Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©

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Fotos A.A.Bispo, Cabo Norte (2012) ©Arquivo A.B.E.









 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 139/4 (2012:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2922


A.B.E.


O Cabo Norte como objeto de Estudos Culturais
O fascínio da viagem à terra do Norte como fenômeno internacional

e elos da pesquisa nórdica com a história científica do Brasil
August Christoph Carl Vogt (1817-1895) e o círculo de Louis Agassiz (1807-1873)


Ciclo de estudos Noruega-Brasil 2012. 130 anos: Pedro II° e a pesquisa de luzes nórdicas de Sophus Tromholt (1851-1896)

 
Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©

O centro cultural mais a norte da Europa - e do mundo - encontra-se no Cabo Norte, um promontório da ilha norte-norueguesa (Finnmark) de Magerøya no mar ártico, a ca. de 520 quilômetros ao norte do círculo polar.

Se acidentes geográficos similares em outras regiões do mundo adquirem não raro significado simbólico-cultural por constituirem extremos de terra firme perante mares e oceanos e marcos de contornos a navegantes - como o Cabo de São Vicente em Portugal - e o Cabo Horn no sul da América do Sul (http://www.revista.brasil-europa.eu/112/Cabo-de-Hornos.htm), o Cabo Norte assume um significado especial devido ao sentido do Norte no edifício cultural de concepções e imagens do mundo de antiga proveniência.

A relevância cultural que adquire o Cabo Norte, e que o faz objeto da procura de visitantes de todo o mundo, é ela própria um fenômeno cultural.

Museu de Honningsvåg: História turística do Cabo Norte como objeto de estudos culturais

Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©
A história do Cabo Norte e o papel desempenhado pelas viagens marítimas ao Norte no desenvolvimento da navegação turística e cultural em contextos globais são estudados no Museu do Cabo Norte, o Nordkappmuset, em Honningsvåg, principal cidade e centro administrativo da região.

De 8 de Junho a 28 de Setembro de 2012, esse museu apresentou uma exposição dedicada ao tema "históría de um descobrimento turístico da Noruega", um evento que demonstra o interesse para os Estudos Culturais do fascínio exercido pelo Cabo Norte e suas consequências para o desenvolvimento da navegação, do turismo, da economia e da sociedade, não só da Noruega.

Embora não sendo o ponto mais a norte da Europa, este situado no arquipélago da Terra Franz-Josef com o cabo Fligely, e não sendo o Polo Norte, dele distante ainda 21000 quilômetros, e nem mesmo sendo o ponto mais extremo da ilha, que é o Knivskejellodden, dele próximo, foi procurado através dos séculos por viajantes, eruditos e por personalidades da história política, na sua maioria movidos pela ambição de percorrer a Europa até os seus extremos na expectativa de ali observar o sol da meia-noite no verão.

Do comércio às viagens de eruditos e de personalidades da vida política, o Cabo Norte desenvolveu-se no século XIX a local procurado por visitantes de círculos sociais abastados, adquirindo significado na história do turismo e da navegação de lazer.

Foi incluido no programa da primeira viagem de recreação do vapor "Príncipe Gustavo", de Hammerfest, em 1845. Viagens de grupos passaram a ser possibilitadas pela agência Cook, a partir de Londres, em 1875. A partir de 1893, a empresa noruega Hurtigrute passou a realizar viagens pelo litoral norueguês.

Significado do Cabo Norte para a Filatelia e história das comunicações

Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©
Um dos testemunhos do significado do Cabo Norte que relaciona idéias de audácia aventureira, de alcance de um dos objetivos de vida de viajante e imagens do Norte é a agência de correios que ali se encontra, e de onde os visitantes podem enviar cartões postais com o carimbo e até mesmo obter um "Diploma" que confirma terem estado no Cabo Norte.

Já o fato de existir um correio neste ponto avançado da Europa é de interesse histórico-cultural, em particular da história das comunicações. Remonta à criação de uma linha postal contornando o Cabo Norte em 1879; ali foi aberta uma agência de correios em 1898, um pavilhão de madeira de forma octogonal que passou a ser ponto de atração de visitantes, incluindo um balcão para servir champagne, uma prática que, introduzida pelo cientista August Christoph Carl Vogt (1817-1895), tornou-se tradição até hoje culturivada.

Uma das explicações desse significado cultural do Cabo Norte reside, pelo menos para as últimas décadas, no fato de poder ser alcançado por estradas, surgindo, assim, como ponto último de um caminho por terra em correspondência a antigas imagens de peregrinação. Representará, futuramente, o início do caminho europeu de longa distância para caminhantes(E1).

Iniciativas de fomento do Cabo Norte e criação de centro de acolhimento e informação

Esse projeto dá prosseguimento a iniciativas anteriores de desenvolvimento do Cabo Norte e que remontam aos anos 20. Já em 1927 fundou-se uma sociedade de benfeitorias (Nordkapps Vel AS) com o objetivo de preservar o ambiente e regulamentar o turismo. Em 1956, abriu-se a estrada de Honningsvåg ao Cabo, permitindo que este seja alcançado por veículos.

Em 1984, levantou-se um monumento da estrada do sol-da-meia-noite, criando-se o Club Real do Cabo Norte, que admite como membros aqueles que visitaram a região.

Até 1999, os veículos necessitavam passar do continente à ilha onde se situa o Cabo por ferry-boat, um obstáculo superado com a abertura do tunel do Cabo Norte.

Essa carga simbólica do Cabo Norte - uma "cultura do Cabo Norte" -, e a sua valorização e mesmo encenação
como ponto extremo da civilização podem ser constatadas em marcos e no edifício para visitantes que ali se encontram.
Esse centro, que dá prosseguimento à tradição do pavilhão octogonal dos correios e que sucedeu a um edifício construído em 1958, não oferece apenas infra-estrutura turística com lojas de souvenirs, cafés e restaurantes, mas também exposições sôbre a história do
Cabo Norte e de seus visitantes no decorrer dos séculos, um amplo auditório e uma capela. As exposições são acompanhadas por um filme especialmente produzido para a preparação dos visitantes.

Na exposição, lembra-se primeiramente que já há milênios a região foi habitada por homens da cultura Komsa, que viviam da caça e da pesca; também os samis (lapões) se encontram na área já há quase dois mil anos. No decorrer da Idade Média ali se assentaram noruegueses, datando as mais antigas fontes escritas da primeira metade do século XIV.

Em panoramas com encenações de momentos históricos, o centro oferece aos visitantes a possibilidade de conhecer os principais fatos da história do Cabo Norte de forma amena, mesmo lúdica, favorecendo atitudes empáticas na compreensão das difíceis circunstâncias do alcance do promontório no passado.

Representações da história: procura inglêsa do caminho à China pelo Norte

Um desses quadros mostra o alcance do Cabo Norte por um dos três navios inglêses que procuravam a passagem a Nordeste para a China em 1553.

Esse intento inglês do século XVI, época em que o caminho pelo sul, de contorno à África, encontrava-se dominado pelos portugueses, adquire significado como testemunho do interesse britânico no alcance do Extremo Oriente, fazendo recuar o início de processos que levaram à predominância britânica na região. (http://www.revista.brasil-europa.eu/137/China-Brasil.html

Divididos por uma tempestade, o Cabo foi passado pelo navio Edward Bonaventura, capitaneado por Richard Chancellor (+1556). Esse navio apenas alcançou a baía Dwina, mas entrou na história como um dos pioneiros na procura da passagem a Nordeste à outra parte do mundo. Supondo-se entrão que se tratava da ponta norte do continente europeu, recebeu o nome de Cabo Norte, dando origem assim uma idéia que, apesar de não correta, permanece até hoje.

Tendo sido recebido pelo Czar, o feito de Richard Chancellor deu início à companhia moscovita inglêsa que, posteriormente, desempenhou papel condutor na caça a baleias.

Bascos e holandeses em atividades baleeiras no Cabo Norte

A região possui uma história triste e questionável sob o ponto de vista humanitário e de proteção aos animais, pois tornou-se conhecida nos meios comerciais marítimos através de empreendimentos baleeiros promovidos por bascos e, a seguir, por holandeses e caçadores de outros povos.

As dimensões do mortanicídio cruel ali promovido levaram a proibições por parte do Govêrno da Dinamarca/Noruega. Essa época ficou marcada com uma gravura de Jan Huygen, de 1594.

O conhecimento do Cabo Norte era assim difundido em meios comerciais marítimos dos Países Baixos e, consequentemente, não podia deixar de ser conhecida no Brasil, cuja história também foi marcada em muitas regiões de suas costas por atividades baleeiras de alto grau depredatório e mesmo exterminador.

O Cabo Norte na literatura de viagens, em meios eruditos e políticos

Nos meios eruditos, o Cabo Norte passou a ser considerado a partir do relato do italiano Francesco Negri(1624-1698), um sacerdote de Ravenna que entrou na história das viagens e dos descobrimentos pelo feito audacioso de ali ter estado em 1664 ( Viaggio Settentrionale, 1700)

O Cabo Norte oferece um exemplo de como conhecimentos nascidos de empreendimentos comerciais marítimos, entrando na literatura de viagens e em meios de erudição, adquiriram significado em ideário político pela sua imagem de extremo Norte da Europa.

Testemunho desse interesse em alcançar o Cabo Norte é o fato de ali ter estado o príncipe Louis Philippe (1773-1850), em 1795, o futuro "Rei Cidadão" da Monarquia de Julho (1830-1848). Esse príncipe, que havia estado do lado dos revolucionários moderados e apoiado a Revolução, cognominando-se, como o seu pai, de "Philippe Égalité", serviu na Holanda, onde provavelmente aprofundou o interesse em conhecer a Lapônia já despertado na Suíça.

Obrigado a fugir com o fracasso do plano de derrubada do sistema instaurado na França, viveu muitos anos na Suíça, acalentando a idéia de transferir-se à América. Realizou longas viagens pela Escandinávia, atingindo então o Cabo Norte, apresentando-se como pesquisador suíço, um feito que vinculou esse ponto norte da Europa à história cultural dos Orléans.

Em 1873, o rei Oscar II (1829-1907) da Noruega e Suécia ali esteve, erigindo um marco simbólico como sinal de que o reino da Noruega alcançava até esse ponto. Segundo as palavras do monarca, esse marco não devia ser visto como ornamento transitório, mas sim como um sinal solene de que a soberania norueguesa chegava até esse ponto extremo da Europa habitada.


O Cabo Norte e o Oriente. A Tailândia no fim do "mundo verde"

Quem visite o centro do Cabo Norte surpreende-se em nele encontrar um museu dedicado à Tailândia (!). Trata-se de uma sala com retratos, fotografias e objetos que lembram a visita do rei Chulalongkorn, que ali esteve em 1907. (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Amizade-Siao-USA.html)

Essa visita do rei siamês, que entrou na história pela sua seu erudição e por assuntos europeus, demonstra a irradiação da imagem do Cabo Norte em regiões extra-européias. A sua estada foi perenizada com a sua assinatura, gravada em pedra.

Entre os objetos apresentados nessa sala-museu do centro de acolhimento do Cabo Norte inclui-se a fotografia de um cartão postal enviado ao príncipe Damrong por um dos serviçais civis e no qual pode-se ver o rei chegando ao Cabo Norte, designado como "fim do mundo verde". Esse museu real tailandês foi presenteado à Noruega pela princesa Maha Chakri Sirinhorn (*1955), em 1989.


O Cabo Norte na história militar e política do século XX: a Batalha do Cabo Norte

No centro do Cabo Norte dá-se particular atenção à história do Cabo Norte à luz dos acontecimentos da Segunda Guerra. Devido à sua posição estratégica, desempenhou papel crucial no combate dos alemães aos convois aliados em direção ao Noroeste da Rússia. Uma placa lembra que a 90 milhas a noroeste, na noite ártica de 26 de dezembro de 1943, a frota britânica, inclundo Hnoms Stord, combateu e afundou o cruzador de guerra Schapenhorst.

O Cabo Norte na história das ciências no seu significado para o Brasil

Entre os cientistas que visitaram o Cabo Norte, encontra-se um nome que indica um contexto científico-natural que relaciona o extremo Norte da Europa e o Brasil. August Christoph Carl Vogt.  Nascido na cidade alemã de Giessen e tendo emigrado para a Suíça, desenvolveu trabalhos juntamente com Louis Agassiz (1807-1873) nas áreas de estudos da Zoologia e Paleontologia de Peixes e Glaciologia. Louis Agassiz é vulto de particular relêvo na História das Ciências e do pensamento científico relacionado com o Brasil  (http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Peabody-Museum.html). Diferentemente de Agassiz, porém, Carl Vogt passou a defender a teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882).

Nesses elos de Vogt com a esfera científica de Agassiz e Darwin, evidencia-se o significado do Cabo Norte para a história das ciências sob a perspectiva do Brasil.(http://www.revista.brasil-europa.eu/119/Indice119.html)

Ocupando-se com questões de evolução, na qual defendia a origem poligênica do homem em diferentes regiões da terra, Vogt entrou necessariamente no debate religioso relacionado com a Criação, entrando na história como representante do materialismo científico e agnosticismo. (Veja e.o. Frederick Gregory, Scientific Materialism in Nineteenth Century Germany, Berlin 1977),

No mesmo ano (1863) que publicou as suas aulas sôbre o Homem, a sua posição na Criação e na História da terra (Vorlesungen über den Menschen, seine Stellung in der Schöpfung und in der Geschichte der Erde), surgiu o relato de sua viagem ao Cabo do Norte (Nord-Fahrt entlang der Norwegischen Küste, nach dem Nordkap, den Inseln Jan Mayen und Island).

Grupo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo



Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "O Cabo Norte como objeto de Estudos Culturais. O fascínio da viagem à terra do Norte como fenômeno internacionais e elos da pesquisa nórdica com a história científica do Brasil". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 139/4 (2012:5). http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Cabo-Norte.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.