Brasil NA Europa e congêneres: totalitarismos em expressões. Revista BRASIL-EUROPA. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

Constata-se, no presente, de modo singularmente frequente, o uso de expressões "Brasil na Alemanha", "Alemanha no Brasil", "Brasil na França", "França no Brasil" e outras construções similares para a designação de eventos, empreendimentos, instituições e publicações. Essas denominações, ainda que certamente bem intencionadas, manifestam um insuficiente esforço de reflexão daqueles que as empregam. Demonstram pelo menos desconhecimento das discussões que vêm sendo desenvolvidas há muito em simpósios e outros eventos internacionais.

Compreensivelmente, a denominação da organização Brasil-Europa e da sua Academia Brasil-Europa não foi decidida sem repetidos debates, levados através de décadas em assembléias de especialistas em diversas áreas e congressos. Os termos "Brasil na Europa", "Brasil na Alemanha" e similares foram naturalmente propostos por alguns participantes, de forma ingênua, sobretudo no sentido de designações mais placativas e apropriadas para fins jornalísticos do que "Brasileiros na Europa", "Brasileiros na Alemanha", "Brasileiros na França", "Alemães no Brasil", "Presença do Brasil na Europa" e construções similares. Foram, até mesmo, empregadas em alguns casos, sendo logo abandonadas, porém, pelas críticas que se seguiram. Tais sugestões foram repetidas vezes refutadas devido a seu sentido teórico-cultural questionável sob muitos aspectos, e, sobretudo, pelas suas conotações políticas, determinadas pela história de seu frequente emprêgo em situações totalitárias da década de 30.

Questões de legitimidade, representação e identidade

Diferentemente de uma construção que sugere somente relações entre países ou de países com a Europa, uma expressão que manifeste a idéia de um país dentro do outro ou de um país não-europeu na Europa implica em concepções de identidade e representação.

Sob uma perspectiva do Direito, apenas representações diplomáticas legítimas deveriam poder ser vistas como um país no outro ou dentro do outro. O uso desses termos por entidades não legitimadas representa um abuso e usurpação; sugerir que um determinado órgão ou publicação represente um país em outro não corresponde a fatos.

O problema teórico dessas denominações é, porém, ainda mais grave. Elas nivelam a complexidade de processos de encontros culturais, de transformações de identidades, da diversidade existente tanto com relação à situação sócio-cultural daqueles que se encontram em países estrangeiros ou que possuem ascendência estrangeira, como no referente ao país que os  recebe.

A necessária diferenciação de situações e desenvolvimentos é prejudicada por uma expressão que essencializa identidades. São os descendentes de alemães em segunda, terceira, quarta ou quinta geração, totalmente integrados na sociedade brasileira, que se consideram brasileiros e falam o português, subsumíveis no têrmo "Alemanha no Brasil"? O que seria do Brasil se tal procedimento fosse aplicado aos demais grupos da sociedade? São os brasileiros nascidos em países europeus, são filhos, netos ou bisnetos de um brasileiro casado com uma européia subsumíveis no têrmo "Brasil na Europa"?

Atualidade: concepções de cultura em movimentos radicais

Estas e muitas outras possíveis questões indicam não apenas a inadequação de tais expressões para os estudos culturais e sociais mais diferenciados, atentos a circunstâncias multiculturais e a processos interculturais. Elas pertencem hoje ao vocabulário daqueles que combatem misturas culturais, miscigenações étnicas, cosmopolitismos e internacionalismos, que fomentam receios de descaracterização de identidades nacionais pela assimilação de sangue e de traços culturais de grupos imigrados. Pertencem a concepções que defendem uma Europa de nações de clara identificação nacional e que criticam uma concepção de Europa cosmopolita.

A atualidade dessas questões manifesta-se em programas e ações de partidos nacionalistas e de tendências neo-nacionalsocialistas da atualidade, não apenas na Alemanha. Cada vez mais o termo cultura é utilizado em argumentações que defendem uma Europa de nações de identificação nacional. O termo passa a desempenhar, em alguns casos, o papel que, no passado, era preenchido pelo conceito de "raça". Na perspectiva desses movimentos, verdadeiro congraçamento entre culturas apenas seria possívei em encontros de grupos com clara identificação nacional, não em situações de misturas, heterogêneas ou sincréticas. Uma concepção altamente problemática para todos os países ou sociedades com parcelas populacionais marcadas pela miscigenação. Implica, nas suas consequências, desvalorizações de mestiços, mulatos, creolos, cafusos ou outras denominações de questionável sistematização racial.

Pode-se constatar, assim, nesses movimentos, uma retomada de visões e conceitos conhecidos do passado, e todo e qualquer uso ilegítimo de expressões que sugiram tais imagens e noções traz conotações de natureza política.

"Portugal na Alemanha" e os "leitores" em institutos

Os órgãos nacionalsocialistas dos anos trinta, e aqueles também de outros regimes totalitários da época testemunham o uso de expressões tais como "Portugal na Alemanha". Este termo, era, assim, utilizado pelo Diário de Notícias português, porta-voz do "Portugal Novo". Essa expressão, porém, não significando apenas uma concepção nacionalista de identidade, mas sim também a de representação de um Estado nacional, onde os partidos haviam sido suspensos, exigia que aquele que a usasse fosse legitimado pelo Poder instituído.

Para além dos representantes consulares ou de órgãos constituídos, ministros, professores universitários e personalidades da vida científica e cultural foram em muitos casos oficialmente legitimados para representarem o "Portugal na Alemanha". Foram o que hoje tem-se denominado, de forma questionável, "embaixadores culturais". Um papel de considerável influência foi aqui desempenhado pelos assim-chamados leitores.

Como considerado em outros textos desta edição, a criação de uma rêde de colaboradores e de instituições com Portugal e o Brasil foi de grande relevância na história dos estudos do mundo de língua portuguesa, em particular na década de trinta. Esses contatos e elos correspondiam não apenas a necessidades da área disciplinar propriamente dita, por possibilitarem intercâmbio de conhecimentos, de publicações e a realização de conferências e exposições. Vinham também de encontro a intuitos políticos, externos e internos. Externos, por servirem à propaganda política e interesses vários, sobretudo econômicos. Internos, por contribuirem ao significado de determinadas instituições no contexto do meio universitário alemão.

Institutos com um maior número de estudantes do Exterior, que mais tarde atuariam nos seus países, possuiam maior prestígio e investiam no futuro, pois iriam contar com porta-vozes, ou seja com aqueles ali formados ou especializados. Estes levavam para a sua pátria métodos, tipos de questionamento, perspectivações e interesses temáticos, dando continuidade, no Exterior, a correntes histórico-científicas de determinados centros da disciplina. Sentimentos de gratidão e lealdade para com os seus mestres, elos de amizade criados em anos marcantes da juventude contribuíam para uma continuidade de modos de pensar e de procedimento, para a solidificação e perpetuação de rêdes.

O estudo de processos difusivos de idéias, de aproximações, de metodologias, de correntes de pensamento, de estilos de convivência entre intelectuais e estudantes, de ensino e de organização disciplinar não pode ser efetuado, sobretudo no referente a Portugal, sem o exame do papel desempenhado pelos estudantes que desenvolveram estudos em universidades do Exterior.

Já durante a própria atividade na universidade que os hospedavam, houve leitores que atuaram como veículos de difusão de atualidades e novidades, através de cartas e publicando em jornais de seu país.


Manuel de Paiva Boléo (1904-1992)

Um nome deve ser aqui especialmente considerado pelo seu significado na história da Filologia portuguêsa, em particular nas suas relações com os estudos culturais: Manuel de Paiva Boléo (1904-1992).

Tratando-se de um relacionamento disciplinar de premente atualidade, uma vez que hoje se discute se os estudos culturais devam ser conduzidos sob o predomínio de perspectivas filológico-literárias ou mais propriamente teórico-culturais, a consideração de Manuel de Paiva Boléo adquire especial relevância.

Manuel de Paiva Boléo havia estudado Filologia Clássica e Românica na Universidade de Coimbra, entre 1922 e 1929, licenciando-se em Filologia Românica. De tendências conservadoras, foi marcado pela atmosfera acadêmica de Coimbra, onde, na época, constatava-se também uma particular e entusiástica intensificação dos elos com a Alemanha. Nesses anos ali esteve, entre outros, Ivo Dane, que viria a ser o mentor do Instituto Português de Colonia.

Gozando o Seminário de Hamburgo renome internacional na área da Romanística, e estando o instituto de Colonia ainda em fase de projeto e instalação, Paiva Boléo transferiu-se para Hamburgo. F. Krüger, diretor da instituição, tornou-se um de seus principais mentores. Do Seminário de Hamburgo manteve contato com a revista Biblos, na qual publicou, em 1933, trabalho sobre a língua portuguesa em Hamburgo.

Ao retornar a Portugal, iria desenvolver estreitas cooperações com José Leite de Vasconcelos (1858-1941), dando continuidade aos estudos desse especialista relativos à dialetologia portuguêsa. Mereceriam maiores estudos os elos entre orientação teórica de Leite de Vasconcelos e a orientação do seminário de Hamburgo, quando ali se dedicava particular atenção a questões dos costumes populares, do Volksbrauchtum. Paiva Boléo iria doutorar-se em Coimbra, em 1937, dando início, a seguir, a sua carreira como professor universitário junto à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Uma das repercussões de suas experiências em Hamburgo parece ter sido também a visão ampla de pesquisa que adquiriu, o que se manifestaria no amplo inquérito linguístico que desenvolveu na área da dialetologia, complementada por pesquisas empíricas. A orientação de Paiva Boléo, em especial a sua contribuição à delimitação de áreas e sub-áreas dialetais parece ter sido significantemente influenciada por impulsos recebidos da Volkskunde de Hamburgo. Viria a fundar a Revista Portuguesa de Filologia (1947) e, também de acordo com a tradição de Hamburgo, inserí-la em amplo sistema de intercâmbio de periódicos com instituições estrangeiras.

Atuando como "leitor" de português no Seminário, de 1931 a 1935, Paiva Boléo viveu em Hamburgo à época crucial da mudança política na Alemanha, da tomada de poder pelos nacional-socialistas e do processo de alinhamento político das estruturas universitárias. Os seus contatos com professores e estudantes possibilitaram-lhe um íntimo conhecimento da situação e das tendências da época.

Assim, um artigo que escreveu em 1935, relatando a criação do Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira na Universidade de Hamburgo, e publicado no Diário de Notícias, pode ser visto como importante testemunho da época e do tipo de informações que chegava a Portugal.  (M de Paiva Boléo, "Portugal na Alemanha: Criação do 'Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira" na Universidade de Hamburgo, Diário de Notícias, 13 de maio de 1935).

"Portugal na Alemanha": ambivalência de significados

Correspondendo às tendências nacionais da época e do órgão em que publicou o seu texto, a perspectiva de Manuel de Paiva Boléo é marcada pelo conceito de "Portugal na Alemanha". A expressão possui aqui um duplo significado. Em Lisboa, o texto surgia relacionado com a sua pessoa como autor, representante oficial ou oficioso de Portugal na Alemanha. Ele próprio, porém, via o "Portugal na Alemanha" como aquele Portugal representado pelos órgãos oficiais da Alemanha.

O seu artigo servia, ao mesmo tempo, à perspectiva nacional portuguesa, e testemunhava, em Portugal, a propaganda que a própria Alemanha fazia do país. Apesar de sua ambivalência, é uma perspectiva propagandística, não marcada por reflexões críticas relativamente à situação dos estudos e das tendências da época no âmbito das relações entre Portugal e a Alemanha, mas sim de um enfoque a serviço do regime, tanto em Portugal, quanto na Alemanha.

Paiva Boléo trata do tema "Portugal na Alemanha" a partir de matérias publicadas em órgãos do Nacionalsocialismo alemão.

"Pode dizer-se que, actualmente, é raro o dia em que não apareça, nos países mais diversos e sem qualquer intervenção directa dos portugueses, algum artigo de rasgado elogio á renovação que em Portugal vem operando-se desde há anos. Ora são artigos isolados, ora paginas inteiras, ora numeros especiais consagrados ao nosso País. Ainda há poucos dias o 'Weltpost' (Correio Mundial), que se publica em Hamburgo semanalmente, dedicou a Portugal um numero especial de 24 paginas, acompanhado de varias gravuras, entre elas os retratos dos dos Chefes do Portugal Novo.

O 'Weltpost' é, por assim dizer, a edição destinada ao estrangeiro - ou a pessoas e organismos em relação com o estrangeiro - do jornal 'Hamburger Tageblatt', orgão do nacional-socialismo em Hamburgo. Não obstante pequenas deficiencias e inexactidões, inevitaveis em publicações jornalisticas - em parte porque os autores nem sempre têm possibilidade de recorrer a fontes portuguesas modernas e seguras - é incontestável que esse numero representa, pela sua colaboração escolhida, uma das melhores homenagens feitas pela Imprensa alemã a Portugal, nos ultimos anos, como, por vezes, o tem acentuado o 'Diario de Noticias'. " (loc.cit.)


Seminário de Romanística de Hamburgo e órgãos nacionalsocialistas

Paiva Boléo salienta o papel desempenhado pelo Seminário de Romanística de Hamburgo na publicação do número especial dedicado a Portugal do órgão nacionalsocialista. Lembra do nome de seu mentor, o diretor da instituição, Prof. Dr. F. Krüger, autor de um dos textos, menciona, porém, - e isso parece ser o mais significativo - o nome do Dr. Phieler, redator dos referidos jornais e que fora aluno do Seminário. Tem-se, assim, para Hamburgo, uma situação similar à de Colonia. Aqui, também era Fritz Lejeune, que estudara português na Universidade, com Ivo Dane, aquele que, devido a seu especial engajamento no partido, assumia os desígnios do instituto. A comparação, porém, poderia antes ser feita com o papel desempenhado em Colonia pelo redator-chefe do Westdeutscher Beobachter, Schmidt. (Veja artigo a respeito neste número). Em ambos os casos tem-se um estreito relacionamento entre especialistas da matéria e jornalistas da imprensa política.

"Acrescentarei sòmente, para elucidação do publico português, que a ideia e o principal estimulo desse numero especial e a sua organização se devem, respectivamente, ao Seminario Romanico da Universidade e mais particularmente ao seu director, prof. dr. F. Krüger, que nele colaborou com um artigo sobre as 'Relações intelectuais da Alemanha com Portugal', e ainda ao antigo discipulo do referido Seminario dr. Phieler, redactor do 'Weltpost' e do 'Hamburger Tageblatt'. Convém notar tambem que - tanto quanto é do meu conhecimento - esse numero não foi subsidiado por entidade alguma portuguesa, o que lhe aumenta o valor."

Anúncio da fundação do "Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira" em Hamburgo

O objetivo do artigo de Paiva Boléo, introduzido por essas considerações gerais a respeito dos elos entre o Seminário de Hamburgo e a propaganda de Portugal na Alemanha promovida pelos órgãos nacionalsocialistas, foi o de anunciar a criação do Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira em Hamburgo, em 1935.

Significativo nesse texto de Paiva Boléo é o fato de situar essa fundação no contexto geral do interesse pelos países de língua portuguesa na Alemanha nacionalsocialista, tomando o cuidado de lembrar a criação do Instituto de Estudos Luso-Brasileiros em Colonia, ocorrida em 1934. O leitor não deixa de registrar aqui uma certa situação de concorrência institucional interna na Alemanha e, sobretudo, o fato de ter em ambos os institutos surgido agora explicitamente o nome do Brasil. (Veja outros artigos nesta edição)

Paiva Boléo salienta que Hamburgo possuía uma tradição dos estudos ibéricos no âmbito da Romanística que era mais antiga do que em qualquer outra universidade alemã. A fundação do Centro correspondeu aqui a uma maior diferenciação da área, dedicando a Portugal um centro distinto no contexto dos estudos ibéricos. Necessita-se observar, porém, que não se tratou apenas a uma separação dos dois países na área dos estudos ibéricos, uma vez que a consideração explícita do Brasil implicava em questões que iam além de distinções nacionais na Península. Não apenas passou-se a dar a Portugal uma atenção especial, distinguindo-o da Espanha, mas juntou-se, ao mesmo tempo, o Brasil à designação, ou seja, criou-se um centro de tendências determinadas pela lusofonia.

"Muito mais importante do que as manifestações de caracter jornalistico, que têm hoje grande importancia, mas que não podem deixar de ser efémeras, é a criação de centros de investigação e de cultura portuguesas. Neste capítulo, Portugal pode regozijar-se com os progressos realizados nos ultimos anos, para o que muito tem contribuido a Junta de Educação Nacional.

O ano passado, fundou-se na Universidade de Colonia o 'Instituto de Estudos luso-brasileiros'. Graças ao entusiasmo do seu director e do secretario, o Instituto, não obstante a sua curta existencia, bastante já fez no sentido de intensificar as relações intelectuais entre Portugal e a Alemanha.

No principio de Abril deste ano, foi criado em Hamburgo o 'Centro de Cultura portuguesa e brasileira'. Criado, não é bem; melhor diria ampliado. Na verdade, não se trata duma criação propriamente dita. Em Hamburgo, existe, desde 1911, um 'Seminario de Línguas e Civilização Romanicas', que em 1919, data da fundação da Universidade, foi incorporado na Faculdade de Letras. Uma das caracteristicas desse Seminario Romanico é o interesse muito especial - maior que o de qualquer outra Universidade alemã - que sempre tem votado aos estudos espanhóis e portugueses e a cuja actividade me referi largamente no opúsculo 'A Língua Portuguesa em Hamburgo', publicado primeiro na 'Biblos', 1933. Legitimo era, portanto, que a secção portuguesa adquirisse individualidade propria, a fim de tomar um mais rapido incremento. Reconhecendo isto mesmo, a Direcção Geral do Ensino de Hamburgo (Landesunterrichtsbehörde) autorizou, no principio de Abril, o estabelecimento do referido 'Centro de Cultura portuguesa e brasileira'. Deu-se aqui uma evolução semelhante á que se tem virificado na Faculdade de Letras de Coimbra: alguns paises têm ali a sua 'sala' especial (sala francesa, italiana, inglesa, sala Brasil, etc.); quando esta adquire um desenvolvimento notavel, é elevada á categoria de Instituto. Foi o que sucedeu com o Instituto Alemão." (loc.cit.)

           

Pesquisa e propaganda nacional

Lembrando que o Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira representava apenas uma nova fundação, correspondente à "sagração" do instituto de Colonia, Paiva Boléo salienta uma continuidade dos programas do antigo Seminário. Esses programas iriam ter continuidade, sendo agora porém ampliados, podendo-se aqui também entender um direcionamento político mais acentuado através de um decidido serviço propagandístico.

Particular atenção merece a sua menção de que o primério curso de férias para sobre língua e cultura portuguesa da Europa realizara-se em julho de 1933. Menciona, também, que - assim como o instituto de Colonia - o centro de Hamburgo possuía tarefas culturais e políticas. Essas últimas teriam sido exemplificadas com o número propagandístico do órgão nacionalsocialista citado, e que teria sido iniciado e orientado pelo próprio centro.


"O 'Centro de Cultura Portuguesa e Brasileira', não tem, por conseguinte, que traçar um programa. A sua missão é prosseguir, embora alargando-a, a obra já realizada e que se tem manifestado sob as seguintes formas:

  1. 1)Cursos práticos de lingua portuguesa dados pelo 'leitor' português: a) para principiantes, b) para adiantados, c) para os mais adiantados neste ultimo, principalmente conversação e interpretação de escritores portugueses e brasileiros).

  2. 2)Aulas (de caracter cientifico) sobre a lingua (p.ex. fonética e sintaxe), literatura (p.ex. o romance brasileiro moderno), folclore, história e cultura geral de Portugal e do Brasil.

  3. 3)Conferencias publicas, que têm em vista tornar mais conhecidas a terra, a gente, a literatura e a cultura portuguesas, feitas: a) pelo 'leitor' português e outras personalidades portuguesas e alemãs (p.ex. as conferencias dos Prof. Lautensach e Providencia).

  4. 4)Cursos de férias para alemães sobre lingua, literatura e outros aspectos da cultura portuguesa. (O primeiro - que foi tambem o primeiro na Europa realizou-se em Julho de 1933).

  5. 5)a. Alargamento da biblioteca portuguesa e brasileira, que já conta hoje para cima de 2.500 volumes. b. Desenvolvimento da secção de revistas. Actualmente, são recebidas por oferta ou permuta, cêrca de 40 portuguesas (numero que está longe de ser igualado por qualquer outra biblioteca alemã) e 5 brasileiras. c) Arquivo de fotografias sobre a terra e a gente de Portugal continental, ilhas e colônias. d) Informação bibliográfica e literária.

  6. 6)Trabalhos de investigação científica, no dominio da lingua e da cultura portuguesas, feitos pelos colaboradores do Centro e estudantes da Faculdade (p.ex. o trabalho sobre a Serra da Estrela, sobre a linguagem das Cantigas de Santa Maria de Afonso X. etc.)

  7. 7)a. Publicação de estudos e artigos (alguns de personalidades portuguesas na revista do 'Seminario Romanico' Volkstum und Kultur der Romanen. b. Recensão de obras portuguesas, com regularidade na secção bibliográfica da mesma revista.

  8. 8)Fomento de viagens de estudo a Portugal e ao Brasil e de trocas acadêmicas.

  9. 9)Permuta de publicações com institutos, bibliotecas e personalidades portuguesas e brasileiras.

  10. 10) Intensificação de relações intelectuais por outras formas além das mencionada.

Como se vê, trata-se de um verdadeiro centro de cultura, que se propõe, acima de tudo, intensificar o intercambio intelectual com Portugal e produzir trabalho cientifico. Isto não o impede, todavia, de lançar mão de outros meios de propaganda do Portugal de ontem e de hoje, como bem o mostra a iniciativa do 'Weltpost', a que atrás aludi.

Seria que desejar que á inauguração, que provavelmente só poderá realizar-se no proximo ano lectivo, em parte por não estar ainda feita a instalação definitiva, viessem assistir alguns representantes de Portugal.

Entretanto, podemos alegrar-nos por ver que se vai atribuindo a Portugal, em Universidades estrangeiras, o lugar que lhe pertence pelo seu passado e pelo seu presente. Oxalá o exemplo frutifique."

(...)

(Grupo redatorial sob a direção de A.A.Bispo)


  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa:
    http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.



 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 124/8 (2010:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
órgão da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos interculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2567




"BRASIL na EUROPA", "PORTUGAL na ALEMANHA", "BRASIL na ALEMANHA" e congêneres:
Riscos de conotações totalitárias de expressões essencialistas

"Leitores" de Portugal e do Brasil e a questão da representação de nações em outras nações

Relendo artigo de Manuel de Paiva Boléo (1904-1992) sôbre Portugal em órgãos nacionalsocialistas (1935)


Ciclo "Berlim à luz" - Ano da Ciência 2010. Reflexões após 75 anos da oficialização de centros de estudos portugueses e brasileiros na Alemanha. Retomada de trabalhos de seminário sobre Estudos Culturais e Política realizado na Universidade de Colonia (2008)
sob a direção de A.A.Bispo


 








Imagens. Título: Berlim.
Coluna: Imagens do porto de Hamburgo, invertidas.
A.A.Bispo
©

 

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