Para o início dos trabalhos preparatórios do projeto Transatlântico da Academia Brasil-Europa, precedido por ciclo de palestras e estudos e dedicado ao estudo das interações entre processos interamericanos e transatlânticos na cultura, escolheu-se a oportunidade da realização do projeto The Gates, instalação de Christo e Jeannes-Claude. Procurou-se, aqui, concatenar o projeto com o programa de estudos de Poética da Urbanidade da A.B.E.

A visita à instalação foi acompanhada de estudos de comentários publicados em textos diversos concernentes ao projeto e ao histórico de sua concretização.

A primeira impressão no passar dos portões constituídos pelas armações com cortinas de cor-de-laranja foi marcada por sensações de solenidade festiva que levou a associações com construções efêmeras levantadas por ocasião de procissões e cortejos tanto no Extremo Oriente quanto na cultura de tradição ocidental.

Recordou-se o papel de arcos de madeira levantados por ocasião de festas em cidades do mundo de língua portuguesa e de construções monumentais em comemoração a acontecimentos históricos. Considerou-se o aspecto de teatralização e da percepção do espaço através do homem que atravessa os portais. De cada transpasse a metrópole surge sob nova perspectiva, o espaço é vivenciado diferenciadamente. Constata-se que o homem, movendo-se no decorrer do tempo, percebe o espaço e a cidade de forma diferente, havendo uma relação entre o Tempo e o Espaço em sentido diverso daquele que acontece com a música. Na música, em geral, o ouvinte permanece parado e a música é que discorre no tempo; na arquitetura, esta permanece estática e é o homem que nela se movimenta.

A relação entre a arquitetura e a música, porém, não representou a única possibilidade de interpretação. Constatou-se que, no caso, devido ao movimento das cortinas, haveria novas possibilidades de associações, desta vez sobretudo com a dança. O transpasse dos portões não representa apenas a superação de um enquadramento determinante de novas focalizações, mas caracteriza-se pela movimentação do tecido e pela luz, em constantes mutações coreográficas.

As relações entre Arquitetura e Música deveriam, assim, incluir necessariamente considerações relativas ao movimento do material transpassável pela luz através do vento. As reflexões do relacionamento entre a música e a arquitetura não podem portanto apenas dizer respeito a conceitos filosóficos de Tempo e Espaço, mas sim a interrelações de Tempo, Espaço e Matéria, levando as considerações a complexos temáticos de cunho fundamental da filosofia e da teologia.

A impressão causada pelo vivenciar da instalação em dia ensolarado do inverno de New York motivou reflexões relacionadas com o significado metafórico da luz e do vento no processo criador em geral e, em particular, na criação de orientação ambiental. Decidiu-se que as reflexões baseadas na instalação do The Gates deveria servir de ponto de partida para o ciclo de estudos dedicado ao tema Arquitetura e Música planejado para ser realizado em colaboração com a Universidade de Colonia no decorrer de 2005.

Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).