Tailandia-Vietnam-Malasia-Brasil. Revista BRASIL-EUROPA 135/1. Bispo, A.A. (Ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.

Bangkok. Ciclo Tailandia-Brasil A.B.E.


Fotos A.A.Bispo
Título e coluna: Bangkok
no texto: Bangkok, Saigon, Penang
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 135/1 (2012:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2842


Academia Brasil-Europa

Tema em debate


Tailândia, Vietnam, Malásia e Brasil
Internacionalizações e ciência em processos político-culturais globais
Sob o signo da amizade: 500 anos de elos do Sião com Portugal
no seu significado para estudos euro-brasileiros


Ciclos de estudos da A.B.E. no Sudeste da Ásia 2011
500 anos da conquista de Malaca por A. de Albuquerque e 500 anos da presença oficial portuguesa na Tailândia

 
Bandeiras Tailândia

O presente número da Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira abre o ano de 2012 apresentando relatos de trabalhos desenvolvidos em 2011 no Sudeste Asiático, mais especificamente na Tailândia, no Vietnam e na Malásia.


Cartazes com o título de Portugal-Thailand - 500 Years of Friendship, distribuidos em vários pontos de Bangkok, chamaram a atenção dos observadores não apenas para o programa de eventos realizado por fundações, órgãos e instituições portuguesas para a comemoração da passagem dos 500 anos da chegada dos portugueses ao antigo Sião, em 1511, como também para a característica principal dessas relações, ou seja, a da amizade. Raros são os contextos em que a história das relações entre países extra-europeus e europeus se apresenta de forma tão pouco obscurecida de forma fundamental por graves conflitos, tensões e inimizades como aquela entre os portugueses e o antigo reino do Sião.


Portugal-Thailand 500 years. Cartaz
Essa antiga história de contatos e desenvolvimentos luso-tailandeses e o presente de uma comunidade de ascendência portuguesa na Tailândia representam sob diferentes aspectos um significativo e relevante campo de pesquisas e reflexões para estudos de processos culturais em relações internacionais.


Essa história de relações e a constância de elos de amizade nela reconhecidos surgem como surpreendentes, considerando-se a distância e as profundas diferenças quanto ao mundo natural, à língua, à religião e à cultura entre Portugal e o antigo Sião. Surpreendem também pelo fato de terem-se mantido apesar da cisão que marcou a história do Sião com a destruição da antiga Ayutthaya e que levou à transferência da capital para Bangkok, em restabelecimento e mesmo em reconstrução de continuidades.


casal real da Tailândia

Ciclos de estudos da A.B.E. no Sudeste da Ásia


O programa de atividades de 2011 da A.B.E. no Sudeste da Ásia foi inaugurado em Singapura, dando prosseguimento aos empreendimentos ali iniciados na abertura dos trabalhos motivados pela passagem dos 500 anos da "reconquista" de Goa e da tomada de Malaca pelos portugueses. Relatos dos trabalhos introdutórios realizados na primeira série de atividades em Singapura foram publicados no número 127 desta revista (http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Indice_127.html); os relatos dos trabalhos realizados a seguir na Índia, em Goa e  em Cochim, no seu número 131 (http://www.revista.brasil-europa.eu/131/Indice_131.html).


Esses trabalhos foram marcados sobretudo pela figura histórica da Afonso de Albuquerque (1453-1515) (http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Afonso-de-Albuquerque.html), o conquistador de Goa e de Malaca, e concentraram-se, em consequência, à esfera geográfico-político-cultural determinada pelos acontecimentos na Índia, inaugurais da ação portuguesa no Oriente e que foram seguidos pela conquista de Malaca. A partir desse enfoque à região ao Ocidente de Malaca, determinado pelo caminho histórico das navegações e das atividades portuguesas à Índia, no decorrer do qual dera-se em 1500 o descobrimento do Brasil, considerou-se então as transformações que se seguiram.


Diferentemente dessa perspectiva centralizada sobretudo no espaço índico, os trabalhos de 2011 focalizaram o mundo que se abriu aos portugueses após o seu assentamento em Malaca, ou seja a região intermediária a caminho do Extremo Oriente, em direção à China e ao Japão.


Apesar de todos os elos decorrentes da lógica dos empreendimentos marítimos, das rotas e dos interesses comerciais das potências envolvidas, assim como do confronto militar e religioso com o inimigo islâmico, os trabalhos do ano de 2011 partiram basicamente de um posicionamento geográfico-cultural distinto na consideração dos processos histórico-culturais, menos marcado pela Índia e mais pela China na área indochinesa, e, sob a perspectiva portuguesa, menos diretamente por Goa e mais por Macau. Consequentemente, no programa dos trabalhos euro-brasileiros, esses empreendimentos de 2011 no Sudeste Asiático têm o seu prosseguimento em estudos dedicados à China em 2012. Também esses serão divulgados em edições da Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira.


Os trabalhos que tematizaram a figura de Afonso de Albuquerque e as conquistas de Goa e de Malaca foram marcados de princípio pela beligerância das ações, e consequentemente por questionamentos, associações e conotações de cariz antes negativo, que tornam hoje problemáticos, desconfortáveis e mesmo inconvenientes empreendimentos comemorativos.


A consideração do espaço indo-chinês que se abriu após a conquista de Malaca não se confronta com comparável carga de feitos bélicos inauguradores e estabelecedores de situações de conquista e assentamento, o que possibilita visões e acentos mais positivos quanto aos empreendimentos que trazem à memória relações entre o Sudeste Asiático e o mundo de língua portuguesa.


Compreende-se, assim, que por motivos de natureza histórico-crítica e talvez até mesmo político- diplomático-cultural não se tenha tanto trazido à consciência com especial ênfase comemorativa os 500 anos da conquista de Goa e de Malaca, preferindo-se antes dirigir a atenção internacional aos 500 anos da presença portuguesa na Tailândia, que surge como mais apta a comemorações.


Da amizade como conceito condutor


A prioridade histórica e as características singulares das relações luso-tailandesas são reconhecidas pela pesquisa especializada internacional, como o demonstra publicação recentemente publicada sôbre a antiga capital do Sião (Derick Garnier, Ayutthaya: Venice of the East, Bangkok: River Books 2004 ISBN 974 8225 60 7). O seu autor, nascido em Sri Lanka, educado na Inglaterra, onde dedicou-se à História Moderna no Oriel College Oxford, atuando a seguir como diretor do departamento inglês da Chitrlada Palace School de Bangkok, analisando a  presença de portugueses, espanhóis, holandeses, inglêses e franceses em Ayutthaya, salienta que os portugueses foram os mais pacíficos, os mais úteis e mais fácilmente adaptáveis de todos os estrangeiros no Sião. Nessas qualidades, segundo êle, reside a explicação da continuidade da presença portuguesa e de seus descendentes na Tailândia de hoje, sendo a comunidade de ascendência lusa a única sobrevivente das remotas eras dos primeiros contatos do Ocidente com o Sião.


"The Portuguese were the first westerners to arrive in Siam. They turned out to be the most peaceful, useful and adaptable of all the foreign settlers. In facht they are still here; the only foreign community to have survived from the day it arrived on Thai soil" ( op.cit., pág. 67)


Memória de relações de amizade na análise cultural


Correspondendo à destruição de Ayutthaya (Aiutá em português) e à transferência da capital siamesa para Bangkok, também a história da comunidade luso-siamesa surge numa primeira aproximação como que marcada por duas fases, aquela remota da grandiosa e quase mítica da antiga metrópole e aquela do reino centralizado em Bangkok. No entanto, essa comunidade, nos seus fundamentos, também se inseriu no movimento de ressurreição da potência destruída, e esse fato levanta questões historiográficas e abre perspectivas para novas aproximações na análise de processos culturais.


O momento da memória de um passado que surgia como de especial resplandecência na recordação e que teve a sua concretização na reconstrução de edifícios e na revitalização de expressões culturais não pode deixar de ser considerado nem na história da Tailândia em geral, nem naquela específica da comunidade luso-siamesa.


O significado da memória, da imagem iluminada do passado e do impulso reconstrutivo traz à consciência a insuficiência de um método exclusivamente voltado ao desenvolvimento linear no tempo a partir de dados transmitidos pelas fontes documentais. Se essa linearidade pode ser estudada em reconstruções históricas da época de Ayutthaya, se pode ser estudada a partir da fundação da comunidade em Bangkok, o elo entre essas duas fases parece apenas pode ser analisado adequadamente a partir da memória do passado a serviço do espírito de ressurgimento e reatamento de tradições que imbuiu o reino do Sião. Somente assim explica-se a razão pela qual os edifícios de Bangkok pareçam ser muito mais antigos do que na realidade o são; a sua antiguidade se encontra antes na esfera das concepções mantidas pelas tradições e imagens do passado, estas irradiando um brilho possibilitado pelo olhar da memória e pela vontade da reedificação.


Também a amizade entre Portugal e o Sião de Bangkok baseou-se na memória iluminada dos séculos anteriores de relações de amizade. As reflexões encetadas procuraram, assim, seguindo um caminho até hoje não percorrido, considerar os séculos de Ayutthaya à luz da recordação e do ressurgimento do Sião em Bangkok e de sua comunidade luso-siamesa. Não estudos históricos desses séculos remotos no sentido de um desenvolvimento linear no tempo das relações de Portugal e do Sião com base em referências documentais constituiram o cerne das preocupações, mas sim a visão desse passado a partir do seu ressurgimento, um procedimento antes retroativo, procurando reconhecer e considerar um campo de tensões e interações entre história e memória, exigindo ao mesmo tempo estudos mais propriamente historiográficos de fontes e a observação empírica.


Tratado de Amizade à luz de antigas relações


Um dos aspectos que mereceram particular atenção nos estudos foi o do papel desempenhado por essa cultura memorial da amizade nas relações entre Portugal e o reino do Sião da fase posterior a Ayutthaya. A imagem desse passado, de contínua vigência, determinou ações políticas, diplomáticas e a história das relações comerciais, como constatado em alguns de seus aspectos registrados em fontes históricas (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Portugueses-no-Siao.html).

Marco nessas relações foi a assinatura de um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Portugal e o Sião no século XIX. Esse documento, assinado em Bangkok em 1869, foi resultado de longos preparativos diplomáticos e do empenho do então Governador de Macau Isidoro Francisco Guimarães, Visconde da Praia Grande, Ministro Plenipotenciário e Enviado Extraordinário de Portugal, não pode, porém, ser compreendido sem a consciência e a memória das seculares relações entre o Sião e Macau. Graças ao trabalho de levantamento de dados documentais realizados por Beatriz Basto da Silva, especialista no estudo histórico de Macau, o pesquisador tem hoje a possibilidade de obter um quadro geral desse desenvolvimento das relações diplomáticas entre o Sião e Portugal. (Beatriz Basto da Silva, Cronologia da História de Macau III: Século XIX. Macau: Direcção dos Serviços de Educação e Juventude 1995)

Enviado já em 1856 em missão diplomática à Côrte do rei do Sião, esse Governador nomeou, em 1859, a Secretário da Missão José Maria da Fonseca, 2° Tenente da Armada e Capitão do Porto de Macau. (op.dit. 168 e 177). O resultado desse empreendimento, publicado no Boletim do Govêrno N° 32 e  N° 33 de 1859, teve considerável repercussão no Oriente, representando o conteúdo do primeiro número de O Echo do Povo, jornal editado em Hongkong. Esses contatos briram as portas para a negociação de tratados com outras nações, seguindo o Ministro português de Bangkok ao Japão com essa finalidade (op.cit. 179 e 181). Também preparou a intensificação das relações diplomáticas, o que se manifesta na nomeação de Bernardino de Sena Fernandes como Cônsul do Sião em Macau, em 1861 (op.cit 181).

A assinatura do Tratado levou ao aumento do significado da presença consular de Portugal no Sião e a transformações na geografia das relações internacionais no Sudeste da Ásia, bastando constatar que, a partir de 1875, o consulado de Bangkok passou a anexar aqueles de Singapura e de Malaca. Os elos de amizade entre o Sião e Portugal manifestaram-se na concessão de condecorações siamesas a funcionários de Macau (op.cit. 297) e em visitas oficiais de personalidades de Macau ao Sião.

Os negócios com a Côrte do Sião foram desenvolvidos em muitos casos concomitantemente com aqueles da China e do Japão, como em 1879, quando D. Manuel Bernardes de Sousa Enes, Bispo de Macau, ficou encarregado dessas missões (op.cit. 266)

130 anos do Tratado de Amizade sino-brasileiro- o Brasil nos estudos do Oriente

Esse desenvolvimento das relações entre Portugal e do Sião, tendo como pressuposto os elos seculares entre os dois países e a existência de centros de população portuguesa ou de ascendência portuguesa em vários pontos do Oriente, precedeu àqueles do reino siamês com o Brasil. Somente estudos mais amplos de fontes poderão possibilitar um quadro histórico mais diferenciado do início e do desenvolvimento das relações do Império não só com o Sudeste da Ásia como também com o Extremo Oriente. Marco nessas relações foi o primeiro Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e a China há 130 anos, substituído por outro, igualmente assinado em Tientsin no mesmo ano de 1881.(op.cit. 273)

É tarefa que se impõe analisar mais diferenciadamente o papel do Sião no desenvolvimento dos estudos orientalistas e nos quais o Brasil tomou parte ativa através de Pedro II°. Assim, em 1874, o imperador brasileiro informava ao Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na Grã-Bretanha, Conselheiro Francisco Inácio de Carvalho Moreira, Barão de Penedo, que havia dado ordens ao Ministro em Paris de remeter-lhe importância destinada a Robert Kennaway Douglas (1838-1913) para o pagamento de publicações do Congresso Internacional de Orientalistas a realizar-se em Londres, em dezembro daquele ano. (M. W. de Aragão Araújo coord., Dom Pedro II e a Cultura, Rio de Janeiro: Ministério da Justiça, Arquivo Nacional, 1977, 74).

Sir Robert Kennaway Douglas era já nessa época que obteve o apoio de Pedro II° especialista em assuntos relativos à Ásia; das suas publicações que marcaram a visão do Ocidente relativamente ao Extremo Oriente, pode-se destacar o seu largamente difundido livro sôbre a China, publicado em Londres, em 1882, sob a direção de uma comissão de literatura e educação nomeada pela Sociedade de Promoção de Conhecimentos Cristãos (China, London: Society for promoting Christian knowledge, 1882), e, de anos posteriores, o seu Society in China, publicado em Londres, em 1894 e, sobretudo, o seu Europa and the Far East; 1506-1912 que, com capítulos adicionais correspondentes aos anos de 1904 e 1912 de J. H. Longford, foi publicado em Cambridge, em 1912.

Outro erudito que deve ser lembrado sob a perspectiva do interesse do imperador brasileiro pelos estudos orientais é o de Abraham Kuehnen (1828-1891), especialista sobretudo sôbre assuntos relativos à antiguidade bíblica. Significativo para a avaliação do renome de Pedro II° no círculo de estudiosos europeus do Oriente é o fato de ter sido nomeado membro honorário da sexta sessão do Congresso Internacional de Orientalistas; em 1883, Pedro II° comunicava ao Cônsul Geral do Brasil em Rotterdam, Antonio Alves Machado de Andrade Carvalho, ter recebido carta a respeito de Kuehnen, que era então Vice-Presidente do Congresso. (op.cit. 240). Similarmente, em 1886, escreveu ao Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na Áustria-Hungria, Conselheiro Júlio Henrique de Melo e Alvim, solicitando que participasse ao Sétimo Congresso Internacional dos Orientalistas, a realizar-se em Viena, ter aceito que o seu nome fosse inscrito na lista dos membros honorários do congresso. (op.cit. 327)

Significado do Sião para a história diplomático-cultural e a amizade à América

O Sião do século XIX realizou o feito surpreendentemente singular e mesmo prodigioso de ter permanecido reino independente numa região devidida entre as potências coloniais européias. Ainda que também sujeito a processos desencadeados por atividades missionárias de diferentes confissões, a interesses comerciais e estratégicos de nações européias concorrentes entre si, o Sião conseguiu manter-se, através sobretudo do cultivo de expressões culturais e da arte das relações diplomáticas, país marcado por imagem de características próprias, que despertava no Exterior fascínio pelo seu exotismo e, ao mesmo tempo, respeito pela cultura, erudição e abertura ao Ocidente de seus representantes. O Sião merece, assim, atenção particular na história das relações diplomáticas e, em particular, nos estudos voltados à diplomacia cultural. É significativo registrar que nele atuou, como representante diplomático, um dos vultos da história das ciências do continente americano, Robert H. Schomburgk (1804-1865). (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Schomburgk-em-Bangkok.html)


A consideração do Sião nas suas relações com o Exterior no século XIX, em particular sob a perspectiva dos estudos brasileiros, necessita dirigir a atenção ao início de seus elos com os novos países independentes do continente americano. Esses novos contextos, que representaram em parte uma reorientação geo-político-cultural, foi marcada sobretudo pelo estreitamento de laços com os Estados Unidos, um desenvolvimento que merece particular atenção por parte dos estudos culturais em contextos globais. Nesse sentido, dedicou-se particular atenção à visita feita do Presidente U. S. Grant (1822-1885) à Côrte siamesa. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Amizade-Siao-USA.html)


"Internacionalização da ciência" e estudo de processos internacionalizadores

Os atos, as viagens e os pronunciamentos dos reis e autoridades do Sião no século XIX indicam o interesse com que conhecimentos técnicos e científicos do Ocidente foram recebidos e o significado que neles foi reconhecido nas relações de amizade.

No início da história das relações entre Portugal e Ayutthaya, armas, técnicas bélicas e conhecimentos de arquitetura militar transmitidas pelos portugueses desempenharam papel de importância na criação de elos. Na história missionária, os Dominicanos portugueses foram bem recebidos e respeitados sobretudo pela atenção que voltavam aos estudos. Com a ação de missionários franceses a serviço da Propaganda Fide, que levou ao estabelecimento de um Seminário, o Sião tornou-se um centro de formação cristã no Sudeste Asiático.

No século XIX, os reis do Sião, sem aceitarem propriamente idéias religiosas, mantiveram contatos de respeito e admiração com autoridades católicas pelo seu saber e com missionários protestantes americanos pelos conhecimentos pragmáticos e técnicos que souberam difundir no país. Foi em espírito de gratidão por esses ensinamentos que se fundamentou a amizade do Sião com a América.

O inglês passou a ser falado por reis e ensinado a membros da Côrte. É nesse contexto que deve ser considerada uma instituição de ensino que se destaca pela sua internacionalidade em Bangkok, o Colégio e a Universidade Assunção, instituição em que se utiliza o inglês como língua de ensino e pesquisa. Situada nas proximidades da igreja da comunidade luso-siamesa, a Catedral e o Colégio da Assunção inserem-se, porém, apesar do uso do inglês, na história missionária determinada pela Sociedade das Missões Estrangeiras da França que, a serviço da Congregação da Propaganda Fide e procurando substituir o Padroado Português, dedicou-se sempre sobretudo à formação. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Universidade-Bangkok.html)

Vietnam: do Internacional na ideologia e o estudo de processos internacionalizadores

Mapa do Vietnam - correios de Saigon
O significado da influência cultural francesa fundamentada na ação de missionários sujeitos aos Vicários Apostólicos e a serviço da Propaganda no estudo de processos internacionalizadores manifesta-se com toda a sua evidência na Indochina Francesa. Ao contrário do Sião, que soube manter a sua independência, no contexto dessa região transformada em colonia da França pode-se analisar com maior evidência os elos entre uma ação missionária que substituiu o predomínio da antiga jurisdição do Padroado Português e o colonialismo. Essas relações podem ser estudadas com especial expressividade na arquitetura, em particular na da Catedral de Notre Dame do Oriente, em Saigon. (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Catedral-de-Saigon.html)

Esta cidade, hoje Ho-Chi-Minh, traz á consciência também a necessidade de mais cuidadosa diferenciação, na atual atenção dada à internacionalização da ciência, das diferentes acepções de internacionalização. Processos internacionalizadores da época colonial francesa diferem fundamentalmente do Internacional implícito a concepções políticas do sistema político atual do Vietnam e levantam questões relativamente à interpretação da história. Um entendimento entre pesquisadores, no âmbito de trabalhos internacionais, tem como pressuposto o esclarecimento desses diferentes pressupostos teóricos e enfoques. (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Ideologia-do-Internacional.html)

Malásia: da internacionalização no edifício de imagens e o papel dos chineses

No contexto dos trabalhos motivados pelos 500 anos da conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque e pelos 500 de contatos de portugueses com o antigo Sião pareceu ser necessário considerar com especial atenção alguns aspectos de processos culturais referentes à Malásia.

As relações lusas com Ayutthaya foram precedidas pela tomada de Malaca; a queda do poderio islâmico local foi bem recebida pelo Sião, o que sugere situações de tensões pré-existentes, cuja solução contribuiu à fundamentação das relações de amizade entre siameses e portugueses. O histórico conflito entre portugueses e muçulmanos fêz-se perceber na própria história missionária do Sião, levando a martírios. Hoje, Malaca é cidade de um país determinado pelo Islão, apesar da diversidade de tradições religiosas nos seus centros pluriétnicos e multiculturais..

Diferentemente da Indochina Francesa, a história da península malaia foi, desde o século XIX, marcada pela administração britânica. A consideração de desenvolvimentos do Sião em paralelos e nas suas relações com a situação nos assentamentos mercantís no Estreito malaio dirige a atenção a processos internacionalizadores postos em vigência ou intensificados com a política de fomento das relações comerciais e consequente aquisição de mãos de obra pela Companhia Britânica das Índias Orientais e a seguir pela autoridade colonial.

Um aspecto merece ser especialmente considerado: a do papel exercido pelos chineses. Já nos primeiros contatos dos portugueses com o Sião, à época da conquista de Malaca, mercadores chineses estiveram envolvidos. A comunidade luso-siamesa católica situa-se nas proximidades do bairro chinês de Bangkok, e a maior parte dos conversos ao Catolicismo pelos missionários europeus foram chineses.(http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Cultura-luso-siamesa.html)

Nos Estreitos, os chineses contribuiram de forma decisiva ao desenvolvimento mercantil e econômico; os Peranakan, ou Chineses do Estreito, que alcançaram situação próspera e de influência, representam também parcelas populacionais que mais assimilaram expressões culturais do Ocidente, afirmando, ao mesmo tempo, os seus elos culturais com a China. Chineses que alcançaram riqueza e influência, e cuja posição de liderança foi até mesmo reconhecida pelas autoridades coloniais, como Chung Keng Quee (1821-1901), o "Capitão China", desempenharam importante papel na história econômica, social e política, atuando também como mecenas de instituições religioso-culturais. Em Penang, um museu dedicado aos Chineses do Estreito  permite estudos de processos internacionalizadores sob perspectivas teórico-culturais mais recentes e aguçam a sensibilidade para a compreensão de tendências ao exagêro de expressões e à representação ostentativa tanto da cultura de origem como dos impulsos assimilados do Ocidente.(http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Museu-de-Penang.html)

Um universo internacional marcado pelas águas: mares e rios do Sudeste da Ásia

Como principal expressão cultural a ser considerada em estudos do papel de imigrantes chineses e seus descendentes em processos internacionalizadores do Sudeste da Ásia oferece-se o culto a Kuan-Yin em George Town. O seu templo, remontante aos primórdios da imigração chinesa em Penang, representa um centro de culto e de festas que garantem a continuidade de tradições sobretudo cultivadas no sul da China, trazidas por aqueles que dali vieram por mar. Na situação especial da imigração, uma expressão da devoção popular adquiriu tal intensidade que possibilita novos acentos no edifício de concepções e imagens.

Essa intensidade marcou também a edificação de um templo na montanha que domina a região e que manifesta, de forma expressiva, a unidade na diversidade do Budismo, a sua internacionalidade, que é ampliada com a comunicação interreligiosa e intercultural possibilitada pelo acento dado a Kuan-Yin. A força desse processo internacionalizador na atualidade é documentada pela monumental imagem que a ela se levantou no corrente século. (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Kuan-Yin-em-Penang.html)

Esse monumento testemunha também o significado de imagens cultivadas sobretudo por homens do mar através dos séculos e que se mantém sobretudo em cidades portuárias e em regiões continuamente confrontadas com as águas.

Esse e o caso da esfera do globo considerada nesta edição: a Malaca conquistada pelos navegantes portugueses em longas viagens marítimas e situada em Península já há séculos marcada por navegantes árabes e chineses, onde se desenvolveram os portos multiculturais de comércio internacional à época britânica, e a região dos vales e grandes rios da Tailândia e do Vietnam, alagadiças, sempre sujeitas a inundações.

Compreende-se, assim, que uma aproximação a essa esfera do globo sob a perspectiva do atual interesse pela internacionalização da ciência não poderia ter encontrado ponto de partida mais favorável do que a imagem que se expressa na designação da antiga metrópole do Sudeste da Ásia, Ayutthaya, como "Veneza do Oriente", e que passou a caracterizar também Bangkok. (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Veneza-do-Oriente.html)

Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Tailândia, Vietnam, Malásia e Brasil: Internacionalizações e ciência em processos político-culturais globais. Sob o signo da amizade: 500 anos de elos entre o Sião e Portugal sob enfoques euro-brasileiros". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 135/1 (2012:1).
http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Sudeste-da-Asia-Brasil.html





  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.