A. Pellegrini F., Comunicação Popular Escrita. Revista BRASIL-EUROPA 123. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 


O autor é Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Dos seus muitos trabalhos, publicou Folclore Paulista (1975, 1985); Antologia de Folclore Brasileiro - Século XX (1982); Ecologia, Cultura e Turismo (1993, 1997, 1999, 2000); Comunicação Popular Escrita Mundial - O Processo (1998); Turismo Cultural em Tiradentes (2000) e Folclore Escrito e Urbano (2007).

A publicação, na sua contra-capa, é descrita nos seguintes termos:" Pesquisa mundial, Comunicação Popular Escrita agrupa e analisa 14.014 grafitos de 107 países (nas línguas de origem), com inédita classificação geral, válida em qualquer país. Uma obra de referência, para estudos e para curtição dos leitores."

A obra, aberta com uma longa introdução, é organizada em 4 capítulos. É encerrada com referências bibliográficas. O CD contém seis apêndices 1) Levantamento bibliográfico, 1960 a 2007, 53 p.; 2) Explicando viagens, Colaboradores; 3) Procedimentos metodológicos; 4) Quadro de relações, 25 p.; 5) 14.014 Mensagens populares; 6) 1902 ilustrações.

Na Introdução, após considerar que a comunicação é um instrumento básico para o viver em sociedade, o autor trata os seguintes ítens: Oral, icônico & escrito; Estudos publicados; Pesquisa bibliográfica; Línguas & inovações; Mídias impressas e expressões populares; Graffiti; Áreas urbanas; O popular; o folclore; Comunicação social; O popular reconhecido; Estranhezas - 'ninguém viu antes'?; Conceito; Universalidade; Em processo: atualidade, efemeridade; Objetivos; Lugar de residência e lugar de pesquisa; Explicando viagens; Países e cidades; Línguas e dialetos; Capítulos; Caminhando.

O Capítulo 1, dedicado aos Procedimentos Metodológicos, contém os ítens Pesquisa exploratória qualitativa sincrônica e "Grounded theory".

O Capítulo 2, dedicado à Classificação, é organizada segundo os ítens Classificações anteriores; Nossa classificação; Classes: conteúdos+suportes; Temas; Funções; Banco de dados; Quadro sinóptico; Classes, temas/sbtemas e funções; Prioridade para o conteúdo e o sentido; Critério unitário/múltiplo; Expressões semelhantes; Pedido ou agradecimento? Utilitária.

O Capítulo 3, dedicado à Análise das Classes, contém os pontos Antecedentes, Caracterização e Considerações analíticas. Trata, em particular, dos seguintes pontos relativos aos documentos analisados: Avulsos; Brochuras populares; Cartas a Papai Noel/Velha Befana; Correntes; Destino; Epitáfios populares; Fórmulas de fiado; Latinália; Mensagens em meios de hospedagem; Mensagens em papel-moeda; Mensagens em plaquetas/Suvenires; Mensagens em utensílios de tecido; Mensagens em veículos; Mensagens em espaços públicos; Mensagens pela Internet; Mensagens sentimentais em periódicos; Mensagens místico/religiosas em locais do sagrado; Pedidos/Agradecimentos em periódicos; Programas de eventos; "Testamentos" e identificações populares; Miscelânea.

O Capítulo 4, dedicada a "Considerações não-finais", apresenta uma grande quantidade de conceitos e palavras-chave:  Língua, a Prosódia, Normas e desvios, Erros, Gíria, Reelaborações, Inovações na forma (emissor), Não-termos, Não-idéias, Flexibilidade na ocorrência de enunciados, Mensagem, Do local ao global, Contextos nacionais, Contextos internacionais, Mesmas ideias em classes diferentes, Mensagens & paradigmas, Motivações (por quê?), Presença e ausência em diferentes países, Costume, tradição, mudanças, Possíveis origens de mesmas manifestações, Comunicação de massa, de larga difusão e restrita, Eixos, mosaico, sistêmico, Endemia e epidemia, Prevenções, Tipos, Redundância, Perfil do emissor - jovem, Grafitar: ritos de passagem, Perfil do receptor, O folk (alargado); as classes a e b, Desigualdades, Massa e popular, Produtos, O processo, Efeitos, Liberdades x opressão, Uso, Ecletismo, Características, Subalternos x dominantes, Comunicação sistêmica conforme ocorrência e temas, Estrutura, Funções - um carnaval escrito!, Mimese, Atualidade da cpe.

As partes do livro apresentam diferentes dimensões. À Introdução, extensa (45 páginas), segue-se o menor capítulo da obra, com apenas 6 páginas. O Capítulo 3 é aquele que abrange o maior número de páginas, compreendendo assim grande parte da publicação.

O autor compreende a sua pesquisa como work in progress. Aplicou sobretudo conceitos teóricos de J.R. Searle (Actos de habla, 4a ed., Madrid 1994) e de outros autores referentes ao "aximoa de identidade/axioma de existência" (pág. 62). Procurou mostrar na sua pesquisa, com exemplificações e elementos de coleta de campo, "a realidade das manifestações tradicional-populares escritas", buscando uma larga visão. Não pretendeu esgotar o estudo das soluções comunicacionais criadas pelos povos. O material que coletou poderá permitir a outros especialistas que o analisem sob diferentes pontos de vista. Os seus capítulos, organizados em classes segundo grupos determinados pelo material de campo, são tratados sob o ponto de vista da comunicação social e do folclore/cultura popular. Utilizou-se, porém, subsidiariamente, de literatura de outras áreas disciplinares.

Em alguns casos conseguiu realizar ensaios analíticos mais aprofundados, em outros apenas pôde levantar problemas e apontar caminhos. O autor salienta o interesse que há em registrar e conhecer aspectos da produção e da permuta de significados em enunciados feitos pelos povos de modo informal. Também salienta a importância das relações que os populares criam e mantêm, assim como a presença do popular na comunicação simbólica nas sociedades humanas. O autor entende assim o seu trabalho como uma contribuição à compreensão do assunto e ao aprimoramento "do quadro epistemometodológico da problemática de escritos populares" (pág. 62).

Encerrando as suas considerações ao tratar da atualidade da "CPE" (Comunicação Popular Escrita) (pág. 674-676), o autor, após salientar a constância de assuntos atuais das mensagens e a universalidade das formas, por ocorrer em dimensões planetárias, sem deixar de ser comunitária em conteúdos específicos e atendendo a contextos determinados, chega a um complexo de questões que parece que mais o preocupa como pesquisador de folclore. Lembra que autores europeus e norte-americanos mencionam o desaparecimento do folclore, sobretudo a partir do século XVIII, como decorrência de impactos na vida rural pela industrialização e por transformações sócio-culturais. Tende-se a considerar Folclore/Cultura Popular como fenômenos do passado.

Esse fato poderia, realmente, ser observado com relação a determinados tipos de manifestações tradicionais populares, por exemplo danças, teatro popular, artesanato, vestimentas, literatura oral, cantorias, etc.. Grupos folclóricos europeus e em comunidades de imigrantes cultivam esse folclore sob uma perspectiva de manutenção da memória, em eventos impregnados de saudosismo e nostalgia. Essas expressões, já sem a funcionalidade do passado, tornam-se demonstrações de que os tempos mudaram. O povo, participante nessas expressões no passado, torna-se público de festivais e shows supostamente folclóricos. Entretanto, além de ser necessário evitar generalizações, precisa-se levar em consideração que alguns dos objetos de estudo de folclore permanecem e até mesmo se renovam, tais como superstições, formas de misticismo, gíria, culinária, determinados aspectos comportamentais ligados a esportes, e outros.

Entre esses "tipos de traços folclóricos contemporâneos plenamente vivos" se incluem os enunciados da Comunicação Popular Escrita. Eles incluem novas manifestações, em geral ligadas a circunstâncias locais ou regionais e a contextos mais amplos. A pesquisa sincrônica que desenvolveu demonstra, para o autor, que povos se apropriam de mídias e neomídias para a sua expressão, por exemplo da internet, e isso de forma crescente nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Conclui dizendo: "Temos então caracterizado um processo comunicacional que as sociedades letradas contemporâneas, com indiscutível abrangência mundial, colocam em prática, atendendo a suas preferências e grandemente de acordo com seus costumes."

A.A.B.


 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 123/23 (2010:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho científico
órgão de
Brasil-Europa: Organização de estudos teóricos de processos interculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg.1968)
- Academia Brasil-Europa -

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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2559


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Publicações


     Pellegrini Filho, Américo. Comunicação popular escrita. São Paulo: EDUSP, 2009. 696 p. + 1 CD; il. ISBN 978-85-314-1143-4

 

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