Medicina tropical e lusofonia. Revista BRASIL-EUROPA. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

No seu artigo publicado em Recife, em 1935, onde relata o vir-a-ser e a oficialização do Instituto Português-Brasileiro da Universidade de Colonia, o cônsul brasileiro Ildefonso Falcão salienta o papel desempenhado pela indústria I.G. Farben de Leverkusen (Bayer) na inclusão explícita do Brasil no programa de estudos e na própria designação da instituição. (Veja artigo a respeito de Ildefonso Falcão nesta edição e, sobretudo, o escopo dos trabalhos em "Tema em debate")

Ao mesmo tempo em que salientava que nada recebera de auxílio financeiro por parte do Brasil, lembrava que os principais responsáveis pela instituição, na época, Prof. Dr. Fritz Lejeune e Dr. Ivo Dane, haviam encontrado portas abertas junto à I.G. Farben, na pessoa do Dr. Johannes Zschucke. Sugere que este pesquisador - e já então docente agregado à Universidade (Privatdozent) - colocara como condição para o apoio a consideração do Brasil nos trabalhos do Centro.

Se até então a instituição surgira apenas com nomes que faziam referência a Portugal (Instituto Português de Colonia e.o.), teria sido a exigência de Zschucke que levara à menção do Brasil na denominação da instituição e à consideração mais acentuada de temas brasileiros no seu programa. Essa menção de Ildefonso Falcão não é sem importância, pois trouxe implicações quanto à concepção da área disciplinar dirigida à lusofonia e aos complexos temáticos considerados.

A importância do papel desempenhado pelo Dr. Zschucke no contexto da "sagração" da instituição ou da sua inauguração oficial como Instituto Português-Brasileiro revela-se na posição que a êle foi dada na fotografia do grupo dos envolvidos nessa solenidade. Em uniforme do partido, ocupa uma posição central no retrato, entre os representantes de Portugal e do Brasil, Simões Raposo e Ildefonso Falcão, sentados à sua frente. (Veja a respeito dessas personalidades outros textos desta edição)

Papel da Medicina Tropical

Com o Dr. Zschucke, tem-se singularmente mais um representante das ciências médicas, em particular da biomedicina, da medicina e higine tropical na história da institucionalização da área dos estudos luso-brasileiros nas suas relações com a Alemanha.

Já renomado pesquisador de doenças tropicais, havia realizado pesquisas de campo na África Ocidental, em particular na Ilha de Fernando Pó. Em 1928, realizara experimentos humanos de novos medicamentos tripanocidas em pessoas atacadas pela doença na África equatorial espanhola, comparando os resultados com aqueles obtidos com remédios até então conhecidos.

Os resultados de suas pesquisas foram publicados no artigo "Beitrag zur Kenntnis der Schlafkrankheit in den westafrikanischen Küstengebieten" (Medical Microbiology and Immunology 114/3 (1932). Membro do partido nacionalsocialista, Zschucke atuou posteriormente na área da Higiene Militar como "Wehrhygieniker".

O seu nome surge no contexto do uso de técnicas avançadas quanto ao uso de recursos fotográficos e filmatográficos no trabalho científico e cultural. Exemplo relevante de filme documentário de cunho científico-cultural foi aquele dedicado à doença do sono ( "Die Schlafkrankheit des Menschen"), de 1931, realizado em Fernando Pó, em particular na estação Santa Isabel. Nos primeiros anos da década de 30, o filme, dedicado à demonstração científica e à informação, servia também como veículo do desenvolvimento de métodos terapêuticos, como era o caso da Germanin/Bayer 205. Nessa época, a companhia cinematográfica Ufa produzia um filme cultural sobre a malária, também utilizando-se de técnicas inovativas, trabalho lançado em 1934.

Devido às suas pesquisas na África equatorial, Johannes Zschucke mantinha contatos com cientistas de língua espanhola. Publicou-se, entre outras obras, um "Diagnostico Microscopico de las enfermedades tropicales", de F. W. Bach e Johannes Zschuke, ao lado de "El tratamiento del Paludismo", de Gustavo Pittaluga (1876-1956), cientista de origem italiana atuante na Faculdade de Medicina de Madrid.

Como o Diário da Manhã de 19 de dezembro de 1933 anunciou, o Dr. Johannes Zschucke estava nessa época em Portugal, onde proferiu uma palestra na Faculdade de Medicina de Lisboa.

Médicos na fase de oficialização dos estudos luso-brasileiros

O papel relevante concedido ao Dr. Zschucke pelo cônsul brasileiro no seu artigo publicado em Pernambuco chama a atenção para o fato singular da posição decisiva assumida pela Medicina na fase de oficialização dos estudos luso-brasileiros na Alemanha. Se a existência financeira do Instituto e a inclusão explícita do Brasil no seu escopo foram devidas ao pesquisador do paludismo, a própria direção da instituição estava em mãos de um médico, o Prof. Dr. Fritz Lejeune.

Prof. Dr. Fritz Lejeune

O pesquisador da história dos estudos dirigidos aos países de língua portuguesa surpreende-se em constatar o papel que Fritz Lejeune desempenhou na institucionalização da área (Westdeutscher Beobachter 147, Jahrgang 10, 6 de abril de 1934), uma vez que se trata hoje de nome apenas lembrado como um representante dos estudos da História da Medicina.

Após a Primeira Guerra Mundial, Lejeune desempenhara a sua profissão de médico e ocupara cargos de professor de História da Medicina em Viena e em Colonia, engajando-se também em atividades políticas de direcionamento radical. Realizou a sua agregação universitária (Habilitation) para História da Medicina na Universidade de Greifswald. Dedicou-se a interesses da classe médica e da representação profissional, além daqueles de natureza militar, contribuindo a uma politização da medicina.

Pouco presentes no Brasil e em Portugal, porém, são os elos de Fritz Lejeune com o mundo ibérico. Os seus interesses nessa área eram já antigos, como demonstra um trabalho seu a respeito dos intuitos de amizade teuto-espanholas de Johannes Fastenrath (Fritz Lejeune, Die deutsch-spanischen Freundschaftsbestrebungen von Johannes Fastenrath, Greifswald 1917, Romanisches Museum, 11; Greifswald, Diss. Univ., 1915). Fastenrath (Remscheid 1839-Colonia 1908), de familia de comerciantes de posses, dedicara-se a estudos literários e de línguas, em particular do espanhol, tendo realizado uma viagem à Espanha, em 1864. Teceu estreitos laços com esse país, que muito admirava, traduzindo obras literárias do espanhol para o alemão.

Fritz Lejeune dominava o português, uma vez que pronunciou nessa língua o seu discurso por ocasião da inauguração oficial do Instituto Português e Brasileiro de Colonia.

(...)

(Grupo redatorial sob a direção de A.A.Bispo)


  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.




 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 124/7 (2010:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
órgão da
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Doc. N° 2566





Medicina Tropical e a inclusão explícita do Brasil nos Estudos Portugueses na Alemanha
sob o signo da doença do sono e do paludismo: Dr. Johannes Zschucke

Ciclo "Berlim à luz" - Ano da Ciência 2010. Reflexões após 75 anos da oficialização de centros de estudos portugueses e brasileiros na Alemanha. Retomada de trabalhos de seminário sobre Estudos Culturais e Política realizado na Universidade de Colonia (2008)
sob a direção de A.A.Bispo

 







Imagens - Título: Berlim.
Foto A.A.Bispo
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Coluna e texto: artigos citados.

 

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