Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Trondheim. Noruega. Foto A.A.Bispo 2012 ©

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Fotos A.A.Bispo, Trondheim (2012) ©Arquivo A.B.E.









 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 139/15 (2012:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N°2933



Universidades em visita

Estudos Culturais na tradição das Escolas Técnicas
A
Universidade Técnico-Científico-Natural da Noruega NTNU
e a vida estudantil de Trondheim
O Rockheim como centro nacional de vivência e pesquisa da música popular

 
Trondheim. Noruega. Foto A.A.Bispo 2012 ©
Como vem ocorrendo nos trabalhos realizados em diferentes países, universidades norueguesas foram alvo de consideração no âmbito do ciclo de estudos do programa Noruega/Brasil realizado em agosto de 2012.

A visita a instituições decorreu também aqui sob a perspectiva de que universidades, escolas superiores, museus e centros de pesquisa e ensino não são apenas centros produtores de saber e de formação, mas sim também que são êles próprios resultados, expressões, indicativos, mediadores e agentes de processos culturais.

Essa orientação da atenção à universidade como objeto de observação em si corresponde ao escopo da A.B.E., que defende a necessidade de desenvolvimento de estudos culturais em estreito relacionamento com estudos da própria ciência (science studies). Esses estudos exigem, entre outros aspectos, a consideração de instituições culturais, científicas e de ensino nas suas inserções em contextos, assim como a de pressupostos de rêdes acadêmicas e suas implicações no pensamento, na pesquisa e no ensino.

O intento assim delineado não diz respeito somente à necessidade de conhecer-se o histórico de instituições no sentido mais convencional do termo. Esse direcionamento da atenção à produção e à difusão de conhecimentos como resultados e expressões de processos culturais exige análises que incluem tanto procedimentos históricos como empíricos, exigindo assim a observação de situações e tendências no presente.

O contato in loco com a vida acadêmica e estudantil em geral favorece aqui a percepção de aspectos, ambientes e qualidades atmosféricas e mentais que co-determinam ou influenciam as relações humanas e o desenvolvimento do pensamento. Um esforço empático de ver situações e desenvolvimentos a partir de pontos de perspectiva daqueles inseridos nos respectivos contextos contribui á aproximação, ao intercâmbio e à cooperação internacional.

Os trabalhos desenvolvidos na Noruega estiveram sobretudo sob o signo da contribuição a ser dada pelos Estudos Culturais a processos esclarecedores, um escopo motivado pela atenção dada a vultos da história do Iluminismo do século XVIII relembrados em 2012 e que traz à consciência o valor para a Humanidade de esforços empreendidos através dos séculos a serviço de esclarecimento de complexos culturais pouco compreendidos nos quais o Homem se insere e, consequentemente, de uma iluminação de mentes. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html)

A atualidade dessa preocupação revela-se na intensificação e mesmo agressividade de tendências obscurantistas no presente, sobretudo naquelas que se baseiam em convicções, visões, critérios e normas que se auto-fundamentam em tradições religiosas aceitas cegamente.

Há, porém, também situações obscuras para além de contextos e movimentos religiosos, em particular naqueles de natureza ideológica, étnico-racial e político cultural de nacionalismo extremado, e que se manifestam no presente em crescente intensificação e agravamento de seus potenciais, revelando também aqui riscos que se encerram em edifícios de concepções e imagens pouco esclarecidas, como o "massacre de Oslo" demonstrou. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Luzes-nordicas.html

Trondheim. Noruega. Foto A.A.Bispo 2012 ©

Estudos superiores sob o aspecto do Esclarecimento - universidades da Noruega

A Noruega surge sob diferentes aspectos como país merecedor de particular atenção sob o aspecto do papel a ser exercido pelos e pelas ciências em processos esclarecedores em contextos globais. Ela possui considerável rêde de instituições de nível superior, com seis universidades, seis escolas superiores científicas e duas de artes, assim como outras 26 escolas de nível superior oficiais.

A história institucional dos estudos universitários noruegueses remete a atenção a correntes do pensamento e anelos do século XVIII e início do XIX na Alemanha e que fundamentaram a criação de instituições. Assim, a universidade de Oslo, a maior e mais antiga da Noruega, foi fundada em 1811, pouco após o início de atividades da universidade de Berlim (Alma Mater Berolinensis), atual Humboldt-Universität. Esta fora fundada em 1809 sob Wilhelm von Humboldt (1767-1835), pensador de orientação político-liberal e filólogo.

Após Oslo, a maior universidade norueguesa é a de Trondheim. Esta diferencia-se daquela da capital norueguesa no seu vir-a-ser histórico e no pêso dado nas suas atividades de pesquisa e ensino.

A de Trondheim surge como centro da pesquisa e do ensino tecnológico do país, fato que se exprime na sua própria denominação de Universidade Técnico-Científico-Natural da Noruega NTNU (Norges teknisk-naturvitenskapelige universitet).

Ainda que o perfil da universidade de Trondheim seja marcado pelo seu nome, as suas atividades não se resumem à tecnologia (Faculdade de Ciência da Engenharia e Tecnologia; Faculdade de Técnica de Informação, Matemática e Eletrotécnica) e às Ciências Naturais (Faculdade de Ciência Natural e Tecnologia).

A universidade possui também faculdades de Medicina, Economia e Tecnologia, Ciências Sociais e Economia, Arquitetura e Arte Visual e Ciências Humanas. Como algumas das denominações dessas instituições indicam, também esses ramos de conhecimentos são marcados por uma orientação geral primordialmente de natureza tecnológico-engenheira e científico-natural.


Perfil tecnológico/científico-natural e centros de excelência. Biologia da Memória

O significado internacional da universidade de Trondheim reside sobretudo nos seus centros de excelência, desenvolvidos por iniciativa do Conselho Nacional de Pesquisa da Noruega a partir de 2003. Esses centros são dedicados a temas como Qualidade Quantificável de Serviço e Estrutura de Navios e Estudos Oceânicos. Há, sobretudo, um centro de Biologia da Memória de renome internacional pelo fato de por ter-se tornado um dos poucos institutos europeus Kavli de Neurociência de Sistemas.

A Universidade mantém várias cooperações com universidades e escolas superiores da Escandinávia, dos Estados Unidos e de países europeus e asiáticos. Salientam-se aqui elos acadêmicos com instituições em Singapura, Japão e China. Dentre as universidades norte-americanas, Trondheim mantém relações estreitas de intercâmbio na área das Ciências Sociais com a Universidade da California, em Berkeley.


Burguesia comercial e direcionamento prático dos conhecimentos e do ensino

A orientação primordialmente técnica da Universidade de Trondheim pode ser considerada a partir dos pressupostos locais que levaram a uma maior atenção a questões de aplicação pragmática dos estudos. Esse direcionamento à prática foi um resultado do florescimento de uma burguesia comercial em cidades e correspondeu a similares desenvolvimentos em outras regiões da Europa no século XVIII.

Como centro religioso secular através de sua catedral, a história dos estudos humanísticos em Trondheim tem as suas raízes no ensino medieval. A Reformação representou uma fundamental cisão histórica, ainda que estruturas disciplinares da Idade Média tenham sido mantidas.

A cidade foi vítima de frequentes incêndios, sendo o seu centro antigo desvastado em 1681. Reconstruída com plano urbanístico inspirado em modêlos da Europa continental pelo General Caspar Cicigon (1625-1696), a cidade tornou-se significativo exemplo de concepção racional de configuração urbana, organizada segundo dois eixos e ruas em xadrez.

O desenvolvimento econômico de Trondheim devido ao comércio de madeira e à pesca, assim como a mineração nos séculos XVII e XVIII foram acompanhados por um florescimento cultural, uma vez que comerciantes abastados passaram a estar em condições de manter intensa vida cultural doméstica e em comunidade.

A influência alemã na cultura de Tronheim foi intensa, uma vez que vários dos comerciantes provinham da região de Flensburg. Círculos de imigrados alemães tornaram-se principais esteios da vida cultural familiar e de sociedade.

O cunho burguês, não aristocrático ou eclesiástico da vida social e cultural da classe comercial de maiores posses determinou o desenvolvimento cultural e deixou marcas na fisionomia arquitetônica de Trondheim. O principal monumento construído dessa época é o Stiftshof.

Em 1776, em Trondheim fundou-se o mais antigo jornal diário da Noruega, o Adresseavisen.

Tanto as novas situações surgidas pelo enriquecimento de famílias voltadas a empreendimentos mercantís como as exigências que a própria prática comercial levantava explicam o surgimento de instituições que se diferenciavam das antigas escolas da tradição eclesiástica, favorecendo a recepção e difusão de correntes do pensamento da época do Iluminismo.

No seu vir-a-ser histórico local, a universidade de Trondheim se insere numa linha de tradição que remonta à Real Sociedade Científica Norueguesa, fundada em 1760 (Det Trondhiemske Selskab). Nesse sentido, a sua tradição tem até mesmo raízes mais remotas do que a de Oslo.

As muitas instituições de formação superior orientada pela prática e técnica dedicadas a artes e ofícios desenvolvidas no espaço alemão passaram a constituir Escolas Superiores Técnicas na segunda metade do século XIX e que, um século mais tarde, em período relativamente recente, foram redenominadas de Universidades Técnicas.

Correspondendo ao desenvolvimento alemão, a Escola Superior Técnica Norueguesa, criada em 1910, passou a constituir a Universidade Técnico-Científico Natural da Noruega em 1996, formada com a integração de várias escolas superiores.


Desenvolvimento técnico-científico e intensificação paradoxal do Historismo

O desenvolvimento cultural de Trondheim no século XIX, acompanhando um florescimento econômico possibilitado pela industrialização e ao estabelecimento de ferrovias, não refletiu apenas tendências do pensamento remontante aos ideais iluministas do século anterior.

Os estreitos elos com o mundo alemão refletiu-se também na recepção de correntes historicistas, de retorno romântico à Idade Média idealizada e, consequentemente, a uma reconscientização de fundamentos religiosos da cultura e de teológicos de estudos, ainda que sob a perspectiva reformada.

Com a reconstrução da sua catedral, que ocupou as atenções de Trondheim por várias décadas, a cidade ficou marcada pela maior catedral (neo-)gótica do Norte e, consequentemente, pelo maior monumento do Historicismo no Norte. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Trondheim-Catedral.html)

Se a configuração urbana de Trondheim havia sido marcada por princípios racionais de sua reconstrução no século XVIII, manifestados nos eixos viários e na malha geométrica de suas ruas, o antigo referencial da história e da cultura da cidade foi reafirmado simbolicamente pela catedral.

Transformações urbanas da época da industrialização e seu redescobrimento patrimonial

A industrialização levou também a consideráveis modificações urbanas, sobretudo com o surgimento de bairros para operários, usinas, olarias e docas, salientando-se aqui o Bakklandet. Essas construções da era da industrialização sofreram como em muitas outras cidades européias - e fora da Europa - um período de decadência no século XX, experimentando, porém, nas últimas décadas, uma refuncionalização valorizadora.


Essa tomada de consciência pelo patrimônio constituído por moradias de trabalhadores e fábricas do século XIX e que impediu a demolição de edifícios, surge como exemplo de um despertar da memória pela história urbana. Salientando-se aqui o aspecto da manutenção da lembrança em período relativamente recente do desenvolvimento da cidade, esse fenômeno diz respeito à história, possui, porém, sentido diverso daquele expresso na catedral como manifestação máxima do Historismo.

Como em outras cidades européias, também as zonas de Trondheim que degradaram-se com o término de atividades, exigiram, para a sua revitalização, a utilização de espaços para fins culturais, de consumo e lazer. Não apenas o Bakklandet foi revitalizado, mas também e sobretudo as docas Trondhjems Mekaniske Vaerksted, fundada em 1872 às margens do rio Nidelven e fechadas em 1982, tornaram-se uma zona marcada por restaurantes e casas comerciais.

Cidade marcada pela vida universitária - reconfigurações de espaços urbanos

Os estudantes vivem numa cidade que é marcada por estruturas urbanas e construções de diferentes épocas, com diferentes e múltiplos significados: a zona catedralícia, lembrando o passado medieval, o bairro antigo com construções de madeira salvas dos grandes incêndios que destruiram o centro da cidade, a fortaleza da época dos conflitos com a Dinamarca, a cidade racionalmente reconstruída, a série de representativos edifícios do século XIX e início do XX, em particular o do Teatro e da Loja Maçônica, além da zona reabilitada das docas.

A cidade oferece assim diferentes possibilidades de leituras e vivência cultural de espaços. Com essas suas característica oferece também possibilidades para a percepção de processos transepocais subjacentes às diferentes edificações, configurações espaciais e visuais.

Assim, ainda que prioritariamente dirigida à Tecnologia e às Ciências Naturais pela sua designação e história, a sua inserção no contexto de Trondheim possibilita a docentes e estudantes compreender esse próprio direcionamento antes pragmático como expressão cultural, inserindo-o em processos históricos.

Talvez essa orientação engenheiro-tecnológica, matemática e científico-natural seja particularmente favorável à percepção de estruturas, processos e mecanismos subjacentes a desenvolvimentos.

Sendo esse direcionamento na tradição das escolas superiores técnicas remontante historicamente a desenvolvimentos do século XVIII e de correntes influenciadas pelo Iluminismo continental, interações disciplinares com as Ciências Humanas sob o signo dessa tradição podem abrir caminhos para uma conscientização da função esclarecedora que os Estudos Culturais devem cumprir.


Centro de pesquisa da música popular na Noruega: Rockheim

Devido à grande porcentagem de estudantes na sua população, Trondheim apresenta-se como cidade jovem e vital, o que se reflete também na sua vida cultural.

A cidade tornou-se um centro da música popular e do seu estudo na Noruega.

Em 2010, inaugurou-se o Rockheim, um centro de vivência, com palco e aparelhagem técnica de mixagem, que é, ao mesmo tempo, centro de arquivo e pesquisa da cultura popular norueguesa, em particular da música popular posterior aos anos 50, contando com importante mediateca. Pela sua orientação, procura-se relacionar a pesquisa e a difusão de conhecimentos com concertos e o divertimento.

Em exposição permanente, o centro oferece uma viagem pelo percurso da história músico-cultural popular, em particular da cultura jovem da Noruega. Cantores, instrumentistas, arranjadores e grupos são apresentados em contextos de seus anos de sucesso e atuação, salientando-se a sua inserção em desenvolvimentos sócio-culturais, ou seja, a transformabilidade de expressões.

Com esse direcionamento da atenção a processos, o centro - ou museu - evita discursos baseados em categorizações de esferas culturais, e também visões nacionalistas.

A História da Música de orientação cultural manifesta-se na orientação do centro em estreito relacionamento com a Pesquisa da Música Popular, considerando assim procedimentos históricos e empíricos, partindo do presente. Em exposições temporárias, consideram-se também temas músico-culturais de outras regiões ou desenvolvimentos internacionais.

Grupo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Estudos Culturais na tradição transnacional das Escolas Técnicas. A Universidade Técnico-Científico-Natural da Noruega NTNU e a vida estudantil de Trondheim: O Rockheim como centro nacional de vivência e pesquisa da música popular". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 139/15 (2012:5). http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Trondheim-Universidade.html





  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.