Chineses da imigração e internacionalização: Malásia. Revista BRASIL-EUROPA 135/18. Bispo, A.A. (Ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Casa Peranakan, Penang

Casa Peranakan, Penang

Casa Peranakan, Penang

Casa Peranakan, Penang

Casa Peranakan, Penang

Casa Peranakan, Penang


Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 135/18 (2012:1)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2012 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2859


Academia Brasil-Europa


Instituições em visita

Chineses da imigração em processos internacionalizadores
os Straits Chinese

Pinang Peranakan Mansion


Ciclo de estudos Malásia/Brasil da A.B.E.

 

O crescente significado da China nas relações internacionais do presente e do papel que provavelmente desempenhará no futuro impõe que a ela se dedique especial atenção nos estudos culturais em contextos globais. Essa atenção justifica-se, nos estudos euro-brasileiros, sobretudo pela história dos elos sino-portugueses e pela significativa parcela populacional de chineses e de brasileiros de ascendência chinesa no Brasil.

Para além de estudos históricos, a pesquisa da imigração chinesa e de processos de manutenção e transformação cultural nas diferentes partes do mundo assume particular relevância para o tratamento adequado de questões se levantam no Brasil.

Por essa razão, a A.B.E. vem desenvolvendo estudos sinológicos relacionados com o mundo de língua portuguesa, salientando-se aqui trabalhos levados a efeito em 1996 em Macau e Hongkong pela passagem desses territórios à China e que deram origem a Simpósio Internacional realizado em Portugal, assim como a sessões de estudos no Brasil e na Alemanha.

Esses trabalhos tiveram continuidade com visitas a bairros chineses e a instituições chinesas da imigração em várias regiões do mundo, como relatado em números anteriores desta revista.(http://www.revista.brasil-europa.eu/126/Japoneses-e-chineses-no-Havai.html)

Dando continuidade aos trabalhos já realizados no bairro chinês de Singapura, no âmbito do seu programa Atlântico-Pacífico, quando então abriu-se a série de estudos motivada pelos 500 anos da conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Indice_127.html), realizou-se, em 2011, visitas a templos e à casa-museu dos Peranakan de Penang.

Esses trabalhos na imigração chinesa da atual Malásia prepararam a retomada de estudos da A.B.E. na própria China em 2012, e que se dedicam ao estudo da expansão chinesa a partir do próprio país de origem no âmbito do interesse atual pela internacionalização da Ciência.

Casa Peranakan, Penang
Os Peranakan ou "Straits Chinese"

Os Peranakan, também denominados de Nyonyas, Babas ou Chineses do Estreito, constituem a comunidade de identidade chinesa mais marcada pelo encontro cultural com a Europa na antiga região dos Straits Settlements britânicos, ou seja, das cidades de Malaca e Penang na Malásia, assim como em Singapura.

Essa comunidade representa um exemplo da
Casa Peranakan, Penang
potencialidade adaptativa de chineses no ambiente da imigração, e a sua análise abre perspectivas para o reconhecimento de mecanismos e tendências que, para além de seus condicionamentos regionais, podem estar vigentes em outras regiões.

A principal instituição de cunho museal que procura documentar, preservar e dar testemunho da vida dos Chineses do Estreito como esfera populacional economicamente privilegiada do passado é a Pinang Perenakan Mansion. Esse museu-residência procura dar testemunho dos modos de habitar de uma família Baba de posses de fins do século XIX e início do XX. A mobília e os objetos apresentados surpreendem os visitantes por manifestarem intuitos extraordinários de representação, de exibição de posses, de domínio de modos de vida e de expressões culturais européias ao lado da manutenção de tradições trazidas da China.

Para montar esse museu Baba-Nyonya conseguiu-se reunir mais de mil objetos antigos, além de documentos e fotos. Para abrigar a instituição, escolheu-se uma casa tombada pelo Patrimônio Histórico local, uma residência de fins do século XIX do "capitão China" Chung Keng Kwee (1821-1901). (http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Kuan-Yin-em-Penang.html) Embora não sendo o proprietário dessa casa êle próprio um Baba, os historiadores viram no edifício características similares àquelas das grandes moradias dos chineses do Estreito.

A residência-museu desempenha também papel de centro-cultural, possuindo instalações que permitem a realização de encontros e apresentações artísticas, possuindo piano para concertos de música ocidental, um instrumento em si de interesse histórico.

Casa Peranakan, Penang

A Pinang Perenakan Mansion e a questão do ecletismo na cultura Perenakan

Residências que desempenham funções museais de determinados grupos sociais podem ser encontradas em várias países e em várias regiões do mundo. São, em geral, residências de europeus, de colonos ou missionários, como consideradas em vários exemplos em números anteriores desta revista. (http://www.revista.brasil-europa.eu/123/Cultura_inglesa.html)

O caso da Pinang Perenakan Mansion assume, porém, significado particular por tratar-se de uma habitação representativa de um grupo da imigração não-européia, mas que atingiu, na sociedade colonial britânica, posição preeminente de poderio econômico e social.

Procurou-se salientar, na montagem do museu, o ecletismo que caracterizou tanto a arquitetura exterior como a de interiores e o modo de vida de seus moradores. Esse ecletismo se manifesta da forma mais evidente no uso de móveis, porcelana e esculturas chinesas das mais diversas épocas ao lado de objetos, mobiliário e instrumentos ingleses, além de trabalhos de ferro em grades e estruturas vindos da Escócia.


Significado da Pinang Perenakan Mansion para os estudos culturais

O museu adquire significado particular para os estudos culturais de processos de transformação de identidade, uma vez que testemunham que também entre os chineses da imigração situações de labilidade e instabilidade decorrentes da vida no Exterior foram acompanhadas por intuitos auto-afirmativos que se manifestam tanto no exagêro ostentativo de nível da cultura tradicional como no do domínio de técnicas e modos de vida da sociedade européia.

A visita da Pinang Perenakan Mansion chama a atenção ao fato de que o estudo de processos internacionalizadores e o da internacionalização dos conhecimentos e da própria ciência não pode ser desenvolvido sem a consideração de complexos mecanismos próprios de transformações de identidades culturais resultantes de contatos e interferências, tanto relativamente a situações de missionação e colonização como naquelas da imigração.

Assim, não apenas populações nativas expostas à ação transformadora de missionários e colonizadores vivenciaram processos destabilizadores que criaram situações de instabilidade e de necessidade de identificação com a sociedade que passou a predominar, levando a exagêros das expressões assimiladas, mas também aqueles círculos de imigrantes que alcançaram poder econômico e estabilidade social.

Aqui, porém, não o distanciamento relativamente à cultura antiga através de sua resignificação desvalorizadora caracteriza o processo transformador, mas sim a supra-valorização ostentativa de suas expressões. Tem-se a possibilidade - e a necessidade - de maior diferenciação na análise de processos de transformação cultural.

A tendência ao exagêro no uso de expressões culturais para fins representativos manifesta-se entre os Perenakan tanto relativamente à cultura de origem, no caso chinesa, como naquela assimilada da sociedade dominante.

O patrimônio conservado na Pinang Perenakan Mansion é constituido assim, de objetos de valor material e artístico de várias épocas e regiões chinesas ao lado de coleções de lustres, porcelanas, objetos e artefatos ornamentais europeus que indicam o alto poder aquisitivo dos proprietários e pretendem documentar o alto nível de seu modo de vida, o seu gosto e a cultura que os une com os círculos privilegiados da sociedade ocidental.

O ecletismo salientado pelos responsáveis pelo museu necessita ser considerado de forma mais diferenciada como expressão de processos de mudança cultural postos em vigência na situação de prosperidade alcançada na imigração.



Grupo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Chineses da imigração em processos internacionalizadores - os Straits Chinese". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 135/18 (2012:1). http://www.revista.brasil-europa.eu/135/Chineses-do-Estreito.html



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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