Universidade de Cluj/Klausenburg. BRASIL-EUROPA 134/29. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





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BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo

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Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/29 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2838


A.B.E.


Instituições em visita

A cultura e a universidade em situações multidiomáticas e pluriconfessionais
complexos teuto-romeno-húngaros na Transilvânia nas suas relações com o mundo latino

Universidade Babeș-Bolyai de Cluj-Napoca/Klausenburg


 Ciclo de estudos da A.B.E. na Transilvânia

 
Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo

Tem-se observado, nos últimos tempos, uma intensificação de atividades por parte de representantes diplomáticos quanto ao estabelecimento de relações em áreas culturais e acadêmicas. É objeto de estudos que atentam aos elos entre processos culturais e aqueles relacionados com a própria produção do saber e com estruturas de rêdes do trabalho acadêmico (science of science), como preconizado pela A.B.E., considerar esse desenvolvimento como objeto de observações e análises.


Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo

Em agosto de 2010, o Embaixador do Brasil na Romênia visitou a Universidade Babeș-Bolyai (Universitatea Babeș-Bolyai). A visita teve como um de seus objetivos o do estabelecimento de cooperação entre essa universidade romena e universidades latino-americanas. Chegou-se a estabelecer, alguns pontos como formas de cooperação. Quanto à organização de um Centro Latino-Americano na universidade, esta tomou a si providenciar a infraestrutura necessária no edifício Economica I, com o apoio das embaixadas do grupo latino-americano e do Caribe em Bucareste.


Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo


Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo
A Embaixada pretende assessorar a universidade no processo de seleção de um professor latino-americano para ensinar Economia ou Engenharia na universidade. Na Faculdade de Estudos Europeus, assim como nas faculdades de Letras, Economia e Administração, pretende-se estabelecer programas da União Européia e da América Latina. A universidade se propôs a promover uma série de conferências sobre premissas e oportunidades de cooperação entre a Romênia e a América Latina nas faculdades de Estudos Europeus e de Economia. Os embaixadores de países latino-americanos na Romênia devem ser convidados para fazer pronunciamentos tendo em vista novas formas de cooperação com universidades e empresas da América Latina. (doc: Cooperation with Latin America, Centre for International Cooperation da universidade, site 20.11.2011)



Desses termos, constata-se um relacionamento estreito entre os estudos universitários, economia e empresas. Esse vínculo das ciências, da pesquisa e do ensino com a economia, com a indústria e o mercado pode ser observado em muitas instituições universitárias de vários países e tem dado em muitos casos margens a questionamentos e debates.


Numa orientação que procure salientar a predominância de perspectivas especificamente científicas e filosóficas de procura de conhecimentos nas relações acadêmicas (http://www.brasil-europa.eu/Brasil-Europa/Portal.html), uma das questões que assume particular significado é o das culturas universitárias, ou melhor, o das universidades na sua inserção em processos culturais, o que faz com que elas próprias se tornem objeto de análises. Nesse sentido, a A.B.E. vem desenvolvendo visitas a várias universidades e instituições de pesquisa, em países da Europa e de outros continentes, como relatado em números anteriores desta revista (veja, por ex. http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Harvard-University.html). Somente com o conhecimento diferenciado da história das respectivas universidades, do contexto cultural e político-cultural em que se originaram e desenvolveram, as suas modificações através dos tempos, nos seus elos com as rêdes de professores e pesquisadores, da política de contratações e concursos, de continuidades e dependências nas relações entre os seus professores é que se pode esperar de forma fundamentada relações acadêmicas internacionais a partir de perspectivas adequadas de cunho teórico-cultural.


Nesse sentido, as universidades da Romênia apresentam-se como exemplos significativos da necessidade de consideração de inserções institucionais em contextos e processos histórico-culturais nas relações acadêmicas. Particularmente representativas para esse escopo são as universidades Alexandre Ioan Cuza, de Iaşi e a Babeș-Bolyai de Cluj-Napoca/Klausenburg. A primeira, na capital do Moldau, é considerada como a primeira do país, trazendo no seu título o nome do príncipe que possibilitou a união da Valáquia e do Moldau para a criação da Romênia em meados do século XIX. Originou-se no ambiente marcado por ativo movimento intelectual apenas passível de ser compreendido nos seus pressupostos históricos e geo-políticos regionais, profundamente relacionados com os anelos romanianos (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Bucareste-Academia-Romana.html). A segunda, a de Cluj-Napoca/Klausenburg, possui pressupostos históricos e de inserções políticas e político-culturais significativamente diversos. À época da fundação da universidade de Iaşi, Cluj/Klausenburg pertencia ao reino da Hungria, esta parte integrante da Dupla Monarquia austro-húngara. Inseria-se, assim, justamente em uma das configurações político-culturais das quais as aspirações romenianas procuravam emancipar-se. Se essas - centralizadas sobretudo em Iaşi e a seguir em Bucareste - orientavam-se sobretudo pela França, o centro intelectual de Cluj/Klausenburg permanecia inserido no universo da cultura austríaco-alemã de Siebenbürgen, marcado por um campo de tensões criado pelos anelos de magiarização por parte da Hungria.


A necessidade de considerações ainda mais diferenciadas dos processos histórico-político-culturais em que se insere a universidade de Cluj/Klausenburg evidencia-se sobretudo nas suas origens mais remotas e em contextos confessionais do passado. Em primeiro lugar, deve-se considerar as raízes medievais dos estudos na área da colonização alemã de Siebenbürgen.


A cidade originou-se das ruínas de Napoca, um município da época romana. A colonização alemã iniciou-se em fins do século XII. Já em 1222 surge a localidade designada como Clus, sendo que, em 1241, mongóis destruiram uma cidade de Castrum Clusa. Para a reconstrução de Klausenburg, o rei Estêvão V (1270-1272) da Hungria procurou atrair novos colonos alemães para a cidade. A urbe desenvolveu-se rapidamente, adquirindo em 1316 uma carta de liberdade, ou seja, foi elevada à condição de cidade.

Sob o aspecto jurisdicional, a cidade relacionava-se com as demais cidades do Siebenbürgen. Assim, em casos de litígios, recorria-se à instância superior de Bistritz/Bistrita e, a seguir, à de Sibiu/Hermannstadt. Entretanto, diferentemente de outras cidades, Klausenburg foi marcada por uma crescente imigração húngara. Ainda no século XVI era conhecida pelo nome latino de Claudiopolis e regida alternadamente por alemães e húngaros. Essa administração alternada havia-se imposto desde o século XV, expressão da forte presença húngara. O mesmo disse respeito à constituição da administração e das centúrias de defesa. Também a igreja local passou a ser utilizada pelos dois grupos populacionais. Assim, a partir de 1458, em anos pares, o juiz municipal era "saxão" e o juiz real húngaro; nos anos ímparos, dava-se o contrário. A manutenção da proporcionalidade era também observado nos ministérios eclesiásticos.

A Reformação de Siebenbürgen, sobretudo liderada por Johannes Honterus (1498-1549) (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Reforma-Ensino.html), assim como a situação do território entre esferas de influência da Europa cristã e do Império Otomano, causa primordial de conflitos através dos séculos, consistuem os principais fatores que explicam os desenvolvimentos.

Os "saxões" de Claudiopolis tomaram um caminho distinto dos húngaros. Foram dos primeiros que aceitaram o luteranismo, passando, sob a influência de Caspar Helth (Heltai Gáspár, ca. 1520-1574) e Franz Davidis (Dávid Ferenc, 1510-1579) ao calvinismo e, em parte, ao unitarismo, uma orientação confessional compartida com parte dos húngaros e dos Sekler. Por essa razão, ainda que fossem "saxões", passaram a utilizar o húngaro na escrita. Com o tempo, o húngaro passou a predominar como idioma, sendo falado também pelos alemães. Por essa razão, "saxões" de língua alemã apenas passaram a estar representados por novos imigrantes; para estes, criou-se, em 1642, uma nova comunidade luterana.

A guerra contra os turcos (1594-1606), com a Liga anti-osmânica sob Sigismund Báthory (1572-1613) determinou o desenvolvimento dos estudos colegiais e superiores. Já em meados da década de sessenta do século XVI pensara-se na ereção de uma universidade siebenburguesa em Sebeș/Mühlbach.


Cluj/Klausenburg, Romenia. Foto A.A.Bispo
Personalidade que merece particular atenção na história da instituição de universidades européias no contextos das tensões com os turcos, dos conflitos confessionais e das tendências contra-reformatórias é a de István/Stephan Báthory (1533-1586). As suas ações políticas voltadas à uniões entre a Polonia, a Lituânia, à Russía e ao Siebenbürgen para um combate efetivo do Islão relacionaram-se com uma política religiosa de cunho recatolizador e que se manifestou na formação de colégios da Companhia de Jesus como núcleos de posteriores universidades. Assim deu-se com o colégio dos Jesuítas de Vilnius (1579) e o de Cluj/Klausenburg, em 1581. Significativamente, esse colégio teve como primeiro reitor Antonio Possevino SJ (1534-1611), destacado vulto da história eclesiástica do século XVII, autor de várias obras e profundo conhecedor das diferenças entre católicos e ortodoxos. Também no espírito da Contra-Reforma, os católicos de Cluj/Klausenburg fundaram, em 1688, uma instituição acadêmica para os Siebenbürgen nessa cidade.




Apesar do cunho húngaro da cidade, Klausenburg tornou-se capital do Siebenbürgen por dois períodos, entre 1717 e 1732 e entre 1790 e 1848, substituindo, nesses anos Hermannstadt. Sob a imperatriz austríaca Maria Teresa (1717-1780), fundou-se uma universidade em língua alemã, em 1776, em Kolozsvár; o ensino passou, porém, logo a ser feito em língua latina na Escola Superior piarista.



Correspondendo ao movimento de reconscientização do idioma e da cultura romena de outras regiões do atual país, também em Cluj/Klausenburg intensificaram-se, em meados do século XIX, exigências no sentido de estabelecimento de uma universidade com ensino em língua romena. Ainda que houvesse planos para a criação de uma universidade onde se ensinasse em romeno, húngaro e alemão, a instituição, fundada em 1872, passou a utilizar apenas o húngaro. Esse fato, justificado pelo fato da região integrar a Hungria - ainda que como parte da Dupla Monarquia - acentuou tensões culturais existentes com os saxões siebenburgueses e os romenos.


Somente com o desfecho da Primeira Guerra Mundial, com o término do império dos Habsburgs e a integração da Transilvânia na Romênia é que a situação modificou-se completamente. Em 1919, a universidade foi refundada sob critérios nacionais romenos.


À época da Segunda Guerra, ocorreram mudanças quanto à localização das escolas superiores de Cluj/Klausenburg relativamente às suas inserções culturais. A universidade romena foi transferida para Sibiu/Hermannstadt e Timișoara/Temeswar, enquanto que, para Cluj/Klausenburg, transferiu-se a universidade húngara de Szeged. Ao término da Guerra, a universidade romena retornou à cidade. De forma significante para esse retorno da universidade inserida na cultura romena escolheu-se para designá-la o nome do professor de Patologia romeno Victor Babeș (1854-1926). Paralelamente, o govêrno do país fundou uma universidade húngara sob o nome do matemático e músico húngaro János Boliyai (1802-1860), de Klausenburg e que estudou na cidade Târgu Mureș/Neumarkt a. Mierasch. Ambas as universidades foram unificadas, em 1959, surgindo a atual Universidade Babeș-Bolyai, com aulas em romeno e em húngaro. Sob a política ditatorial comunista dos anos setenta e oitenta, porém, favoreceu-se a romenização do ensino em detrimento do idioma húngaro.


As antigas raízes culturais alemãs de Siebenbürgen exprimem-se nos estreitos elos da universidade de Cluj/Klausenburg com universidades da Alemanha. Em várias faculdades oferecem-se possibilidades de graduação em língua alemã.

Nova mudança cultural e de idioma de Klausenburg processou-se no século XX. De cidade húngara passou a cidade predominantemente de idioma e população romena.


Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo






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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "A cultura e a universidade em situações multidiomáticas e pluriconfessionais complexos teuto-romeno-húngaros na Transilvânia nas suas relações com o mundo latino". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/29 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Klausenburg.html





  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.