Romênia e Brasil. BRASIL-EUROPA 134/1. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Bandeira da Romenia
Plásticas em Constanza, Romenia. Foto A.A.Bispo
Plásticas em Constanza, Romenia. Foto A.A.Bispo
Plásticas em Constanza, Romenia. Foto A.A.Bispo



Imagens de Constanta. Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/1 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2810


A.B.E.


Tema em debate

Romênia e Brasil: Do patrimônio cultural material e imaterial
nas suas relações com a formação de novas gerações


Ciclos de estudos da A.B.E. na Romênia. Pelos 150 anos de ASTRA e pelos 130 anos de George Enesco (1881-1955)

 
ASTRA, Sibiu, Romenia
A presente edição da Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira é dedicada a estudos que relacionam a Romênia e o Brasil. Os textos apresentam resultados de estudos, encontros e observações realizados em várias regiões da Romênia - Valáquia, Transilvânia, Bucovina e Dobrudscha - em 2011. Esses trabalhos foram motivados pela passagem dos 150 anos de ASTRA - Asociatiunii Transilvane pentru Literatura Româna si Cultura Poporului Român e pelos 130 anos do compositor George Enesco.

Significado do desenvolvimento dos estudos culturais na Romênia

Essa organização adquire significado em visão retrospectiva dirigida à história dos estudos culturais no território da atual Romênia em época de formação do Estado nacional, surgido em 1859 da união do Moldau e da Valáquia.

No complexo ASTRA estão integrados hoje o Museu de Etnografia Universal "Franz Binder", o Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica "Emil Sigerus", além de outras entidades, entre elas o Centro de Informação e Documentação "Cornel Irimie", o estúdio de filmes ASTRA e as galerias de Folk Art.

Sobretudo o Museu Saxônico Etnográfico e de Arte Folclórica "Emil Sigerus" é de particular relevância como expressão do processo de conscientização do patrimônio e de identidade cultural da população de ascendência alemã de Siebenbürgen/Transilvânia no século XIX, região então da Áustria-Hungria integrada à Romênia apenas em 1918, com o fim da Dupla Monarquia.

O Museu de Etnografia Universal "Franz Binder" adquire um significado que supera fronteiras nacionais e regionais. Tendo surgido em meados do século XIX, em época que o interesse por outras culturas apenas despontava em muitas nações, a coleção de materiais que hoje constituem o seu principal acervo por mercadores, médicos, diplomatas e outros que viajaram pelo mundo em navios austríacos é de significado para as respectivas culturas e para a história dos estudos culturais no seu todo.

Sobretudo, porém, é a orientação do ASTRA como complexo de instituições na atualidade, iniciado em 1989 com a aproximação maior do país à Europa Ocidental e com a sua integração na União Européia, em 2007, que justifica e mesmo impõe a consideração dos seus trabalhos: ela exemplifica a passagem de um museu étnico a um multicultural e interdisciplinar.

Compreendendo-se agora como "Museu da Civilização da Transilvânia", o ASTRA dedica-se mais especificamente ao século XXI no âmbito dos "museus de regiões européias". Esses museus, criados sob perspectivas diacrônicas e multimediais, pretendem salientar a contribuições de todos os grupos populacionais ao processo de desenvolvimento cultural e civilizatório de particularidades próprias. Os empreendimentos e as reflexões teórico-culturais romenas inserem-se, assim, em situação de preeminência, em contextos mais amplos europeus e mesmo globais, uma vez que partem de discussões de recomendações da UNESCO.

Sibiu/Hermannstadt como cidade identificada com a cultura

Esse papel que transcende limites nacionais e regionais do complexo de instituições sediado em Sibiu/Hermannstadt manifestou-se no contexto da nomeação dessa cidade, juntamente com Luxemburgo, a  "capital européia da cultura", em 2007. Não se limitando a esse ano, as entidades culturais dessa cidade siebenburguesa contribuem a que Sibiu/Hermannstadt continue a acentuar a sua identidade e posição como centro cultural. Para isso, desenvolve-se intenso e diversificado programação de exposições e apresentações.

Procurando atualizar concepções museológicas no sentido de um "museu vivo", no qual não apenas o patrimônio material, mas sim também o imaterial ou intangível é objeto das atenções, promove, em espaços abertos, eventos que não apenas procuram apoiar a conservação de expressões tradicionais por grupos que se dedicam a seu cultivo, valorizando-os, mas sim também fomentar  a participação ampla do público em danças e outras atividades culturais.

Esses eventos e suas concepções oferecem caminhos para a análise de desenvolvimentos mais recentes da Romênia no contexto da União Européia e merecem ser considerados também por representantes de outras nações que se dedicam a questões relativas ao patrimônio cultural.

Patrimônio cultural e Educação

Nos caminhos que estão sendo percorridos na Romênia podem ser analisados exemplos contextualizados da realização de concepções teórico- e político-culturais de utilidade para cotejos e para o intercâmbio em diversas áreas dos conhecimentos e da Educação. Oportunidade para um esse confronto e diálogo transcultural ofereceu-se, sob a perspectiva euro-brasileira, no âmbito da Ansamblul Floricicia da Asociaţiei cultural-educative “Zestrea Carpaţilor” de Comarnic Prahova, ocorrida em 26 de setembro de 2011.

Essa associação, cujos participantes evidenciam um alto nível técnico na géstica, movimentação e coreografia, traz à consciência, pelas suas concepções e prática, as estreitas relações existentes entre a manutenção, sob critérios atualizados, do patrimônio cultural e a Educação.


Esses elos entre a prática cultural e o ensino, que pressupõe a consideração interrelacionada das pesquisas e reflexões teórico-culturais com as ciências da educação, foram principais objetivos dos trabalhos desenvolvidos na Romênia. A atenção foi aqui dirigida em dois sentidos: o da existência de preocupações de cunho educativo na pesquisa e nos trabalhos científicos relativos ao patrimônio cultural imaterial e o da consideração da pesquisa e de questões culturais na Educação.


Questões relativas ao "material" e ao "imaterial" no patrimônio


Ponto de partida das reflexões foi o da diferenciação conceitual mais sutil de concepções relativas ao patrimônio cultural material ou imaterial, tangível ou intangível. Nos trabalhos inaugurais desenvolvidos no Museu das Aldeias de Bucareste, procurou-se trazer à consciência a questionabilidade teórica e filosófica existente numa concepção que vê a arquitetura e outros objetos "palpáveis" ou de espaço como elementos de um patrimônio material, música, danças e outras expressões que se desenvolvem antes no tempo, "impalpáveis", como elementos de um patrimônio imaterial.


Também a arquitetura e outras expressões "tangiveis" fazem parte de um patrimônio de imagens e concepções, marcados por sistemas de ordenação e conteúdos, por processos e mecanismos que, embora não sendo mais imediatamente captável pelos sentidos, podem ser inferidos e analisados, constituindo até mesmo objetos primordiais dos estudos teórico-culturais. Por outro lado, a música e outras expressões "não palpáveis" são captadas pelos sentidos, e também aqui constitui o reconhecimento e a análise de estruturas, configurações inerentes e sentidos tarefa dos estudos culturais.


Um dos principais anelos em preocupações voltadas ao patrimônio cultural deveria ser aquele do desenvolvimento da sensibilidade, de conhecimentos e da capacidade de discernimento e de reflexão para o enxergar e o entendimento dessas dimensões reconhecíveis e estudáveis, ainda que não palpáveis ou captáveis pelos outros sentidos.


A superação de visões marcadas por um superficial entendimento do patrimônio cultural segundo uma divisão em patrimônio material e não-material, por exemplo no sentido de um suposto contraste entre arquitetura, artes plásticas e expressões músico-coreográficas e teatrais passa a constituir tarefa primeira de um processo educativo de orientação teórico-cultural. Uma formação assim dirigida surge como pressuposto para o tratamento de relações recíprocas entre expressões, por exemplo daquelas entre a arquitetura e música, e, portanto para que o debate patrimonial corresponda ao teórico-cultural mais recente.


Patrimônio cultural de minorias populacionais: alemães na Romênia


A consideração de desenvolvimentos concernentes a questões culturais e patrimoniais nas suas relações com a Educação adquire especial significado sob a perspectiva brasileira pela atenção que neles hoje se concede às minorias populacionais.


Este é o caso da população de ascendência alemã, que marcou a história da colonização de amplas regiões, a sua história política e cultural por séculos e que ainda hoje desempenha papel relevante na Romênia, apesar da sua considerável diminuição devido ao intenso movimento emigratório em direção à Alemanha das últimas décadas.


Observando a consideração de questões culturais em livros dedicados a alunos de escolas que incluem classes em língua alemã na Rumênia, o pesquisador brasileiro pode tecer comparações com situações brasileiras em regiões marcadas pela imigração no passado. A atualidade de questões que relacionam questões culturais de identidade e de memória de parcelas populacionais de ascendência alemã com a Educação manifestou-se na programação e nos trabalhos apresentados no Forum Rio Grande do Sul do Congresso de Estudos Euro-Brasileiros realizado em 2002. Muitos complexos temáticos então tratados puderam agora voltar a ser considerados no exemplo do contexto da minoria de ascendência alemã da Romênia, em particular de Siebenbürgen.


Ensino adequado culturalmente a minorias - cotejos com situações brasileiras


Uma análise de textos utilizados nas escolas demonstrou o significado do tratamento do patrimônio, tanto "material" como "imaterial". Surge aqui como exemplar o fato de não apenas transmitir-se aos alunos conhecimentos de danças e tradições festivas da própria comunidade, preparando-os para discernir diferenças e similaridades com as de outras minorias e as nacionais romenas, mas também com a finalidade de prepará-los para a leitura de cidades e, em especial, dos processos de ocupação da terra e urbanização.


Essa preparação da capacidade perceptiva e da atenção às vias de comunicação, ao estabelecimento de rêdes e povoados, à política de ocupação nas suas relações com a história colonial e política, às consequências dos projetos urbanísticos do período socialista e a outros aspectos de uma urbanologia de orientação cultural surge como pressuposto para o desenvolvimento de uma consciência do significado da ordenação espacial e da ocupação refletida da terra. Trata-se, assim, de um escopo de relevância num presente que, como na Romênia, é marcado por graves problemas de degradação do meio ambiente.


A comunidade alemã da Romênia desempenha um papel significativo quanto aos estudos e ações culturais relacionados com processos educativos em dimensões mais amplas, extra-escolares, salientando-se aqui o ensino do idioma e a difusão de correntes culturais contemporâneas. Esse papel pôde ser constatado em visita a centros culturais, destacando-se aqui o da Casa Teutsch de Sibiu/Hermannstadt, mantenedor de um museu e biblioteca.


Patrimônio cultural de passado colonial e de imigração


Devido a seu passado derivado da colonização, importantes monumentos do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico romeno insere-se na história da população de ascendência alemã. Como essa população foi marcada pela Reforma religiosa, a igreja evangélica desempenha importante papel na cultura, identidade e consciência histórica dessa parcela populacional. Entretanto, as igrejas de maior valor patrimonial remontam à época anterior à Reformação, podendo apenas ser lidas adequadamente a partir de concepções católicas que marcaram a sua construção.


A apreciação adequada do patrimônio "material" exige o direcionamento à ordenação de imagens e concepções subjacentes, ou seja, ao patrimônio "imaterial" inerente à sua expressão mais imediatamente captada pelos sentidos.


Esse direcionamento da atenção a edifícios de imagens e concepções, a processos e mecanismos na análise teórico-cultural, tanto relativamente à arquitetura ou às artes plásticas, como também no referente à música ou à dança, não significa que os enfoques sejam voltados necessariamente ao espiritual no patrimônio cultural.


O estudo do "imaterial" reconhecível pelo intelecto e analisável nas suas estruturas, imagens, sentidos e mecanismos, ou seja, o estudo em perspectiva culturológica, distingue-se do procedimento teológico. Igrejas, plásticas, obras de arte e expressões culturais religiosas ou de fundamentação religiosa passam a ser objetos de leituras, interpretações e análises de natureza teórico-cultural conduzidas sob outro enfoque àquele confessionais.


Proximidades e necessária diferenciação de perspectivas: análises culturais e teologia


Que também aqui torna-se necessário - embora nem sempre fácil ou possível - a cooperação entre especialistas e envolvidos, isso o demonstrou o simpósio internacional "Sfântului Neagoe Basarab Print al Pacii si al Culturii", realizado em Curtea de Arges.


Nesse evento, a pesquisa histórica e cultural relacionou-se com a religiosa, sendo integrada em conjunto de solenidades patrocinados pela arquidiocese de Curtea de Arges, e teve como objeto o papel religioso e cultural de um vulto do século em que, no Ocidente, se processavam os grandes Descobrimentos. Esse evento tornou manifesto o ressurgimento e a intensificação da religiosidade e do poder do clero na Ortodoxia romena, um país que, ao lado da católica Polonia, experimentou um recrudescimento religioso após o término do bloco comunista.


Se uma aproximação adequada a vultos e expressões do passado deve ser feita a partir de seus próprios pressupostos, no caso de uma cultura estreitamente vinculada à religião o pesquisador cultural deve ter o cuidado de estabelecer diferenças quanto a enfoques e procedimentos, para que o estudo cultural não seja instrumentalizado para fins de propaganda religiosa. Esse cuidado também é necessário sob a perspectiva transcultural e do fomento da aproximação e cooperação entre pesquisadores de vários países e contextos culturais.


Estudos comparados de tradições brasileiras e de pinturas murais em igrejas moldavas


Um exemplo das possibilidades que aqui se abrem para o desenvolvimento dos estudos é o das igrejas conventuais do Moldau. Essas igrejas, sobretudo pelas suas pinturas murais externas, são reconhecidas como partes integrantes do Patrimônio Cultural do Mundo pela UNESCO. Elas têm sido consideradas sob perspectivas histórico-artísticas e histórico-eclesiásticas, salientando-se o seu valor como monumentos de uma fase importante da história do Moldau e da história da arte sacra do Cristianismo.


No âmbito dos estudos culturais em dimensões globais, em particular, no caso, de contextos euro-brasileiros, é, porém, é a análise da ordenação de imagens dos seus grandes painéis, da organização dos contextos bíblicos e histórico-eclesiais representados que abrem perspectivas para o aprofundamento dos estudos para além das distâncias geográficas, confessionais e histórico-culturais.


Essa análise torna-se possível apenas sob o pano de fundo dos estudos que vem sendo desenvolvidos há anos no contexto da A.B.E. relativos à ordenação de danças, cortejos e outras expressões culturais na tradição brasileira e que despertam a atenção do observador a características da organização desses murais que até agoram passaram despercebidas a historiadores da arte e a teólogos.


Estudos da Antiguidade de orientação teórico-cultural


Essa análise, possibilitada também pela proximidade à cultura popular dos murais das igrejas conventuais da Bucovina, abrem portas ao estudo de estruturas do edifício de imagens e concepções de antigas raízes, contribuindo, assim, à elucidação do sistema de visões do cosmos e do homem transmitido através das narrativas bíblicas. Nesta edição, considera-se alguns dos aspectos dessas análises no exemplo de algumas das principais igrejas conventuais moldavas, emprestando-se particular atenção às suas relações com expressões que marcam o patrimônio cultural do Brasil, em particular aquelas relacionadas com a luta entre cristãos e mouros.


O estudo do edifício de concepções e imagens leva a que o pesquisador dirija a sua atenção a seus fundamentos na Antiguidade e à sua transformação através da Cristianização. Também aqui a Romênia adquire particular relevância para estudos de processos culturais em contextos globais. O seu território, em particular o seu litoral junto ao Mar Negro, onde desemboca o Danúbio, apresentam ruínas de alto significado arqueológico, testemunhos da antiga presença do homem nessa região, de diferentes povos e culturas, da colonização grega e da posterior romanização.


Dando continuidade aos trabalhos que vem desenvolvendo desde 1974 no âmbito dos Estudos da Antiguidade de orientação cultural e interdisciplinar, a A.B.E. realizou visita, em especial, ao complexo arqueológico de Histria. No museu e na área das ruínas, puderam ser levados à frente estudos relativos à inserção dessa área do Mar Negro no edifício das concepções da Antiguidade, com as suas conotações simbólico-etnológicas e -antropológicas.


O Mar Negro no edifício imagológico e a ação apostólica de Sto. André


Os aspectos negativos da imagem da região e de seus povos - entre outros da Esquícia, da Trácia e da Dácia - necessitam ser considerados sob o pano de fundo desse edifício de concepções e o seu estudo abre novas perspectivas para a interpretação de fatos, desenvolvimentos e visões de extraordinária relevância para a história cultural, inclusive a do Brasil. Basta lembrar que foi aqui, na região de tão negativa imagem do Mar Negro, que Ovidio passou os anos do seu exílio e é essa imagem da região que permite novas aproximações interpretativas de uma obra de extraordinário significado através dos séculos.


É com base nesses fundamentos de natureza arqueológico-cultural de um sistema de concepções e imagens que se pode tentar aproximações teórico-culturais que permitam compreender as tradições relativas à ação cristianizadora do Apóstolo André dessa região. Assim como em trabalhos anteriores, a A.B.E. considerou os locais de ação apostólica de São Tomé, na Índia, visitou agora aqueles marcados pela memória de Santo André na antiga Dácia.


Identidade romano-latina da Romênia, romanismo, panlatinismo e estudos euro-brasileiros


É nessa região que teve lugar a batalha decisiva que levou à vitória romana sob Trajano. O monumento-mausoléu que se levanta no campo árido das lutas assume um significado que transcende aquele meramente histórico-arqueológico. É visto como marco do início da história romena na sua identificação romano-latina.


Embora possa ser essa identificação ela própria apta a ser considerada como construção histórica, traz à consciência uma situação singular da Romênia e que justifica a sua consideração mais atenta por parte dos estudos culturais europeus ocidentais, em particular daqueles do mundo latino: a consciência que a marca de pertencer ao mundo criado pelos romanos e à cultura da latinidade. Ainda que esse país situado entre a Europa Central e o Sudeste da Europa pertença ao mundo da Ortodoxia e mantenha a memória da antiga Bizâncio, apresenta uma identidade decididamente orientada para o mundo latino.


É significativo, assim, que os primeiros documentos que testemunham aproximações e relações entre o Brasil e a Romênia no século XIX provenham da área dos estudos culturais, em particular da Etnografia, inserindo-se em correntes que vinculavam a Romênia à França e à Espanha e, em geral, ao pan-latinismo. Compreende-se, nesse contexto, o fato aparentemente singular de ter-se solicitado, a D. Pedro II a condecoração de uma das personalidades romenas que mais se destacaram nesses intentos de fundamentação latino-romana da identidade nacional romena: Vasile Alexandrescu-Urechia (1834-1901).


Essa identificação da Romênia com o mundo latino merece ser considerada pelos pesquisadores, pois representa uma situação altamente favorável para um desenvolvimento profícuo dos estudos culturais em contextos internacionais, abrindo novas e promissoras perspectivas.


Antonio Alexandre Bispo




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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Romênia e Brasil: Do patrimônio cultural material e imaterial nas suas relações com a formação de novas gerações". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/1 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Romenia-Brasil.html




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


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  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.