O. Steiniger: Um noite entre os Bororo .Revista BRASIL-EUROPA. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

A diferença entre perspectivas de pesquisadores devidamente formados em áreas de ciências culturais e aquelas de observadores sem formação adequada mas de interesse jornalístico por atualidades e novidades pode ser constatada de forma particularmente grave na área da etnologia indígena.

Embora uma formação etnológica especializada não represente garantia absoluta de posições e procedimentos adequados, o conhecimento de trabalhos já realizados e das questões em debate aguça a sensibilidade de observação e de interpretação, assim como apura o sentido para as dificuldades inerentes aos exames de complexos culturais, pondo obstáculos a que o observador tome atitudes imodestas.

O principal problema que aqui se levanta diz respeito não tanto ao saber de fatos e desenvolvimentos, mas a uma excessiva auto-consciência daquele que, sem ter-se suficientemente confrontado com a complexidade das questões envolvidas, sabe que tem à disposição órgãos de ampla divulgação, que pode e talvez deva usar de uma linguagem que cause sensação, deixando-se tomar por uma consciência de poder. Esta colocação necessita naturalmente ser diferenciada segundo épocas e contextos.

Os problemas que aqui se levantam podem ser exemplificados em textos de autores alemães publicados nos anos 30 e 40 do século XX referentes aos indígenas da América do Sul. A Alemanha já possuia uma longa tradição de observação das culturas indígenas, com personalidades que marcaram muitas vezes de forma pioneira caminhos para a pesquisa e para uma compreensão mais humana dos indígenas. Na década de 30, porém, constata-se a existência de textos publicados em revistas de ampla divulgação que, sem propriamente representarem estudos de fundamentação de natureza ideológica, deixam entrever idéias pré-concebidas e imagens marcadas por lugares comuns, por tendências do pensamento da época e por conceções políticas não expressas.

A imagem do indígena, aqui, é incomparavelmente mais negativa do que aquela transmitida pelos grandes pesquisadores do passado e da própria época. Esses textos, servindo à difusão e ao fortalecimento de preconceitos e de visões negativas, não apenas exerceram influência altamente questionável do ponto de vista ético na opinião pública, como serviram à difusão subreptícia de concepções racistas, servindo assim a desenvolvimentos políticos questionáveis.

Um texto que poderia aqui ser considerado como exemplo é o relato de um jornalista que, em 1935/36, passou uma noite numa estação missionária dos Salesianos no Mato Grosso e, com base nas suas breves impressões, escreveu um artigo depreciativo referente aos indígenas Bororo. O seu texto foi publicado na revista "Através de todo o mundo" (Otto Steiniger, "Eine Nacht unter den Bororo-Indianern", Durch alle Welt 21, 1936, 20-21). Esse artigo - compreensívelmente - não foi considerado na Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira, de Herbert Baldus (São Paulo, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954).

O texto foi ilustrado com três fotografias tiradas pelo próprio autor, e é justamente nesse material que reside um interesse da publicação sob o aspecto histórico-etnológico.

As suas imagens testemunham uma fase da história da transformação cultural dos indígenas que viviam na missão, demonstram a ordenação das casas, o campanário simples que exigia que uma pessoa subisse uma escada para tocá-lo, o convívio de religiosas e de meninas indígenas. Em outra fotografia, oferece o retrato de uma índia com a sua filha perante uma cabana, ainda de trançado, mas já construída segundo o alinhamento introduzido pelos religiosos, como também o demonstra uma outra fotografia, a de um panorama da aldeia indígena.

A época da estadia

Além das missões na região do rio das Mortes, salientava-se, na época, a Missão de São José, situada no Sangradouro, afluente daquele rio e que havia recebido a visita, em 1934, de Herbert Baldus. Esse pesquisador da Universidade de São Paulo, além dessa principal colonia, visitou também a missão de Coração de Jesus, no Rio Barreiro, afluente do Rio das Garças, designada em geral pelo nome de Meruri. Entre os aspectos registrados, Baldus mencionou o estado do cultivo da terra, as plantações de cana-de-açúcar, de café, de árvores frutíferas e de rosas, e que haviam sofrido com a geada de junho de 1933. Segundo esse antropólogo  viviam ali, em 1931, 37 famílias Bororo (32 homens, 28 mulheres, 33 meninos e 44 meninas). A missão fora fundada em 1906. 

"Os Bororo orientais já foram tão minuciosamente descritos por Karl von den Steinen e pelo padre Antonio Colbacchini que só alguns pormenores restavam ainda por pesquizar, especialmente no que toca aos problemas da vida individual e social e da mudança de cultura" (H. Baldus, "A posição social da mulher entre os Bororo Orientais", Ensaios de Etnologia Brasileira, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife: Companhia Editora Nacional, 1937, 112)

Sabe-se que, posteriormente, à certa distância do edifício principal, passou a localizar-se, em Sangradouro, a escola e a casa das religiosas que ensinavam meninas Xavante e filhas de fazendeiros (J.R. do Amaral Lapa, Missão do Sangradouro, São Paulo: Saraiva, 1963, 57 ss.). Somente estudos mais pormenorizados nos arquivos salesianos poderão esclarecer a situação registrada quanto à missão feminina por Otto Steiniger e que data de muitos anos antes. A foto da índia e de sua filha - das quais não fornece o nome - pode ser cotejada com as de Herbert Baldus, da mesma época, referentes a Alaysa Aroia Chereudda, que o etnólogo descreve como espôsa de Mario Bokudori Kudde, caçador, "moça de 17 anos, de espírito vivo e crítico, que sabe perfeitamente ler e escrever, e o filho do casal". (op.cit., legenda das imagens 19 e 20)

Impressões e emoções noturnas e à distância

Otto Steiniger, utilizando-se de recursos literários comuns a outros jornalistas culturais da época, parte da primeira pessoa e das suas próprias emoções. O relato, assim, não tem aspecto objetivo, mas é claramente inserido numa descrição da própria experiência. O leitor, hoje, necessita reconstruir os fatos entremeados no seu texto. Para o leitor, porém, o procedimento torna a leitura amena. Toma conhecimento que o jornalista alemão visitou a aldeia missionária acompanhado por um policial e como integrante de uma caravana de automóveis.

"Eu estou deitado na minha rêde e não consigo adormecer. As impressões do dia foram fortes demais para serem facilmente digeridas. E agora sobretudo essa noite! Vim numa pequena caravana de automóveis à estação missionária da ordem salesiana, que está situada no coração do território dos índios Bororo semi-selvagens e bem nos limites da terra dos Xavantes, ainda hoje selvagens e perigosos, na parte mais ao norte do estado brasileiro de Mato Grosso. Deram a mim e ao meu companheiro de viagem, um tenente da polícia brasileira, o quartinho de hóspedes mais afastado que pôde ser encontrado nesse quadrado de casas dos edifícios da missão. Esse é o lugar que está mais próximo da aldeia Bororo. Quando olhamos pela janela, vemos à nossa frente uma cruz de madeira, alta, fina, que os piedosos salesianos ergueram nessa fronteira divisória entre a sua área cristã e a pagã de suas escuras crianças selvagens. De ambos os lados da cruz levantam-se duas palmeiras reais magestosas, que a ela fazem uma maravilhosa moldura serena, um símbolo de paz e de silenciosa consagração, como um apelo doce que soa do alto, de outras e mais belas esferas para os baixos deste vale de lágrimas terreno." (op.cit.)

Atualidade à luz da imaginação do jornalista

A seguir, o autor passa a descrever a aldeia dos Bororo de longe, a partir da janela de seu quarto, e à noite. Esse relato, naturalmente, não pode ter maior interesse etnológico. Deixa porém entrever as emoções do pesquisador alemão que se deixava levar pela imaginação. Projeta literariamente nos indígenas um mêdo perante os Xavantes. Demonstra aqui a sua atitude jornalística voltada à atualidade e às novidades, pois realmente o receio com relação aos Xavantes marcava a atmosfera da região.

A ação missionária junto aos Xavantes parece ter-se iniciado sistematicamente em 1932, quando fundou-se o posto de Santa Teresinha. Em 1934, ocorreu um trágico episódio com dois sacerdotes, que ali perderam a vida. Quando da presença de Otto Steiniger, a morte recente desses religiosos era um dos principais assuntos em meios missionários e sertanistas, atingindo até mesmo dimensões supraregionais. Após a publicação do seu artigo, em 1937, realizou-se a essa região a Bandeira Anhanguera, organizada por Hermano Ribeiro da Silva. Somente nesse ano os salesianos alcançaram um contato pacífico com esses indígenas, através do Pe. Hipólito Chovelon. O primeiro posto do Serviço de Proteção aos Índios seria aberto ali ao redor de 1941.

"Quando olhamos para as cabanas dos Bororo do outro lado, então lá vemos, à frente dos esboços indefinidos e fantasmagóricos das cabanas, aqui e ali fogo em chamas, ao redor do qual os índios se sentam em filas em rêdes por eles mesmo tecidas, esfregam-se os dedos, se esquentam ao fogo, paparicam de forma excitada. Têm, assim nos asseguraram, quase que mais temor dos selvagens Xavantes do que dos assim-chamados civilizados. Mesmo se ainda disso não tivéssemos conhecimento, poderíamos vê-lo nas escuras faces destorcidas, nos negros olhos mongóis intranquilamente brilhantes, tortos, abertos de forma estarrecida. De fato: essa aldeia Bororo vibra em excitação terrível e tensa. Os Xavantes virão? Vão atacar? Vão nos matar com as suas grandes macetas de pau e extinguir-nos como é o seu costume? Esses e outros pensamentos similares podem estar andando nos pobres e confusos cérebros das escuras crianças. Tais ou parecidas palavras fluem também de seus lábios distorcidos." (op.cit.)

Arrogância, humor negro, ironia e agressividade

Continuamente utilizando-se de recursos de retórica no desenvolvimento do seu artigo, Otto Steiniger procura oferecer uma descrição do ambiente, - a partir de impressões acústicas que recebia de noite - entrando em considerações e conselhos relativamente a cães e outros animais e aves. Aqui se expressa de uma forma altamente agressiva, sugerindo que os visitantes deveriam matar a tiros os cães dos indígenas, que muito difeririam dos cães conhecidos pelos leitores alemães. Assim, não apenas os indígenas são no texto continuamente descritos com expressões negativas, mas também os seus animais.

"O tenente da polícia e eu encontramo-nos assim deitados nas nossas rêdes e não podemos cair no sono. Olhamos para fora da janela, às cabanas Bororo, e escutamos o grunhir dissonante dos inumeráveis e feios sapos, que populam e preenchem essa aldeia indígena, assim como todas as outras. Os índios Bororo têm uma afeição quase que doentia por cães e entre êles para os mais feios, sem-vergonha e mordeiriços membros desse gênero tão simpático e fiel de animais domésticos. Se desejar aproximar-se de uma aldeia Bororo, ó peregrino, não esqueça pelo amor de Deus o seu revólver carregado, pronto para ser usado! Não para defender-se de uma onça ou de uma cascavél, mas sim para proteger-se dos cachorrinhos dos Bororo, essa peste das mais nojentas que faz os seus males na bela terra de Deus - pelo menos ao norte de Mato Grosso. Com relação a esses patrões sem-vergonha, sem peios, nada pode ajudar a não ser o revólver." (op.cit.)

As vozes da floresta e das aves, por tantos outros pesquisadores de maior sensibilidade mencionadas com expressões positivas, pelo menos sob o aspecto do exótico tropical, são aqui descritas com expressões negativas.

"Além desses cães, os Bororo possuem outros animais domésticos, mas estes são mais coloridos e brilhantes, até mesmo muito mais inofencivos do que os feios sapos, ainda que as suas vozes não soem de forma alguma mais melodiosa do que aquels grosseira dos quadrúpedes. Podemos escutar essas vozes já da nossa rêde, constantemente soa um grunhir novo, grave, rouco nos nossos ouvidos, soa como o latir enferrujado de uma garganta velha de um bêbado. Bem, agora não vemos mais esses rudes grunhidores, apenas ouvimos ainda as suas vozes dissonantes. Dia dia, porém, foi diferente. Andavam e trepavam com passinhos rápidos sobre as cabanas de fôlhas de palmeira, e ao cair dos últimos raios do sol da tarde irradiavam e brilhavam acima dos telhados cinzas nas cores das mais diversas e vivas que a Criação de Deus pode produzir. Azul, amarelo, vermelho, verde... uma cor brilhava mais forte e densa do que a outra. As araras multicoloridas, os roucos papagaios domésticos dos Bororos, que apanham bem jovens na floresta e que sabem como domesticar, apresentam-se orgulhosos como pequenos pavões cheios de si sobre os tetos de palha. Os belos olhos corais das bonitas aves, rijos, circulares, verde-cinzas, brilhavam num imaginado orgulho bôbo." (op.cit.)

Atualidade sensacionalista: mêdo dos Xavantes entre os brasileiros

A seguir, o autor volta a tocar no assunto de atualidade que parece tê-lo levado à missão indígena: o mêdo que os Xavantes a todos inspiravam. O seu relato é, assim, não tanto sobre os indígenas, mas sim sobre a situação de temor que reinava entre os brancos. Sugere, no seu relato, que os brasileiros não tinham outro assunto.

"Olhamos para a escuridão lá fora, na qual agora apenas podemos ver o fogo do Bororo e à frente dele apenas a cruz solitária dos cristãos, escura e fantasmagórica, e falamos sôbre os Xavantes. O tenente da polícia esclarece categoricamente, êle não pensa nem em sonho deixar a estação missionária de noite ou sob neblina, pois isso não era aconselhável de forma alguma. Sabe o senhor, os Xavantes! Oh, esses Xavantes ruins!

Esse palavrear cheio de mêdo da minha autoridade policial começou a ser demais para mim e saí sorrateiramente para o páteo. Fora, achei a nossa pequena caravana de automóveis, e os nossos choferes haviam feito o seu acampamento, estavam deitados preguiçosamente e conversavam um pouco antes de cair no sono. De que? Naturalmente dos Xavantes. Sobre o quê podia-se senão falar com grandes palavras nesse mundo e nesse ambiente estranho?" (op.cit.)

Preconceitos raciais para com brasileiro de ascendência indígena

A parte do texto que mais deixa transparecer os preconceitos raciais e mesmo a arrogância do jornalista é aquele que diz respeito a um jovem acompanhante de origem indígena. Até mesmo um episódio que poderia facilmente ter sido descrito com palavras de simpatia é relatado com expressões de ironia, desprêzo e até mesmo de ofensa, ainda que disfarçados em bom humor.

"Entre os senhores choferes estava sentado também o nosso Guilherme, um escuro cíclope indígena, forte como um urso. Êle havia-se lavado bem ainda nessas horas avançadas da noite, penteado e vestido uma nova camiseta branca. Estava agora sentado num caminhão carregado, como um rei, e os seus cabelos negros e rijos, molhados, colavam-se lisos no seu crâneo. Os braços extraordinariamente musculosos do atleta explodiam por assim dizer da camisa branca, transpassando o branco do linho natural com a sua côr marrom escura, quase negra de jacarandá. Esse enorme, escuro tipo sul-americano é realmente um cíclope, um monstruoso animal do mundo primordial.

O nosso Guilherme, porém, é porém um monstrozinho muito amável e de temperamento meigo, que me oferece com um sorriso suave a cuia de mate paraguaia, pois nunca tinha deixado de lado no Brasil esse velho mau hábito das terras do La Plata. Guilherme esteve na sua juventude algum tempo em Montevideo, e fala ainda hoje com entusiasmo e amor da bela cidade portuária, cheia de vida e mais refrigerada, que parece ter deixado uma impressão inusual na sua robusta alma de homem das florestas. Ela foi sem dúvida o acontecimento mais excitante de sua monótona vida, do qual se alimentará até o fim de sua vida. Constantemente os seus pensamentos fogem para Montevideo, essa cidade que constitui todo o seu amor.

Hoje, porém, nessa atmosfera estranha, não falamos mais sobre Montevideo, oh não, falamos apenas sobre os Xavantes e seus terríveis atos criminosos e dos perigos que corremos. Guilherme sorri de modo singular quando fala deles para mim, quase que com ternura. Parece que esses morenos diabos selvagens não exercem nenhum poder aterrorizador nesse cíclope. Não é também êle um deles, a êles semelhante?" (op.cit.)

Canto Bororo como "música infernal"

Como o artigo relata apenas as experiências de uma noite, à distância dos índios, é compreensível que o autor entre por fim em considerações a respeito da música Bororo. Por detrás das adjetivações injuriosas, o autor sugere o uso de imitações de vários animais, no que pode ter sido informado por leituras ou por conhecedores da cultura indígena.

"De repente, vira a cabeça: 'Senhor', sussurra misteriosamente, 'ouça rapidamente!' - Escutamos. Da região da aldeia Bororo chega a nós um como que brunhido estranho, que se torna cada vez mais forte, crescendo de intensidade, um fluxo que se desemboca por fim num caudal suave, uma corrente, que de sonoridades das mais coloridas passa a constituir uma estranha e bárbara melodia. Trata-se, para se falar claramente, de um concerto de gatos demoníaco que é executado lá na aldeia dos índios.

Os índios divertem-se, sorri Guilherme, e seus olhos irradiam um estranho brilho escuro, convencido. Compreendi que êle tudo daria para poder estar participando nesse divertimento Bororo, êle, o filho do índio Tereno, o filho de sangue americano milenar, antiquissimo, o filho nativo dessa terra selvagem, rude, indomável.

Os Bororos divertem-se assim com as vozes da mata, da qual se originam, da qual fugiram para o seio seguro, cheio de calor desta estação missionária. Alguns deles paparicam como papagaios, outros grunhem como pequenos macaquinhos, que pululam nas grandes árvores da floresta, outros imitam o rugir rouco da onça, o animal rei dessas florestas tenebrosas, e outros ainda por fim produzem os ruídos do jacaré, o crocodilo americano. É, em verdade, uma música estranha, infernal, que lá se executa." (op.cit.)

Por fim, terminando a dramaturgia literária do seu relato, Otto Steiniger transmite reflexões a respeito do significado do canto Bororo, ou melhor, da continuidade da cultura musical tradicional na vida da missão. Sugere que seja ou uma expressão de resistência contra os agentes de sua transformação cultural ou de nostalgia de um passado em liberdade na floresta.

"Fico ainda muito tempo acordado na minha rêde e observo de olhos arregalados e sentido aguçado a cruz solitária dos cristãos, que mantém guarda perante a aldeia dos índios. Contemplo com olhos ardendo essa cruz cheia de esperança e escuto a música selvagem, obtusa. O que significa essa ladainha infernal? É mêdo dos Xavantes? Inimizade e rebelião contra essa cruz e seus discípulos? Ou é apenas uma melodia eterna, inemorrível, e que certamente nunca mais soará do grande sertão, que é entoada pelos seus filhos infiéis sempre quando se levanta um lamento velho, incrivelmente cheio de saudades? Não o sei." (op.cit.)

Diferenciação do interesse documental do texto

O texto de Otto Steiniger não pode ser considerado como contribuição qualificada aos estudos etnológicos, ficando muito para trás dos conhecimentos que já se possuía na época. Não podendo ser êle e o seu autor colocado à altura e citado ao lado daqueles devidamente formados, é, êle próprio expressão de uma fase da história cultural e devem ser considerados como objeto, - não como sujeito - , de estudos culturais. Esse jornalismo de atualidade indígena, a serviço e instrumentalizado de causas políticas, passa a ter significado documental. Necessita ser lido de forma particularmente crítica, não como expressão de um representante de estudos culturais, não pelas informações que transmite, mas sim como testemunho dos riscos que representa.

(Grupo redatorial sob a direção de A.A.Bispo)


  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 124/15 (2010:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho
órgão da
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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2574




Procura de atualidades e sensações no jornalismo cultural
- problemas antropológico-culturais -


Otto Steiniger: Uma noite entre os Bororo - 75 anos



Ciclo "Berlim à luz" - Ano da Ciência 2010. Reflexões após 75 anos da oficialização de centros de estudos portugueses e brasileiros na Alemanha. Retomada de trabalhos de seminário sobre as relações entre estudos culturais e política realizado na Universidade de Colonia (2008)
sob a direção de A.A.Bispo

 

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