Taiti e a ilha dos amores. Revista BRASIL-EUROPA 125. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

Estudando relações entre o Brasil e a Polinésia, aqui mais especificamente a Polinésia francesa, o pesquisador tem a sua atenção despertada para o fato de que ambas as regiões apresentam imagens marcadas por associações paradisíacas, idílicas e ao mesmo tempo sensuais, trazendo à imaginação quadros de luxuriante beleza natural, atratividade de seus habitantes, prazer e alegria.

Não é raro ouvir criíticas quanto à unilateralidade de uma imagem do Brasil marcada no Exterior não apenas por samba e futebol, mas sim também por uma sensualidade que se manifesta sobretudo no carnaval. Tudo indica tratar-se, nessa imagem atual, em grande parte de resultados de desenvolvimentos e mudanças no decorrer da história e que deveriam ser analisados diferenciadamente nos estudos culturais. O Taiti, ao contrário, foi de fato marcado desde o início do contato com os europeus por uma imagem caracterizada pela beleza de sua natureza, de seus habitantes e de sua maneira de viver.

Um dos caminhos para a análise da imagem do Taiti e de seus habitantes na Europa dos séculos XVIII e XIX é o das suas associações com a antiga mitologia. Inserindo o mundo descoberto na linguagem simbólica da própria cultura, os viajantes procuraram compreendê-lo e contribuiram para a sua recepção na Europa a partir dos pressupostos culturais dos recipientes. A primeira denominação do Taiti foi o de La Nouvelle Cythère. Não apenas as ilhas foram vistas à luz da imagem da ilha Citereia na antiga mitologia e suas reinterpretações no decorrer dos séculos, mas sim também a própria narrativa mitológica passaria a ter associações taitianas. Assim, o Taiti passou a exercer papel relevante nas associações e expressões da própria Europa e daqueles países por ela influenciados.

Citeréia na mitologia e cognome de Venus

Kythira/Kythera/Cerigo/Citeréia desempenha um papel importante na mitologia grega e greco-romana por nela ter-se localizado o nascimento de Aphrodite ou Venus. A deusa, surgindo das águas do mar, ali teria pisado pela primeira vez a terra. Essa narrativa manifesta a imagem que a ilha possuía na Antiguidade, marcada pelo antigo comércio de púrpura com o Egito - já existente em período anterior a 2400 A.C. e pelos elos com a Mesopotâmia, anteriores a 1700 A.C.

A localização da ilha no Mar Egeu a predispôs a desempenhar papel de importância no mundo náutico, sobretudo também como ponte para Creta. Navegantes que vinham do Oriente ali encontravam uma primeira terra firme. Seria compreensível, assim, se os fenícios tivessem para ali trazido próprias concepções mitológicas, correspondentes à Astarte dos semitas. Reciprocamente, a ilha passou a ser associada com qualidades de Aphrodite.

Para além da amenidade do clima, de suas plantas e flores (anteriores à desertificação), tornou-se ilha marcada pelo amor, explicável como ilha de amores dos navegantes que ali aportavam após longa viagem marítima e que lse dirigiam a Creta, ilha também associada com a sensualidade. Assim como a própria Aphrodite, a ilha passou a ser símbolo de local de prazeres da vida, do corpo, da terra em flor, da primavera da existência e da beleza, a imagem por excelência do locus amoenus.

Há, naturalmente, dimensões mais profundas nas relações entre essa geografia cultural simbólica e concepções antropológicas. Na reinterpretação cristã, essas concepções passaram por uma transformação de sentido, adquirindo a beleza do mundo material uma dimensão espiritual à luz da veneração da Cruz e fazendo com que, sem essa orientação de sentido, as concepções e imagens adquirissem significado negativo.

Citeréia na cultura portuguesa dos Descobrimentos

A Citeréia da Antiguidade esteve presente na história das navegações portuguesas, perenizada que foi por Camões no episódio da Ilha dos Amores n'O Lusiadas (Canto IX). A ilha de Venus é decantada no contexto do retorno da frota de Vasco da Gama. A deusa pede o auxílio a seu filho, Cupido, para ferir as nereidas com as flechas do amor. Uma ilha maravilhosa surge na rota dos portugueses em retorno, cantada como local aprazível, com relva macia, águas puras e murmurantes, árvores frondosas, com fauna e flora pródiga, criando-se um quadro de idílio pastoral.

(LI)

Cortando vão as naus a larga via
Do mar ingente para a pátria amada,
Desejando prover-se de água fria
Para a grande viagem prolongada,
Quando, juntas, com súbita alegria,
Houveram vista da Ilha namorada,
Rompendo pelo céu a mãe fermosa
De Memnónio, suave e deleitosa.

(LIII)

Mas firme a fez e imóbil, como viu
Que era dos Nautas vista e demandada,
Qual ficou Delos, tanto que pariu
Latona a Febo a Deusa à caça usada.
Para lá logo a proa o mar abriu,
Onde a costa fazia uma enseada
Curva e quieta, cuja branca areia
Pintou de ruivas conchas Citereia.

(LIV)

Três fermosos outeiros se mostravam,
Arguidos com soberba graciosa,
Que de gramíneo esmalte se adornavam,
Na fermosa Ilha, alegre e deleitosa;
Claras fontes e límpidas manavam
Do cume, que a verdura têm viçosa;
Por entre pedras alvas se deriva
A sonorosa linfa fugitiva.

(LVI)


As árvores agrestes que os outeiros
Têm como frondente coma enobrecidos,
Álamos são de Alcides, e os loureiros
Do louro Deus amados e queridos;
Mirtos de Citereia, co'os pinheiros
De Cible, por outro amor vencidos;
Está apontando o agudo cipariso
Para onde é posto o etéreo Paraíso

O próprio poeta revela o sentido alegórico da introdução do mito na história do retorno da viagem à Índia. A ilha, as ninfas e Tetis simbolizam as honras que sublimam a vida, incentivando os homens aos atos valorosos, sendo que os heróis serão recebidos na Ilha de Venus.

(LXXXIX)

Que as Ninfas do Oceano tão fermosas,
Tétis e a Ilha angélica pintada,
Outra cousa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada.
Aquelas preminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha,
Estes são os deleites desta Ilha.

XCV

E fareis claro o Rei que tanto amais,
Agora co'os conselhos bem cuidados,
Agora co'as espadas, que imortais
Vos farão, como os vossos já passados.
Impossibilidades não façais,
Que quem quis, sempre pôde; e numerados
Sereis entre os Heróis esclarecidos,
E nesta "Ilha de Vénus" recebidos.

Cythère na França do século XVIII

Se Citeréia surge na amplidão do Oceano Índico como imagem alegórica em Camões, dois séculos mais tarde surgirá como designação de fato de uma ilha no grande Oceano.

Parece ser à primeira vista estranho que uma ilha do Mar do Sul tenha sido denominada pelos franceses do século XVIII segundo uma pequena ilha jônica às costas do Peloponeso. Os navegantes do passado, em particular os portuguêses e espanhóis, deram sempre preferência a designações relacionadas com festas do calendário religioso, denominando as suas descobertas de Santa Cruz, Vera Cruz, Espírito Santo ou segundo nomes de santos, mesmo em regiões que já traziam elos com nomes e mitos da Antiguidade. A escolha quase que poética de uma ilha decantada pela mitologia manifesta, assim, uma formação humanista dos viajantes e uma situação cultural específica da França da época.

A atualidade da ilha de Cythère para o mundo francês resultava primeiramente do fato dessa ilha estar, após o término do domínio veneziano, sob a administração da França no contexto de um "Departamento do Mar Egeu" das ilhas jônicas.

Testemunho mais expressivo da atualidade das concepções vinculadas à ilha Cythère na França são as obras de Jean-Antoine Watteau (1684-1721) dedicadas ao tema "Embarque a Cythère", respectivamente de 1710, 1717 e ca. de 1719, hoje conservadas em Frankfurt a.M., em Paris e em Berlim.

A obra de 1717 marcou a entrada de Watteau à Academia. Nessa obra, o artista faz referência manifesta ao antigo mito de Cythère e a Venus, representando amantes em trajes festivos em partida à ilha dos amores, em paisagem marcada por grandes árvores, vendo-se ao fundo a ilha imersa em atmosfera suavemente iluminada.

O criador de "Fêtes galantes",de  "Charmes de la vie", de "Plaisirs d'amour" e de "Flora" parece ter aqui correspondido a uma tendência à galanteria de uma sociedade refinada, frívola e volúvel da aristocracia francesa, marcada pela superficialidade e pela luxúria. Essas obras seriam assim testemunhos de uma fase da história dos costumes particularmente marcada pela sensualidade.

Entretanto, a obra de Watteau exige considerações mais profundas. Essa exigência deriva da própria obra, uma vez que aqueles que partem para Cythère trazem atributos de peregrinos. Tudo indica que a obra de Watteau corresponde aqui antes à tradição das representações pastorís e que a situação idílica, bucólica e amoroso-pastoral se insere num contexto da linguagem simbólica de dimensões espirituais.

Para o pesquisador cultural brasileiro não é difícil compreender essa inserção de expressões pastorais no edifício das concepções cristãs uma vez que o Brasil possui, até o presente, tradições pastorís estreitamente vinculadas aos presépios do ciclo natalino e, assim, à representação simbólico-lúdica do mistério do nascimento, no passado, do Logos na humanidade carnal e da sua vinda, no presente, misticamente, como noivo espiritual daqueles que o amam.

A ilha de Cythère, assim, que seria vinculada ao Taiti, não possuia apenas conotações libidinosas na França do século XVIII. A imagem possuia um sentido mais profundo.

Louis-Antoine de Bougainville (1729-1811) no Rio de Janeiro e no Taiti

Louis-Antoine de Bougainville, cujo nome é mais conhecido no Brasil através da planta que leva o seu nome, surge como um dos vultos mais significativos de uma história cultural que dirige a sua atenção a vínculos entre o continente americano e o Pacífico. Foi um das personalidades da história das navegações de maior preparo intelectual, tendo sido marcado por correntes do Enciclopedismo. Seu pai era notário e, em 1752, L.-A. de Bougainville escreveu uma obra sobre Cálculo Integral, sendo aceito como membro da Royal Society de Londres (1756).

Nesse mesmo ano de 1756, partiu para o Canadá francês como ajudante do General Louis-Joseph de Montcalm (1712-1759), participando da guerra de francêses e indígenas contra os inglêses, que duraria até 1763. Após 1763, foi a mola propulsora de um plano de colonização francesa das Ilhas Malvinas, realizando duas viagens com o sentido de dar início à colonia na ilha denominada segundo o porto bretão de St. Malo.

Devido ao protesto da Espanha, esse projeto colonial foi abandonado, sendo Bougainville convidado a realizar uma viagem de cirumnavegação do globo e investigar o Mar do Sul, então marcado pela expectativa da existência de um grande continente, a Terra australis.

Partiu a bordo da fragata real La Boudeuse de Brest, em fins de 1766. Logo após, no início de 1767, a nave L'Étoile partiu de Rochefort, para apoiá-lo no empreendimento. Ambos os navios se encontraram no Rio de Janeiro, a 13 de junho de 1767. Bougainville foi acompanhado por cientistas, entre êles o astrônomo Pierre-Antoine Véron (1736-1770), pelo botânico Philibert Commerçon (1727-1773) e sua assistente, viajando como homem, a naturalista Jeanne Baret (1740-1803).

No Taiti, Bougainville esteve de 6 a 15 de abril de 1768, quando tomou posse da ilha para o rei da França. Um ano antes lá havia estado Samuel Wallis (1728-1795). Trouxe, para a França o filho de um chefe loca,l Aotourou. Esteve em Samoa, Novas Hebridas, no Espirito Santo em Vanuatu e redescobriu as Ilhas Salomão, uma das quais recebeu o seu nome. Passou pelas Molucas e voltou por Batavia.

Em 1771, publicou a obra Voyage autour du monde par le frégate du roi La Boudeuse et la flûte L'Étoile. Tornou-se secretário parfticular de Luís XV, em 1772.  Lutou contra os inglêses na Revolução Americana. Apesar de sua atitude de lealdade ao rei, sobreviveu ao Terror. Em 1795, tornou-se membro da Academia das Ciências. Foi protegido por Napoleão, nomeado a senador (1799), a grande oficial da da Legião de Honra (1804), e nobilitado como conde do Império (1808)

Taitianas de La Nouvelle Cythère e as Nereidas inflamadas de Camões

Na obra de Camões, as nereidas são incendiadas pelas flechas de Cupido, por ordem de Venus:

(XL)

"E, para isso, queria que, feridas
As filhas de Nereu, no ponto fundo,
D'amor dos Lusitanos incendidas
Que têm de descobrir o novo mundo,
todas numa ilha juntas e subidas
-Ilha que nas entranhas do profundo
Oceano terei aparelhada,
De dões de Flora e Zéfiro adornada-,

(XLI)

Ali, com mil refrescos e manjares,
Com vinhos odoríferos e rosas,
Em cristalinos paços singulares,
Fermosos leitos, e elas mais fermosas,
Enfim com mil deleites não vulgares,
Os esperem as Ninfas amorosas,
D'Amor feridas, para lhe entregarem
Quanto delas os olhos cobiçarem."

No relato de Bougainville, as taitianas são descritas como sempre prontas para o amor:

"Seu consentimento, é verdade, não é difícil de se obter, e os ciúmes é aqui um sentimento tão estranho que o marido é em geral o primeiro a levar a sua mulher a se soltar. Uma moça não tem nenhum pejo a esse respeito (...) Não parece que o grande número de amantes passageiros que ela possa ter a impeça de encontrar a seguir um marido. Porque ela deveria resistir à influência do clima, à sedução do exemplo? O ar que se respira, os cantos, a dança, quase sempre acompanhada de posturas lascivas, tudo lembra a cada instante as doçuras do amor (...). Esse hábito de viver continuamente no prazer dá aos taitianos uma tendência marcada por essa doce plaisanterie, filha do repouso e da alegria." (Voyage autour du monde, II, capítulo III).

Charles-Félix-Pierre Fesche: Venus e os ardentes franceses


O Journal de navigation de Charles-Félix-Pierre Fesche, voluntário que viajou na fragata real La Bourdeuse, comandada por Bougainville, descreve de forma expressiva a ação da beleza e da sensualidade da Nouvelle Cythère, de seus bosques e das taitianas nos viajantes europeus. O autor refere-se à visita de uma taitiana a bordo, que designa como "Nova Venus". Os franceses teriam primeiramente resistido aos convites manifestos então feitos, em nome da decência, o que teria causado ressentimentos. Sugere, porém, que em outras ocasiões ocorreram aventuras amorosas.

"Qual é o pincel que poderia descrever as maravilhas que descobrimos (...)? Somente um retrato destinado ao Amor em si! Um bosque encantado que esse deus havia plantado sem dúvida por êle próprio. Caímos em êxtase. Um calor vivo e doce se apodera de nossos sentidos, incendiamos. Mas a decência, esse monstro que combate tão frequentemente a vontade dos homens, vem a se opor aos desejos veementes e nos faz invocar em vão o deus que preside o prazer a fim de nos fazer invisíveis por um momento ou que fascinasse por um instante os olhos de todos os assistentes.

Essa nova Venus, depois de haver esperado por longo tempo, vendo que nem os convites de seus concidadãos e principalmente de seus velhos, nem o desejo que ela testemunhava oferecer a qualquer um de nós, um sacrifício a Venus, não podia levar-nos a transgredir os limites da decência e das normas estabelecidas por nós, sentimentos que ela interpretou talvez em desvantagem nossa, nos deixou com ar ofendido e retirou-se na sua piroga.

(...) Essa única ocasião seria suficiente par dar uma má idéia da galanteria e do ardor incandescente tão geralmente reconhecidos nos franceses, se a estadia feita nessa ilha que denominamos de Nouvelle Cythère por causa dos costumes de seus habitantes não tivesse procurado ocasião de afastar amplamente a má opinião que êles deviam ter feito de nós."

(...)

"(...) trouxeram uma esteira que estenderam no local e sobre a qual se sentou uma jovem. Os sinais de todos os índios nos fizeram bem compreender do que se tratava. (...) a mão deslizou logo por uma feliz casualidade e caiu sobre o que estava ainda encoberto com uma peça; ela foi retirada logo pela própria jovem que vimos agora com o único traje que portava Eva antes do pecado. Ela se estendeu sobre a esteira, tocando o dorso daquele que era o agressor, fazendo-o entender que a êle se dava e que tirava os doces obstáculos que impedem a entrada desse templo onde tantos homens sacrificam todos os dias. O apelo era bem aliciante e nosso galante conhecia muito bem a arte do amor para não tomá-la a tempo.” (Tahiti au nom du Roi, ed. Nicolas Chaudun, 2007).

Também aqui encontram-se evidentes paralelos com os versos de Camões, onde se decantam os bosques onde os navegadores caçam, o despontar do fogo do desejo e os prazeres:

(LXXXIII)

"Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo."

Johann Reinhold Forster (1729-1798): Sob o signo de Virgílio


Dados significativos a respeito da inserção do Taiti na tradição humanística e na linguagem simbólica do Ocidente podem ser obtidos do relato da viagem de Johann Reinhold Forster ao redor do mundo. O naturalista alemão participou, a bordo to The Resolution, entre 1772 e 1775, do empreendimento de James Cook (1728-1779). O relato foi escrito pelo seu filho, George Forster, que o acompanhou (George Forster Johann Reinhold Forsters Reise um die Welt während der Jahre 1772-1775, Berlin: bei Haude und Spener 1778) ("Das Idyll von Tahiti", Neue Welten: Die Eroberung der Erde in Darstellungen grosser Naturforscher, ed. Wilhelm Bölsche, Berlin: Deutsche Bibliothek, 1917, 11-66).

Forster inicia o seu texto com referência a Virgilio (Eneas VI, 638-641):

Devenere locos lactos et amoena vireta
Fortunatorum nemorum, sedesque beatas;
Largior hic campos aether et lumine vestit
purpureo.
(Eneas VI, 638-641)

O conteúdo do texto, que fala da chegada nos locais amenos, nos felizes hortos de prados amáveis e da morada dos bem-aventurados, onde o éter veste os campos mais ricamente com a sua luz purpúrea, serve para a sua própria introdução. Assim, Forster descreve:

"Era uma manhã que dificilmente poderia ser mais bela do que a descrita pelo poeta na qual vimos perante de nós, a 2 milhas, a ilha Taiti. O vento leste, que nos acompanhou até aqui, havia cessado; uma brisa que soprava da terra trazia-nos aromas dos mais magníficos e frescos e ondulava a superfície do mar. Montanhas coroadas de florestas elevavam os seus cumes orgulhos em várias formas majestáticas e irradiavam já aos primeiros raios matinais do sol. Abaixo das mesmas, via-se uma série de colinas baixas, caindo docemente , cobertas com florestas como as montanhas e ensombreadas em diversos tons de verde e marrom outonal. À frente estendia-se a planície, à sombra de árvores de fruta-pão carregadas e incontáveis palmeiras, cujas coroas reais aquelas superavam.  Tudo ainda parecia em profundo sono; a manhã nem acabara de nascer e sombras silenciosas espraiavam-se ainda pela paisagem. Gradualmente, porém, pode-se perceber uma quantidade de casas sob as árvores e canoas que haviam sido puxadas à areia das praias" (...). (op.cit. 11-12)

O texto de Virgílio que veio à lembrança do viajante ao descrever a chegada ao Taiti demonstra o elo estabelecido com a ilha dos bem-aventurados da visão do mundo da Antiguidade greco-romana. O autor silencia o fato de que a frase anterior à citação menciona que os viajantes haviam feito um tributo à deusa. Também Forster, assim, estabelece indiretamente um elo entre Taiti e Venus. Do ponto de vista da interpretação cristã, comparava-se a natureza e a atmosfera desses campos elíseos com os prazeres do horto celestial dos bem-aventurados, assim como Camões o fizera com relação aos heróis da viagem de Vasco da Gama que realizaram os grandes feitos na Índia.

No espírito dessa introdução deve ser lido o texto de Forster referente ao povo do Taiti. Por detrás de sua descrição, ainda que não explicitamente expressa, percebe-se o texto virgiliano, quando este antigo autor diz que, nesse local iluminado de púrpura etérea, sob a ação de especial sol, alguns exercitavam o seu corpo nos prados, outros competiam em exercícios físicos na areia, outros vibravam os seus pés dançando e entoando uma canção.

"A gente que nos rodeou tinha tanto de suave nos seus traços quanto agradável no seu porte. Eram mais ou menos do nosso tamanho, de pálido marrom de mahagoni, tinham belos olhos e cabelos negros e cobriam-se com uma peça por êles mesmo feita ao redor do corpo, um outro porém um turbante na cabeça enrolado de formas pitorescas. As mulheres que se achavam entre êles eram bonitas o bastante para agradar aos europeus que não tinham visto as suas conterrâneas há anos. A roupa delas consistia numa peça que possuía um orifício no meio, para que a pudessem enfiar pela cabeça e que caía até os joelhos. Traziam, por cima, uma outra peça, tão fina como um tecido  leve e segura sob o busto de forma delicada como uma túnica, de modo que uma parte dela, às vezes com muita graça, caía sobre as costas. Se esse traje não era tão perfeitamente belo como aqueles das admiradas vestimentas das estátuas gregas, superavam as nossas expectativas e pareceram-nos muito mais adequadas ao bem trajar humano do que tudo o que víramos até então. (...) A índole inusualmente terna, que constitui o principal traço do seu caráter nacional, irradiava imediatamente de todos os seus gestos e atos e davam motivo à contemplação de todo aquele que estuda o coração humano. As expressões, pelas quais queriam manifestar a sua simpatia eram diferentes modos; uns tomavam as nossas mãos, outros encostavam-se nos nossos ombros, outros abraçavam-nos. Ao mesmo tempo, admiravam a côr branca de nossa pele e às vezes abriam as nossas roupas no peito, como se quisessem comprovar que éramos como êles." (op.cit. pág. 14)

O texto de Virgilio não apenas inicia e perpassa o texto de Forster, mas também o encerra. Assim, o autor salienta por fim que os insulanos procuravam superar-se em hospitalidade e amizade, do menor súdito à rainha, para que os hóspedes, na despedida do país tão amigo pudessem dizer que abandonavam sem vontade as suas praias ("Invitus, regina, tuo de litore cessi", Eneas V, 460).

Recepção da Nouvelle Cythère na Europa

Os relatos dos viajantes, corroborando imagens e interpretando o Taiti à luz de Citeréia e Venus, despertaram sensação na segunda metade do século XVIII e fundamentaram o que hoje é designado como "mito do Taiti" na literatura utópica (N. Bricaire de La Dixmerie, Le Sauvage de Taiti; L.-S. Mercier, L'An 2440, rêve s'il en fut jamais, 1771, ed. R. Trousson, Bordeaux 1971).

Denis Diderot (1713-1784) escreveu um Supplément au Voyage de Bouvainville - Nachtrag zu Bougainvilles Reise (1775, primeira edição 1796), inspirando-se também em relatos de seus companheiros de viagem, entre eles o do citado "Journal de navigation" de Fesche. Esse suplemento foi amplamente difundido com a sua publicação no Mercure de France, em 1769. No seu texto, trata-se de temas relacionados com a América do Sul e a Polinésia, da ação dos Jesuítas no Paraguai e de sua expulsão, do gigantismo dos habitantes da Patagônia, da vida dos selvagens e de sua sabedoria enquanto não se encontram em perigo e da apresentação do taitiano trazido por Bougainville em Paris. Recusando a seguir as leis da Natureza, o homem tornou-se infeliz; colocando obstáculos a êle mesmo, criou a fonte de suas infelicidades.

Esses relatos e suas consequências para a história cultural européia passaram a merecer, na atualidade, particular atenção da pesquisa (veja, entre outros, E. Taillemite, ed., Bougainville et ses compagnons autour du monde 1766-1769, Journaux de navigation, 2 vols., Paris 1977 - relatos sobre o Taiti Vol I, 311-330; II, 76-97 -; Fesche, 234-250; Caro, 394-399, Commerson, 496-505, Mercure de France, 197-207).

Defasagem entre a imagem e o Taiti em processo de transformação

A ampla divulgação dessa imagem do Taiti na primeira metade século XIX, já não correspondia à realidade local, marcada pela ação dos missionários e pelas doenças trazidas pelos marinheiros. Esse fato é  documentado de forma expressiva na obra do geógrafo francês Grégoire Louis Domeny de Rienzi (1789-1843), publicada em francês, em 1836, e traduzida em várias línguas (Oceanie ou cinquième partie du monde: revue geographique et ethnographique de la Malaisie, de la Micronesie, de la Polynesie, et de la Melanesie, Paris: Firmin Didot Frères,1836-38); Oceanien oder Der Fünfte Welttheil. Welt-Gemälde-Gallerie oder Geschichte und Beschreibung aller Länder und Völker, ihrer Gebräuche, Religionen, Sitten u.s.w. (...) Aus dem Französischen. Oceanien 2. Band. Polynesien, Stuttgart : E. Schweitzerbart's Verlagshandlung, 1837-1839; Veneza: Giuseppe Antonelli, 1838-1843). 

Rienzi inicia o seu capítulo sobre o arquipélago do Taiti com as seguintes palavras:

(...) passamos às sorridentes e férteis paisagens e aos amáveis povos do Arquipélago Sociedade. Das incontáveis ilhas da Polinésia, nenhuma é tão conhecima do que Taiti e as ilhas que o cercam como ternas irmãs. Elas forneceram matéria para mais escritos do que muitos estados da Europa. As suas regiões, os seus usos e a sua história são mais conhecidas do que a história, os usos e as regiões da Albania, do norte da Noruega, dos povos balcânicos, etc. Taiti, que um famoso navegador (Bougainville) tinha chamado de nova Cythere, recebeu em geral o título de uma rainha do pacífico oceano e o merece também. Forneceu as mais encantadoras imagens, as descrições mais expressivas e os versos mais emocionantes a Bougainville, Diderot, Delille, Couper, Chateaubriand e Victor Hugo. Taiti parece ser o berço de Pomona, da Flora, do Comus, da Venus e de Morpheus. O que a poesia grega e latina produziu de encantos tornou-se ali realidade.

Ao lado de prados, que irradiam com as flores mais magníficas, ao lado das águas das lagunas, que as árvores de forma de pirâmides sombreiam através de filas de coqueiros, que balançam as suas coroas nos ares, e florestas de árvores da fruta pão, que se espraem como chapéus de sol, correm riachos, caindo de alturas vulcânicas, murmurando sobre leitos de basalto negro; cipós longos, enfeitados de flores criam pontes naturais entre as suas margens, emolduradas por heliconias púrpuras; abismos estarrecidos por grandes samambaias espinhentas, são ensombreadas pela rosa da China e pela agradável Gardenia. Aqui o viajante contempla numa bela manhã ao brilho do sol tropical o mar, que se levanta às vezes como uma boa ameaçadora, às vezes com o rúido do trovão; alí admira êle uma ruidosa cascata, como se levanta em montanhas espumantes e cai, novamente sobe e novamente cai. Essa maravilha de natureza grande e imposante inebria a sua imaginação; a noite o encontra ainda embevecido nesses lugares; um pensamento grande toma dele conta, e pergunta se tudo o que o envolve, se esse novo mundo é uma nova Criação dos vulcões ou se saiu das ruínas de um antigo mundo.

Num desses hortos, Bougainville foi convidado por um taitiano hospitaliero de dividir com êle o seu assento na grama. O taitiano a êle dirigiu, assim como a seus companheiros, palavras cheias de ternura, que se faziam ainda mais emotivas pelos seus gestos. Logo cantou, tocou a sua flauta, e o seu canto tinha sem dúvida poderoso atrativo, pois o famoso viajante aclamou: "essa cena magnífica é digna do pincel de um Bouchers!" (op.cit. 415)

(...) O severo Wallis fala com prazer dos atrativos da rainha Oberea, essa nova Dido, que abandonou após um mês de entontecimento recíproco de alegria. Mais tarde, Vancouver levou de volta à sua pátria duas jovens belezas, Rahine e Timaru (...), e o erudito navegador verteu lágrimas quando deu a ordem de partida, tão profundamente tocara o seu coração a gratidão da bela Rahine. (op.cit., 416)

Nouvelle Cythére e o desenvolvimento artístico e literário francês

A imagem da Nouvelle Cythére na França do século XIX deve ser considerada paralelamente, e apesar de todas as transformações, à apreciação e difusão do "Embarque à Cythère" de Watteau. Essa obra foi reproduzida por vários artistas, entre êles Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875), Eugène Boudin (1824-1898), Ignace-Henri Fantin-Latour (1836-1904) e mesmo Pierre-Auguste Renoir (1841-1919).

A Nouvelle Cythère desempenhou um papel significativo no desenvolvimento de um estado de espírito e de vida que se manifestou em determinadas expressões literárias e artísticas da segunda metade do século XIX e da passagem do século, em particular da lírica literária. A imagem feliz do Taiti do passado mescla-se aqui com o conhecimento da perda da antiga sensualidade de seus habitantes sob a influência missionária:

"L'espèce humaine y est fort belle, mais de couleur olive. (...) cette île a long-temps été le lieu de la Polynésie le plus fréquenté par les Européens: les habitudes voluptueuses des indigènes l'avaient rendue fameuse. Des missionnaires anglicans, en s'y établissant (1815), ont donné à l'ile un autre aspect, et fait adopter à presque toute la population le vêtement, la religion et les manières des Européens." (M.-N. Bouillet, Dictionnaire Universel d'Histoire et de Géographie, Paris: Hachette, 1864, pág1834)


Nessa mescla de perdida sensualidade e melancolia merece especial atenção a consideração do tema da "viagem à Cythère" na coleção de poesias Les Fleurs du mal, de Charles Baudelaire (1821- 1867)(CXVI), publicada de 1857 a 1868 em três versões, e que exerceria influência na criação de outros literatos, entre êles Arthur Rimbaud (1854-1891), Paul Verlaine (1844-1896)  e Stéphane Mallarmé (1842-1898). O escritor, que havia feito, em 1841, uma viagem ao Índico, tendo visitado Maurício e La Reunion, adquiriu a sua fascinação pela natureza luxuriante do mundo tropical não apenas a partir da vivência local, mas sim também da imagem da ilha da mitologia e da real Nouvelle Cythère, cujo triste desenvolvimento era conhecido.

No seu poema, Baudelaire canta a "ilha de doces segrêdos e festas do coração" como superba imagem da antiga Vênus, que enche os espíritos de amor. A descreve como "bela ilha de verdes mirtas", repleta de flores, "onde os suspiros do coração em adoração rolam como o incenso sobre um jardim de rosas." Entretanto, para Baudelaire trata-se de uma ilha triste e negra, um país famoso nas canções, "Eldorado banal de todos os velhos", mas que era uma pobre terra.

Dans ton île, ô Vénus! je n'ai trouvé debout

Qu'un gibet symbolique où pendait mon image...

— Ah! Seigneur! donnez-moi la force et le courage

De contempler mon coeur et mon corps sans dégoût!


Paul Verlaine, em Fêtes galantes (1869), procurou captar a atmosfera da arte de Watteau; na sua obra, que faz referência explícita a Cythère (1869), pode-se detectar o espirito da ilha de Venus, na suas associações ambivalente com os prazeres da vida, da sua temporalidade, do amor e da morte.

Un pavillon à claires-voies
Abrite doucement nos joies
Qu'éventent des rosiers amis ;

L'odeur des roses, faible, grâce
Au vent léger d'été qui passe,
Se mêle aux parfums qu'elle a mis ;

Comme ses yeux l'avaient promis,
Son courage est grand et sa lèvre
Communique une exquise fièvre ;

Et l'Amour comblant tout, hormis
La faim, sorbets et confitures
Nous préservent des courbatures.

Também Mallarmé refere-se explicitamente a Cythère em l'Après-midi d'un faune.

Sais-tu, vrai Dieu! que ta grand'mère
T'aurait dû faire pour la Cour
Au temps où refleurit Cythère
Sous un regard de Pompadour?"

Nouvelle Cythère na música francesa

O redescobrimento da música do século XVIII no decorrer da segunda metade do século XIX levou também a uma revalorização de autores relacionados com motivos galantes, seja Jean-Philippe Rameau (1683-1764) com o seu Le Carillon de Cythère, seja Christoph Willibald Gluck (1714-1787), autor de Cythère assiégée (Paris 1775).

A obra literária de escritores que trataram do tema inspirou a compositores, lembrando-se aqui apenas da repercussão de Fêtes galantes de Verlaine em C. Debussy (1862-1918), G. Fauré (1845-1924), R. Hahn (1874-1947) e M. Ravel (1875-1937).

O significado do relato de viagens de Bougainville e a imagem desde então criada do Taiti como Nouvelle Cythère para o desenvolvimento das artes, em particular da música no século XX pode ser documentado pelo fato de ter sido Serge Diaghilev (1872- 1929) que sugeriu essa obra a Germaine Tailleferre (1892-1983), como fonte de inspiração para a composição de um Ballett. O projeto não pode ser realizado, pelo falecimento de Diaghilev, a composição de Tailleferre, porém, recentemente encontrada e revalorizada, já estava terminada. A obra compôe-se de 10 quadros, com claras referências à chegada dos europeus no Taiti, incluindo danças de nativas, uma pavana em estilo francês, uma bucólica e um minueto para o taitiano Aotourou vestido à moda francesa.

A temática do "embarque a Cythère" da obra de Watteau é sobretudo conhecida pela obra "L'Embarquement pour Cythère", para dois pianos, de Francis Poulenc (1899-1963).

Do período posterior à Segunda Guerra Mundial, pode-se lembrar de Les Bosquets de Cythère, de Jean Françaix (1912-1997), de 1946.

Em 1968, Luciano Berio (1925-2003) criou com a sua Sinfonia uma "Voyage à Cythère", com referências a vários outros compositores (Mahler, Stravisky, Schönberg, Boulez, Stockhausen), vista como uma visão de natureza mítica.

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Indicação bibliográfica para citações e referências:

Bispo, A.A. (Ed.). "La Nouvelle Cythère e a Ilha dos Amores n'O Lusíadas". Revista Brasil-Europa 125/11 (2010:3). www.revista.brasil-europa.eu/125/Citerea_e_Ilha_dos_Amores.html



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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 125/11 (2010:3)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
órgão da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg.1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2598


©


La Nouvelle Cythère e a Ilha dos Amores n'O Lusíadas


Ciclo

Reflexões no Jardim Botânico de Papeari em sequência ao colóquio sôbre Música e Artes Visuais no Wallraff-Richartz-Museum de Colonia (Universidade de Colonia e A.B.E.)

sob a direção de A.A.Bispo

 


























Fotos: H. Hülskath©



 

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