Alemães no Brasil e na Romênia: Arquitetura. BRASIL-EUROPA 134/18. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Arquitetura tradicional alemã na Romenia. Foto A.A.Bispo

Arquitetura tradicional alemã na Romenia. Foto A.A.Bispo

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Arquitetura tradicional alemã na Romenia. Foto A.A.Bispo

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Arquitetura tradicional alemã na Romenia. Foto A.A.Bispo

Arquitetura tradicional alemã na Romenia. Foto A.A.Bispo

Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/18 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2827


A.B.E.


Minorias, Patrimônio e Educação em situações de pluralidade étnica e cultural
Grupos populacionais de ascendência alemã no Brasil e na Romênia III: arquitetura


Trabalhos da A.B.E. na Romênia pelos 40 anos da primeira sessão de arquitetura e estudos culturais do Museu de Folclore/FAU-USP, São Paulo
Feldioara e Museu das Aldeias de Bucareste, 2011

 
Forum RS, Nova Petrópolis A.B.E.
Em sessão no museu da Aldeia do Imigrante de Nova Petrópolis, no âmbito do Forum Rio Grande do Sul do Congresso Internacional de Estudos Euro-Brasileiros (2002), salientou-se o significado da consideração de temas do urbanismo e da arquitetura nas reflexões e na prática de uma Educação de orientação cultural em regiões marcadas pela colonização e imigração.

Nos intentos de estudo e de valorização do patrimônio cultural local e regional de comunidades de ascendência imigratória no Brasill, pesquisadores, educadores e educandos são confrontados com referências a picadas, lotes e linhas, à preparação de terrenos, à abertura de caminhos e estradas, ao estabelecimento de povoados, a edifícios de particular significado e ao desenvolvimento de cidades. Comunidades, bairros e ruas conservam até hoje, na sua denominação, a memória da época inicial de implantação urbana. Aquele que procure aprofundar-se nos estudos da memória local, o pesquisador não poderá esquivar-se de considerar os edifícios mais representativos, a sua história, dirigindo a sua atenção à leitura de construções e de configurações urbanas.

Esse aguçamento da capacidade perceptiva e de aumento de conhecimentos quanto às estreitas relações entre migrações, implantação de colonias, posse de terra e processos culturais são de particular atualidade, uma vez que consideráveis territórios do Brasil Central e da Amazônia se  encontram, hoje, submetidos a similares complexos de dinâmica ocupatória.

A questão da consideração adequada - até hoje insuficiente - de perspectivas e aportes teóricos da Arquitetura e Urbanismo aos Estudos Culturais e vice-versa foi levantada já em 1971 em sessão realizada no antigo Museu de Artes e Técnicas Populares da Associação Brasileira de Folclore em cooperação com estudantes e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. A atenção foi então dirigida de modo pioneiro às possibilidades de colaboração interdisciplinar e, sobretudo, à necessidade de reflexões mais aprofundadas acerca das implicações teóricas e metodológicas dela resultantes.

Relativamente à história da consideração dos estreitos elos entre processos urbanos e culturais na Educação, esta teve o seu início na Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto Musical de São Paulo, também no início da década de 70. Ali realizou-se, em 1973, um primeiro seminário de extensão universitária sobre o tema no âmbito de cursos de Licenciatura, visando a inclusão de perspectivas voltadas a processos urbano-culturais no ensino por parte de professores de escolas de nível médio.

Dos trabalhos posteriores, cumpre lembrar sobretudo aqueles realizados pela passagem dos 500 anos do Brasil, quando salientou-se mais uma vez a importância e a necessidade de perspectivas e procedimentos que relacionem o estudo de processos ocupacionais e de urbanização com os Estudos Culturais.

Assim como nos Estudos Culturais têm-se dado mais recentemente particular atenção a processos performativos - de natureza educativa em sentido amplo do termo -, também cumpre a uma Educação de orientação cultural integrar nas suas diretrizes concepções urbanológicas.

A observação das tendências e das práticas em situações similares em outros países pode favorecer as reflexões, garantindo uma abertura maior de perspectivas e contribuindo a um desenvolvimento teórico e metodológico coerente.


Estudo de caso: o ensino de minorias de passado colonial alemão na Romênia

A escolha da situação das minorias de ascendência alemã da Romênia para ser analisada sob a perspectiva euro-brasileira justifica-se pelo papel que a colonização alemã desempenhou na ocupação, no cultivo e no desenvolvimento urbano de vastas regiões que hoje fazem parte do território romeno.

A colonização por imigrantes alemães na Idade Média, marcou a paisagem, a configuração rural e urbana de vastas regiões que integram atualmente a Romênia, em particular da Transilvânia ou Siebenbürgen, vasta área marcada pela presença dos saxões-siebenburgueses. O observador que percorre o país percebe sem maior dificuldade as diferenças entre a fisionomia paisagística e arquitetônica dessas áreas e de outras regiões do país.

Reconhecendo a diversidade étnica e cultural do país, educadores romenos procuram desenvolver na atualidade concepções e práticas adequadas às minorias populacionais e que, dependendo da região, adquirem maior ou menor significado no todo. No caso da Transilvânia/Siebenbürgen, a minoria alemã - que já foi maioria e predominante culturalmente no passado -, é alvo de particular atenção. Em escolas onde há classes de alemão, são ensinados não apenas o idioma, mas também e sobretudo  aspectos da memória e do patrimônio regional referentes ao passado colonial (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Minoria-Educacao.html).

Essa intenção é estreitamente vinculada a questões patrimoniais. A atenção à história e à cultura de uma região e de sua população de ascendência alemã que foi até fins da Primeira Guerra parte da Áustria-Hungria e que, por isso, sob a perspectiva romena, devia ser integrada, levanta a questão de sua justificativa. Salienta-se, neste sentido, o significado da diversidade na unidade do país e a importância da permanência da memória de grupos populacionais em territórios de passado colonial para a manutenção do patrimônio material e imaterial de localidades e regiões.

As tendências e os procedimentos empregados atualmente no ensino das minorias alemãs na Romênia podem ser analisadas a partir de um compêndio para as classes sexta e sétima das escolas com língua de ensino alemã lançado em 2011, já em quarta edição. Esse livro corresponde a programa de ensino aprovado pelo Ministério de Educação, Pesquisa e Inovação romeno, em 2009 (H. Baier, M. Bottesch, D. Nowak, A. Wiecken, W. Zigler, Geschichte und Traditionen der deutschen Minderheit in Rumänien: Lehrbuch für die 6. und 7. Klasse der Schulen mit deutscher Unterrichtssprache, Sibiu/Hermannstadt: Central, 2011 ISBN 978-973-87076-5-8).

"A minha cidade". Percepção de vestígios na localidade em que se habita

Ponto de partida das considerações é "a minha cidade". Os alunos devem ser auxiliados a encontrar, seguir e documentar vestígios presentes e históricos da minoria alemã na respectiva localidade que habitam.

Alunos em Sibiu/Hermannstadt, Brașov/Kronstadt ou Bistrita/Bistritz deparam-se a cada passo com os rastros dessa minoria, de modo que podem realizar uma vasta documentação. Alunos de Cluj-Napoca/Klausenburg não encontram mais tantas construções remontantes aos alemães, pois muitas das grandes edificações e muralhas foram demolidas, apenas restando restos. Apesar de ter havido também grandes demolições em Temeswar, no passado chamada de "Pequena Viena", o passado arquitetônico ainda se encontra presente por todo lado. Um contexto totalmente diferente daquele de Siebenbürgen é o de Satu Mare (Sathmar), onde, por razões histórico-políticas, escolas alemãs foram reintroduzidas apenas após 1918.

Com essas menções, o compêndio procura chamar a atenção ao fato de que nem todas as regiões de passado colonial alemão são igualmente adequadas para a detectação de vestígios. Também os alunos de Sathmar, porém, devem aprender como é que surgiram as igrejas de Siebenbürgen e os de Kronstadt qual foi a razão da colonização de austríacos nas montanhas do Banat, surgindo ali uma região industrial. (op.cit. 7)

Esses intentos revelam que não apenas a localidade em que os alunos habitam é objeto da atenção no ensino das minorias. Para o aguçamento da percepção de vestígios e para o seu estudo torna-se necessário o conhecimento de outras situações e processos históricos de colonização e desenvolvimento de localidades, dentro do atual país e mesmo em contextos afins do Exterior.

Edifícios como fontes de informação

Detectatados os vestígios, o escolar é levado a aprender a lê-los e interpretá-los. O compêndio salienta o significado de construções como documentos da época em que foram construídos. A partir deles, pode-se conhecer algo a respeito das pessoas que neles viviam. Um dos métodos utilizados é o da comparação: conhecimentos podem ser obtidos através de cotejos de construções de diferentes épocas com função similar, por exemplo de um castelo de madeira e barro do século XIII com uma igrea-castelo do século XVI, ou de igrejas protestantes, católicas ou ortodoxas entre si.

Os alunos devem, na pesquisa de construções das respectivas localidades, responder a questões quanto à época de edificação do edifício, àquele que o construiu, a razão de sua construção e o seu objetivo, indagando se esse possui a mesma função no presente, se os seus proprietários tinham posses, de onde provinham os meios, de onde vieram os construtores e artesãos, que materiais foram utilizados, se esses materiais eram da localidade ou de fora, que modificações sofreram os edifícios através do tempo, como era a região no passado e se há, nas vizinhanças, construções da mesma época. (op.cit. 8)

Outras fontes para o estudo "da minha cidade"

Na proposta "a minha cidade" como ponto de partida do ensino, a consideração de construções constitui apenas um dos aspectos na procura de fontes de informação. Os alunos devem aprender a ler imagens e fotografias, a ler mapas antigos, a ler documentos vários e ter conhecimentos de trabalhos de arquivo. O objetivo aqui é levar os escolares a ler cuidadosamente e sob diferentes perspectivas fontes escritas e visuais, a fazer questionários àqueles que vivenciaram fatos históricos e a tirar melhor proveito de visitas a museus, devendo estes ser frequentemente procurados.

Capítulos sobre temas gerais da colonização

Os alunos recebem, concomitantemente, conhecimentos de contextos para que possam situar os dados obtidos por caminhos empíricos e de pesquisa de fontes na sua respectiva região. O compêndio trata aqui dos seguintes pontos: comunidades alemãs no país; estruturas políticas até a Primeira Guerra Mundial; aldeias e cidades; datas-chave na primeira metade do século XX; vida sob o comunismo; êxodo - a época após 1989; dialetos, trajes e usos; igreja e escola; cultura dos teuto-romenos - personalidades.

Estudo de tipos de povoados e construções

Os escolares aprendem, como importante ponto do programa de ensino, a distinção de tipos de povoações e de casas. (op.cit. 72 ss.)

A atenção é dirigida sobretudo ao tipo de construção remontante à colonização alemã que caracteriza a região siebenburguesa. Com base em fotografias de casas de diferentes cidades de Siebenbürgen, em particular das circunvizinhanças de Sibiu/Hermannstadt, os escolares passam a reconhecer características de construções que as identificam como de proveniência alemã ou influenciadas por casas de colonos alemães.

Muitas casas de romenos inspiraram-se em casas de colonos alemães, assimilaram traços e elementos, o que é visto como prova da necessidade de considerar-se mais diferenciadamente as relações entre a arquitetura e os seus moradores.

O procedimento de ensino é aqui baseado em questões que chamam a atenção dos escolares para as razões funcionais desse tipo de arquitetura. Os educandos devem procurar explicar as vantagens resultantes do fato das casas se levantarem às margens das vias, criando verdadeiros muros que protegem o terreno interno e a razão da existência de grandes portões laterais, devendo, para isso, pensar na época das colheitas e nas grandes carroças que por êles deviam passar.


Dessa forma, o aluno passa a compreender as razões funcionais de uma das características arquitetônicas e urbanas das regiões de colonização que, extrapolando os seus contextos histórico-coloniais, através da imitação, passaram a marcar a fisionomia de grande parte do país.


Aguça-se, assim, a sensibilidade para a percepção dos problemas resultantes dessa difusão de modêlo ocupacional e construtivo que, justificável nas situações originais, hoje leva a um desgaste e desperdício territorial. A construção ao redor de vias, impedindo a formação de núcleos, traz em si não apenas problemas infra-estruturais de difícil solução, mas também de diminuição de qualidade de vida. Com a política de "sistematização" urbana, ou melhor, de-aldeamento de passado recente da época comunista, esses problemas se agravaram. Sobretudo em regiões planas, de fácil ocupação, o país mostra hoje graves situações de deterioramento do meio-ambiente e de dispersão urbana.

Nos exercícios de leitura de construções, os escolares aprendem também a procurar e interpretar indícios que possam levar a conclusões a respeito de seus construtores, primeiros ou atuais habitantes à época da edificação ou de reformas. Assim, muitas das casas da região apresentam escritos com nomes de construtores e proprietários. Em particular, o estudo dos ornamentos das fachadas é feito no sentido de se procurar indícios para o reconhecimento do tipo de ocupação daqueles que nelas viviam.

No século XIX, houve a prática de colocação de dizeres em fachadas; essas eram em geral em alemão culto, podiam ser, porém, também em dialeto. Os alunos, que nem sempre dominam já totalmente o alemão, devem copiar essas inscrições nos cadernos e tentar decifrá-las.

Leitura de plantas e de espaços internos

Quanto à ordenação interna e ao modo de vida doméstico, os escolares são confrontados com os tipos mais comuns de disposição dos espaços. Aprendem a constatar que, em geral, as salas de estar se localizam à frente, dando para a rua, seguindo-se, para trás, a cozinha e outros quartos. Nos fundos do pátio, encontram-se as construções dedicadas à economia. Para o estudo desses interiores, os escolares aprendem a ler plantas de casas, assim como se exercitam através de conclusões relativas a espaços internos a partir de fotos de fachadas e de laterais.

Importante fator no ensino é o do desenvolvimento da empatia dos escolares na percepção das qualidades de vida do interior das residências. Devem imaginar quais seriam os aposentos mais adequados para os pais, para as crianças e quais seriam aqueles nos quais os avós podiam morar. Os alunos são levados a tecer suposições a respeito de qualidades térmicas dos ambientes, sugerindo quais seriam as partes das propriedades mais agradáveis nas diferentes estações do ano. Em que parte da casa as famílias de camponeses passavam o verão?

Como instalações sanitárias em casas rurais apenas passaram a existir a partir de 1965, os alunos devem sugerir, com base em plantas e esboços, quais foram os espaços que precisaram ser diminuidos para a construção de banheiros. Dessas questões, passa-se à consideração de aspectos de higiene. Trata-se da anterior localização de sanitários no exterior das moradias, e, no caso de haver animais vivendo em determinados espaços das construções, do local de deposição dos excrementos. Com base em desenhos, os alunos devem distinguir áreas e divisões nos terrenos, reconhecendo ou propondo o seu uso.

Percepção de diferenças culturais através da arquitetura

A partir de exercícios práticos de leitura de construções do seu próprio contexto de vida, os alunos são levados a considerar que nem todos os colonos construiram da mesma maneira. Com base em fotografias de outras regiões do país, aprendem a reconhecer as diferenças na arquitetura e na disposição urbana em diferentes contextos. Em primeiro lugar, constatam o contraste que apresentam as construções camponesas "saxo-siebenburguesas" daquelas do Banat. Considera-se, aqui, que as casas de colonos dessa região foram construídas segundo um plano normatizado. Um exemplo aspresentado aos escolares no compêndio é o da aldeia Kowatschi/Kovaci, que existia até o ano de 1970.

Para o exercício da capacidade de leitura, os escolares devem comparar as diferenças - por exemplo relativamente à cobertura - com as construções de suas regiões. Devem responder a questões tais como: onde é que os camponeses guardavam o feno para os animais, onde é que guardavam as suas carroças, era a sala de estar, que dava para a rua, aquecida no inverno?

Os escolares também aprendem que a maior parte das casas do Banat mantiveram através dos tempos o mesmo plano básico, ainda que tenham sido modernizadas ou substituidas por construções mais recentes. Para esse estudo, devem aprender a reconhecer as diferenças nas fachadas das casas, nelas procurando indícios sobre o grau de bem-estar e prosperidade de seus proprietários.

O ensino escolar e a pesquisa especializada: casas do Banat

O conteúdo do compêndio utilizado para o ensino das minorias alemãs denota a consideração, por parte dos autores, da pesquisa especializada relativa às construções tradicionais da Romênia. Assim, tipos de aldeias e de casas tradicionais de regiões de povoamento alemão constituem objeto de estudos de cultura popular e estão representados no Museu das Aldeias (Muzeul Satului) de Bucareste. (Vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Bucareste-Museu-Aldeias.html)

Os alunos formados segundo o compêndio, e que são levados a visitar museus, podem, aqui, em exemplos significativos provenientes de diferentes regiões, aplicar e exercitar os seus conhecimentos.

Esse é o caso, por exemplo, das casas do Banat, considerados com particular atenção no ensino escolar. O Museu de Bucareste possui aqui um exemplar proveniente da região de Timis, uma casa construída em 1821 (Gospodaria Sârbova). Com essa construção, procura-se documentar a influência de moradias ocidentais na arquitetura do Banat no século XIX com a vinda de imigrantes, sobretudo quanto à sua configuração externa, à elevação e aos materiais construtivos.

Esse fato é visto na sua inserção em processo muito mais amplo de difusão de casas do tipo "francônio", caracterizado por telhado em duas águas, de quedas laterais.

O fato das casas serem construídas com a sua fronte estreita para a rua, onde se alinhavam, correspondia a lei rural ditada pela administração do Império dos Habsburgs. Assim, consequentemente, esse tipo de construções se encontra sobretudo nas áreas de colonização austríaca do Banat no século XIX, diferentes daquelas dos Siebenbürgen. Aqui, a ocorrência de casas desse tipo representaria antes casos individuais de recepção.

A disposição das casas nos lotes e o seu alinhamento relativamente à rua, determinados pela legislação, explica um maior significado da fachada, aqui na parte mais estreita dos edifícios. A decoração com motivos geométricos e florais indica a permanência de elementos barrocos na arquitetura rural de proveniência austríaca no Banat.

Esse tipo de construção, levantada numa das laterais do terreno, determinava também uma configuração característica do pátio que se criava entre ela e uma construção destinada aos estábulos e depósitos na outra lateral, tendo aos fundos depósito para cereais, chiqueiro e banheiro. Para esse pátio dava varanda lateral, ao longo da construção, e para a qual se abriam o compartimento de entrada central e, desse, de ambos os lados, o quarto de moradia e o quarto de hóspedes.

Um fato singular desse tipo de arquitetura reside na não-correspondência da disposição sugerida pela fachada, com as suas três janelas, e a real do interior da construção. A simetria externa não equivale à interna, uma vez que esta é determinada pela orientação à varanda lateral, não à fachada de fronte. Para o observador externo, a casa surge como maior e mais representativa; vista lateralmente, percebe-se que um terço da fachada, com a respectiva janela, possuem apenas função estética de garantir a simetria frontal, pois dão para o espaço aberto da varanda, apenas defendendo a privacidade de olhares da rua. Tudo indica haver aqui coadunações de diferentes tipos construtivos, de uma adaptação da arquitetura a princípios de disposição e alinhamento determinados pela legislação.


O ensino escolar e a pesquisa especializada: casas dos saxões siebenburgueses

Sobretudo os escolares da região dos Siebenbürgen podem encontrar, no Museu de Bucareste, exemplares significativos daqueles que estudaram nas suas cidades. Por outro lado, aqueles provenientes de regiões com outro passado colonial, podem conhecer aqui as casas que "tipicamente" caracterizam as zonas rurais siebenburguesas.

Uma das construções mais representativas do Museu é justamente a de uma casa de colonos alemães proveniente de Brașov/Kronstadt. Datada do século XIX, e proveniente da aldeia de Gospodaria Dragus, ao pé das montanhas Fagaras, foi transferida para o museu em 1936.

Tambem com telhado de duas águas de quedas laterais, alinhada com o lado mais estreito dando à rua, esse tipo de construção tem como principal característica a intercepção do ângulo frontal de encontro das duas águas, criando uma parte do telhado em triângulo que dá para a rua. A impressão de simples construção em duas águas é assim suavizada, dando à construção do telhado uma aparência mais complexa e representativa. A queda da água para a frente, porém, para cima das janelas dando à rua, exigem muitas vezes a criação de uma cobertura intermediária de proteção, o que define a configuração da fachada. A varanda lateral é integrada na área coberta pelo telhado, não havendo, assim, simetria entre a parte inferior da fachada, determinada por três janelas, e a sua fronte superior.

Em ângulo reto com a moradia, levanta-se a construção destinada a celeiros e estábulos, não em alvenaria, mas de madeiro e cobertura de feno. O terreiro lateral é fechado com relação à rua por uma cerca, com portão de entrada e grande portão destinado à entrada e saída de veículos com carregamentos de grãos.


No Museu, dá-se particular atenção à arquitetura de interior dessas casas saxo-siebenburguesas, assim como a manutenção, através dos séculos de elementos decorativos ainda conhecidos da Alemanha, como por exemplo o uso da exibição de objetos de cerâmica nas paredes. A permanência de tipo de mobiliário e de motivos tradicionais pode ser constatada em arcas de madeira trabalhada e em objetos pintados com motivos florais e geométricos.


Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Minorias, Patrimônio e Educação em situações de pluralidade étnica e cultural Grupos populacionais de ascendência alemã no Brasil e na Romênia III: habitações rurais" Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/18 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Teuto-Romenos-Arquitetura.html




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.