John Williams, Missionary to Polynesia, Nabu Press 2010, 55-56)


Abandono do surfing pelos missionados: George Turner (1817-1891)

O método empregado pelos missionários da London Missionary Society, e derivados do congrecionalismo, era o de dar impulsos a que os próprios cristianizados se tornassem agentes da propagação do Evangelho e da transformação cultural.

No caso do surfing, tratava-se de fazer com que os jovens polinésios abandonassem por si próprios a sua prática. Com a erosão do edifício de concepções tradicionais, os chefes cristianizados já não o praticavam. Assim como já mencionado no livro de Williams, tratava-se de agora de dar ocupação aos jovens, acostumando-os de tal forma a uma vida de trabalho que já não tinham vontade de "perder o seu tempo" na praia e no mar.

Um testemunho expressivo da mudança que os missionários alcançaram nesse sentido encontra-se no relato de atividades de George Turner, como Ellis missionário e etnógrafo, que atuou a partir de 1840 em Samoa, uma década após a missão ter sido ali introduzida.

Turner publicou o relato de suas experiências de 19 anos de missão e de pesquisa na Polinésia em 1861 (Nineteen years in Polynesia : Nineteen Years in Polynesia: Missionary Life, Travels, and Researches in the Islands of the Pacific, Londres: John Snow 1861). Aqui e na sua obra posterior sobre Samoa, salienta a mudança cultural ocorrida nas culturas da região (Samoa : a Hundred Years Ago and Long Before; together with Notes on the Cults and Customs of Twenty-three Other Islands in the Pacific, Londres: Macmillan, 1884).

Turner registra que o nadar nas ondas sobre um prancha ou dirigir pequenas canoas na crista de uma onda teriam sido os principais esportes praticados pelos jovens samoanos. Entretanto, dando o pesquisador Turner lugar ao missionário Turner, constata com satisfação o fim da prática do surfing. Salienta que os jovens, depois da chegada do Cristianismo, já possuiam outros tipos de preocupação e afazeres, não precisando perder o seu tempo com tais infantilidades. Os missionários tinham tido o cuidado de lhes dar trabalho suficiente e preencher o seu tempo para que nem mesmo tivessem vontade de ir à praia. (Nineteen years in Polynesia : Nineteen Years in Polynesia: Missionary Life, Travels, and Researches... op.cit. 217-218)


"They have sundry other amusements. Swimming in the surfing on a board, and steering little canoes while borne along on the crest of a wave towards the shore, are favourite juvenile sports.
Now, however, many of them find in Christianity other and better occupations, and have either time nor inclination to follow after the childish things in which they were wont to revel in by-gone days."
(Nineteen years in Polynesia : Nineteen Years in Polynesia: Missionary Life, Travels, and Researches... op.cit. 217-218)

Ação congregacionalista no combate ao surfing


O mais eficiente fator na história do combate ao surfing no século XIX foi, como essas referências o demonstram, a ação dos evangelizadores congregacionalistas norte-americanos. Essa eficiência baseou-se no fato de que os missionários levaram a que se desenvolvesse um processo de supressão de costumes e práticas da cultura tradicional conduzido pelos próprios nativos. O intento congregacionalista era, segundo o princípio sola scriptura, o da propagação dos textos bíblicos, impulsionando a auto-condução de sua difusão através de congregações quase que autônomas e de pregadores nativos.


Com isso, colocaram em vigência uma processo de auto-propagação e de transformação cultural levado pelos próprios polinésios, que podiam exercer muito maior influência sobre os seus conterrâneos do que pregadores estrangeiros, sobretudo também por estarem inseridos numa congregação local, sujeitos a pressões e controles sociais mais intensos.


O missionário era um impulsionador, mudando-se frequentemente de local, procurando infiéis, deixando a liderança de igrejas a nativos. O direcionamento da atenção à propagação das escrituras e à sua interpretação literal dificultou aqui reinterpretações de significados de concepções e práticas tradicionais.


Como provas de pertencimento e lealdade aos grupos  passaram a ser vistos sinais exteriores, tais como roupas, atitudes e expressões, o que levou a um nivelamento cultural segundo o modêlo dos pregadores norte-americanos.


Esse desenvolvimento correspondeu ao debate então conduzido sobre a prioridade ou não da "civilização" na ação missionária. O que viria antes, civilização ou conversão? Dever-se-ia primeiramente mudar hábitos e costumes, acostumar os nativos ao trabalho e ao uso de roupas, ou ganhá-los primeiramente para a fé, sendo a transformação de costumes uma decorrência?


Pelas próprias características do sistema auto-transformador desencadeado, o papel do que então se entendia por "civilização" assumiu um significado primordial. Com isso, o sistema fomentou a adoção de normas de comportamento e de expressões vigentes nos respectivos círculos dos Estados Unidos, contribuindo à norte-americanização cultural do Havaí e de outros universos insulares da Polinésia segundo costumes e usos da época.


Combate à nudez e decência como progresso:  Rufus Anderson (1796-1880)


Uma voz significativa que testemunha esse processo de auto-propagação - e a necessidade de uma consideração diferenciada, teórico-cultural de intenções e práticas - é a de Rufus Anderson (1796-1880). Esse missionário é considerado, ao lado de Henry Venn (1796-18734), da Church Missionary Society, como autor do método de difusão autônoma.


Filho de um pastor congregacionalista da igreja de North Yarmouth, Maine, Rufus Anderson recebeu a sua formação no Bowdoin College (1818) e no Andover Theological Seminary (1822), ordenando-se em 1826. Casou-se com Eliza Hill (1804-1880), em 1827. As suas atividades passaram a ser determinadas pela sua participação no American Board of Commissioners for Foreign Missions (ABCFM), onde, tendo iniciado como assistente, desempenharia papel de particular influência. A partir de 1832, tornou-se responsável pela ação missionária em regiões ultramarinas.


A concepção de evangelização defendida por Rufus Anderson era, em princípio, a de que a conversão de homens perdidos devia estar em primeiro lugar, não a sua civilização, sendo esta uma decorrência, ou seja, por aquela impulsionada. Entretanto, os evangelizadores deveriam criar condições para o desenvolvimento de igrejas locais através da tradução da Bíblia, do fomento da leitura, de escolas, da imprensa e de outras atividades. Com isso, porém, apesar das intenções em contrário, a prática congregacionalista levou, de facto, a uma prioridade civilizatória, uma vez que as comunidades auto-administradoras e auto-propagadoras orientavam-se pelas normas vigentes do contexto dos evangelizadores.


Anderson, que esteve no arquipélago havaiano em 1863, como Secretário para o Exterior do American Board of Commissioners for Foreign Mission, publicou obras hoje fundamentais para estudos do processo de transformação cultural do Havaí sob a ação dos congregacionalistas. O título de seu livro de 1864 menciona explícitamente o progresso, ou seja, o desenvolvimento civilizatório do arquipélago sob a ação dos missionários (The Havaían Islands: their Progress and Condition under Missionary Labors (Boston: Gould and Lincoln, 1864). A história da missão local e o sucesso da transformação alcançada em poucas décadas pelo método congregacionalista são descritos em A heathen nation evangelized: History of the Sandwich Islands Mission (Congregational Publishing Society, 1872).


O abandono da prática do surfing pelos havaianos é salientado expressamente por Anderson como um indício do progresso civilizacional. A sua principal atenção foi aqui dirigida à nudez ou ao uso de pouca roupa nos divertimentos de mar. O autor lembra que os havaianos nunca tinham usado peças de roupa para tomar banho de mar ou praticar esporte nas ondas. Com o esforço dos missionários, porém, em poucas décadas tudo havia mudado. Já quase não se via uma mulher sem uma ou duas peças de roupa, de manufatura estrangeira, e a maior parte dos habitantes das ilhas andava vestida decentemente.


Quase que como se quisesse justificar essa preocupação pelo uso de roupas, Anderson salienta ser esse um costume universal, de modo que deveria ser visto como uma prova de desenvolvimento. 


"In bathing in the sea, or sporting in the surfing, no articles of clothing were ever worn; (...)  But what is the appearance of the people now? You will not often see a female without one or two garments of foreign manufacture, and most of the people throughout the Islands are decently clothed. (...) this universal custom of wearing clothing, so far as they can obtain it, should be regarded as some proof of advancement. The change from nakedness to the use of decent apparel is certainly very important." (Rufus Anderson, D.D., The Havaían Islands: their Progress nd Condition under Missionary Labors, op.cit. 93-94)


Anderson salientou com satisfação o sucesso alcançado com tantos esforços pelos missionários. Eles teriam encontrado os habitantes das ilhas da Polinésia como uma nação de selvagens semi-nús, vivendo na onda e na areia, agora, porém, viam-nos vestidos decentemente.


"(...) and whereas they found these islanders a nation of half-naked savages, living in the surfing and on the sand, (...) they now see them decently clothed (...)." (op.cit. 99)


Conhecimento do surfing na Europa

Na Europa, a prática surfista tornou-se conhecida através dos relatos de viajantes e missionários e, no século XIX, através sobretudo da obra enciclopédicade Grégoire Louis Domeny de Rienzi (1789-1843), que coligiu as referências dos diferentes autores. (Veja texto na edição anterior desta revista)

Ponto de partida das informações recebidas foi sempre o da importância do mar e da praia na vida dos polinésios, a sua vida quase que aquática, e, correspondentemente, a sua excelência na natação. Assim, Rienzi salienta que os taitianos preferiam nadar e mergulhar a andar de barco, mencionando ahabilidade dos taitianos em cortar ondas.

"Na arte de nadar são mestres; furam as ondas com admirável força e habilidade. Pelas menores motivos abandonam as suas pirogas, submergem e se mudam para outras barcas. Vê-se até mesmo mulheres que trazem os seus bebês ao peito atirarem-se ao mar quando as ondas estão fortes, em lugar de atingir a praia nas suas pirogas, podendo-se vê-las nadar por longas distâncias sem que o seu bebê sofra com o fato." (Oceanie ou cinquième partie du monde: revue geographique et ethnographique de la Malaisie, de la Micronesie, de la Polynesie, et de la Melanesie, Paris: Firmin Didot Frères,1836-38); Oceanien oder Der Fünfte Welttheil. Welt-Gemälde-Gallerie oder Geschichte und Beschreibung aller Länder und Völker, ihrer Gebräuche, Religionen, Sitten u.s.w. (...) Aus dem Französischen. Oceanien 2. Band. Polynesien, Stuttgart : E. Schweitzerbart's Verlagshandlung, 1837-1839), 502)

Entretanto, segundo Rienzi, ter-se-ia exagerado na Europa a capacidade dos polinésios na natação. Seriam excelentes, mas não podiam afastar-se muito da terra firme, alcançando no máximo 7 milhas de distância. Embora excepcionais mergulhadores, não podiam submergir muito, pois sangrariam logo do nariz e dos olhos.

Tratando mais específicamente do Havaí, Rienzi salienta o surfing como um dos mais importantes exercícios físicos e atos recreativos dos seus habitantes, tanto homens quanto mulheres. Considera-o no mesmo contexto que outras expressões culturais, tais como música e hula. Lembra que grandes chefes, verdadeiros heróis míticos do povo havaiano haviam deixado fama de terem sido grandes surfistas.

Outro exercício é a natação, na qual são excelentes, tanto homens quanto mulheres. Em mar encapelado, no meio das mais agitadas ondas, vê-se aquele que, empurrando uma prancha à sua frente, desafia a cólera das ondas, e nadando várias milhas mar a dentro, desaparece muitas vezes por longos minutos sob as ondas, saindo de repente do outro lado e sempre nadando em frente.  Karai-Mocu e Tai-Ana, famosos chefes, mostravam com prazer a sua habilidade nessa arte. (op.cit. 137-138).

"La Métamorphose des Havaiens" e o Surfing sob o aspecto da moda

A partir de meados do século XIX, tornou-se claro, na Europa, através dos livros escritos por missionários, que o Havaí passava por uma rápida transformação cultural. Testemunho expressivo dessa consciência dessa transformação pela passagem do século é o capítulo dedicado ao Havaí da obra "Os povos da Terra", da série "Bibliothéque des Écoles et des Familles" da Libraire Hachette, de Paris, e que traz explícitamente o título "La Métamorphose des Havaiens" (Ch. Delon, Les Peuples de La Terre, 5a. ed., Paris: Hachette, 1905, 232-234).

O texto inicia salientando a singularidade da transformação de um povo do estado "absolutamente selvagem" ao estado de "completa civilização" em menos de cinquenta anos. Essa metamorfose era devida ao fato de terem os havaianos uma natureza doce, muito apta à educação. Compreendendo as vantagens da vida nova, abandonaram os seus costumes, aprendendo rapidamente os usos europeus e enviando as suas crianças às escolas. Depois de apenas duas gerações, os havaianos possuiam um govêrno regular e muito liberal, com pessoas de diferentes culturas, um comércio importante de livros e um bom sistema educacional. As jovens aprendiam artes domésticas, desenho, costura e até mesmo música.

"Une peuplade absolument sauvage qui, en moins de cinquante ans, sous l'influence des Européens, se transforme et passe à l'état de complète civilisation, c'est un phénomène intéressant et curieux, sans doute. (...) Mais, malgré ces contumes barbares, il y avait au fond un naturel assez doux, surtout très éducable. Tout de suite ils comprirent les avantages de la vie nouvelle, qu'on venait leur enseigner; (...) Et maintenat, deux générations à peine passées, les Havaiens ont un gouvernement regulier et très libéral (...)." (loc.cit.)

Diferentemente das narrativas de missionários inglêses e norte-americanos, esse texto francês salienta a metamorfose havaiana sobretudo sob o ponto de vista da moda. O leitor deveria imaginar, de princípio, a aparência selvagem de um "canaca" havaiano ao redor de 1820:  homens de cor parda e de aspecto rude, quase que nús, ornados de colares de ossos, barbas e cabelos eriçados, com armas da idade da pedra, lanças de madeira, morando em cabanas miseráveis, sem cultura e indústria, tratando duramente mulheres e escravos. Após poucas décadas, porém, todos haviam adotado o costume europeu. As mulheres vestiam uma saia longa e usavam um elegante chapéu enfeitado de flores e de penas.

"Sauvages, ils l'étaient, ces naturels des iles volcaniques d'Havai: figurez-vous des hommes de couleur foncée et d'aspect assez rude, à peu près nus, ornés de colliers d'osselets, barbes mêlées, cheveux hérissés en broussaile; ayant des armes de l'°age de pierre, lances en bois dur, casse-têtes à pointes aigués. Les moeurs à l'avenant: huttes misérables, à peu près point de culture, nulle industrie; les femmes esclaves, durement traitées (...).

"Tels étaient encore en 1820 les Kanaques de Havai.  Tous ont adopté le costume européen: les hommes, au travail des champs, se contentent d'un simple pantalon. Les femmes portent une longue robe et une sorte de tablier, auquel les pülus aisées ajoutent une ceinture d'étoffe de couleurs vives, une sorte de collerette flottante et un élégant petit chapeau garni de fleurs et de plumes; les jeunes filles sont d'habiles cavalières et se montrent passionnées pour l'exercice de l'équitation." (loc.cit.)

Ainda que haja nesse texto menção ao fato dos havaianos andarem quase que nús antes da chegada dos europeus, a metamorfose é vista sobretudo sob o aspecto da moda, não sob o da moral e da decência como nos textos dos evangelizadores congregacionalistas.

Essa diferença de perspectiva talvez explique a razão pela qual o surfing não seja tratado sob perspectiva negativa. É descrito como esporte nacional, praticado pelos jovens, caracterizados como excelentes nadadores. Deixa de ser considerado como resto do antigo "estado selvagem", do qual apenas restariam poucas superstições para ser apresentado quase que uma expressão típica do Havaí. Significativamente, a publicação abre com uma gravura intitulada de Jeux havaiens, ilustrando a perícia dos havaianos em equilibrar-se sobre as suas pranchas acima das grandes ondas quebrando nos rochedos.

"Le jeu national, pour les garços, excellents nageurs, consiste à se lancer à l'eau, couchés sur des planches taillés en forme de nacelles, qu'on fait glisser du haut d'un rocher en pente jusque dans la mer, pour se livrer, au milieu des vagues écumeuses, à toutes sortes de plongeades autour de ce flotteur." (op.cit. 254)


Surfing e a reconscientização cultural no Havaí

Como mencionado acima, considerações relativas à história mais recente do surfing salientam o papel desempenhado por Duke Paoa Kahanamoku, vencedor várias vezes de jogos olímpicos na disciplina da natação. Com o prestígio que alcançara na natação, esteve em condições de contribuir à sua valorização fora do Havaí, sobretudo na Austrália e na Califórnia. Aqui, nos anos 20, o americano Tom Blake (1902-1994) daria novos impulsos à prática, que passava a atividade determinadora de um estilo de vida mesmo fora do Havaí.

Esse desenvolvimento alcançado pela projeção de Duke Paoa Kahanamoku e de outros esportistas não pode levar, porém, do ponto de vista histórico-cultural, à suposição de que se tratou exclusivamente de um fenômeno da época em que o Havai já se encontrava sob a soberania norte-americana.

Seria paradoxal se assim o fosse, uma vez que com a proclamação da república havaiana sob a influência de norte-americanos e a posterior anexação do Havai aos EUA os valores culturais nativos perderam o fomento que haviam experimentado nos últimos anos da monarquia do país autônomo.

Apesar do desencorajamento e mesmo do combate desenvolvido pelos missionários através das décadas, a prática do surfing nunca tinha sido totalmente abandonada. O próprio vir a ser de Duke Paoa Kahanamoku apenas pode ser compreendido no contexto dessa continuidade e da história da conscientização dos valores nativos nas últimas décadas da monarquia.

Crescido nos arredores de Waikiki, Duke Paoa Kahanamoku passou a sua juventude sobretudo na praia e no mar, ali desenvolvendo as qualidades que o fariam vencedor olímpico. Também foi ali que se formou segundo a tradição havaiana, utilizando-se de pesados modêlos de prancha (olo), de madeira koa.

A sua inserção na corrente histórica voltada à recuperação das antigas expressões culturais é sugerida pelo seu próprio nome, Duke, herdado de seu pai. Esse nome havia sido dado por Bernice Pauahi Bishop (1831-1884), trineta de Kamehameha I, fundadora das Kamehameha Schools (1887) e cujo nome se perpetua no Bernice P. Bishop Museum (1889).

A menção a Bernice Pauahiu Bishop como responsável pelo nome Duke o insere numa tradição de Kamehameha I, o Grande, guardado na memória havaiana, como mencionado, não apenas como o unificador do Havaí e pai da nacionalidade, mas sim também como extraordinário surfista. O nome Duke havia sido dado a seu pai em homenagem ao Príncipe Alfred Ernest Albert, Duque de Sax-Coburg-Gotha e Duque de Edinburgo (1844-1900), que visitara o Havaí em 1869, à época de seu nascimento. Essa estadia tivera especial significado para a família real havaiana e solidificara laços do Havaí com a Grã-Bretanha.


Descobrimento do "Royal Sport" pelos americanos: Jack London (1876-1916)

Ao lado da continuidade da prática do surfing, ainda que reduzida, assim como do papel desempenhado por nativos na sua difusão à luz do passado de reconscientização de valores culturais da época da monarquia, deve-se levar em consideração a sua descoberta por parte de visitantes norte-americanos após a anexação do país aos EUA.

Uma personalidade deve ser particularmente considerada devido a seu significado para os estudos interculturais nas suas relações com viagens e relações internacionais, em particular com a costa norte do Oeste da América do Norte, mas particularmente com o Alasca, com a Califórnia, e com o Pacífico: Jack London.

Esses escritor esteve no Havaí após ter alcançado sucesso com alguns de seus livro de aventuras, em particular The Call of the Wild, The Seewolf e White Fang. Com a sua sensibilidade para a percepção de expressões e valores culturais, em particular de camadas mais simples da sociedade, - aguçada também pelas suas tendências políticas de cunho socialista -, Jack London dedicou particular atenção aos praticantes de surfing em Waikiki. Havaianos e nativos em parte descendentes de havaianos constituiam um clube de natação, o Waikiki Swimming Club

Nesse círculo, Jack London foi iniciado na prática de surfing por uma personalidade sui generis, o publicista Alexander Hume Ford (1868-1945), conhecido por ter fomentado a prática e os seus praticantes, assim como pelo seu modo de vida excêntrico. Singularmente, assim, através de A. Fume Ford e Jack London, mais uma vez personalidades que se distinguiam das convenções de sua época desempenharam papéis de importância em processos culturais do Havaí, como o havia sido no passado através de Dandys (Veja artigo sobre a hula, nesta edição).

Em 1907, Jack London escreveu A Royal Sport: Surfing in Waikiki, publicado em revista feminina inglêsa, em 1909 (The Lady's Home Companion), e republicado em 1911 (The Cruise of the Snark), um título que reflete a consciência de seus participantes da nobreza dessa prática.

De forma muito sensível e expressiva, Jack London descreve a passagem de uma situação desolada do homem imerso nas águas, em meio às vagas invencíveis, àquele na qual se levanta como "novo homem" sobre a prancha, ereto, não lutando freneticamente com o movimento selvagem das ondas, mas calmo e superior na sua crista, altaneiro, com a espuma salgada batendo nos seus pés, mas com o resto do corpo brilhando à luz do sol, quase como que voando através do ar.

Jack London teve o mérito de comparar o homem que pratica o surfing com uma divindade, com Mercúrio, o Hermes da antiga mitologia e principal vulto da tradição hermética da Antiguidade.

A admiração de Jack London valia sobretudo para o jovem George Freeth (1883-1919), o mais hábil surfista de Waikiki ao redor de 1907. Nascido em Honolulu, de ascendência polinésia e européia (irlandesa), mantinha ou revivia a antiga pratica de manter-se em pé sobre a prancha, tornando-se conhecido como o "Homem que caminhava sobre as águas".

Através de Jack London, que nele e na sua serenidade via a imagem de uma divindade, Freeth foi convidado à California pelo admirador de arte e bibliófilo de grandes posses Henry Edwards Huntigton (1850-1927). Em Redondo Beach Freeth teve a ocasião de despertar a atenção de grande número de pessoas e da imprensa para a arte surfista, tornando-se conhecido como o primeiro a praticar o surfing na California. Há notícias, porém, que muito antes, na decada de 30 do século XIX, marujos havaianos já haviam demonstrado a sua perícia nessa arte e, na década de 80, príncipes havaianos teriam "cavalgado ondas" na boca do rio San Lorenzo.

Em 1908, Jack London e Alexandr Hume Ford, com outros afiliados, fundaram o Outrigger Canoe Club and Surfingboard Club, o primeiro clube de surfe do mundo.

O surfing na Geografia Cultural e na Etnografia

A valorização da prática nativa do surfe por americanos que visitavam o Havaí após a sua anexação não deixou de ter consequências em publicações de geografia cultural. O surfe passou a ser visto como uma das características de Honolulu, agora descrita como cidade de cunho acentuadamente norte-americano, onde a movimentação e a atividade eram como em toda a cidade americana, com grandes casas de comércio e palácios ao lado de miseráveis casebres. Honolulu surgia como uma cidade-jardim agradável, onde o recém-chegado era recebido com colares de flores, possuindo mansões pintadas de branco, cercadas de jardins, lagos com flores de lotus rosa e azul claro, e palmeiras-rainhas (Harms Erdkunde in entwickelnder, anschaulicher Darstellung IV/I u. 2. Amerika und Australien mit Ozeanien und Antarktis, ed. A. Sievert, 2a. ed.Leipzig: List & von Bressensdorf 1927, 238. (1a. ed. 1923), 310-311).


O "andar sobre a água" passou a ser salientado como esporte e passatempo favorito dos havaianos. Em obras sobre costumes e usos de povos, o surfing é mencionado, salientando-se também aqui a capacidade do jovem polinésio em ficar em pé sobre a prancha e a sua habilidade em desviar-se dos bancos de corais.

"Der junge Polynesier schwimmt mit einem klienen Brett in die See hinaus, taucht unter die sich heranwälzenden Wellen, bis er die äußere Linie der Sturzwellen erreicht hat, wartet hier eine besonders große Welle ab, wirft sich, sobald ihre innere Höhlung ihn streift, auf sein Brett und wird mit großer Geschwindigkeit ans Land getragen. Manche Eingeborene besitzen darin Fertigkeit, daß sie ihre Wellenfahrt sogar stehend zurücklegen, wozu eine große Geschicklicht gehört, einmal beim Stehenbleiben auf dem Brette und zum anderen beim Ausweichen der Korallenbänke." (Georg Buschan, Die Sitten der Völker 1, Union Deutsche Verlagsgesellschaft, cit. Harms Erdkunde in entwickelnder, anschaulicher Darstellung, op. cit. 235).

Incoerências em visões panorâmicas e transepocais

Em visão panorâmica retrospectiva, o processo de transformação cultural do Havaí a partir do contato com os europeus e o da modificação da atitude dos europeus com relação ao surfe surgem como que marcados por paradoxias. De expressão cultural de alto significado para o antigo Havaí, praticado pelos seus chefes e pelo próprio fundador da nacionalidade, foi desencorajado e combatido por décadas pelos missionários inglêses e norte-americanos em nome da civilização e do Cristianismo.

Logo após o Havaí perder a sua independência, porém, a prática tornou-se reconhecida e difundida nos Estados Unidos e em outros países. Esse desenvolvimento histórico surge como incoerente, ilógico, colocando questões sobre o procedimento daqueles que agiram no seu combate e que prepararam a perda da autonomia havaiana.

O estudo do desencorajamento, do ressurgimento e da difusão do surfe surge como produtivo para análises da transformação da própria cultura européía-norteamericana no seu relacionamento com desenvolvimentos globais. Serve também e sobretudo para chamar a atenção sobre a necessidade de uma consideração da história missionária na sua contextualização histórico-cultural e, assim, na dependência histórica de seus métodos e procedimentos.

O ressurgimento e a difusão do surfing poderiam ser vistos, nessa visão retrospectiva, como uma vitória sobre aqueles que o combateram e, assim, como um malôgro relativamente aos intentos dos missionários e às suas concepções de desenvolvimento.

Filosofia e estudos inter-e transculturais

O observador atual surpreende-se com o fato de os missionários do passado não terem percebido e valorizado o sentido mais profundo de uma prática que expressa a imagem do homem que cavalga ondas ou do homem que anda sobre as águas. Eles deveriam estar em condições para percebê-lo, uma vez que o Novo Testamento menciona o caminhar sobre as águas do FIlho de Deus e do próprio Pedro (Mt. 14,22-23). Esse fato indica uma insuficiência teórico-cultural na habilitação desses missionários, e que os impediu de ler por detrás do texto, de procurar entender o sentido da linguagem de imagens.

Hoje, quando se discute a necessidade de uma consideração mais profunda das concepções de diferentes tradições culturais na Filosofia, levando até mesmo a se debater a possibilidade de uma Filosofia de orientação intercultural - e a do desenvolvimento de Estudos Culturais de orientação filosófica -, a expressão havaiana do cavalgar ondas e andar sobre as águas assume significado relevante.

Essa imagem, porém, é estreitamente vinculada a concepções de cunho musical, ou melhor músico-antropológico. O homem que não se deve deixar vencer pelas vagas e não se afoga nas águas - como os da humanidade decaída pré-diluviana ou os egípcios no Mar Vermelho -, mas sim que deve elevar-se sobranceiro sobre as mesmas e vencê-las com serenidade, é aquele que se liberta do jugo da matéria, da escravização ao trabalho, da roda viva dos desejos que um direcionamento à matéria conduz. Essa imagem do homem que domina as ondas corresponde àquela do homem que domina o corpo, que o utiliza como veículo, executando-o como instrumento musical. É o homem que se utiliza do instrumento "inventado" pela Sabedoria, é o homem que se utiliza da lira inventada por Hermes, é o homem apolíneo.

Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.
Indicação bibliográfica para citações e referências:

Bispo, A.A.. "Surfing em Waikiki e Ipanema: dimensões internacionais e transcedência. O "cavalgar das ondas" em processos de mudança cultural e seu significado músico-antropológico numa filosofia de orientação inter-e transcultural". Revista Brasil-Europa 126/23 (2010:4). www.revista.brasil-europa.eu/126/Surfing.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.




 

















Waikiki. Fotos A.A.Bispo e H. Hülskath©

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 126/23 (2010:4)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg.1968)
- Academia Brasil-Europa -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2630


©


Surfing em Waikiki e Ipanema: dimensões internacionais e transcedência
O "cavalgar das ondas" em processos de mudança cultural

e seu significado músico-antropológico numa filosofia de orientação inter-e transcultural


Pelos 25 anos da oficialização alemã do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa
(
Institut für Studien der Musikkultur des Portugiesischen Sprachraumes - ISMPS e.V.)

 

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