Instituto Português-Brasileiro de Colonia (anos 30). BRASIL-EUROPA. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 


Há poucos anos, a Universidade de Colonia realizou uma sessão dedicada à reabilitação de professores e universitários afastados da instituição durante os anos de 30 e 40, por diferentes motivos, sobretudo raciais e políticos, assim como daqueles que perderam, na época, pelos mesmos motivos, os seus graus e títulos de doutorado (Festakt zur Wiederzuerkennung der 1933 bis 1945 durch die Universität Köln entzogenen akademischen Grade, 12 de Dezembro de 2005). A perda de titulações, cargos e matrículas representou para os atingidos não apenas uma afronta à personalidade. Trouxe consigo, também, o fechamento de possibilidades de prosseguimento de estudos, de carreiras profissionais e, sobretudo, a retirada de uma certa proteção possibilitada pela dignidade acadêmica perante perseguições e represálias, podendo-lhes custar a liberdade e a vida.

Nessa sessão foi apresentado um trabalho que foi resultado de difíceis levantamentos de arquivos e fontes várias, uma vez que muita documentação desapareceu. Mesmo assim, essa iniciativa representou um esforço de se fazer justiça póstuma àqueles que perderam as suas graduações e seus postos, e isso após várias décadas, quando a sua grande maioria, senão praticamente a sua totalidade já não se encontra em vida.

Como então salientado, essa iniciativa representou e deveria representar, porém, mais do que uma honrosa, necessária e tardia revisão de atos de injustiça do passado para uma tranquilização da consciência do presente. Possibilitou, fomentou e deveria motivar exames quanto a procedimentos, estruturas, e sobretudo a mecanismos inerentes a processos que se instauram quando a ciência, a pesquisa e a formação acadêmica perdem a sua autonomia e liberdade, deixando também de ser condutoras de desenvolvimentos para se tornarem subservientes.

O estudo de fatos, a consideração de nomes e a análise de rêdes e sua transformação que vigoraram no passado não possuem apenas interesse histórico e nem muito menos procuram trazer à memória nomes que em parte mereceriam permanecer no esquecimento. Elas devem ser conduzidas com o intuito primordial de aguçamento da sensibilidade para a percepção de desenvolvimentos questionáveis e riscos similares que possam ocorrer em outras situações e contextos, mesmo sob condições e sistemas ideológicos e políticos diversos ou mesmo contrários.

Necessidade de exames do passado na área dos estudos luso-brasileiros

Esse complexo de questões, relembrado pelo ato da Universidade de Colonia, poderia surgir, à primeira vista, como sendo sem maior relevância direta para os estudos relacionados com o Brasil, com Portugal e os países de língua portuguesa em geral. Essa área disciplinar, porém, teve justamente nessa época uma fase importante de lançamento de alicerces, de reconhecimento, de desenvolvimento, de criação de estruturas de trabalho de pesquisa e de ensino, de relacionamento e cooperação internacionais. Marcou a história das relações intelectuais e acadêmicas entre a Alemanha e Portugal, assim como entre a Alemanha e o Brasil. Ainda mais do que outras áreas disciplinares, já há muito institucionalizadas e mais profundamente enraizadas nas universidades, os estudos do mundo da lusofonia foram marcados pelas situações e ocorrências da época, pois conheceram nesses anos as suas oficializações ou reconhecimentos políticos.

O exame cuidadoso e diferenciado dessa época surge, assim, como uma exigência para a auto-reflexão crítica da própria área disciplinar, não apenas para a instituição respectiva, mas sim para todos aqueles que se dedicam ao estudo de questões relacionadas com países de língua portuguesa.

Não é suficiente que se afirme que a idéia em si da criação de uma instituição dedicada a esses estudos do mundo da lusofonia teria sido derivada de personalidades não vinculadas ao sistema político. Lembrar que a autoria dessa idéia deveria caber a Leo Spitzer (1887-1960), professor na Universidade de Colonia a partir de 1930, não pode servir para fazer esquecer que esse professor, então de renome internacional, foi afastado de seu cargo devido à sua origem judaica, e que a idéia, se dele foi, apenas se concretizou sob as condições políticas que levaram à sua queda.

Sugerir que a origem da instituição remonte a essa personalidade não corresponde exatamente aos fatos, dá continuidade a atos questionáveis de que foi vítima e parece servir a uma reescrita histórica a favor de uma construção da história não sobrecarregada de significados políticos.

Dever-se-ia ter cuidado em mencionar o nome de Spitzer sem salientar, ao mesmo tempo, que a verdadeira fundação oficial do instituto foi dada sob a égide nacionalsocialista. Se o nome de Leo Spitzer for lembrado como o do real criador do projeto, o portador ou co-portador por assim-dizer de seus direitos autorais, por ser o professor responsável na área nos primeiros anos da década de 30, e que significa que a própria área disciplinar, em si, não pode ser vista como produto de uma ideologia, salvando a sua dignidade, não se pode silenciar que essa a idéia foi, pelo menos, apropriada por outros.

Sob o signo da tomada de posse

No início da história institucional, ou pelo menos do reconhecimento oficial da área disciplinar poder-se-ia constatar uma certa tomada de posse, uma questão de poder. Essa constatação surge como relevante, pois o pesquisador percebe aqui um tipo de procedimento que diz respeito a questões de ética e caráter. Constitui este um problema ético no comportamento de estudiosos e interessados, de rêdes sociais envolvidas, e, pelas características da área disciplinar, de um problema que diz respeito aos estudos culturais nas relações internacionais.

Solenidade de "sagração" do Instituto


O jornal nacionalsocialista Westdeutscher Beobachter (147, Ano 10, 6 de Abril de 1934) ofereceu um relato da solenidade inaugural do Instituto, designada literalmente como sendo de sua "sagração", que hoje surge como singular testemunho histórico. Em alguns jornais - e mesmo em Portugal e no Brasil - essa solenidade foi considerada como a da verdadeira fundação do instituto. Anteriormente, teria havido apenas um curso mantido a caráter privado e de forma rudimentar por um docente idealista, que foi o propulsor da instituição e viria a ser o secretário-geral do novo instituto: Ivo Dane. Contando em pouco tempo com vários alunos - 18 - a Universidade se propôs a apoiá-lo, ainda que com limitados subsídios. Por essa razão, já se falava em instituto, sendo que o seu diretor, Dr. Lejeune, na ocasião da solenidade de sua inauguração oficial, pôde apresentar um relato dos trabalhos já realizados no ano anterior. O ato de 1934 constituiu a sua inauguração como instituição oficialmente reconhecida, e como tal divulgada em jornais da Alemanha e do Exterior.

Essa solenidade foi preparada com grande cuidado para ser altamente representativa, contando com a presença de autoridades de influência política. O cônsul brasileiro em Colonia previa que fosse um ato de extraordinário relêvo, esperando mesmo um banquete festivo, como o anunciou ao Brasil (Veja artigo a respeito). Percebe-se, porém, das informações divulgadas pelo jornal, que, ao contrário do anunciado e esperado, tratou-se antes de uma cerimônia em círculo pequeno de participantes, sem a participação maior de professores, estudiosos e interessados, e mesmo sem maior repercussão pública. A impressão que o leitor hoje ganha é que foi um ato antes de cunho simbólico, quase que de conjuração secreta de adeptos reunidos para a dedicação da instituição a seus objetivos político-culturais, por assim dizer de uma consagração a determinada visão do mundo e a intuitos de poder.

Os participantes eram, na sua maioria, de manifesta vinculação partidária. Mesmo assim, muitas das autoridades fizeram-se apenas representar. Por parte da Universidade, estiveram presentes o reitor, Pg. Prof. Dr. Geldmacher, e o Decano da Faculdade de Filosofia, Pg. Prof. Dr. Heimsoeth, ambos "companheiros de partido".

O partido nacionalsocialista fêz-se representar por autoridades de relêvo na região, o diretor do Gau, Pg. Grohè, o responsável pela sua editôra, o escritor Pg. Schmidt, o representante do chefe do govêrrno provincial, Haacke, e o "Stabswalter" Dr. Ispert. Algumas dessas autoridades se desculparam, entre elas Grohè e Haacke, assim como o burgomestre da cidade de Colonia.

Quanto à presença oficial estrangeira, Portugal enviou um representante do Presidente da Junta, então Dr. Simões Raposo, personalidade altamente considerada pelas autoridades políticas alemãs. Foi, devido à sua posição, a personalidade protocolarmente mais destacada na solenidade.

Esteve também presente o cônsul de Portugal em Hamburgo, Manuel Rochêta (Foto à direita).

Da área disciplinar, estiveram presentes o docente de intercâmbio para o ensino de língua portuguesa, Dr. Gouveia de Souza, além do Pg. Prof. Dr. Fritz Lejeune, diretor do instituto, e do Pg. Dr. Ivo Dane, seu secretário-geral, ambos "companheiros de partido".

De particular interesse - e significado - é a participação de um Professor Adjunto, o Dr. Zschucke, então diretor de um departamento científico da indústria química I.G. Farben, de Leverkusen (Bayern). Com a sua presença, tinha-se garantida a possibilidade de financiamento de projetos.

"Na atmosfera da Sala do Senado da Universidade, reuniu-se um pequeno círculo de convidados para a abertura oficial do Instituto. O Govêrno Português enviara como representante do Presidente da Junta, S. E. o Dr. Simões Raposo. O Brasil foi representado pelo consul daqui, Falcão. Do lado português apareceram também o consul em Hamburgo, Manuel Rochêta, assim como o professor de intercâmbio, Dr. Gouveia. Como representante do diretor do Gau Grohé e da editôra do Gau, esteve presente o escritor Pg. Schmidt, pelo chefe do Estado, Haak, Stabswalter Dr. Ispert, pela universidade de Colonia o reitor Pg. Prof. Dr. Geldmacher, o Decano da Faculdade de Filosofia, Pg. Prof. Dr. Heimsoeth, assim como o Privat-Dozent Dr. Zschucke, diretor de um departamento científico da I. G. Farben, de Leverkusen." (Westdeutscher Beobachter, op.cit.)

O instituto na "nova Universidade"

O ato solene foi aberto pelo reitor da Universidade, Prof. Dr. rer.pol. Erwin Geldmacher (1885-1965). Tendo estudado em Colonia "Ciências do Comércio", diplomando-se em 1912, trabalhara em Krefeld e em Bremen. Participara como soldado na Primeira Guerra Mundial.

Docente desde 1920 na Universidade de Colonia, fundou nesse ano o Seminário de Indústria, realizando a sua agregação à universidade em 1922. Em 1924, assumiu a cátedra então introduzida de Economia de Gestão e de Gestão Industrial ("Allgemeine Betriebswirtschaftslehre und Betriebswirtschaftslehre der Industrie"). Ocupou-se particularmente com a questão do pagamento das reparações da Alemanha, procurando demonstrar que esse pagamento era prejudicial tanto para a Alemanha como para os países que o recebiam. Era decano desde 1928. Após entrar no partido nacionalsocialista e na SA, nele permaneceu nos anos seguintes, desempenhando funções de importância. Assim, um ano após a fundação do instituto, tornou-se diretor da Liga de Docentes Nazistas (NS-Dozentenbund) do Gau Colonia-Aix-la Chapelle e membro da Academia de Direito Alemão. Durante a Guerra, foi promovido a "Sturmführer".

Nas suas palavras de saudação, o Prof. Dr. Erwin Geldmacher apresentou um panorama histórico da universidade, marcado pelo confronto de uma "velha" e de uma "nova universidade", esta a correspondente à nova situação política, à "Nova Alemanha". Nesse contexto situou então o significado do novo instituto. Salientou o argumento da vocação de Colonia a "ponte aos povos e culturas" do Ocidente e, sobretudo, aos elos estreitos que já a uniam a Portugal, uma vez que o Cordeiro Ramos, Ministro da Cultura de Portugal, tornara-se o único Senador de honra da Universidade. A sua alocução testemunhou assim o papel fundamental desempenhado por Cordeiro Ramos no vir a ser do instituto, chamando a atenção dessa forma para os contatos e atos que precederam a realização do projeto. A base política do relacionamento entre a Alemanha e o mundo de língua portuguesa residia assim nos elos entre o "Novo Portugal" de Salazar e a Universidade de Colonia através de Cordeiro Ramos.

"Pg. Geldmacher abriu como reitor da Universidade a solenidade, saudando os convidados cordialmente e dando um panorama sobre a história e o significado da velha e nova universidade de Colonia. A seguir salientou de modo convincente o significado de nossa escola superior como ponte aos povos e culturas ocidentais. A Universidade é particularmente unida com os países de língua portuguesa pelas circunstâncias felizes que o Ministro da Cultura Português, Ramos, é o único Senador de honra da Universidade.

Êle agradeceu ao Diretor do Instituto, Pg. Lejeune, assim como ao Secretário Geral, Pg. Dr. Dane, pelos esforços nem sempre fáceis, mas que foram por fim coroados merecidamente. Apresentou por fim o desejo de que o Instituto fizesse jus plenamente a suas tarefas, o aprofundamento das relações amigas através de frutificação recíproca."

Palavras do Diretor do Instituto, Prof. Dr. F. Lejeune

Após o reitor ter situado a nova instituição no quadro geral da história da universidade e de sua nova fase, da vocação da cidade como ponte ao Ocidente e dos estreitos elos existentes da universidade com o Novo Portugal, tomou a palavra o Prof. Dr. F. Lejeune. Apresentando-se nas suas funções de diretor, demonstrava, como já mencionado, que o instituto já existia antes da solenidade de seu reconhecimento, podendo apresentar um relatório sobre as suas atividades.

Nessa ocasião, indicou os nomes que eram nomeados sócios honorários da instituição, mencionando assim explicitamente aqueles que haviam prestado particulares serviços a seu vir-a-ser. Essas nomeações constituem, para o pesquisador de hoje, importantes subsídios na reconstrução de rêdes. Delas se depreende que o papel desempenhado por personalidades portuguesas foi decisivo. Além de Cordeiro Ramos, passou a ser membro honorário do Instituto o Presidente da Junta, Simões Raposo, o Presidente da Academia das Ciências portuguesa, Júlio Dantas, além do Dr. Knapic, professor da Universidade de Lisboa. O Brasil apenas se encontrava representado na pessoa do cônsul brasileiro em Colonia.

"Dr. Lejeune relatou então, em português, o trabalho do Instituto no ano passado e agradeceu nesse contexto a seu colaborador e amigo, Pg. Dr. Dane. Depois, fêz a promessa de dedicar-se com toda a força a essa alta tarefa. Essa seria o agradecimento perante o apoio e a mentalidade amiga dos Govêrnos de Portugal e do Brasil. Anunciou, então, que os seguintes senhores haviam sido  nomeados membros de honra do Instituto: o Presidente da Junta, S.E. Dr. Simões Raposo, o Prof. da Universidade de Lisboa, Dr. Knapic, o antigo Ministro da Cultura Dr. Cordeiro Ramos, o Presidente da Academia das Ciências, Dr. Julio Dantas, e o Representante do Brasil, Consul S. Ildefonso Falcão."

Palavras de Portugal

A máxima autoridade governamental representada na solenidade era, como mencionado, a do Dr. Simões Raposo. O órgão do partido diz que esse representante português apresentou os agradecimentos de Portugal primeiramente ao govêrno alemão e, em segundo lugar, à universidade.

"Ex. Dr. Simões Raposo apresentou ao Govêrno Alemão assim como à Universidade de Colonia o agradecimento especial em nome de sua pátria pelo sucesso dessa obra de amizade, da qual esperava que solidificasse os laços espirituais e culturais entre a Alemanha e Portugal, representando, com isso, um elemento de pêso na grande obra de paz dos povos."

Palavras do Brasil: "Brasil não é índio!". Preocupações de imagem

Segundo o relato da imprensa nacionalsocialista, o discurso do representante do Brasil, o cônsul em Colonia, Ildefonso Falcão, foi dos mais extensos da solenidade. Correspondendo a seu intuito de dar uma posição de maior relêvo ao Brasil numa instituição que havia sido até então sobretudo baseada nas relações entre a Alemanha e Portugal, fêz questão, logo de início, de salientar as relações especiais que existem entre a Alemanha e o Brasil com base na existência de considerável parcela populacional de origem alemã no país. Impacto causou o fato de ter lembrado que nada menos do que 800.000 alemães haviam encontrado no Brasil uma nova terra, um número que seria repetido por diversos órgãos de imprensa do país.

Outro intuito de Ildefonso Falcão foi o de lembrar que havia uma falsa imagem do Brasil na Alemanha. Como documentado de outras fontes, uma idéia fixa de Falcão era a de que os alemães, quando ouviam falar no Brasil, só pensavam em índios, o que, para êle, não corresponderia à realidade. A intenção de Ildefonso Falcão foi, assim, a de salientar a cultura européia do Brasil.

Com esses dois argumentos, portanto, o da imigração alemã e o da cultura européia dos brasileiros, o cônsul procurou salientar a relevância do Brasil para o novo instituto e que passava agora a incluir também o nome do país na sua denominação. Das suas palavras também tornam-se evidentes os estreitos elos de amizade que o uniam ao Dr. Ivo Dane, secretário-geral do Instituto.

"O consul Falcão salientou as relações especiais entre a Alemanha e o Brasil. Mencionou que 800 000 alemães encontraram na sua pátria uma nova e bela terra natal.  É extremamente lamentável, que em amplos, mesmo em círculos bem formados existisse uma opinião primitiva, até mesmo deformada sobre o Brasil. Como ilustração e como prova disso mencionou que, há pouco, um senhor, em tremores, a êle se apresentou na expectativa certa de que o consul brasileiro fosse um índio com arco e flecha, tendo respirado livre e feliz por ter encontrado uma pessoa de modos europeus. Agradeceu da forma mais cordial ao Dr. Lejeune e a seu amigo Dr. Dane, assim como à Universidade de Colonia pelo seu trabalho modelar no sentido de uma cooperação cordial na área intelectual e econômica, para o qual, conhecendo o significado recíproco da mesma para ambos os países, se empenharia com todas as suas forças."

Visita às instalações e ato de congraçamento

Após o ato solene, procedeu-se a uma visita dos edifícios da universidade, em especial das salas ocupadas pelo instituto. A visita foi coroada com um ato de congraçamento, no qual os participantes puderam estreitar laços pessoais de amizade. De forma espontânea, vários dos participantes pronunciaram-se a respeito da fundação.

"Em sequência ao ato festivo, procedeu-se a uma visita da velha e da nova Universidade sob a direção de Pg. Dr. Geldmacher, em particular das salas postas à disposição do Instituto. Os convidados manifestaram a sua admiração sobre essa excelente obra de diligência alemã.

A consciência amiga salientada tão fortemente no ato festivo oficial manifestou-se espontaneamente num convívio social que se seguiu. Como pessoas que se dirigem conjuntamente a objetivos nobres, surgiram logo estreitas relações pessoais e que tiveram a sua expressão em diversos discursos."

Saudações de autoridades políticas e telegramas de Portugal e do Brasil

Nessa ocasião, o reitor da universidade, agora sobretudo na sua qualidade de membro da NSDAP e SA, apresentou as saudações de autoridades do partido e da política. As suas palavras foram seguidas pela leitura de telegramas chegados de Portugal e do Brasil pelos representantes de ambos os países.

"Depois que o Dr. Geldmacher transmitiu as saudações e os votos do diretor do Gau, Grohé, impedido por razões de serviço, do curador Dr. Winkelnkemper, do Landeshauptmann Haake, assim como do burgomestre Dr. Riesen, ambos os representantes de Portugal e do Brasil comunicaram os telegramas de saudações de seus govêrnos que acabavam de chegar, assegurando mais uma vez o sentimento da mais cordial união e com a promessa de cooperação ativa:

Pelo Govêrno Brasileiro, o diplomata Araujo Jorge telegrafou:

"Eu peço ao Sr. de coração de me representar na abertura do Instituto português-brasileiro e apresento em nome do meu Govêrno assim como no meu ao Sr. Reitor, Prof. Dr. Lejeune e Dr. Dane, as minhas saudações e os meus votos mais cordiais, assim como o meu agradecimento pela sua excelente obra, que estreitará os laços de amizade entre a Alemanha, Portugal e o Brasil. Eu vejo no Instituto a força incansável da Alemanha."

Do Govêrno português, entrou um telegrama de bons voto do Professor Celestino da Costa, que havia sido há pouco hóspede da Universidade de Colonia.

"Com saudações das mais cordiais uno em nome do Govêrno português com o desejo de um trabalho abençoado do Instituto para o bem de nossos povos".

Método: Pressão de grupo - de "homem para homem"

As palavras finais do relato publicado pelo jornal do partido salienta o sentido político e o método empregado para concretizações de projetos.

Schmidt, redator-chefe do Westdeutscher Beobachter, que representou na sessão o Gauleiter Grohé, foi o responsável pelo relato publicado. Criticando explicitamente a Liga das Nações, afirma que o procedimento a ser seguido não era mais aquele através dos caminhos diplomáticos e burocráticos, ou seja, legítimos, como no passado. Tratava-se de criar fatos com base em grupos ou rêdes construídas a partir de relações pessoais. Esses grupos alcançariam então o poder, independentemente de estruturas constituídas. O instituto português-brasileiro representaria em ponto pequeno, numa área disciplinar específica, o que Hitler desejava e realizava em nível amplo. (sic !)

"Essa manifestação demonstrou, pela sua cordialidade e sinceridade ,que o nosso Govêrno esforça-se com sucesso para criar pontes com outros povos, servindo assim à paz dos povos em respeito e reconhecimento recíprocos.  O caminho aqui percorrido através de relações pessoais amigas leva de forma sinceramente direta mais facilmente e mais curtamente ao objetivo do que os trâmites burocráticos diplomáticos de tempos passados, ou de instituições em si complexas e baseada em motivos egoístas, tais qual a Liga das Nações. É o sincero agir de homem para homem em ponto pequeno, o que o Führer deseja e cultiva em grandes dimensões."

Ponto de partida de um desenvolvimento amplo


O jornal Der Neue Tag (116, 7 de abril de 1934), salientou que essa fundação representava o começo de um desenvolvimento que seria da mais alta importância para a relação entre a Alemanha e os países de língua portuguesa, pois a primordial tarefa desse instituto seria a de estreitar laços intelectuais através de um intercâmbio cultural consciente.


Esse teria sido, segundo o órgão, o pensamento central da alocução de saudação do reitor da universidade, Prof. Dr. Geldmacher, assim como a idéia salientada nos discursos dos representantes estrangeiros. O jornal acentuou por fim, mais uma vez ,os méritos do Prof. Dr. Lejeune, que em demorados trabalhos preparatórios teria levado à concretização do instituto..


Após o ato festivo, os participantes se reuniram numa sala ornamentada com as bandeiras dos respectivos países. A fotografia do grupo, tirada nessa sala, consistui um documento expressivo, que fala mais do que muitos textos.


Antonio Alexandre Bispo

(com os agradecimentos à família Dane)


  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa:
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  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.




 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 124/4 (2010:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
órgão da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos interculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2563



Inauguração do Instituto Português-Brasileiro de Colonia (1934) na sua inserção política


Ciclo "Berlim à luz" - Ano da Ciência 2010. Reflexões após 75 anos da oficialização de centros de estudos portugueses e brasileiros na Alemanha. Retomada de trabalhos de seminário sobre Estudos Culturais e Política realizado na Universidade de Colonia (2008)
sob a direção de A.A.Bispo


 









Imagens - Cabeçalho: Berlim. Coluna: estátua a bordo do Reno, Colonia, e artigos citados.
Fotos A.A.Bispo
©

 

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