Tatuagem. Revista BRASIL-EUROPA 125. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

A presença do Taiti e de outras ilhas da Polinésia nas expressões culturais da atualidade manifesta-se de forma particularmente evidente na difusão internacional da prática da tatuagem, em seus motivos e na mudança de seus sentidos e conotações. Embora tendo sido já há muito objeto de estudos etnológicos, o fenômeno de sua difusão, popularidade e modificação de significados da tatuagem nas últimas décadas merece estudos que a considerem nas suas expressões contemporâneas, focalizando-a sob diferentes aspectos segundo questionamentos atualizados e inserindo-a em análises de processos interculturais.

Também para o Brasil tais estudos surgem como relevantes, não apenas pela frequência e intensidade da prática da tatuagem, mas sim também pela mudança de critérios de valor e apreciação e pelo fato de o Brasil contar com uma tradição indígena de pintura corporal. Estudos assim desenvolvidos podem contribuir ao aguçamento da sensibilidade para a leitura diferenciada de corpos e, através dela, de fenômenos sociais e culturais.

Impulsos atuais à reflexão a partir de um fenômeno de moda

É compreensível que uma primeira aproximação aos estudos culturais relacionados com a tatuagem nas suas expressões contemporâneas tenha sido incentivada por um trabalho de natureza sobretudo visual, proveniente do mundo da fotografia e da moda.

Trata-se da publicação de Gian Paolo Barbieri, fotógrafo italiano enviado pela revista francêsa Vogue ao Taiti para a realização de uma reportagem fotográfica sobre a tatuagem, uma obra também lançada em português (Gian Paolo Barbieri, Tahiti Tattoos, Colonia, Lisboa, Londres, Nova Iorque, Paris, Toquio: Taschen 1998). Para além das fotografias, a publicação inclui textos de Raymond Graffe e de Michael Tournier que permitem uma aproximação às tendências atuais do pensamento na elucidação de um fenômeno que assumiu dimensões globais.

Do renascimento da tatuagem nas últimas décadas

Aponta-se, nessa obra, que o renascimento da prática da tatuagem nas últimas décadas foi incentivado por concursos levados a efeito na própria Polinésia, mais particularmente em Samoa, a partir do festival Tiurai de 1982, ou seja, do festival de julho do Taiti. O fenômeno deveria ser, assim, estudado no contexto dessa festividade, relacionada com as comemorações da Revolução Francesa, com as suas implicações para a identidade taitiana e a conscientização de expressões que a caracterizem. (Veja artigo a respeito do Tiurai nesta edição). Ter-se-ia, aqui um complexo de questões de transformação identificatória e mesmo política que necessitariam ser analisadas sob perspectivas teórico-culturais tanto relativamente ao próprio Taiti como nas suas dimensões internacionais. O novo interesse pela tatuagem em muitos países do mundo - e que se manifesta na moda que ultrapassa fronteiras -relaciona-se com um renascimento da prática na própria região, e esse fenômeno testemunha tendências à valorização de expressões culturais anteriores à colonização e à missão, ou seja, possui conotações políticas, político-culturais, de visões do mundo e mesmo espirituais.

Toma-se consciência, no Taiti, que a tatuagem, ainda que os seus vestígios mais remotos sejam constatáveis na cultura Maori, parece ter atingido justamente no arquipélago a sua maior expressão em passado anterior à chegada dos europeus. Foi uma das características da cultura polinésia que mais despertaram a atenção dos viajantes, passou porém a ser combatida pelos missionários evangélicos, a partir das primeiras décadas do seculo XIX, sendo gradualmente abandonada. O seu desaparecimento relaciona-se, assim, com a história da transformação religiosa do Taiti no século XIX, possibilitada pelo erosão e mesmo auto-destruição do edifício de concepções e visões consuetudinárias a partir do contato. O renascimento da prática da tatuagem nas últimas décadas pode ser estudado sob o ponto de vista de um questionamento crítico da ação européía e de uma auto-reflexão relativamente ao próprio papel desempenhado no processo receptivo. A prática assume a força de uma manifestação a ser lida sob diversos aspectos, particularmente potente por ser indelévelmente marcada no corpo e resultado de uma decisão que exige a superação de um procedimento acompanhado pela dor. Os corpos tornam-se, assim, instrumentos falantes, vasos comunicantes, veículos de expressão e de transmissão mensagens para aqueles que sabem lê-los nos seus diversos sentidos.

Questões de origens e princípios

Torna-se compreensível, neste contexto, que as reflexões atuais - exemplificadas na publicação citada - manifestem uma particupar preocupação por questões de origens dessa prática. Essa procura de origens representa não apenas um interesse histórico a respeito do início de um processo, e portanto relacionado com a memória dos diversos povos da Polinésia, mas sim também um anelo pelo conhecimento dos princípios, ou seja, dos fundamentos imagológicos e de concepções que se manteriam imanentes na linguagem visual transmitida nas figurações tradicionais. Devido à falta de documentação histórica, essa pesquisa procede sobretudo a partir da transmissão oral, sendo acompanhada necessariamente por esforços de reconstrução do edifício perdido de visões cosmológicas e antropológicas. Assim, essas tentativas reconstrutivas baseiam-se sobretudo em mitos, aproximando-se a procedimentos disciplinares da etnologia e da ciência comparativa de religiões.

Salienta-se, assim, que, quanto às origens míticas da tatuagem taitiana, esta teria sido criada na "época das sombras", pelos dois filhos de Ta'aroa: Mata Mata Arahu, - o que imprime com carvão - e Tu Ra'i Po', - o que reside no céu escuro ou noturno. Teria sido uma época marcada pelos artesãos, entre êles Taere e Hina Ere Ere Manua, a filha mais velha do primeiro homem, Ti'i e da primeira mulher, Hina. Em idade madura, Hina transformou-se em Pahio, tendo sido aprisionada em local fechado para preservar a sua virgindade. Os dois irmãos, porém, criaram a tatuagem, ornamentando-se com um motivo chamado de Tao Maro. Hina, que é tomada pelo fascínio das tatuagens, é libertada, enganando a vigilância de sua mãe, e consegue deixar-se tatuar. A tatuagem estaria assim vinculada à recuperação de um estado original de liberdade. Essa seria a explicação da razão pela qual os nomes de Mata Mata Arahu e Tu Ra'i Po´ teriam passado a ser invocados como divindades antes do início de uma tatuagem, protegendo a sua boa execução, a beleza da ornamentação e a cicatrização rápida da pele. As suas figuras passaram a ser conservadas nos marae de Tahu'a pelos especialistas na confecção das tatuagens.

Esta fundamentação mítica justificaria o fato de a tatuagem ter sido, na Polinésia, própria das camadas sociais superiores. Marcava a estruturação social, sendo que os diferentes motivos correspondiam a diferentes posições no cosmos e na sociedade. Haviam símbolos dos deuses, dos sacerdotes e aos peritos Ari'i, hereditárias; as do tipo Hui Ari'i, Arioi'i, reservadas aos chefes; as do tipo Hui To'a, Hui Ra'atira, Ia To'ai, aos líderes militares e aos guerreiros, dansarinos e remadores, e as do tipo Manahune, para as pessoas sem genealogia notável.  A tatuagem vinculava-se à instituição do tabu ou da tabuização, fundamental para a manutenção da ordem do cosmos e da sociedade. A observância dos necessários preceitos cabia aos Ari'i. Quando esses constatavam novos méritos podiam acrescentar novas tatuagens às já existentes. Assim, os homens chegavam a cobrir muitas vezes todo o corpo com tatuagens. Guerreiros e sacerdotes recebiam um sinal especial na face ou nos lábios. Os motivos marcavam um ato guerreiro ou um fato importante nas suas vidas, constituindo um distintivo especial e expressão de identidade. As mulheres, menos tatuadas, recebiam desenhos mais finamente elaborados, em geral sobretudo nas mãos, nos braços, nos quadrís, nas coxas e nos pés.

Diferenças entre a tatuagem ocidental e a polinésia

Essas concepções indicam a diferença entre as concepções e as associações relativas à tatuagem no Ocidente e aquelas da Polinésia, Assim, Michael Tournier, nas suas considerações na publicação citada, chega mesmo a constatar que aqui se tratariam de fenômenos totalmente opostos. Tatuagens ocidentais evocariam aventuras sentimentais, declarações de amor e de ódio, despertando associações muitas vezes vulgares, é relacionada com marinheiros, com membros da Legião Estrangeira e com prisioneiros. Aquele que sofreu em meio ínfimo guarda para sempre o vestígio doloroso no corpo. A tatuagem polinésia, ao contrário, não apresenta conotação equívoca, não seria escondida por detrás de roupas, constituindo o oposto de um estigma. Ela substituiria o vestuário. O tatuado que se revela como tal, pondo o seu corpo a nu, desvenda o seu íntimo.

Para Tournier, se no Ocidente o vestuário representa não  apenas meio de proteção às intempéries, mas indica elegância, poder, funções e dignidade, constituindo uma linguagem, ainda que secundária com relação à sua função utilitária, na Polinésia a tatuagem surge também como uma linguagem, mas primordial e original, fazendo do corpo um símbolo. O sofrimento e a perenidade assumem um sentido totalmente diferente daquele do Ocidente. Trazem consigo sentidos profundos e sérios. Entre outros aspectos, lembra que o mêdo do envelhecimento não existiria de forma tão acentuada entre os polinésios, porque as tatuagens fazem dos seus copos obras de arte, transformando-os em corpos-jóia. Tratar-se-ia de um corpo-poema, e a palavra impressa obriga à fidelidade e a veracidade. O corpo se transforma em assinatura.

A tatuagem no Ocidente e suas transformações

As reflexões que procuram assim elucidar o renascimento e a difusão da prática da tatuagem no presente conduzem a um novo interesse pelo fenômeno na própria historia européia. Constata-se, aqui, que essa pratica floresceu sobretudo entre marinheiros, conhecendo uma fase mais intensa de uso a partir das grandes navegações à época dos Descobrimentos. A tatuagem revela-se, assim, como relacionada com a história das Descobertas e dos contatos entre os europeus os povos das regiões então contatadas. O seu fundamento, porém, também aqui seria de natureza religiosa, ou melhor, de sinalização de uma convicção, de pertencimento a uma comunidade, de identidade e de identificação. Cruzes, âncoras, corações coroados de espinhos e outros motivos cristãos relativos à fé, à esperança e à caridade, entre outros, permitiam que os corpos de náufragos pudessem ser identificados como cristãos e assim enterrados. A esses sinais ter-se-iam associado símbolos relacionados com navios e navegações em geral, também esses procedentes do repertório de imagens de sentido religioso de remoto passado. Motivos relacionados com o amor, para além de sua dimensão religiosa, surgiam como preitos gravados de lembrança e fidelidade em momentos de separação e de saudade na vida do mar. Também aqui - assim como no caso de cruzes e outros motivos religiosos - o corpo se transformava em declarações de amor e fidelidade, de veracidade, de testemunhos, de registros, mantendo também viva a saudade daqueles que portavam os sinais. Em sentido figurado - o da vida como viagem e peregrinação - pode-se entender também o uso da tatuagem por soldados e trabalhadores no Exterior, imigrantes e colonos. Estes testemunhavam o amor, a lealdade e a perpetuidade da lembrança àqueles e à pátria que deixavam.

O desenvolvimento histórico dos últimos séculos caracterizou-se sobretudo por uma crescente perda da dimensão mais profunda da pratica, ou seja, por uma secularização. Devido aos elos com a vida marítima, estabeleceram-se estúdios de tatuagem em cidades portuárias, onde os marujos podiam escolher os motivos em álbuns e galerias de figuras, sobretudo a partir do século XIX. A  perda de significado religioso e a arbitrariedade na escolha dos motivos foram acompanhadas pelo aumento da conotação negativa da tatuagem como indicativo de posição social inferior e do ambiente de portos, questionável moralmente sobretudo em épocas de maior rigidez de costumes.

Interação de formas de expressão e processos

O renascimento da tatuagem na atualidade não significa simplesmente o recrudescimento de uma prática a ser considerada somente sob a perspectiva européia. O contato entre marinheiros e polinésios, a partir do século XVIII, foi acompanhado por um conhecimento recíproco de diferentes tradições, concepções e valorações da tatuagem. Os polinésios tiveram que tomar conhecimento que uma prática, que para êles possuia alto significado, designadora de posições sociais elevadas, de origens e de méritos, era vista pelos europeus como estigmas de classes baixas e moralmente duvidosas. O que manifestavam com orgulho em corpos falantes passou a ser escondido por detras de vestes pelo empenho convicto dos representantes da religião que assumiram. No renascimento da tatuagem em contextos globais da atualidade, entretanto, constata-se um fenômeno diverso. O desenvolvimento histórico ocidental, que levou à conotação negativa da prática parece ter sido interrompido, ou melhor, passou-se a relacionar-se com um processo de outras origens e outras conotações. As tatuagens já não são escondidas, já não representam indiferentemente estigmas sociais. Não houve, porém, substituições completas quanto a inserções em processos culturais. Muitos corpos falam da interação de modêlos de diferentes proveniências e despertadores de diferentes associações. Diferentemente do sugerido nos textos da publicação acima considerado, os corpos apresentam cruzes, âncoras, registros de amor e dizeres da tradição ocidental ao lado e interagindo com ornamentações que falam de outros contextos. São agora, sob a ação dos últimos, demonstrados publicamente, documentando mudanças de valorações e costumes. Os corpos tornam-se veículos de mensagens altamente complexas, cuja leitura exige uma percepção mais diferenciada de sentidos. Para isso, uma perspectiva etnográfica no sentido mais convencional do termo e um intuito de recuperação de um edifício mítico de concepções e imagens já não são suficientes. Já não basta reconhecer figuras, modêlos, ornamentos, motivos e estilos segundo catálogos e sistematizações. O estudo deve ser antes dirigido à interação de processos desencadeada pelo contato cultural entre os europeus e os povos não-europeus do passado, ou seja, ao estudo de processos inter-e transculturais, como vem sendo propugnado, de forma pioneira, pela organização Brasil-Europa e pela A.B.E..

Fontes da história intercultural da tatuagem: Grégoire Louis Domeny de Rienzi (1789-1843)

Com o descobrimento das ilhas do Pacífico no decorrer do século XVIII, os europeus tomaram contato a tatuagem polinésia. Referências a essa prática e às suas funções e seus significados ocupam papel significativo nos relatos de viajantes.

Uma obra que procurou coligir essas muitas informações, contribuindo, ao mesmo tempo, para a larga difusão dos conhecimentos sobre a tatuagem foi o livro enciclopédico do geógrafo francês Grégoire Louis Domeny de Rienzi (1789-1843). Essa obra foi publicada em francês, em 1836, e traduzida em várias línguas em dois volumes, com ilustrações e mapas (Oceanie ou cinquième partie du monde: revue geographique et ethnographique de la Malaisie, de la Micronesie, de la Polynesie, et de la Melanesie, Paris: Firmin Didot Frères,1836-38); Oceanien oder Der Fünfte Welttheil. Welt-Gemälde-Gallerie oder Geschichte und Beschreibung aller Länder und Völker, ihrer Gebräuche, Religionen, Sitten u.s.w. (...) Aus dem Französischen. Oceanien 2. Band. Polynesien, Stuttgart : E. Schweitzerbart's Verlagshandlung, 1837-1839). A série "Galeria de imagens do mundo ou História e Descrição de todos os países e povos, seus costumes, suas religiões, seus usos, etc. (....)", onde essa obra foi publicada, incluiu também o importante volume sobre o Brasil de Ferdinand Denis, também traduzido para o alemão por C. Mebold (Ferdinand Denys, Geschichte und Beschreibung von Brasilien und Guyana, Stuttgart: G. Schweizerbart's 1839). A obra de Grégoire Louis foi traduzida a seguir para o italiano e espanhol, sendo, neste idioma publicada em Barcelona (Historia de la Oceania o quinta parte del mundo, Barcelona: Imprenta del Fomento, 1845-1846).

G. L. D. de Rienzi dedica todo um capítulo à tatuagem e ao procedimento nela utilizado (op.cit. da trad. alemã, pág 18 ss.). Partindo da constatação de que ela não apenas podia ser observada entre os polinésios, mas também em todos os povos "selvagens" ou "semi-civilizados", salientou a intensidade do seu uso na Nova Zelândia e nas ilhas Nukahive. Para êle, a razão desse costume podia ser explicada sobretudo pelo clima: em zonas quentes, onde o homem usa pouca roupa, a ornamentação do corpo substituia a vestimenta.

"A tatuagem é de uso de todos os ilhéus da Polinésia, e em geral por todas as nações selvagens ou semi-civilizadas. Os Nukahivios e os neozeelandeses ultrapassam todos os polinésios nessa arte. O clima, no qual vivem, permite que se vistam apenas como roupas leves; mas se o seu corpo é pouco vestido, não dispensam pelo menos de o ornamentar com diferentes desenhos, que marcam eles mesmos na pele." (op.cit. 18)


Interesse pela técnica do tatuar


A obra de Rienzi destaca-se por registrar pormenores da técnica dos tatuadores e dos motivos utilizados.

"Para a tatuagem, ou seja, para o marcar desses desenhos, há especiais tatuadores. Eles o fazem de forma muito hábil, utilizando-se para isso de uma pequena peça de casco de tartaruga, que se assemelha a uma serra com 5 dentes pontudos. Depois que o tatuador cobriu os dentes com uma tinta negra, que nada mais é do que pó de carvao diluído em água, coloca o instrumento na pele, e bate levemente com uma madeira em cima do mesmo até que as pontas entrem na carne. A operação causa um leve queimar e um entumecimento, com pouca dor, que desaparece apenas depois de alguns dias. Por meio dessas incisões, os selvagens do Mar do Sul se pintam em todas as partes do corpo com figuras permanentes, umas na forma de um círculo perfeito, outras de partes de um círculo, outras ainda em linhas espirais, quadradas ou ovais, com figuras em forma de xadrez, outras, finalmente, em linhas que se cruzam ou se entrelaçam de diferentes formas." (loc.cit.)


Interesse pela estética da tatuagem


Rienzi salienta a distribuição ordenada dos ornamentos, a simetria de sua distribuição a impressão do todo, que qualifica de agradável, e o elo entre a tatuagem, as classes sociais e os sexos.


"Todos esses desenhos são distribuidos com grande regularidade: os de um dos lados da face, dos braços ou das pernas correspondem exatamente àqueles dos outros, e esse complexo admirável, ainda que estranho, cria um todo agradável. Os chefes nobres da ilha Nukahiva, em especial, surgem como  que vestidos com uma saia de diferentes tecidos, ou com uma malha de armadura, semelhante àquela de rico e precioso trabalho do artesão. Por outro lado, serviçais, escravos e individuos de classes inferiores não são tatuados com tanto cuidado e arte, e alguns nem apresentam tatuagens. Com relação às mulheres, é-lhes proibido tatuar uma outra parte que não as mãos, os braços, os lábios e os lóbulos das orelhas." (loc.cit.)


Comparação da tatuagem com o entalho - J.-S.-C. Dumont d'Urville (1790-1842)


Jules-Sébastien-César Dumont d'Urville, navegador e cientista natural, realizou uma expedição ao Sul do Pacífico, de 1826 a 1829, à procura da nave Astrolabe de Jean-François de la Pérouse (1741-1788), no decorrer da qual cartografou a Nova Zelândia e visitou várias outras ilhas (Voyage de la corvette l'Astrolabe, 12 volumes, Paris 1830-39). D'Urville, autor de artigo sobre a origem dos povos do Pacífico ("Notice sur les îles du Grand Ocean et sur l'origine des peuples qui les habitent"Bulletin de la Societé de Géographie de Paris, 17/1, 1832, 1-21) marcou duradouramente os estudos da região, uma vez que instituiu a sua divisão em Melanésia, Micronésia e Polinésia. Realizou tambem outras expedições, ao Polo Sul e à Oceânia, passando pela América do Sul (Voyage au Pole Sud et dans l'Océanie, 1837-1840, 23 volumes, Paris 1841-54).


Na passagem citada por Rienzi, d'Urville compara o tatuar do corpo com o trabalho de um entalhador de madeira.


"Quando passeava um dia pelo povoado Ranguihu (Nova Zelândia), diz d'Urville, 'observei Tawi tatuar o filho do falecido Tepahi nas nádegas e na parte superior da coxa. Essa operação era muito trabalhosa; ela foi feita por meio de um pequeno cinzel, feito de ponta de pena de pomba ou de um galo selvagem, de ca. 3 linhas de largura, e que era segura numa peça de 4 polegadas de comprimento, de modo que formava um ângulo agudo, parecendo uma espécie de pequena cunha com uma única ponta. Com esse cinzel, o operador desenhava todas as linhas retas e espirais, à medida em que nela batia com um pedaço de madeira de um pé de comprimento, como um ferreiro abre a veia de um cavalo com um ferro de sangrar. Uma das pontas do cabo era cortada de forma de uma faca chata, para limpar o sangue, assim que esse saía da ferida. O cinzel parecia entrar na pele com cada batida e cortá-la, como um entalhador dá forma aprofundando um pedaço de madeira. O cinzel era mergulhado sem pausa num extrato vegetal, misturado com água; isso dava a côr preta, ou como dizem, o Moko. Notei que, em vários pontos, ainda havia pus na carne mesmo após um mês após as incisões. A operação é tão dolorida que não se pode aguentar toda a tatuagem de uma so vez; parece que são necessários muitos dias, até que a pele tenha sido totalmente tatuada.'" (op.cit. 19)


Pouco uso da tatuagem por negros e funções do tattoo - René Lesson (1794-1849)


René Primevère Lesson, médico e cientista natural, participou em longa expedição no Mar do Sul e à Nova Guinea. Publicou o seu relato de viagem em monumental obra (Voyage autour du monde, entrepris par ordre du gouvernement sur la Corvette La Coquille, Paris: Pourrat, 1838-1839). Na passagem citada por Rienzi, Lesson constata que a prática da tatuagem seria pouco empregada pelos negros, procurando explicar a razão.


"'Esses desenhos', diz Lesson, 'que são impregnados na pela de forma permanente e que cobrem ou escondem a nudez, parece ser desconhecida da raça negra, que apenas dela faz uso raramente, e sempre de forma imperfeita e grosseira, uma vez que, como consequencia dos cortes, levantam-se pedaços de pele de forma cônica, dolorida.'" (loc.cit.)


Procurando elucidar a origem dessa prática, supõe porem ter sido mais do que simples ornamentação com o sentido de encobrir a nudez, vinculando-se a concepções já então perdidas.


"A tatuagem, cujo nome varia com as diferentes tribos, deriva não apenas do desejo de enfeite, de fantasia ou hieroglífico, mas parece também ter o objetivo de designar as classes ou a posição. O cuidado e a fidelidade com que os homens das ilhas sempre se esforçam em repetir os desenhos podem levar-nos à suposição que antes, por motivos que não mais sabemos, ligavam-se a um certo sentido, e que tinham o seu fundamento em concepções que não foram conservadas pela tradição." (loc.cit.)


Lesson salienta que a tatuagem no Taiti, ao contrário daquela de várias outras ilhas, distinguia-se pelo fato de não incluir motivos no rosto e serem mais discretas na ornamentação. Essa sua constatação pode refletir já um estado de transformação cultural no arquipélago, devido ao contato com Europa, em todo o caso sugere que a tatuagem do Taiti não surgia aos olhos do europeu como sendo tão "selvagem" como aquela de povos com enfeites nas faces.


"Os habitantes de Pomotu (Ilhas baixas) cobrem o seu corpo com figuras tatuadas; os seus vizinhos, os taitianos, têm muito menos, e além do mais nunca as terem no rosto, limitando-se, como os de Tonga, a traços leves, como por exempülo círculos ou estrêlas; Enquanto isso, muitos dos habitantes do arquipélago Sandwich, e a massa dos povos do arquipélago de Mendana e dos grupos da Nova Zelândia cobrem o rosto totalmente com desenhos, ordenados sempre segundo regras aceitas e cheias de significado." (loc.cit.)


A aparência de selvageria, porém, não seria apenas uma impressão européia, mas refletia, segundo o autor, uma intenção dos próprios polinésios:


"Lesson afirma, que, como a tatuagem empresta um caráter de particular selvageria, o seu uso tem a sua origem no desejo de dar mêdo aos inimigos, ou de mostrar um título de honra, e que se conservou como um testemunho da paciência do guerreiro em aguentar dores, que sempre acompanham uma operação que machuca órgãos dos mais sensíveis do corpo. As mulheres da Nova Zelândia, assim como no arquipélago de Mendana, deixam que se façam desenhos no ângulo interno dos cílios e nos lábios, frequentemente também no queixo." (op.cit.)


Tattoos como designação de estirpe e nomes - Auguste de Morineau (1778-1833)


Da Notice historique sur les Iles Sandwich, 1778-1833 de Auguste de Morineau (Poitiers: Saurin, 1834), tem-se uma referência mais pormenorizada quanto ao significado da tatuagem como designação da origem do indivíduo e da sua inserção na ordem social, registrando, também fatos memoráveis da vida. O autor documenta também já o uso de nomes inscritos no corpo, o que já refletia a ação dos europeus, uma vez que os nativos não haviam conhecido anteriormente a escrita. O mesmo pode ser suposto do motivo da cabra, então popular. Morineau registra também a queda gradual em desuso da tatuagem sob a influência européía. O abandono da prática - como em outros casos o desrespeito a tabus - teria tido o seu início de cima para baixo na escala social, ou seja, a partir do rei.


"'No arquipélago Sandwich', diz Morineau, 'as mães tomam a si o trabalho de tatuar os seus filhos. A tatuagem em tenra idade deve servir para designar a origem do indivíduo. Nesse desenhos, que nos parecem estranhos, reconhece-se qual é a tribo, qual é a família a que pertence; mais tarde, outros desenhos servem para significar um fato glorioso ou outro acontecimento. Os desenhos comuns são trechos em zig-zag nos braços e nas pernas. Muitas pessoas de idade média trazem no peito ou num dos braços o nome Tamehameha. As mulheres têm todas um jogo de damas na perna direita e muito frequentemente o interior de uma das mãos é coberta com estrelas, anéis, meia-luas e outras figuras; muitas possuem até mesmo a língua tatuada. As cabras desempenham um grande papel nas tatuagens mais recentes; vários nativos têm desenhos dela em todas as partes do corpo, mesmo da testa, na face e no nariz' - 'De resto', continua o mesmo viajante, 'começa a decair esse uso nesse arquipélago; o rei não é tatuado, e os jovens que o seguem apenas levemente.' (op. cit.)


Referências a motivos de tattoos - Barão de Blosseville (1802-1833)


Mais precisamente sobre o Taiti, as informações de Rienzi se referem sobretudo a registros de Jules-Alphonse-René Poret, Barão de Blosseville (1802-1833). Esse geógrafo e navegador, cuja mãe era originária de São Domingos, tem a sua história de vida relacionada também com o continente americano, onde realizou, quando jovem, viagens pelo Caribe e pela América do Sul. O seu nome é de particular significado para a história da Austrália. Esteve também em várias outras partes do mundo, entre elas na Índia e em Burma, assim como na Algéria, desaparecendo durante uma expedição ao Ártico, em 1833 (Histoire des decouvertes faites en diverses époques par les navigateurs, Paris 1826; Histoire des explorations de l'Amerique du Sud, 1832).


Quanto às tatuagens do Taiti, Blosseville registra o antigo relacionamento de sua prática com as classes sociais e descreve o uso de desenhos, localizando-os nas diversas partes do corpo. Digno de ser salientado é que Blosseville não registra apenas o uso de motivos ornamentais e abstratos, mas sim representações realistas ou facilmente identificáveis no seu sentido. Poder-se-ia supor, aqui, já uma consequência das transformações culturais.


"Segundo Jules de Blosseville, no Taiti, as sete classes dos Arioy's tinham desenhos especiais para a tatuagem. Elas lembravam frequentemente um fato triste ou um fato histórico, quando não eram um simples enfeite; frequentemente via-se um coqueiro nas pernas, enquando que no peito viam-se lutas, exercícios, cachos de frutas, armas, animais, ou um sacrifício humano feito ao Morai." (op.cit.)


Essa menção serve para que Rienzi a compare com aqueles dos autores já mencionados, estabelecendo relações entre motivos e concepções conhecidas da mitologia da Índia. Realiza, assim, esforços comparativos e procura distinguir as diferentes tradições dos povos do Pacífico.


"'Em geral', diz Lesson, 'a tatuagem das tribos pertencentes ao conjunto da civilização polinésia constitui-se de círculos ou meio-círculos, que se opões a cortes angulosos; ou são compostos com os mesmos, assemelhando-se ao círculo infinito do mundo na mitologia índica. Ao contrário, a tatuagem dos habitantes de Rotuma são essencialmente diferentes, pois a parte superior do corpo é coberta com desenhos suaves, com imagens leves de peixes e outras coisas, enquanto que a pele na região do estômago, as costas e as coxas apresentam massas confusas e dispostas irregularmente. A tatuagem nos povos que formam a civilização carolina, diferencia-se da forma comum dos demais polinésios pelo fato de apresentarem grandes massas em todo o corpo, em muitos desses ilhéus cobrindo todo o dorso, formando uma espécie de traje duradouro, no todo, porém, arbitrário.'"


Desejo de ser tatuado e preceitos: Adelbert von Chamisso (1781-1838)


O escritor Adelbert von Chamisso, tomou parte, como erudito e cientista natural, entre 1815 e 1818, numa viagem de cirumnavegação do mundo: a expedição Rurik. Essa expedição, com financiamento russo, foi dirigida pelo capitão Otto von Kotzebue (1788-1846). A expedição, que pesquisou a Polinésia e o Hawai, deveria encontrar a passagem pelo noroeste entre o Ocidente e a Ásia. (Entdeckungs-Reise in die Süd-See und nach der Berings-Strasse zur Erforschung einer nordöstlichen Durchfahrt in den Jahren 1815 bis 1818, 3 vols., Weimar: Hoffmann, 1821; Neue Reise um die Welt in den Jahren 1823-1826, 2 vols., Weimar, 1830).


Chamisso, que realizaria trabalhos cartograficos e registros etnográficos de relevância no Alaska, também deixou dados de interesse histórico-cultural relativos ao Pacífico. No seu relato, salienta o profundo desejo que teve de ser também tatuado, apesar das dores que o procedimento significaria. Entretanto, não conseguiu ver o seu desejo realizado, pois os tatuadores se negavam a fazê-lo, utilizando-se dos mais diversos subterfúgios. A verdadeira razão era de natureza religiosa e estava relacionada com imagens da inundação, da destruição da terra pelas águas.


"Nas Carolinas, a tatuagem é guiada por idéias religiosas e podem apenas ser realizadas sob determinados sinais divinos. O mestre, que realiza o trabalho, invoca a divindade a favor da casa e das pessoas que serão tatuadas, e conhece-se a sua anuência apenas numa espécie de assobios. Se não há esse sinal, a operação não é realizada. Por isso acontece que alguns indivíduos nunca são tatuados, porque se a operação fosse realizada mesmo na falta de um sinal, o mar inundaria as ilhas e toda a terra seria destruída. Só o mar é que esses insulares temem, e para manterem longe de si as consequencias da sua cólera, utilizam-se de incantações. Kadu disse a Chamiso, que ele vira o mar subir até o pé dos coqueiros, e que esse recuara porque começou-se a invocação a tempo. (Rienzi, loc.cit.)"


Esse registro assume extraordinária relevância para os estudos culturais, pois abre caminhos para interpretações de cunho simbólico-antropológico. Sabe-se, da tradição bíblica e também da Antiguidade grega, que a idéia da destruição da terra pela água está vinculada à decadência da humanidade, ou seja, à queda também de sua parte espiritual, contemplativa, àquela voltada à matéria e submissa ao trabalho e ao alcance da riqueza. A tatuagem estaria aqui, segundo essa aproximação, vinculada à concepção do homem não dirigido à terra e ao mundo exterior, terreno, e não escravizado ao trabalho. A referência de Chamisso faz supor que não fora considerado à altura pelos tatuadores, por manifestar talvez estar sujeito por demais às ambições e ao mundo perceptível pelos sentidos, externo, ou seja, por não ser suficientemente evoluído interiormente, por ter a sua vida interior, contemplativa, insuficientemente desenvolvida. Em todo o caso, a recusa dos tatuadores em tatuar Chamisso pode ser considerada como um documento do confronto de duas diferentes culturas da tatuagem, com as suas diferentes conotações.


Tatuagens em marinheiros russos - F. P. Lütke (1797-1882)


Outra referência sobre o desejo de  assimilação da tatuagem polinésia pelos marinheiros europeus é feita por Rienzi com base em dados do navegador e escritor Fjodor Perowitsch Lütke (1797-1882). Lütke participara da viagem russa de circumnavegação, de 1817 a 1819, dirigira expedições russas ao Ártico e, em 1826, a quarta viagem russa de circumnavegação, na qual participaram vários cientistas, quando descobriu várias ilhas da Micronésia.


Segundo a passagem citada por Rienzi, e que corresponde àquela da experiência de Chamisso, os marinheiros russos teriam sido dos primeiros a desejarem ser tatuados. Os marujos desejavam ser tatuados como o faziam em salões de tatuagem em outros portos do mundo, ou seja, com inteções incompatívels àquelas dos polinésios. Esse desejo, porém, teria sido constantemente recusado pelos tatuadores. Poder-se-ia supor, com base na argumentação anterior, que o modo de vida e a posição social dos marujos não correspondiam à imagem antropológica associada à tatuagem dos polinésios, uma vez que os marinheiros eram homens obrigados ao trabalho, por assim dizer escravizados ao mundo material.


"O Capitão Lütke conta que os habitantes de Otdia teriam negado várias vezes a ornamentar os oficiais russo com tatuagens, tendo como desculpa educada, em geral, as consequencias graves dessas operações, os entumecimentos, a dor, etc. Por fim, um chefe de Aur mostrou a um russo a sua casa, na qual devia passar a noite, e prometeu que o tatuaria na manhã seguinte; mas esse chefe recuou na manhã seguinte de novo perante a execução do prometido sob diferentes motivos. Talvez seja uma espécie de característica nacional da tatuagem que leva aos polinésios negar a praticá-la em estrangeiros." (loc.cit.)


O "homem estético" em dimensões globais


Por fim, Rienzi dirige a sua atenção à questão da tatuagem como expressão de uma exigência do homem em determinado estado de evolução, e relembra que a prática já era conhecida na Antiguidade egípcia e mesmo na Europa pré-cristã.


"Alguns viajantes e geógrafos discutiram longamente a razão de ser esse uso comum a quase todos os povos selvagens. A decisão não parece ser difícil. Todos os homens têm por natureza uma predileção ao ornamento, e aqueles que, devido ao clima ou pela falta de tecidos têm a impossibilidade de, como nós, de se cobrirem com uma quantidade de roupas mais ou menos apertadas ou dignas e de bom gôsto, cobrem a sua pele com essas imagens e pinturas, que lhe servem como roupas.


Isso é o que sabemos desse uso entre os diversos povos polinésios. De resto, a tatuagem era também conhecida dos povos da Antiguidade. Eu vi, em Biban-el-Moluk, proxímo à antiga Tebas, em pintura egípcia na sepultura de Osiris I, que os ancestrais asiáticos da raça européia branca, - e talvez aqueles que moravam na Trácia -, eram tatuados e vestidos com peles de animais. Julio Cesar relata no seu comentário que os habitantes da Grã-Bretanha também faziam em si essa operação. (loc.cit.)


Diferenças técnicas entre a prática ocidental e a polinésia


Comparando a prática européia da tatuagem, sobretudo entre marinheiros e soldados com aquela da Polinésia, Rienzi lembra da técnica absolutamente diversa empregada nas duas regiões. A européia era muito mais violenta, uma vez que utilizava a explosão de pó de pólvora, com consequências também para o desenho, menos burilado, e para a côr.


"Não é necessário ir à Oceânia para se ter uma idéia da tatuagem, uma vez que marinheiros e soldados franceses, assim como de outras nações, conheceram em todos os tempos meios de desenhar na pele figuras indeléveis. Mas o seu procedimento é totalmente diverso daqueles dos habitantes das ilhas: o desenho é impregnado por uma agulha que atravessa a pele até a carne, e é então coberto com pólvora de canhão, transformada em pó fino; colocá-se fogo, e através da explosão as partículas da pólvora penetram na pele; os desenhos, assim impregnados, ganham uma cor azul e não podem ser apagados por nada. (loc.cit.)


Tatuagem na história do pensamento evolutivo - Charles Darwin (1809-1882)

Insuficientemente consideradas na história cultural da tatuagem foram até agora as observações de Charles Darwin, realizadas durante a sua estadia em Taiti no âmbito de sua viagem pelo mundo. Essas observações, provindas de um pesquisador de aguçada capacidade de observação e de interpretação adquirem particular interesse.

Em primeiro lugar, Darwin salienta a excelente impressão que lhe causou a população do Taiti, a sua hospitalidade e a sua aparência. Menciona expressamente que os taitianos de forma alguma poderiam ser considerados como primitivos ou sem cultura. Em observação surpreendente para um inglês do século XIX, Darwin salienta que nudez não testemunharia falta de cultura, mencionando sobretudo a boa constituição física dos taitianos e a sua beleza.

"Agradaram-me de forma especial. Os seus atraativos traços faciais afastavam toda e qualquer idéia em falta de cultura e testemunhavam inteligência e formação desenvolvida. Os homens trabalham em geral com a parte superior do corpo descoberta e mostravam-se, no trabalho, de forma a mais favorável. São altos e de costas largas, atléticos e bem constituídos." (Charles Darwin, Ein Naturforscher reist um die Erde, ed. Conrad Vollmer, Leipzig: VEB F. A. Brockhaus, 1968, 260-261)

De forma contrária a concepções de pensadores e ideólogos de décadas posteriores, que apregoariam a supremacia da raça branca, Darwin privilegia a côr escura da pele. Sugere a relatividade da apreciação da côr da pele, que seria derivada do costume, e que os próprios europeus, no Hemisfério Sul, logo constatariam a beleza e a supremacia da côr escura.

Tecendo comparações com o mundo vegetal, Darwin compara um homem de côr de pele escura com uma planta crescida sob condições naturais, à luz do sol, surgindo o europeu nesse cotejo como uma planta esmaecida, crescida sob condições artificiais.

"É singular o fato de que o europeu logo se acostuma a sentir a pele escura como sendo mais agradável e natural do que a sua própria cor de pele. Quando via um branco tomar banho com um taitiano, tive sempre a impressão de ver uma planta esbranquiçada pela arte do jardineiro ao lado de uma planta verde escura, fortificada pela luz do sol, crescida naturalmente.“ (loc.cit.)

É nesse contexto que Darwin passa a considerar a prática da tatuagem no Taiti. Também aqui, de forma surpreendente, deixa transparecer a impressão estética favorável que a observação de corpos tatuados lhe causou, tecendo comparações entre os motivos utilizados e estruturas do mundo vegetal. Para Darwin, um homem tatuado lembrava um tronco de árvore, centrado na coluna dorsal, correspondendo os ornamentos a ramos e folhagens de plantas trepadeiras que envolvem árvores de porte e nobreza.

"A maioria dos homens apresenta tatuagens. Os ornamentos acompanham os traços do corpo de forma bastante favorável. Um motivo que sempre se repete, com pequenas modificações, lembra a coroa de uma palmeira. Nasce na coluna central das costas e se desenvolve graciosamente para ambos os lados. Costas assim ornamentadas, - por mais que pareça estranho -, fazem-me sempre lembrar no tronco de uma nobre árvore, ao redor do qual se elevam suaves lianas." (loc.cit.)

Perpetuidade das tatuagens e mudanças de moda - ainda Darwin

Também de forma surpreendente, Darwin tece considerações a respeito da perpetuidade da tatuagem corporal e de suas relações com a transitoriedade da moda. A tatuagem aplicada à época da juventude durava toda a vida, e o taitiano mostraria para sempre os motivos impregnados no seu corpo quando jovem. Apesar disso, o pesquisador constatava uma diferença na aplicação de tatuagens nas várias partes do corpo entre as gerações. Assim, o uso de tatuagens nos tornozelos parecia a Darwin já não sertão  apreciado pelos mais jovens. Essa constatação de Darwin, porém, poderia ser interpretada sob outros aspectos, entre outros como um sinal da decadência gradual da prática no Taiti sob a influência dos missionários europeus, o que teria atingido primeiramente o seu uso em partes do corpo mais frequentemente visíveis.

"Muitos dos mais velhos tinham também tatuagens nos tornozelos, o que lembra uma espécie de meias. Entretanto, já não vi essa prática entre os jovens. Também aqui, portanto, a moda se transforma; só que cada um deve-se satisfazer para o resto de sua vida com o que valeu na sua juventude.

Também as mulheres deixavam-se tatuar. Muitas vezes observei nelas figuras que se prolongavam até às pontas dos dedos. Pouco atrativa era a moda que vigorava, tanto entre homens quanto em mulheres, de raspar o cabelo de forma circular ao redor da cabeça. Os missionários procuraram em vão fazer com que as pessoas abandonassem essa prática; mas era moda, e essa vale tanto em Taiti como em Paris." (loc.cit.)

"(...) Decepcionou-me a aparência das mulheres. Elas ficam muito para trás dos homens, em todos os sentidos.  Gracioso é apenas o costume de trazer uma flor escarlate no cabelo ou num pequeno orifício na orelha. Em todo o caso, as mulheres parecem ter mais necessidade de se cobrir com um traje mais apropriado do que os homens." (loc.cit.)

França em fins do século XIX: Tatuagem como arte de gravura

Os costumes polinésios levaram gradualmente a uma reapreciação da tatuagem em Paris de fins do século XIX. Mesmo em publicações de ampla divulgação, a tatuagem das culturas da Oceânia passaram a ser consideradas como expressão artística, mais especificamente como gravuras. Foram decantadas ate mesmo como a expressão artístico-cultural mais expressiva dos polinésios.

"Mais l'art maori par excellence, c'est la gravure... - j'entends celle qui se fait sur la peau humaine vivante, et qui remplace plus ou moins le vêtement: le tatouage en un moi. Beucoup de peuplades sauvages, en Océanie, ont cette singulière pratique; mais chez les naturels néo-zélandais elle est développée au plus haut degré. Le procédé consiste, comme on le sait, à produire, au moyen d'une épine très aigue ou d'une pointe d'aiguille, des rangées de piqûres, qui doivent aller jusqu'au sang; puis on frotte la partie piquée avec le suc coloré de certaines plantes, rouge ou bleu, brun ou noir, lequel pénètre sous la peau et forme des traces ineffaçables."

"Les Moires sauvages se couvrent ainsi le corps et même le visage d'ornements plus ou moins compliqués, qui figurent parfois comme les dessins d'une étoffe: parure peu coûteuse, et inusable! Il y a tels de ces chefs qui sont brodés de la tête aux pieds comme un châle des Indes. Le vêtement, très réduit, - ce serait dommage de trop cacher cette jolie marqueterie, - consiste en une ceinture de lanières d'écorce; parfois s'y ajoute un court manteau de semblable fabrication." (Ch. Delon, "Moeurs Maories", Les Peuples de la Terre, Paris: Hachette, 1905, 222-224)

Aproximações à prática da pintura corporal indígena

Os primeiros europeus que tiveram contato com os indígenas registraram a sua nudez, depilação e a pintura corporal que, em parte, substituia as vestimentas. A pintura corporal foi registrada por Pigafetta, na primeira viagem de circumnavegação do mundo:

"Os brasileiros, homens e mulheres,  pintam o corpo e sobretudo o rosto de modo estranho e de diferentes maneiras. Têm os cabelos curtos e não têm pelos em nenhuma parte do corpo, pois se depilam" (Primer Viaje en torno del Globo, Madrid: Espasa Calpe, 1999, 7)

Também os franceses observaram a pintura corporal indígena e a nudez, que em parte cobriam. Assim, Jean de Léry, relata:

"Um fato singular, que dificilmente pode ser acreditado por aqueles que não o viram, consiste no fato de nem homens nem mulheres e crianças cobrirem qualquer parte do corpo. Não apresentam, aqui, nenhum sinal de timidez ou de vergonha. Vivem e andam sempre tão nús como nasceram do ventre materno. Alguns imaginam - e outros o querem fazer crer - que os nativos são tão cobertos de pelos que são cobertos pelo próprio cabelo. O contrário é verdade: eles não têm por natureza mais pelos do que os europeus. Assim que os cabelos começam a nascer em qualquer parte da pela - seja na barba, nos cílios ou nas sobrancelhas - são imediatamente arrancados com as unhas ou com pinças (...) Essas pinças são obtidas dos cristãos que ali andam (....)

Frequentemente, os nossos brasileiros pintam os seus corpos com diferentes cores. Na maior parte das vezes pintam as coxas e as pernas de prêto. Empregam para isso o extrato de uma determinada fruta que chamam de Genipat. Quando se os vê de longe, pode-se julgar que usassem calças apertadas, similares aos dos sacerdotes. A tinta preta do fruto do Genipat impregna de tal forma o corpo que podem entrar na água e lavar-se frequentemente. Durante os 10 ou 12 dias seguintes, a côr não desaparece." (Jean de Lery, Unter Menschenfressern am Amazonas: Brasilianisches Tagebuch 1556-1558, 2a. ed.Tübingen: Erdmann, 1977, 168-172)

A tatuagem nos estudos antropológicos brasileiros

Estudos dedicados à tatuagem sob a perspectiva brasileira e relacionados com os estudos indígenas podem fundamentar-se em já longa tradição. Assim, a Revista da Exposição Anhropologica Brazileira, dirigida por Mello Moraes Filho (Rio de Janeiro: Pinheiro, 1882), incluiu um estudo dedicado ao tema de Ladislau Netto ("Da Tatuagem", pág. 14).

O diretor do Museu Nacional abre o seu texto com referências ás principais constatações e elucidações relativas à tatuagem, o que indica o seu conhecimento da literatura da época. Entre na questão das origens dessa prática, salientando o papel da Polinésia, traçando porém um vasto panorama de difusão cultural que levava até mesmo à sugestão de uma assimilação de práticas originalmente polinésicas pelos judeus, justificando menções do Antigo Testamento.

"A tatuagem, comquanto saibamos ser modernamente um adorno e muitas vezes brazão, pergaminho hierarchico ou uma especie de fé de officio de quem a traz insculpida na pelle, não deixa de ser tambem, a meu vêr, uma prova de apreço tributado ao colorido vigoroso dos antepassados que constituiam natural e provavelmente raças de côr mais sombria, ou, para que melhor expressão tenha o meu dizer, um disfarce attenuante para as côres claras que foram progressivamente adquirindo os povos actualmente de côr branca ou amarella. Verdade é que a tatuagem é geralmente usada por muitos africanos de cor negra, sem applicação das tintas escuras empregadas na tatuagem daquelles supra referidos povos; tudo, porém, nos induz a crêr que este singular costume não teve origem na África, mas no solo asiático ou na Polynesia, donde o tomaram provavelmente os antigos povoadores da Asia occidental, e em particular os hebreus, em cujas tribus vemos empregada essa barbara ceremonia, como o attestam muitas passagens do Levitico, de Jeremias e de Isaias."

Pelas condições populacionais do Brasil, compreende-se que uma questão apenas tratada à margem na literatura européia a respeito da tatuagem mereça particular atenção no texto de Ladislau Netto: o do seu emprêgo pelos africanos.

"Convem notar que se alguns africanos, pela sua côr negra, não empregam as substancias corantes da tatuagem dos povos de têz amarella ou vermelha, usam, em compensação, da tatuagem mais barbara de quantas são até hoje conhecidas, isto é, da que é feita por incisões profundas com applicação immediata de chlorureto de sodio, e de outras substancias irritantes ou causticas, processo singularissimo de que resulta essa especie de crista formada por saliencias mamilliformes que apresentam na testa e no nariz os negros da nação munhambanha, tão conhecida entre os nossos escravos africanos."

Ladislau Netto procura estabelecer até mesmo uma sistematização da prática da tatuagem segundo os procedimentos utilizados.

"Em tres categorias distinctas poderiamos classificar tão singular e entretanto tão geral usança.

A primeira, de que temos exemplo nos munhambanhas e que comprehende as incisões mais profundas, acompanhadas da inoculação de substancias irritantes para a formação de protuberancias mamilliformes;

A segunda, e a mais commum entre os povos barbaros, consistindo na incisão da pelle, simplesmente, ou com a addição de materias corantes;

A terceira, finalmente, a mais simples e a que ainda hoje se observa em muitos mestiços civilisados, descendentes dos primitivos barbaros, comprehendendo a inoculação hypodermica de materiais corantes."

O diretor do Museu Nacional salienta que o uso da tatuagem seria expressão sobretudo das zonas tropicais. Entretanto, lembra também que podia ser constantada em regiões frias, e, no caso, sobretudo em expressões relacionadas com a transformação de gênero, quando homens passavam a utilizar-se de motivos associados femininamente.

"Todas estas especies de tatuagem parecem ser de uso peculiar a todos os povos selvagens ou semi-selvagens, que vivem na zona torrida e em latitudes proximas desta zona. Sabemos, porem, que na Siberia tatuam-se pela inoculação hypodermica, de materia corante, além de certas classes de homens, as mulheres ostiacas, nos braços e nas pernas, de modo a simularem os adornos de que usavam as mulheres de uma grande parte da Asia.

A tatuagem, na verdade, não é de todo estranha aos costumes do povo europeu, que a exhibe em parte mui seguida nas populações maritimas, não pela incisão da pelle, mas pela terceira categoria, se bem que limitada á representação de emblemas de fidelidade e de esperança, de alguns objetos de mera fantasia, e mais geralmente das iniciais do proprio individuo ou de algum ente que lhe seja caro."

Tentativas comparativas de linguagens simbólicas

Sob o pano de fundo dos estudos das fontes da história intercultural da tatuagem, pode-se compreender e mesmo encontrar fundamentos para as opiniões de Michael Tournier no ensaio citado. Esse autor faz uma tentativa de interpretação hermenêutica intercultural da tatuagem. Partindo da Gênese, sugere uma aproximação do mito polinésio à tradição bíblica, interpretando o fato de Adão e Eva apenas terem constatado a sua nudez após o pecado original.

Antes do pecado original, vinculado ao Verbo, o homem havia sido criado segundo a imagem de Deus, a Palavra. Não estavam nús, mas tinham os seus corpos revestidos pela Forma por excelência, transformados em palavras, enunciantes, resplandecendo a Verdade divina nas suas peles. Com a própria pele cantavam, tais como passáros, a glória do Criador. Caindo com o pecado, perdendo a elo com a Sabedoria, constataram que haviam perdido essa vestimenta, que estavam nús, perderam a eterna juventude e a alegria do Paraíso, tendo que cobrir o seu corpo com as marcas e os calos trazidos pelo trabalho. O corpo sem tatuagem estaria relacionado com a vergonha da nudez, o corpo tatuado representaria uma recuperação de um estado original, de pureza, de contemplação, onde a nudez não é escondida e da qual o homem não se envergonha, pois o corpos se reencontra com o revestimento da Verdade (Tahiti Tattoos, op.cit., 12-13)


Perspectiva músico-antropológica

As apreciações da tatuagem salientam compreensivelmente o aspecto visual, considerando-a como ornamentação ou obra de arte gravada na pele. Entretanto, deve-se levar em consideração, para uma análise mais profunda, que a prática parece inserir-se em edifício de concepções de cunho músico-verbal, baseado em uma noção da Criação como processo similar ao ato da fala. Ter chamado a atenção para essa possibilidade interpretativa pode ser vista como a principal contribuição de Michael Tournier no texto acima considerado.

Não tanto o aspecto meramente visual, portanto, mas sim a transformação do corpo em instrumento que entoa e fala, que transmite mensagens relativas a ordenações originárias deve estar aqui no centro das atenções. Esse tipo de aproximação abre caminhos para o entendimento de concepções que se exprimem no próprio termo, derivo do samoano ta tatau, no significado de "bater direito". O ato da gravação na pele surge aqui relacionado com o ato percussivo, tal como na produção de configurações rítmicas no toque do atabaque.

Essa concepção pode ser compreendida como o ato de ordenação da matéria através da ação da forma, uma correspondência a uma união original de materialização da forma e de configuração da matéria tal como se conhece das concepções do antigo hilemorfismo na tradição filosófica do Ocidente. O homem tatuado surge como instrumento que emite configurações rítmicas e, concomitantemente, o instrumento adquire uma significação simbólica de natureza músico-antropológica.

Leitura cultural e o ouvir corpos tatuados

O ouvir dos diferentes enunciados transmitidos pelos corpos exige diferenciação e esforço para a compreensão de relações entre distintas correntes e modos de apreciação. Como acima mencionado, um corpo tatuado que apresenta uma ornamentação que poderia ser comparada àquela da Polinésia, no sentido de uma vestimenta que tira da nudez conotações morais negativas, pode apresentar, concomitantemente, sinais da tradição ocidental associados com esferas sócio-culturais marginalizadas.

Tais concomitâncias, mesmo que contraditórias, interferem-se nos seus significados, impregnadas que se encontram num mesmo corpo, com consequências para a sua percepção e apreciação. Atitudes críticas de repulsa à prática da tatuagem, associada a meios sociais desprivilegiados e a situações questionáveis de acordo com determinados preceitos da moral confrotam-se com posições contrárias, marcadas pela valorização estética da tatuagem. Sinais que antes eram mantidos escondidos sob as vestimentas passam a ser expostos. A exposição e a co-estetização de sinais de esferas inferiores e de meios considerados como excusos possuem dimensões político-culturais.

No caso do Brasil, a nova situação criada, ainda que caracterizada pela complexidade de relações e concepções intrínsecas, muitas vezes conflitantes e contraditórias, pode preparar o caminho para uma maior abertura para com as formas de expressão das culturas indígenas e a sua revalorização. O pesquisador de processos interculturais, analisando o presente, não constata assim apenas marcas tornadas indeléveis de recepções na atualidade e de mudanças de atitudes e modos de apreciação do passado. Pode detectar indícios que sugerem mudanças culturais no futuro e, possivelmente, uma maior aproximação a uma forma de visão do mundo que leva a uma valorização do mundo indígena.


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.
Indicação bibliográfica para citações e referências:

Bispo, A.A. (Ed.). "Tattoos da Polinésia na história inter-e transcultural: questões de leitura, percepção e concepções músico-antropológicas". Revista Brasil-Europa 125/4 (2010:3). www.revista.brasil-europa.eu/125/Tatuagem.html


  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa:
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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 125/4 (2010:3)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
órgão da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos interculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg.1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2591


©


Tattoos da Polinésia na história inter- e transcultural
questões de leitura, percepção e concepções músico-antropológicas



Ciclo de estudos no Taiti em sequência ao colóquio Musicologia de orientação antropológica e Artes Visuais (Universidade de Colonia, Wallraff-Richartz-Museum, A.B.E. 2009)
sob a direção de A.A.Bispo

 












  1. Título e Coluna: Taitianos, Papeete, 2010.
    No texto: ilustrações das obras citadas de Rienzi e Delon.
    Fotos H. Hülskath.































































































































































































































































































  1. Taitianos tatuados e corpos gravados de instrumentos, Papeete 2010
    Fotos Arquivo A.B.E.©

 

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