Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Brewidablikk, Stavanger.Foto A.A.Bispo 2012 ©

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Fotos A.A.Bispo, Breidablikk, Stavanger, 2012 ©Arquivo A.B.E.





 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 139/3 (2012:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2921


A.B.E.

Momentos do desenvolvimento das reflexões Brasil/Noruega:
Música e Nacionalismo nas suas inserções românticas a partir de Alberto Nepomuceno (1864-1920) II:


Desenvolvimento do ensino musical na Alemanha e o interesse pelas expressões tradicionais
Arno Kleffel (1840-1913) e Edvard Grieg (1843-1907)


30 anos de encontro-audição dedicado a Alberto Nepomuceno no Conservatório da Cidade de Colonia/Escola de Música da Renânia
pelos cem anos de Heinrich Lindlar (1912-2009). Breidablikk, Stavanger, monumento da influência cultural alemã na Noruega


 
Alberto Nepomuceno
No ciclo de estudos levado a efeito na Noruega, em agosto de 2012, foram reconsiderados, à luz de questionamentos recentes, os primeiros trabalhos euro-brasileiros realizados em cidades da Noruega na década de 80.

Seguindo-se àqueles dedicado ao contexto Mediterrâneo/Atlântico, os atuais trabalhos na Noruega também foram dirigidos a análises de fundamentos processos e interações culturais interno-europeus nas suas consequências para o Brasil. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html)

As reflexões foram encetadas sobretudo Hellesylt, localidade particularmente sugestiva para o tratamento de questões relacionadas com o Romantismo  (http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Nepomuceno-Christian-Capellen.html), assim como em Stavanger, aqui considerando-se sobretudo os estreitos elos entre a Noruega, a Alemanha e o Brasil no estudo de processos culturais.

Testemunho mais sugestivo desses elos noruegueses com a Europa Central de língua alemã é a mansão de madeira de Breidablikk em "estilo suíço", e na qual hoje se encontra instalado um departamento do Museu de Stavanger.

Construída na década de 80 do século XIX, tendo-se conservado também o seu interior, pode ser vista como principal documento da influência alemã no ambiente cultural de uma época que adquire particular relevância sob a perspectiva das relações Noruega/Brasil.

Brewidablikk, Stavanger.Foto A.A.Bispo 2012 ©

Histórico dos estudos: trabalhos de 1983 e visita a Troldhaugen

Os estudos de 1983, que incluiram uma sessão na casa de Edvard Grieg (1843-1907) em Troldhaugen, consideraram privilegiadamente relações histórico-musicais entre a Noruega e o Brasil a partir da história de vida e da obra de Alberto Nepomuceno (1864-1920).

Este pianista, organista, compositor e professor, casado com a pianista norueguesa Walborg Rendtler Harmanssen Bang, discípula de Grieg, tem o seu significado reconhecido na historiografia da música do Brasil sobretudo pelo seu empenho em valorizar expressões musicais populares e considerá-las em composições, o que lhe confere uma posição relevante na história de uma preocupação nacional na música brasileira. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Luzes-nordicas.html )

Nada mais compreensível, portanto, que esse aspecto da obra de Nepomuceno fosse considerado nas suas relações com o movimento nacional norueguês, representado sobretudo por Grieg. Os contatos com noruegueses e a estadia de Nepomuceno em Christiania decorreram em momento de culminância das aspirações nacionais norueguesas, país que então ainda se encontrava em União Pessoal com a Suécia.

Reconheceu-se, porém, que não seria adequado estudar a influência exercida pelo ambiente musical e o movimento nacional norueguês em Nepomuceno sem levar em consideração os estreitos elos e as interações dos músicos e intelectuais noruegueses e de Nepomuceno com os grandes centros europeus, em particular aqueles da Alemanha e da Áustria-Hungria. Grieg e outros músicos noruegueses estudaram e atuaram na Alemanha, e Nepomuceno recebeu a sua formação em Berlim, tendo conhecido Walborg Bang em curso de especialização em Viena.

Reconheceu-se, assim, na sessão realizada em Troldhaugen, que o complexo de correntes e tendências interno-européias deve estar no centro das atenções dos estudos, pois representa um pressuposto para a consideração da própria situação cultural norueguesa experimentada por Nepomuceno.

Desenvolvimento das reflexões: relações interno-européias

O ciclo de estudos desenvolvidos na Noruega nos anos oitenta situou-se em fase decisiva dos esforços de atualização dos estudos brasileiros sob as novas condições que passavam a impor-se com a aproximação dos países europeus na Comunidade Européia.

A atenção passou a ser dirigida então sobretudo às relações internas, às interações histórico-culturais entre os vários países europeus, à transformação geográfica de limites desses países no decorrer da história, à historicidade na formação de estados nacionais, à transformabilidade de imagens, identificações e perspectivas na visão de acontecimentos, assim como à irradiação de modêlos contextualizados na Europa a países extra-europeus de acordo com os diferentes vínculos mantidos, ou seja, a processos inter- e transeuropeus nas suas dimensões globais.

Nesse sentido, também o movimento músico-nacional norueguês, considerado sob a perspectiva dos elos entre Nepomuceno e Grieg, passou a ser estudado sobretudo nas suas relações com desenvolvimentos centro-europeus, em particular da Europa de língua alemã.

Os vínculos da Noruega com a cultura alemã eram particularmente estreitos em diferentes esferas dos conhecimentos e das artes. Um dos testemunhos mais evidentes da influência alemã no historismo romântico a serviço de uma valorização do passado nacional norueguês é a catedral de Trondheim, o maior monumento neo-gótico do Norte europeu. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Trondheim-Catedral.html)

Entretanto, na consideração dos elos dos noruegueses com a cultura alemã, não apenas o desenvolvimento do ensino e da vida musical no Império Alemão deve ser considerado, resultante de um longo processo de unificação nacional e da vitória na Guerra Franco-Prussiana, mas sim e sobretudo aquele do império multinacional dos Habsburgs e que, apesar da predominância cultural alemã, era marcado internamente por aspirações nacionais, um movimento que ganhou em intensidade até a eclosão da Primeira Guerra e que levou ao desmembramento da Áustria-Hungria.

O empenho em considerar-se mais diferenciadamente o movimento músico-nacional na Europa Central sob perspectivas teórico-culturais levou posteriormente à realização de ciclos de estudos euro-brasileiros em territórios da antiga Áustria-Hungria, em particular na Boêmia; a necessidade de maior diferenciação político-cultural de compositores que entraram na história pelas suas orientações e expressões nacionais foram consideradas aqui em particular no caso de B. Smetana e Dvorák. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Smetana-consciencia-politica.html; http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Dvorak-posicao-no-cenario-politico.html)

Também realizaram-se mais tarde estudos de desenvolvimentos nacionais na atual Romênia, podendo-se aqui discernir com mais clareza o campo de tensões criado por contextos culturais orientados segundo os grandes centros da tradição musical alemã e aqueles marcados por aspirações de emancipação nacional. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Romenia-Brasil.html)

Superação de visões unilaterais nos estudos de Nepomuceno

Neste sentido, os estudos músico-culturais relativos aos elos entre a Noruega e o Brasil não podem restringir-se à consideração da obra composicional de expressão nacional de Nepomuceno e, consequentemente, aos elos entre movimentos nacionais na música de ambos os países, mas deve incluir vários outros aspectos de suas múltiplas atividades, entre estas, a de pianista, organista e pedagogo.

O aperfeiçoamento técnico e interpretativo como executante representou principal objetivo de seus estudos na Europa, foi, porém, acompanhado pelo intuito de conhecer novos desenvolvimentos no ensino teórico e prático, institucionais e na vida musical.

Sobretudo, porém, a sua dedicação ao órgão não pode deixar de ser alvo de especial atenção, uma vez que foi nomeado a professor desse instrumento no Instituto Nacional de Música criado pela República.

O estudo de órgão de Nepomuceno foi pela própria natureza do instrumento acompanhado por um interesse por questões religiosas, teológicas e musicológicas relacionadas com a música sacra, o que determina o contexto de cultura espiritual mais amplo no qual a sua personalidade e também as suas demais atividades devem ser consideradas.

Para além de professor, Nepomuceno entrou na história da instituição que marcou o início de uma nova era na história do ensino musical no Brasil como um de seus mais diligentes diretores, empenhado escrupulosamente na correta organização do ensino, do desempenho administrativo e no lançamento de bases sólidas para o desenvolvimento do instituto.

O fato de terem sido justamente atos que considerou como atentatórios à sua dignidade como diretor que o levou a afastar-se e obscureceu o fim de sua vida indica o significado dessas atividades institucionais. Nepomuceno como professor e diretor é um aspecto de sua personalidade e de suas atividades que não pode deixar de ser considerado também sob a perspectiva de suas inserções em contextos internacionais.

"Só num livro se poderiam compendiar os esforços do artista pelo engrandecimento daquela casa de ensino, com a qual ele despendeu o melhor das suas energias, encontrando sempre na sua frente o obstáculo quase insuperável da resistência dos governos, que nenhuma atenção prestavam à instituição que eles pouco a pouco demoliam, consentindo que ali penetrasse a política para a colocação de empregados nem sempre capazes; para a nomeação de professores, nem sempre competentes, e , finalmente, para a criação de muitas cadeiras desnecessárias, em que eram providos afilhados e protegidos. Tudo isso contrariava, abatia o espírito do artista, que se levantava de uma derrota para encetar novas lutas, sem nunca desanimar, sem deixar de dispensar ao estabelecimento todo o carinho, todo o desvelo, pugnando pela seriedade do ensino, probidade da arte, pela dignificaçãoo do professorado". (José Rodrigues Barbosa

30 anos de encontro na Escola de Música Renana

Os trabalhos desenvolvidos na década de 80 na Noruega fundamentaram-se sob diversos aspectos em preocupações de fins da década de 70 e início da 80, dando prosseguimento a reflexões e estudos tratados em eventos anteriores.

Se questões relacionadas com Nepomuceno como organista e músico sacro haviam sido consideradas no Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira, realizado em São Paulo, em 1981, a sua formação teórica e composicional, assim como a sua inserção em desenvolvimentos institucionais da Europa foram consideradas em encontro realizado em 1982 na Escola de Música Renana, a Rheinische Musikschule, o antigo Conservatório da Cidade de Colonia.

Essa instituição comemorava então os 70 anos do seu diretor, o musicólogo e educador Heinrich Lindlar (1912-2009). O encontro realizou-se pela despedida do editor desta revista como professor da instituição por ter sido nomeado a diretor da Musikschule der Stadt Leichlingen.

Como a recém-fundada instituição devia ser dirigida no âmbito de um Forum de Pedagogia Musical Comparada, que dava prosseguimento ao desenvolvimento de uma Educação Musical de orientação teórico-cultural iniciado com a introdução da Etnomusicologia nos cursos de Licenciatura na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo, em 1972, procurou-se trazer à consciência a já longa história de relações e interações internacionais no ensino musical na Renânia.

Em primeiro lugar, considerou-se que esse intento apenas podia ser cumprido se a Rheinische Musikschule fosse considerada sob uma perspectiva adequada que permitisse o reconhecimento do papel relevante que a instituição desempenhou no passado.

Conservatórios na Alemanha e no Brasil: desenvolvimento no passado e crise

Sob muitos aspectos, a situação da Escola de Música Renana na época, assemelhava-se àquela de muitos conservatórios no Brasil. Esta era marcada por uma crise que atingiu os conservatórios com mudanças de legislação e criação de escolas superiores de música em fins da década de 60.

Essas reformas levaram à desvalorização dos antigos conservatórios, em grande parte particulares, com graves consequências para a sua manutenção, dando ensejo a esforços de procura de novos caminhos institucionais e conservação de renomes adquiridos em décadas de atividades. Entre esses caminhos, ofereciam-se aquele de uma transformação de conservatórios em escolas profissionais de música, de introdução de novos cursos e áreas de atividades, assim como do prestígio possibilitado pela excelência garantida por grandes nomes de professores contratados.

Também a Escola de Música Renana experimentava similares problemas derivados da diferença de nível institucional com a Escola Superior de Música de Colonia (Musikhochschule). Também nela constatavam-se intuitos de recuperação de prestígio fundamentados na sua antiga tradição e que se expressavam em tentativas de afirmação em determinadas áreas.

Esses intentos alcançaram particular sucesso na esfera da música contemporânea com os Cursos de Música Nova de Colonia iniciados por Karlheinz Stockhausen (1928-2007), em 1963, e que contavam com a atuação de compositores de renome internacional, dirigidos desde 1969 por Mauricio Kagel (1931-2008), assim como na esfera da música antiga, nos quais atuaram também professores da Escola Superior de Música e que levaram, em 1966, à criação de um Instituto de Música Antiga. A Escola de Música Renana destacava-se também pela formação que oferecia na área da música sacra (formação de organistas de nível C).

Devido à situação marcada tanto no Brasil como na Alemanha por uma desvalorização e tentativas de reafirmação de conservatórios de antiga tradição, seria inadequado considerar o papel desempenhado no passado por essas instituições a partir do presente.

Apenas evitando-se anacronismos podia-se reconhecer de forma justa a função que o antigo Conservatório de Colonia desempenhou nas relações musicais da Alemanha com outros países. Somente assim poder-se-ia compreender os elos internacionais possibilitados pelo ensino e, em particular, os vínculos entre professores da instituição com o Brasil e mesmo o estudo e a atuação de brasileiros na instituição.

Significado da Rheinische Musikschule na história institucional do ensino musical

Apesar de ser uma instituição municipal e tendo expressamente a qualificação regional de renana, esse conservatório, mantido no passado em grande parte por particulares, inseriu-se desde as suas origens em contextos supra-regionais e internacionais.

Para a consideração do seu desenvolvimento institucional e das transformações por que passou no decorrer do século XIX, cumpre lembrar das condições especiais de Colonia na era iniciada com o fim do império napoleônico e a Restauração européia. Colonia, próxima do mundo latino europeu, surgia como cidade em situação particularmente favorável para a criação de uma instituição segundo o modêlo do Conservatório de Paris.

Decidida a sua criação em 1845, sob a direção de Heinrich Dorn (1804-1892), foi a escola primeiramente um conservatório voltado à formação de professores para o ensino particular em piano, violino e canto. Assim como muitos conservatórios do Brasil, a instituição serviu, assim, primeiramente às necessidades e à procura de professores originadas da intensificação da prática musical doméstica e de amadores. Essa função básica não poderia deixar de ter as suas consequências sob o ponto de vista do repertório cultivado, que devia ser adequado à recepção em ambiente familiar a serviço da boa formação, ilustração e passatempo.

Dorn inaugurou elos que se mantiveram através de décadas da escola em Colonia com Berlim, com a Prússia do Leste e países bálticos, assim como com Leipzig. Tendo estudado em Berlim, onde projetou-se como compositor operístico, foi diretor musical da ópera de Königsperberg, passando, em seguida a diretor do Teatro da Côrte de Leipzig, onde foi professor de Robert Schumann (1810-1856), o grande compositor da Renânia. Após atividades em Riga como responsável pela música da cidade e regente de orquestra, passou a Colonia, em 1843, onde assumiu o cargo de maestro da cidade e regente da orquestra Gürzenich. A fundação da Rheinische Musikschule deve ser vista assim neste contexto, inserindo-se desde o início na vida musical da cidade e da região. Dando continuidade aos elos entre Berlim e Colonia, Dorn assumiu, em 1849, o cargo de regente no Real Teatro da Côrte, sendo nomeado membro da Real Academia Prussiana das Artes de Berlim.

Uma nova fase da Rheinische Musikschule iniciou-se sob Ferdinand Hiller (1811-1885), quando o conservatório, com as condições oferecidas pelos seus elos com a vida musical, em particular com a orquestra Gürzenich, passou a dedicar-se de forma mais sistemática também à formação daqueles que pretendiam atuar profissionalmente como músicos. Marco na história da instituição foi a sua elevação a Conservatório, em 1858, quando adquiriu instalações adequadas,com auditório e biblioteca. Nessa fase, o Conservatório passou a ser procurado por estudantes estrangeiros, entre êles dos Estados Unidos e da Austrália.(e.o. Reinhold Sietz, "Ferdinand Hiller und Moritz Harmann", Studien zur Musikgeschichte des Rheinlandes III, ed. U. Eckart-Bäcker, Festschrift Heinrich Hüschen zum 50. Geburtstag, Colonia,1965)

Importante fase na história do Conservatório deu-se sob a direção de Franz Wüllner (1832-1902), quando introduziram-se matérias complementares, entre elas Teoria Musical, Solfejo, Morfologia, Coral e História da Música. Ao mesmo tempo criou-se uma escola de orquestra, uma de ópera, assim como um seminário para professores de piano. (Dietrich Kämper, Franz Wüllner, Leben, Wirken und kompositorisches Schaffen, DColonia, 1963) 

Com essa ampla estrutura e com a valorização do ensino teórico, o Conservatório de Colonia tornou-se uma instituição de caráter modelar, segundo a qual se orientavam outros conservatórios europeus.

A esse renome do Conservatório contribuiram os professores de renome que ali atuaram, entre êles Engelbert Humperdinck (1854-1921) e Otto Neitzel (1852-1920). Com Johannes E. Franz Bölsche (1869-1935), professor de Teoria Musical e Composição, o Conservatório marcou a história do ensino da teoria na Alemanha.

É nessa fase de desenvolvimento e de reorientação do Conservatório sob Franz Wüllner, marcada pela valorização das disciplinas teóricas e pela intensa inserção do conservatório na vida musical da cidade que deve ser considerada a personalidade que surge como mais relevante para estudos relacionados com A. Nepomuceno na Alemanha: Arno Kleffel (1840-1913).

Arno Kleffel como ponte entre Colonia e Berlim. Atualidade de sua consideração

Se no encontro da Rheinische Musikschule emprestou-se particular atenção a Alberto Nepomuceno, sendo várias de suas obras executadas por alunos da instituição, a razão dessa consideração especial foi o fato de ter tido aulas, em Berlim, com Arno Kleffel, uma das personalidades mais destacadas da vida musical de Colonia. Kleffel estabelece assim uma pouco considerada ponte entre Colonia e Berlim, assim como entre Nepomuceno e desenvolvimentos precedentes na vida musical de Colonia.

"Antes de sua partida para a Europa Nepomuceno se fizera notar mais como pianista do que como compositor. Escrevera, apenas, algumas composições para piano. Lá, entretanto,é sobretudo ao estudo da Composição que êle se dedica; e ao do Órgão, pois Miguéz o fizera titular dessa cadeira, no Instituto Nacional de Música. Partindo para a Alemanha, matricula-se na Akademische Meister Schuile, de Berlim, a fim de ouvir as lições de Heinrich von Herzogenberg. Havendo porém êsse grande professor deixado a cátedra, por motivos de doença, Nepomuceno ingressa no Stern'scher Conservatorium seguindo os cursos de Composição e Órgão de Arno Kleffel, e o de Piano de Heinrich Ehrlich." (Luiz Heitor, 150 Anos de Música no Brasil, Rio de Janeiro: José Olympio 1956,163)

À época dos estudos de Nepomuceno no Stern'scher Conservatorium, Arno Kleffel transferira-se há pouco de Colonia, onde vivera e atuar de 1886 a 1892, de modo que Nepomuceno foi um de seus primeiros alunos.

Nascido em Pößneck, a história de vida de Kleffel é marcada - assim como a do cearense Nepomuceno - pela passagem de um ambiente tradicional de província do Leste, onde destacou-se já em criança no acordeão, ao cosmopolitismo dos grandes centros.

O seu percurso de vida apresenta similaridades com o acima mencionado de Dorn, uma vez que estudou no conservatório de Leipzig, ganhou experiência nos países bálticos, onde foi regente da sociedade musical de Riga na década de sessenta e onde apresentou a sua ópera "Des Meermanns Harfe", em 1865. Como regente, atuou em diversas cidades alemãs, salientando-se as suas atividades como regente de óperas e de teatros do Leste, entre outras Stettin, Görlitz e Berlin. Entre 1873 e 1880 atuou no Friedrich-Wilhelmstädtisches Theater em Berlim, assim como em Magdeburg e Augsburg.

Em 1884, transferiu-se para Colonia, onde desenvolveu intensa atividade por muitos anos como regente e compositor. Como compositor, salientou-se com as suas obras para canto, criando acima de 150 canções para solo e obras corais, além de música de câmara e piano.

As suas atividades em Colonia foram interrompidas em 1892, quando transferiu-se a Berlin para atuar como professor de Teoria no Stern'sches Conservatorium. Logo após os anos de estudos de Nepomuceno, retornou a Colonia em 1894, assumindo o cargo de primeiro regente no Teatro municipal da cidade, atuando também como regente dos famosos concertos Gürzenich, ao lado de Franz Wüllner. Em 1904, voltaria a desempenhar atividades de docência em Berlin, sendo nomeado então Professor de Composição e diretor da Escola de Regência e; também foi mestre da sociedade de canto Stern'scher Gesangsverein e redator musical do Berliner Lokalanzeiger.

Embora caido no esquecimento, Kleffel foi renomado professor, compositor e regente na sua época, tendo desenvolvido diversificada e intensa atividade e a sua influência na formação de A. Nepomuceno não pode ser assim subestimada.

O seu nome, as suas composições e a sua atividade docente passam hoje a ser lembrados, uma vez que cada vez mais se revela o grande número de músicos de projeção de diferentes países que com êle obtiveram formação. Às vésperas do centenário de sua morte, em 2013, a ser recordado sobretudo na sua região natal, a Turíngia, intensificam-se trabalhos que procuram trazer à consciência o papel múltiplo que desempenhou e a sua obra composicional. Recordar o seu nome como um dos professores de Alberto Nepomuceno vem, assim, de encontro a esse interesse redespertado por Kleffel.

A atualidade dos estudos relativos à estadia de Nepomuceno em Berlim revela-se também nos trabalhos relativos ao acervo do Stern'sches Konservatorium conservado na Universität der Künste Berlin, em particular dos relatórios dos anos de 1889 a 1930, no contexto de um projeto de dissertação de Cordula Heymann-Wentzel sobre a história do conservatório e que levam à elaboração de um banco de dados divulgado eletronicamente.

Arno Kleffel como professor de Nepomuceno no Stern'sches Konservatorium de Berlim

Alberto Nepomuceno iniciou os seus estudos no Conservatório no dia primeiro de abril de 1892. Ainda que Kleffel atuava sobretudo como professor de teoria musical, era, como outros docentes da instituição, flexível nas suas atividades de ensino em correspondência a seus múltiplos talentos de instrumentista, compositor e regente. Passou, assim, a dar aulas de Composição e Órgão a Nepomuceno (Jahresbericht 1891/92, Jahresbericht 1892/93).

Não podendo estudar como pretendia na Escola de Mestres em composição da Academia de Berlim com Heinrich von Herzogenberg (1843-1900), inscrevendo-se no Stern'sches Konservatorium (hoje Universität der Künste Berlin), A. Nepomuceno passou de uma instituição de nível superior a uma escola primordialmente voltada ao ensino musical mais amplo, de diferentes níveis, sujeita como outros estabelecimentos particulares às necessidades e exigências econômicas e de projeção.

O Stern'sches Konservatorium era um dos mais renomados estabelecimentos de ensino musical de uma cidade que era marcada pelas suas muitas escolas de música, surgindo como uma "conservatoriópolis" alemã.

Nepomuceno esteve nessa instituição em época que se encontrava em pleno desenvolvimento, que se mantinha sem subsídios governamentais através de grande número de alunos, atraídos pelo fato de oferecer ensino musical de alto nível qualitativo e pelo renome de seus professores.

O conservatório Stern testemunha a extraordinária importância das atividades de músicos judeus na vida musical de Berlim da época. Co-fundado em 1850, como Escola de Música para Canto, Piano e Composição por Julius (Jesaja Isaak) Stern (1820-1883), este Städtisches Konservatorium für Musik in Berlin passou logo a ser por só por êle dirigido, sendo assim anterior à Königlich Akademischen Hochschule für ausübende Tonkunst, fundada em 1869. Stern, que havia estudado em Paris, onde recebeu o apoio de Giacomo Meyerbeer (1791-1864), fundara a Sing-Akademie zu Berlin, com a qual apresentou sobretudo obras de F. Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) e projetara-se como regente do coro da Sinagoga da comunidade reformada sob o rabino Samuel Holdheim (1809-1847, o que indica a proximidade de suas atividades ao movimento reformador do progressismo judaico alemão. Elisabeth Meyer (1831-1919), a sua esposa, era filha de importante comerciante de Berlim, irmão da cantora Jenny Meyer (1834-1894), diretora do conservatório à época dos estudos de Nepomuceno (1888-1894).

Entre os colegas de Nepomuceno nas classes de Kleffel salientam-se os nomes de Bruno Schlesinger (Bruno Walter 1876-1962), Anton Wilhelm Leupold (1868-1940) e Wilhelm Lüdecke (1868-1938) ao lado de Paul Ziehm, Karl Geräusser e August Kästner.

Atenção particular merecem neste contexto os estudantes nórdicos entre os colegas de Nepomuceno, entre outros Ernst Mielck (1877-1899), da Finlândia, assim como o norueguês Haakon Zapfke, cujo nome vincula-se a importante editora musical da Noruega: Christiana. O seu irmão, Haakon Ludwig Zapfke (1868-1908), renomado arquiteto, encontrava-se em Berlim nessa época como hospitante da Real Escola Técnica Superior de Charlottenburg. Em Berlim, Nepomuceno chegou a escrever  canções com texto em sueco (Dromd Lycka, 1893; Blomma, 1893) e para coro masculino a capela, em alemão, Zwei Brüder (Heinrich Heine, 1892). O nome de Heine surge também na sua canção "Sonhei", op. 19, com texto em alemão e em português.

Blom, Canto Nacional da Noruega. Arquivo I.S.M.P.S.

De uma fotografia, pode-se registrar o considerável número de estudantes brasileiros que se encontravam em Berlin em 1892, entre êles Silvio Deolindo Froes (http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Deolindo-Froes.html),  Euclides Roxo, Felix Otero, Arthur Mendonça, Francisco Fajardo. (Sérgio Alvim Correa, Alberto Nepomuceno: Catálogo Geral, Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional de Música/Projeto Memória Musical Brasileira 1985)

Orientação recebida por Nepomuceno no estudo de Composição com Kleffel

Para conhecer-se a orientação recebida por A. Nepomuceno em Composição no Conservatório, surge como pressuposto considerar a formação e a própria obra criadora de Kleffel.

O fato de Nepomuceno ter-se inscrito no Conservatório Stein pode ser explicado pela orientação por êle procurada, o que também testemunha as suas tendências estéticas e culturais. Kleffel havia estudado no Conservatório de Leipzig, tendo sido aluno particular de Moritz Hauptmann (1792-1868). Como mencionado, se Nepomuceno não podia estudar como desejara com Heinrich von Herzogenberg  na tradição da Associação Bach de Leipzig (Bach-Verein), fundada em 1874 e vinculada e.o. ao nome do biógrafo de Bach Philipp Spitta (1841-1894), encontrou até certo ponto um substituto em Kleffel, por este remontar, na sua formação a Moritz Hauptmann e à Sociedade Bach (Bach-Gesellschaft). (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Nepomuceno-Christian-Capellen.html)

Observando-se, porém, a obra composicional de Kleffel, constata-se o seu interesse por expressões culturais dos diferentes povos e de tradições populares alemãs. Kleffel se insere nessas suas obras como próximo à corrente literária de valorização da poesia dos povos de um Johann Gottfried Herder (1744-1803) e do estudo de estórias e lendas populares, cujos maiores representantes foram Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859).

Exemplos desse interesse de Kleffel e que o insere em tendências romântico-realistas são as suas cenas de Genre (Genrebilder, Ein Kinderfest), as suas lendas e contos de flores (Märchen und Blumenerzählungen), as suas canções espanholas e romances (Spanische Lieder und Romanzen), os seus cantos da Terra Natal e do Estrangeiro (Aus Heimat und Fremde), as suas Danças Folclóricas para piano a quatro mãos (Volkstänze für das Pianoforte zu vier Händen), série na qual Kleffel considera melodias russas, rumenas, ciganas, húngaras, boêmias, escocesas, polonesas, incluindo também uma dinamarquesa e algumas norueguesas, entre elas uma dança nórdica e um canto pastoral. Muitas de suas obras foram amplamente divulgadas também nas Américas através de edições Ricordi e Lemoine.

Indicativo do papel desempenhado por concepções nacionais em Nepomuceno à época de sua estadia em Berlim é o seu Quarteto de Cordas N° 3, que posteriormente passou a ser designado como "brasileiro". Nos mesmos anos o compositor, dedicando-se ao exercício de formas clássicas da tradição acadêmica escrevia uma sonata: a Sonata para piano em fá menor.

Um parecer ou carta de recomendação final do Conservatório, expedido a 21 de março de 1894, assinado pela diretora Jenny Meyer e pelo Colégio de docentes do Conservatório, entre êle os seus professores H., Ehrlich e Arno Kieffer, designado como mestre-capela, possibilita, também nas suas entrelinhas, reconhecer o grau de apreciação de seus professores :

"O Sr. Alberto Nepomuceno do Ceará, Brasil, frequentou o Conservatório de 1 de abril 1892 até agora. O tocar piano do Sr. Nepomuceno testemunha formação musical, correta concepcão e calor de sentimento. Quanto à técnica, êle demonstrou muito bons progressos nos últimos tempos, de modo que também nessa direção espera-se sucessos de aplicação. Durante dois anos, com breves interrupções, tomou êle liçøes em Composição e ca. um ano e meio em órgão. Durante esse tempo, mostrou-se ser um temperamento artístico diligente, com desejo de progredir e bem talentoso. No orgão, nesse relativamente curto espaço de tempo, adquiriu um notável desenvoltura e capacidade, de modo que já está em condições de vencer perfeitamente obras organísticas bastante difíceis como a Fuga de Schumann sôbre o nome Bach, assim como a grande Toccata em re menor de Sebastian Bach. Como compositor, Nepomuceno possui uma fantasia viva, capacidade fácil de concepção e tem, apesar de todo o anelo de oferecer algo de novo e particular, conservou um sentido puro e autêntico pelo bem soar e segurança de forma, Uma Suite para Orquestra de Cordas, assim como um Scherzo sinfônico para grande orquestra, ambos sob a direção do próprio Sr. Nepomuceno, que foram executados nos exames públicos do Conservatório pela Orquestra Filarmônica de Berlim com grande sucesso, contém alguns traços tão sensíveis que se pode com boa razão esperar do compositor - a saber se conseguir intensificar as suas forças ainda mais - que consiga com o tempo conteúdo e oferecimentos ainda mais valiuosos. O Sr. Nepomuceno pode retornar à sua terra natal na consciência de ter empregado o seu tempo de Berlim no Conservatório aplicadamente, de ter bem aprendido algo de utilidade e que será acompanhado com os sinceros votos de bençãos da diretora do Conservatório, de seus professores e colegas." (Trad. do original publicado em Sérgio Alvim Correa, Alberto Nepomuceno: Catálogo Geral, Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional de Música/Projeto Memória Musical Brasileira 1985)

Movimento nacional nas suas inserções no Romantismo historicista

O ciclo de estudos desenvolvidos na Noruega nos anos 80 focalizou o papel desempenhado por Ole Bull no vir-a-ser do movimento nacional norueguês e da valorização da cultura tradiciona da Noruega. Salientou-se então que o estudo das relações entre Grieg e Nepomuceno não pode deixar de ser considerado aquele que "descobriu" Grieg e que fundamentou a presença norueguesa e os anelos nacionais noruegueses na vida musical internacional.

Como um dos grandes violinistas do século XIX, Ole Bull, entra na história do fenômeno da virtuosidade solística que marcou a vida de concertos dos grandes centros cosmopolitas do século XIX, contribuindo ao mesmo tempo ao estreitamento de relações internacionais e à representação nacional de seus países nas suas aspirações emancipadoras. Papel similar coube, no piano, ao virtuose-compositor Thomas Tellefsen (1823-1874).

A vida e a obra de Ole Bull assumem particular interesse numa História da Música de orientação cultural em contextos globais. Foi criança-prodígio, que com apenas oito anos já se encontrava em condições de ser primeiro-violina da orquestra de sua cidade natal, Bergen. De formação em grande parte auto-didática, foi expressão de uma tradição do cultivo do violino ou de instrumentos similares da cultura popular norueguesa.

Essa sua inserção na tradição popular, pode esclarecer a sua capacidade de improvisação, o seu empenho posterior em difundir e valorizar expressões musicais norueguesas, entre elas a própria "rabeca" popular de Hardanger, instrumento do qual tomou inspirações para realizar modificações no próprio violino. Já em 1849 realizou uma tournée juntamente com um executante de Hardingfele. Êle próprio afirmava ter aprendido a executar o violino com a própria terra norueguesa, a paisagem, as montanhas da Noruega.

O extraordinário desenvolvimento de Ole Bull pode também ser estudado sob o aspecto de processos culturais de ascensão social, sendo a música - em particular o domínio da técnica instrumental - meio de afirmação individual e familiar, colocado a serviço da afirmação de sua nação.

Como em outros casos similares, também a família de Ole Brull para êle previa um futuro profissional em área de prestígio e influência social, que no caso da Noruega residia sobretudo na Teologia e Direito. Interrompendo os seus estudos para dedicar-se à música - também procedimento constatável em situações sócio-culturais similares de outros contextos - dirigiu-se a Paris, onde entrou em contato com N. Paganini (1782-1840), que seria o seu modêlo. Em Paris entrou em contato com outros grandes virtuoses e compositores da época, entre êles F. Chopin (1810-1849), o grande impulsionador de Ole Bull.

Ole Bull pertence ao rol dos grandes instrumentistas-compositores europeus do século XIX que atuaram na América. Apresentando-se no Novo Mundo pela primeira vez em 1843, percorreu os EUA, o Canadá e Cuba, país que alcançaria projeção na história violinística internacional através de José White (1836-1918), o músico afrocubano que atuou longo tempo no Brasil. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/134/George-Enescu.html )

Pela formação de Ole Bull, inserida na tradição musical norueguesa, e como resultado do seu caminho no cenário internacional e das consequências transformações culturais por que passou, favorecendo impulsos de afirmação e diferenciação, compreende-se ter-se tornado cada vez mais promotor da cultura tradicional norueguesa.

Ole Bull desempenhou, assim, papel importante na história do movimento de emancipação e afirmação cultural do seu país, ainda então vinculado à Suécia (1814-1905), vivendo em época marcada por cantos patrióticos e pelas primeiras tentativas de criação de uma ópera nacional.

Um nome a ser também lembrado é o do compositor e comerciante marítimo Christian Blom (1782-1861), conhecido pelo canto patriótico "Filhos da Noruega", de 1821 (Sønner av Norge), vencedor de um concurso para a criação de um hino nacional e que se tornou a principal personalidade da cidade de Drammen, a terra natal de Christian Capellen, o professor de Nepomuceno.


O anelo de criação de uma arte musical erudita norueguesa baseada na música popular tradicional foi defendido sobretudo por Rikard Nordraak (1842-1866), compositor do hino nacional norueguês.

Bull contribuiu ao estabelecimento do primeiro teatro nacional norueguês na sua cidade natal, o Den Nationale Scene de Bergen. O seu significado para a história dos estudos do Folclore e da pesquisa da música folclórica  evidencia-se no fato de ter procurado criar, já nos anos 60 do século XIX, uma Academia de Música Folclórica Norueguesa. Dedicou-se ao registro de danças populares, reelaborando-as para as suas próprias composições e improvisações.

Para os Estudos Culturais em contextos gerais, sobretudo sob a perspectiva das relações transatlânticas, o significado de Ole Bull resulta do fato de ter passado grande parte dos últimos anos de sua vida nos Estados Unidos, mantendo na Noruega uma casa para temporadas de verão e que, hoje, constituiu o Museu de Lysoen.

O seu extremado amor à terra natal e à cultura tradicional norueguesa, compreensível na sua intensidade pela experiência transformatória por que passou na sua ascensão e projeção internacional em época marcada pelo Romantismo, alcançou dimensões visionárias e utópicas.

Chegou a fundar uma comunidadede imigrantes noruegueses em propriedade rural que adquiriu na Pennsylvania e que pensava fazer tornar-se o cerne de uma Nova Noruega, revivescendo românticamente uma grandeza do passado do país, agora livre num Novo Mundo.(Olav Gurvin, "Ole Bornemann Bull, Musik in Geschichte und Gegenwart 2, Kassel/Basel: Bärenreiter 1952, 463-465)

Grupo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Momentos do desenvolvimento das reflexões Brasil/Noruega: Música e Nacionalismo nas suas inserções românticas a partir de Alberto Nepomuceno (1864-1920) II: Desenvolvimento do ensino musical na Alemanha e o interesse pelas expressões tradicionais. Arno Kleffel (1840-1913) e Edvard Grieg (1843-1907)". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 139/3 (2012:5). http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Nepomuceno-Arno-Kleffel.html




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