Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©

Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©
Fotos A.A.Bispo, Cabo Norte (2012) ©Arquivo A.B.E.











 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 139/5 (2012:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização de estudos de processos culturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência -

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2923


A.B.E.


A presença do Brasil no Cabo Norte:
O Cristo Redentor do Rio de Janeiro
na expressão infantil
de visão do mundo logocêntrica

25 anos da idealização do "The Children of the Earth Prize", símbolo da co-operação, amizade, esperança e felicidade para além de fronteiras

 
Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©
O Cabo Norte, marcado pela tradição de ser o ponto extremo a Norte da Europa habitada, da cultura européia e da "terra verde", assim como de imagens e associações de remotas origens relacionadas com o Norte na visão do mundo e do homem, é procurado por grande número de visitantes de todas as partes do globo.


O Cabo Norte representa, assim, um objeto de peregrinação, ainda que de princípio não-religiosa, ao fim extremo de caminhos daqueles que procuram avistar a luz que nunca se põe: um intenso turismo que, para ser explicado, exige a consideração de fatores culturais.


Não tanto o Cabo em si, mas as águas que dele se descortinam do Mar Nórdico, os fenômenos de luz nos seus céus e o sol no seu horizonte é o determina o complexo de sentidos que explicam o fascínio que exerce. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Cabo-Norte.html)


Ainda que marcado pela internacionalidade causada pela diferente proveniência de seus visitantes, a esfera do mundo levantada no seu plateau traz à consciência que aqui se trata sobretudo de um local que diz respeito ao global e à globalidade, sendo sob esses conceitos que a sua imagem deve ser considerada.


Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©

O globo no Cabo Norte - o Norte da terra e o Norte do globo celestial em visão geocêntrica


Com a sua estrutura marcada pelos círculos do equador, latitudinais e longitudinais, a esfera ali levantada em 1978 representa de forma estilizada o globo terráqueo, podendo ser visto como uma representação do mundo e do mundialismo.


Uma aproximação mais sensível, porém, ultrapassa essa leitura na qual o emblema do Cabo Norte surge prosaicamente como reprodução de um globo escolar em dimensões maiores.


O  pesquisador familiarizado com a linguagem simbólica portuguesa e brasileira, em particular daquela do passado, não pode deixar de lembrar-se da esfera armilar ao ver no globo do Cabo Norte.


Escolhida há décadas para constituir o núcleo do emblema da A.B.E., a esfera armilar vem sendo considerada sob diferentes aspectos, extrapolando-se explicações históricas mais imediatas de seu uso na emblemática de Portugal e do Brasil. Mais do que à forma da terra e à geografia, o monumento dirige a atenção do observador assim sensibilizado a antigas concepções astronômicas, ou melhor, de compreensão geocêntrica do mundo.


O centro da esfera celeste não é o centro do planeta, mas sim a terra no centro do cosmo, cortada pelo eixo que liga os polos, sendo a esfera marcada pela faixa enviezada da Eclíptica e que a configura em duas regiões, uma superior e uma inferior.


Pela posição da terra no seu centro, essa compreensão do cosmos é geocêntrica, ela é, porém, também antropocêntrica, pois corresponde à visão que o homem tem dos céus na realidade da sua existência terrena. É dessa posição centralizada que reconhece empiricamente ordenações nos céus, a Eclíptica enviezada com o Zodíaco, a movimentação do sol, da lua e de outros planetas, o girar do todo ao redor de um eixo que fura a esfera no seu polo, o ponto imutável.


Servindo este à orientação no mundo marcado pelo movimento, determina este uma norteação do todo: a posição geocêntrica tem por consequência aqui uma valorização axial e uma orientação polar.


Como decorrente do ponto de vista do homem na sua posição existencial, essa visão do céus relaciona-se com outras ordenações e princípios que pode observar e deduzir da realidade experimentada, e.o. com o ciclo anual e suas implicações na vida agrícola e animal.


Correspondendo a ciclos de vida, evidente no mundo vegetativo, do semear ao crescimento, à frutificação e ao corte, pode ser vista também em correspondência ao ciclo de vida humana, do nascer ao morrer.


As relações entre o geocentrismo e o antropocentrismo levam, assim, a uma visão antropocêntrica do todo, a uma antropomorfização da imagem do universo. O sistema construído da visão do mundo, considerado como revelação de ordenações, leis e princípios, passa a ser compreendido como determinante da vida e sinalizador de realidades não perceptíveis pelos sentidos. O geocentrismo, o antropocentrismo e a antropomorfização do cosmos condicionam a cultura, as suas concepções e expressões.


O emprêgo da esfera armilar no núcleo do emblema da A.B.E. indica, neste sentido, a necessidade que se impõe aos Estudos Culturas de considerar expressões culturais, sobretudo aquelas transmitidas pela tradição, nas suas relações com um complexo sistêmico de ordenação da visão do mundo e do homem de fundamentação antropocêntrica. Esse intento, porém, exigindo o reconhecimento dessa perspectivação, já pressupõe uma atitude distanciada com relação a ela, ou seja, contribui à um processo de superação do antropocentrismo que ainda predomina em muitas áreas do saber, em particular nas disciplinas culturais e nas religiões.


O objetivo final surge, nesse sentido, como aquele de contribuir ao desenvolvimento de uma Ciência da Cultura não-antropocêntrica, superando normas éticas que o homem a si próprio se permite com base no sistema e que levam a um desrespeito para com outros seres viventes.


Significado religioso do Norte na sua referenciação com a narrativa bíblica


Uma aproximação à compreensão dos significados religiosos do Norte da esfera celestial da visão geocêntrica do mundo pode ser procurada a partir da sua função orientadora. Representando o Polo o único ponto fixo nos céus e num mundo onde tudo se movimenta, é segundo êle que o Homem se norteia.


Sobretudo para os navegantes, essa norteação era fundamental para o bom sucesso das viagens e para o retorno à terra de origem. Esse único ponto imóvel dos céus, não se movendo e não sendo movimentado, surge como Aquele que não se movimenta e tudo movimenta. Entendendo-se a vida como uma viagem, essa norteação passa a ser aplicada ao próprio Homem.


Esse ponto imóvel, porém, não sendo visível ou identificável, obriga aquele que procura nortear-se orientar-se segundo estrêlas que dele se encontram mais próximas, sobretudo pela Estrêla do Norte, na constelação da Ursa Menor e que, portanto, já indica uma realidade do que se move. A observação do ciclo anual da vida natural revela a existência de um movimento ascensional e que é vista em correspondência a uma orientação ao Norte na linguagem das constelações.


Foto A.A.Bispo, Cabo Norte©
A capela mais próxima ao extremo Norte do mundo


Imagens de remotas proveniências transmitidas pela tradição permanecem vigentes no Cabo Norte, isso indica o fato de ter-se incluído no projeto do centro de visitantes uma capela, que com isso se torna a capela mais ao Norte da terra.


Partiu-se da constatação de que há visitantes que fazem essa peregrinação - em princípio secular - por motivos religiosos, ainda que vagos ou não-refletidos, ou que, ao atingir esse ponto extremo alcançável por terra, à frente do mar ártico, impressionados com os fenômenos luminosos dos céus e com o sol da meia-noite, sentem-se tomados por sentimentos
religiosos, de gratidão pela realização da viagem ou por uma natureza numinosa do local, a êle emprestado por imagens transmitidas pela tradição cultural.


O projeto da instalação da capela foi resultado de uma ação conjunta entre o Órgão Estatal de Assuntos Eclesiais da Noruega e artistas e artesãos noruegueses.


Sendo ecumênica, decidiu-se empregar apenas três imagens no seu interior, escolhendo-se aqueles que, segundo os responsáveis, seriam as únicos aceitas por todas as igrejas cristãs: Cristo, cruz e pomba. A orientação do projeto é, assim, cristocêntrica, e o visitante, vendo as águas do mar nórdico, onde se encontra não longinquamente o Polo, ao ponto imóvel, deve ter a sua mente dirigida ao Logos e, através dele, ao Pai. A concepção trinitária do projeto ecumênico manifesta-se na pomba, símbolo do Espírito Santo. Ao peregrino, que tomou a si a longa viagem ao extremo Norte do globo, traz á consciência um princípio ascensional cujos vestígios podem ser lidos na natureza.


A música que ali é ouvida foi especialmente composta por Jan Garbarek, um dos mais renomados músicos de jazz da Noruega.



In Christ there is no east or west,

In him no south or north,

But one great fellowship of love

Throughout the whole wide earth.


In him shall true hearts ev'rywhere

Their high communion find;

His service is the golden cord

Close binding all mankind.


Join hands then, brothers of the faith,

What e'er your race may be.

Who serves my Father as the son

Is surely kin to me.


In Christ now meet both east and west,

In him meet south and north;

All Christly souls are one in him

Throughout the whole wide earth.



Dedicação da capela do extremo Norte a S. João Batista


Sob a perspectiva dos Estudos Culturais, surge como particularmente relevante o fato da capela mais a Norte da terra ser dedicada a São João Batista. Esse significado justifica-se pelo fato de ter sido a escolha do Precursor fundamentada na tradição popular e esta apresentar características e significados similares em diferentes regiões do mundo, conhecida em todos os países de tradição cristã de onde se originam os visitantes do Cabo Norte.


A escolha de S. João Batista é explicitamente fundamentada no fato de ser a festa de seu nascimento celebrada logo após o solstício de verão do Hemisfério Norte. Consequentemente, a capela foi consagrada no dia 24 de junho de 1990.


Esse período do ano, caracterizado pela passagem da primavera ao verão e pelos dias mais longos e luminosos, assume especial importância nessa esfera nórdica do globo, apresentando-se em todo o seu esplendor. Em mundo marcado pelas trevas das longas noites e pelo frio, os meses de verão representam o ápice da luminosidade, os dia extraordináriamente longos e sol visível durante 24 horas, podendo o homem que se encontra no extremo ponto alcançável do Cabo Norte ver os raios do sol no horizonte das águas à meia-noite. O Cabo Norte oferece, assim, condições particularmente favoráveis para o reconhecimento de um princípio da luz da luz,   causa da luminosidade da atmosfera e dos dias, irradiado pelo sol que se levanta das águas.


Também para os lapões era a festa de São João uma das mais importantes do ciclo anual, e também entre esses povos indígenas do norte eram caracterizadas por grandes fogueiras. Ela caia no período de peregrinação do interior ao litoral, iniciado em junho. Nesse período, a sua alimentação era extremamente simples e reduzida, pouco alimentando-se de carne, dedicando-se apenas a aumentar o seu rebanho, ocasião na qual os animais eram banhados. Nessa época do ano, os frutos portadores de sementes, as amoras de todo tipo assumiam particular significado na alimentação, sendo misturadas ao leite. Nessas regiões nórdicas, nas quais a terra permanece gélida por vezes até o início de junho, iniciando-se o inverno muito cedo, a época de colheita de frutos é curta, e o corte de feno e de cereais domina todo os aspectos da vida até fins de agosto e começo de setembro.


Os costumes de consumo e mistura de frutos em bebidas, não justificáveis apenas sob o aspecto nutricional, devem ser compreendidos também o sentido figurado dos frutos e grãos, uma vez que surgem como manifestação de um princípio vital até então não visível nos troncos dos arbustos, e que trazem à luz a força das sementes. Esse sentido religioso dos costumes lapões pode explicar também o grande consumo de bebidas alcoólicas - espirituosas - nesse período do ano, o que, mal compreendido pelos observadores, marcaram negativamente a imagem dos lapões.


Na contemplação da natureza, o homem pode ler, no despontar dos frutos e dos cereais no verão, sinais da força da semente na terra, referenciando-o segundo as características do próprio sistema derivado da visão geocêntrico-antropocêntrica com o Homem. Os frutos correspondem aqui ao conteúdo das palavras e aos atos do Homem e que manifestam a força no seu interior. Compreende-se, assim, o significado do paradigma do Precursor, do pregador, daquele que já antes do nascimento era repleto do Espírito Santo nas suas relações com a cultura nórdica e com as tradições dos povos manifestado na capela do Cabo Norte.



"The Children of the Earth Prize" e a presença do Brasil no Cabo Norte


As dimensões internacionais e o significado mundial do Cabo Norte são renovados anualmente em Junho com a entrega do prêmio "The Children of the Earth Prize" a uma personalidade ou projeto dedicados ao amparo de crianças necessitadas no mundo. Os premiados visitam as escolas da região e comentam as suas obras.


Para além dos muitos participantes de diferentes países, a solenidade é comemorada com a participação de ca. 500 crianças da região. Nessa ocasião, os visitantes e os participantes visitam a área com obras de arte criadas por crianças de várias nações em 1989.


O projeto foi idealizado por Simon Flem Devold, em 1987. Com o apoio da Sociedade para o Bem do Cabo Norte (Nordkapps Vel), sete crianças de diferentes nações puderam viajar ao Cabo Norte em 1988, onde permaneceram uma semana no mês de junho. Em conjunto criaram o monumento Barn Av jorden - Crianças da terra", e que surge como símbolo de cooperação, amizade, esperança e alegria.


Ao lado de Jasmin, Dar-es-Salaam, Tanzania, de Ayumi, Kawasaki, Japão, Sithidej, Bangkok, Tailândia, Gloria, Jesi, Itália, Anton, Murmansk, Rússia (então União Soviética), e Louise, New York, USA, participou o menino Rafael, do Rio de Janeiro. As crianças realizaram as suas obras em argila.


Estas foram utilizadas para a confecção de relêvos em bronze que receberam, no ano seguinte, uma moldura de granito. O conjunto foi ordenado em espaço na área livre não distante do centro de visitantes. Com a ereção de uma estátua de título "Mãe e Criança", de Eva Rybakken, criou-se uma unidade no conjunto.


Ativiidade idealista de Inger Harrington no âmbito das relações Noruega/Brasil


Um projeto referente ao Brasil foi o primeiro a receber o prêmio, em 1989: o de Inger Harrington, destinado ao amparo de crianças de rua em São Paulo. Seguiram-se prêmios a uma colaboradora da Mãe Teresa para um projeto na Etiópia (1990), a um projeto norueguês para Mauritius (1991), outro para crianças de fugitivos em Zambia (1992) e, a seguir, para um programa da UNICEF a favor de crianças feridas em guerra na ex-Iugoslávia (1993).


Em 1995, o Brasil foi novamente lembrado com o projeto de Inger Harrington para crianças de rua.


Seguiram-se prêmios a projetos e a idealistas dedicados à ajuda de crianças desabrigadas em Bucareste (1996), de crianças no Afganistão (1997), de crianças pobres em Manila (1998), de aldeias SOS de crianças na Noruega e na Rússia (1999), de crianças em favelas de Johannesburg (2000), de crianças da península Kola, Noruega (2001), de crianças deficientes em Kaliningrad (2003), de escolares necessitados em Haiti (2004), de crianças de favelas de Soweto (2006), de órfãos na Guatemala (2007), de crianças pobres em Zimbabwe (2008), e de crianças e mães que vivem em florestas no Peru (2009).



A obra de Rafael no conjunto do monumento "Crianças da terra", surge entre aquelas da Tanzania e do Japão. O motivo escolhido por Rafael reproduz de forma estilizada o Cristo Redentor.



Ainda que reproduzindo o monumento do Corcovado, o menino do Rio de Janeiro criou com a sua contribuição uma obra particularmente adequada ao complexo de imagens que se relaciona com o Cabo Norte.


Motivos de conotações espirituais podem ser também percebidos em contribuições de outros países, salientando-se representações do sol e da pomba. Nenhuma outra contribuição revela porém de forma tão evidente a referenciação cristã do complexo de significados relacionado com o extremo norte do globo.


Essa contribuição do menino Rafael demonstra a vigência de um edifício cultural de remotas origens, derivado da empiria, da observação do mundo visível e da leitura de seus sinais, da experiência existencial do homem, e, assim, antropocêntrico, referenciado historicamente a posteriori segundo narrativas das Escrituras no decorrer da Cristianização.


O edifício de ordenação de imagens e suas expressões culturais revela um ponto de perspectiva do Hemisfério Norte, uma visão de regiões acima do Equador. Esse edifício, sobretudo através do Cristianismo levado pela colonização e missionação, expandiu-se a outras regiões do globo, ainda que a questão da existência ou não de edifícios correspondentes em culturas pré-cristãs de regiões do Hemisfério Sul, explicáveis possivelmente através de migrações continue a representar importante tarefa da pesquisa.


Para o menino do Rio de Janeiro, a festa de São João do dia 24 de Junho não cai no verão, mas sim no inverno. Ela não ocorre à época do solstício de verão, mas sim à do solstício de inverno. Os dias não se tornam mais longos, mas mais curtos. A natureza não revela frutos e cereais como ápice no verão de uma força proveniente das sementes, o que torna menos imediatamente compreensíveis as fogueiras, o consumo de milho ou de bebidas alcoólicas como o "quentão".


A natureza dessa época do ano não aponta - no sentido figurado dos frutos -, tal como o Precursor, ao Logos, à luz da luz e, através dele, ao ponto imóvel no todo em movimento. Os antigos navegantes não podiam aqui orientar-se no Hemisfério Sul pela Estrela do Norte, da constelação da Ursa menor, indicadora desse ponto imóvel, sendo a grande marca nos céus o Cruzeiro do Sul na constelação do Centauro (!!!), imagem de conotações negativas no conjunto das imagens provenientes da Antiguidade.


Apesar dessa impossibilidade de ler sinais no mundo visível que o rodeia, o menino Rafael criou, no Cabo Norte, uma obra que revela mais do que qualquer outra o significado das águas ao norte do círculo polar Norte no edifício de imagens que corresponde à visão do mundo logocêntrica. Deu, com a sua expressão, um testemunho da vigência de um edifício cultural de remotas origens para além do de suas relações com o mundo perceptível pelos sentidos, um depoimento do viver de forma mais intensa do que os seus companheiros do Norte em mundo cultural, imerso em sistema de imagens e sentidos que não podem ser imediatamente abstraído,s da percepção sensível do mundo natural.


Esse deslocamento do edíficio imagológico relativamente ao perceptível no mundo dos sentidos que lhe deu origem pode explicar a força de sua vigência no Sul, o fato de manter-se, em situações como a do Brasil expressões culturais já enfraquecidas ou há muito desaparecidas em países do Norte. Por outro lado, essa situação resultante do deslocamento do edifício cultural condiciona a uma desvalorização da leitura de sinais da Natureza, pois nela o Homem já não pode ler os sentidos transmitidos pela tradição.


A defasagem entre sentidos a serem lidos no mundo perceptível pelos sentidos e o sistema de imagens e concepções leva à perda de significado da leitura da Natureza e, por consequência, da sua observação e contemplação. Esse distúrbio das relações Cultura/Natureza surge, aqui, como um dos principais problemas resultantes da colonização e da missionação de países do Hemisfério Sul e uma das principais tarefas impostas aos Estudos Culturais conscientes de suas funções esclarecedoras. (Veja http://www.revista.brasil-europa.eu/138/Estudos-e-Esclarecimento.html)


Essa situação de incoerência entre o mundo perceptível pelos sentidos e o edifício cultural traz em si riscos não apenas quanto às relações do Homem com a Natureza, como também com a Cultura.


A perda de significado da leitura da Natureza, que passa a ser desprovida de sentidos, com as suas consequências para o meio ambiente e a preservação do patrimônio natural representa apenas um desses riscos.


O outro risco diz respeito a um papel de reafirmação retrógrada de um edifício da visão do mundo geocêntrica através de expressões e imagens que permaneceram com mais força em regiões submetidas à abstração de suas relações com o mundo natural. Esses países, assim, podem tornar-se agentes de tendências obscurantistas, prejudiciais ao desenvolvimento do Homem na procura de Conhecimento.


O caminho a ser seguido por Estudos Culturais é o de analisar e trazer à consciência esses múltiplos problemas, pré-condição para a procura de soluções. Assim o fazendo, revelando os condicionamentos e as perspectivações do edifício cultural nas suas relações com a Natureza a partir de determinado posicionamento do observador e os problemas derivados de seu deslocamento, relativa o próprio edifício.


O observador coloca-se à distância do edifício cultural geocêntrico que estuda, contribuindo assim ao desenvolvimento de Estudos Culturais de direcionamento científico empenhados numa necessária superação das delimitações causadas pela visão antropocêntrica.


A análise à distância do edifício cultural dessa visão do mundo e do próprio homem revela o seu significado. Considerando-se que o mesmo foi resultante da necessidade de orientação do Homem, guiando-se pelo ponto fixo do polo, conclui-se que o mesmo representa um sistema que apenas possui a sua validade de forma relativa segundo as condições que o geraram.


Grupo de estudos sob a direção de

Antonio Alexandre Bispo




Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "A presença do Brasil no Cabo Norte: O Cristo Redentor do Rio de Janeiro na expressão infantil de visão do mundo logocêntrica". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 139/ (2012:5). http://www.revista.brasil-europa.eu/139/Brasil-no-Cabo-Norte.html




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.