Diplomacia cultural: Romênia, França, Brasil. BRASIL-EUROPA 134/28. Bispo, A.A. (ed.). Academia Brasil-Europa e ISMPS





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BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Carol I da Romênia

Fundacão Universitária Carol I

Fundacão Universitária Carol I

Bukarest

Bukarest

Bukarest

Palácio Real, Museu de Artes, Bukarest

Imagens de Bucareste. Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 134/28 (2011:6)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2010 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2837


Academia Brasil-Europa

Instituições em visita



A Academia Română e a diplomacia cultural nas relações entre a Romênia, a França e o Brasil
Vasile Alexandrescu-Urechia (1834-1901), Louis Léon Prunol de Rosny (1837-1914) e Pedro II°


Trabalhos da A.B.E. em Bucareste, 2011

 
Fundação Universitária Carol I

A literatura, a história e os estudos culturais em geral desempenharam desde o início um papel de singular relevância nas relações entre a Romênia e o Brasil. Os estudos que se dedicam a relações entre nações sob particular consideração de processos culturais não podem deixar de dedicar particular atenção a esse significado da diplomacia cultural no início dos contatos e da aproximação dos dois países de experiências históricas tão diversas.


Sob o ponto de vista teórico-cultural, o interesse se volta sobretudo aos pressupostos históricos de ambas as partes que explicam esse papel desempenhado pela cultura e pela pesquisa nas relacionamento internacional.


Nesse intento, torna-se necessário considerar o momento histórico-político das primeiras tentativas de aproximação, e este pode surpreender o pesquisador. Acostumado a considerar a Romênia como um país de história e tradições culturais cujos fundamentos remontam à Antiguidade, e o Brasil como país relativamente novo, produto de um desenvolvimento histórico iniciado com o Descobrimento e a colonização, o pesquisador admira-se em constatar que, sob o aspecto da formação de estados nacionais, a situação se apresenta de forma invertida.


À época dos contatos de círculos romenos com o Brasil, o país se encontrava ainda nas primeiras décadas de sua constituição, criada com a união dos principados do Moldau e da Valáquia, representando, sem a Transilvânia, apenas uma parte do território da atual Romênia. Encontrava-se imerso ainda em complexos processos de tomada de consciência histórica e de definição de identidade nacional de uma jovem monarquia, enquanto que o Brasil surgia antes como um Império já consolidado e internacionalmente reconhecido e acatado, tendo á sua frente um vulto respeitado nos meios europeus pela sua cultura e pela atenção que dedicava aos estudos e à pesquisa: Pedro II°.


Compreende-se o significado excepcional dos estudos culturais, da literatura e das artes na situação romena, sobretudo à luz da necessidade de fundamentação histórica e cultural dos anelos de autonomia, solidificação e de alcance de reconhecimento do país.


Fundação Universitária Carol I

De Societatea Literară Română a Academia Română


Principal testemunho da importância emprestada aos estudos históricos e culturais, à literatura e à arte na Romênia no início de sua história política após a união do Moldau com a Valáquia foi a fundação, em 1866, de sociedade literária a serviço do idioma e da literatura em romeno (Societatea Literară Română). Vinculando-se esses objetivos estreitamente com aqueles do estudo da história nacional e da cultura romena, o seu nome foi mudado já no ano seguinte para o de sociedade acadêmica romena (Societatea Academică Romînă).


A instituição, assim, possuia uma orientação nacional a serviço da identidade romena e que necessita ser considerada na sua inserção em movimentos já existentes que tinham um de seus principais centros em Iaşi, capital moldava, cidade cultural e universitária por excelência (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Iasi.html).


A Academia Română inseriu-se numa nova orientação geo-político-cultural do país, cuja capital foi, pouco após a união do Moldau e da Valáquia, transferida para a capital desta última, Bucareste. A tentativa de aproximação da Academia Română ao Brasil deve ser considerada, assim, para além de seus elos moldavos no contexto mais específico da Valáquia e à luz da mudança de perspectiva determinada pela transferência do centro político a Bucareste.

O principal promotor da fundação da sociedade literária de 1866 foi Constantin Alexandru Rosetti (1816-1885), e entre os seus membros fundadores já se encontravam aqueles que surgem nas tentativas de contato da instituição com o Brasil, Alexandru Hurmuzaki e Vasile Alexandrescu-Urechia
(1834-1901) (vide http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Iasi.html).


A sua fundação deu-se no ano em que o príncipe Karl Eitel Friedrich von Hohenzollern-Sigmarinen (1839-1914) passou a ser, como Carol I°, príncipe da Romênia. Significativamente, os elos com o Brasil deram-se em 1881, no mesmo ano em que Carol I tornou-se soberano da Romênia, agora reino. Poucos anos antes, em 1879, a Sociedade Acadêmica Romana havia sido transformada em Academia Română.


Fundação Universitária Carol I

Contatos da Academia Română com Pedro II°


A Academia Română procurou estabelecer contatos com Pedro II°, indagando, através da representação diplomática do Brasil, se o imperador brasileiro aceitaria receber as suas publicações. Em 1881, o Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na Áustria-Hungria, barão Francisco Xavier da Costa Aguiar de Andrade, recebia comunicado de D. Pedro II comunicando a sua aquiescência em receber as publicações da Academia de Bucareste. (Dom Pedro II e a Cultura, org. Maria Walda de Aragão Araújo, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional 1977, docs. 1079, 1014, 1293, 1922 e 2098).


Esses livros foram-lhe imediatamente enviados, uma vez que, no mesmo ano, o imperador brasileiro agradecia à Academia, através do Encarregado de Negócios do Brasil na França, Marcos Antonio de Araújo e Abreu.


É significado notar que essa ordem foi dirigida ao representante brasileiro na França, não àquele na Áustria-Hungria. Esse fato correspondia à intensidade das relações político-culturais da Romênia com a França. Ainda que o  rei da Romênia fosse de origem alemã e a sua família estreitamente vinculada à cultura alemã, a intelectualidade e o meio literário-artístico de Bucareste orientava-se sobretudo pela França.


A intensidade maior dos vínculos com a França correspondia também à situação da Romênia no campo de tensões políticas do continente, tendo sido os seus anelos de autonomia particularmente apoiados pela França à época de Napoleão III. Singularmente, essa situação da Romênia assemelhava-se em linhas gerais àquela do Brasil, onde também o seu soberano possuia particular proximidade à cultura alemã, filho que era de arquiduquesa austríaca, mas que imperava em país cuja vida cultural e intelectual orientava-se sobretudo por Paris.


Elos da Academia Română com a França


A Academia Română de Bucareste foi, desde os seus primórdios como sociedade literária, estreitamente vinculada com o movimento cultural francês. O seu iniciador, Constantin Alexandru Rosetti parece ter recebido impulsos para a sua fundação durante a sua estadia em Paris, quando, em 1845, teve contatos com Alphonse de Lamartine (1790-1869). Lamartine, justificado pelos seus conhecimentos do mundo italiano e do Oriente (Voyage en Orient, 1835), era personalidade respeitada na sociedade de estudantes romenos em Paris.


Devido à sua participação em movimentos políticos em Bucareste, Rosetti passou um período de exílio na França, onde atuou a favor da criação de um estado nacional romeno. No ano que a sociedade literária foi fundada, era Ministro da Instrução Pública e, temporariamente, desempenhou o cargo de Primeiro Ministro. À época dos contatos da Academia Română com o Brasil, em 1881/82, era Ministro do Interior. Considerando-se os elos de Lamartine com o círculo de Victor Hugo (1802-1885), e sabendo-se dos contatos de Pedro II° com este escritor, pode-se compreender que o imperador brasileiro fosse conhecido como personalidade culta e promotor da cultura em círculos romenos de Paris.


Entre os livros enviados ao Brasil pela Academia Română tem-se notícia de uma obra de Eudoxiu de Hurmusaki (1812-1874), pela qual Pedro II° mandava agradecer em nota enviada, em 1882, ao Encarregado de Negócios do Brasil na França (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Universidade-Iasi.html).


Nesse contexto, os elos entre o movimento político-cultural à época decisiva da união da Valáquia e do Moldau e dos primeiros anos do reino da Romênia explicam-se sobretudo pelos estreitos vínculos da Romênia e do Brasil com a França. Intelectuais e escritores romenos, que mantiveram contatos com a França, ali viveram, dominaram o idioma francês, foram influenciados pelo fascínio pela Espanha e pelo mundo ibérico em geral nos meios parisienses, em particular á época de Napoleão III e da Imperatriz Eugênia (veja http://www.revista.brasil-europa.eu/121/Imperatriz-Eugenie.html). Napoleão III foi, também, um dos principais agentes no apoio ao movimento de estabelecimento do reino da Romênia. Compreende-se, assim, que eruditos romenos de projeção tivessem procurado conhecer a Espanha e criar laços com personalidades e instituições espanholas.

Solicitação de condecoração brasileira a Vasile Alexandrescu-Urechia


Autor que merece particular atenção nessas atividades diplomático-culturais é Vasile Alexandrescu-Urechia, então Ministro da Instrução Pública e dos Cultos do reino da Romênia, um dos fundadores da Academia. Para êle pedia-se nada menos do que uma condecoração por parte do Brasil. Essa solicitação foi feita a Pedro II° por Louis Léon Prunol de Rosny (1837-1914), Presidente da Sociedade Etnográfica, fundada em 1859, e da qual Urechia era secretário.


Em 1882, D. Pedro II agradeceu, através do Encarregado de Negócios do Brasil na França, Marcos Antonio de Araújo e Abreu, à Academia Romana os livros que lhe foram oferecidos, referindo-se também à solicitação de Louis Léon Prunol de Rosny para que fosse condecorado pelo Brasil Vasile Alexandrescu-Urechia.

Intermediário: Louis Léon Prunol de Rosny - América e Romênia

Na correspondência diplomática mencionada, o etnólogo e linguista francês Louis Léon Prunol de Rosny surge como o vínculo entre a Romênia e o Brasil. O seu campo de estudos era sobretudo o das culturas orientais, e é possível que as suas relações com Pedro II fundamentaram-se no interesse pelo orientalismo. Dominando vários idiomas, inclusive o japonês e o chinês, professor da École Impériale des langues vivantes em Paris, foi um dos fundadores da Société d'ethnographie, em 1859. Em 1868, passou a ser professor de Etnografia no Collège de France. Foi secretário da Société asiatique de Paris e membro da Société asiatique de Londres.

A atenção de Léon Prunol de Rosny voltada ao continente americano disse respeito sobretudo às culturas pré-colombianas, tendo entrado nos anais da Americanística pelo fato de ter descoberto o "Codex de Paris" na Biblioteca Nacional da França. Foi autor, nessa área de obras básicas, como a Mémoire sur la numération dans la langue et dans l'écriture des anciens Mayas (1875), Essai sur le déchiffrement de l'écriture hiératique de l'Amérique centrale (1876), Le ″Codex Troano″ et l'écriture hiératique de l'Amérique centrale (1878), Le Mythe de Quetzal coatl (1878), Les Documents ecrits de l'antiquité américaine, compte-rendu d'une mission scientifique en Espagne et en Portugal (1880). Com relação à Romênia, publicou Les Romains d'Orient. Aperçu de l'ethnographie de la Roumanie (1885), obra que refleta os elos dos estudos etnográficos com o movimento romaniano.

Sendo Pedro II sócio da Sociedade Congresso Internacional dos Americanistas, com sede em Nancy, desde 1875 (op.cit. entrada 445, pág. 87), entende-se ter sido contatado por Léon Prunol de Rosny para uma condecoração do seu colaborador romeno.

Vasile Alexandrescu-Urechia e ideais emancipadores entre a América e o Moldau


Urechia surge na história das ciências e da cultura da Romênia como um intelectual de múltiplas aptidões. Nascido no Moldau, foi historiador, escritor, etnógrafo, folclorista e político. Em 1848, em Iaşi, integrou-se no movimento de cunho nacional e romântico que levaria ao Romanianismo, sobretudo por êle concebido e defendido.


Em fins dos anos 40, passou a atuar no jornalismo, escrevendo artigos contra educadores nascidos na Transilvânia/Siebenbürgen - onde dominava o alemão - e promovendo o emprêgo do romeno, acentuando a conexão da língua com o latim. 

Na década de 50, esteve na França, sobretudo em Paris, alcançando o seu baccalauréat em 1856 e preparando-se para a Licence em Letras. Alguns de seus artigos foram agrupados sob o título Mozaic de novele, cugetări, piese şi poezii.

Inspirou-se em assuntos americanos, como o demonstra a sua novela Coliba Măriucăi (1855), baseada no Uncle Tom's Cabin da abolocionista americana Harriet Beecher Stowe (1811-1896), de 1852, adaptando assim ideais emancipadores das Américas à situação dos romenos no Moldau. A simpatia pelo movimento contrário à escravidão, agora aplicado ao contexto político romeno, indica também uma afinidade que pode explicar os elos com Pedro II através de Léon Prunol de Rosny.

Urechia defendeu a causa do Romanianismo em artigos publicados na imprensa da França e da Espanha. Fundou Opiniunea, revista para exilados moldo-valaquianos em Paris. Em 1856, com o término da administração russa nos dois países, os exilados passaram a trabalhar a favor da união entre Moldau e a Valáquia. Durante a Conferência do Tratado de Paz, Urechia foi secretário do Bureau Romeno, que difundiu a causa entre os participantes. Propunha um Estado Romaniano sob controle externo, que desejava que fosse de origem latina.

Elos com a Espanha e o mundo ibérico e latino em geral

Em 1857, Urechia casou-se com a espanhola Francisca Dominica de Plano na Capela Romeno-Ortodoxa de Paris. Esteve na Espanha de 1857 a 1858, e novamente em 1862, tendo realizado pesquisas em arquivos locais e estudado a educação espanhola. Através de sua mulher, foi introduzido em meios intelectuais e culturais espanhóis, aproximando-se de Ramón de Campoamor y Campoosorio (1817-1901) e Gaspar N. de Arce (1834-1903), líderes posteriores da Primeira República, assim como com o dramatista Manuel Tamayo y Baus (1829-1898).

O interesse de Urechia pela Espanha, correspondente ao fascínio francês romântico pelo mundo ibérico do passado, expressou-se na tradução que fêz da Canción a las ruinas de Itálica, um poema renascentista espanhol de Rodrigo Caro, atribuido então a Fernando de Rioja.

Publicou essa tradução na revista Steaua Dunării, um órgão editado por intelectuais do Moldau de tendências unionistas com a Valáquia.

Após o falecimento de sua esposa, Urechia casou-se com a musicista alemã Luiza "Zettina" Wirth.

Atividades como professor e político - intercâmbio com países latinos

Ao retornar à Moldávia, em 1858, foi nomeado inspetor da região de Iaşi e professor de romeno no ginásio. Após 1860, passou a ser professor de língua romena e literatura clássica na recém-fundada universidade.

Com a consecução da união política em 1859/60 sob Alexander John Cuza (1820-1873), foi, por curto tempo, Ministro de Assuntos Religiosos. Durante o seu ministério, possibilitou que estudantes obtivessem formação em universidades da França, Espanha, Portugal e Sardinha. Publicou livros com trechos da literatura romena Schiţări de literatură română (1859) e O vorbă despre literatura desfrînată ce se încearcă a se introduce în societatea română (1863).

Interessado em etnografia, estabeleceu vínculos com o movimento na França, colaborando estreitamente com Léon De Rosny na Société d'Ethnographie e atuando como membro efetivo do Institut d'Ethnographie.  A partir de 1861, publicou a revista Atheneul Român. Esta sociedade foi o núcleo de um movimento cultural que contribuiu ao estabelecimento do Athenaeum Romaniano, fundado em 1888, este inspirado no Ateneo de Madrid.

Em 1864, mudou-se para Bucareste para assumir uma cadeira na Faculdade de Letras, continuando, porém a administrar a sua escola particular. Recebeu um cargo como chefe de Departamento no Ministério da Educação. Como colecionador de livros, participou de programa de estabelecimento de bibliotecas públicas no país. Serviu como vice-presidente e secretário geral da Academia, sendo presidente da sua seção histórica. O Atheneul Român, dissolvido em Iasi, foi reestabelecido na capital em 1865.

Foi membro do Parlamento por 34 anos, da Câmara ao Senado, tendo apoiado a legislação para modernizar o sistema educacional. Em 1866, publicou um ensaio de fábulas, focalizando um poeta do início do século XIX do Banat. Em 1867, completou a sua obra mais conhecida para o teatro, um drama inspirado na história romena. Publicou nesses anos Poesia versus Política e Patria romaniana.

Esteve na Espanha de 1867 a 1868, aperfeiçoando seus conhecimentos de castelhano e desenvolvendo pesquisas em arquivos. Tornou-se membro da Academia Real Espanhola em 1868. Com o arqueólogo Alexandru Odobescu, representou o seu país no Congresso Arqueológico Mundial de Paris, em 1869.

Liberalismo e Conservadorismo, Romantismo e Neoclassicismo

Em 1869, ao estabelecer-se a sociedade Junimea em Iaşi, a viu inicialmente com simpatia, até que o seu líder tornou pública a sua agenda anti-liberal. No início da década de 1870 teve início uma polêmica contra os junimistas, o que manifestou as tensões existentes entre os liberais e os conservadores, assim como entre os românticos e os neoclassicistas. No decorrer desses debates, passou para os radicais que, em 1875, cointribuiram para a criação do Partido Nacional Liberal. Urechia colaborou com a revista Contimporana, anti-junimista, romântica e pró-liberal.

Após a guerra russo-turca, que garantiu a independencia romena, representou o país no Congresso Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas, presidindo uma de suas sessões. Nesse ano, foi convidado a participar em congresso de literatura em Londres. Em 1879, foi eleito membro da Liga Cultural Aromaniana, a Sociedade Macedo-Romaniana, passando a ser seu presidente e publicando um album macedo-romaniano.

À época da solicitação de comenda a Pedro II°, Urechia havia recebido uma medalha de bronze da Société d'Ethnographie em 1880 e, em 1881, a medalha de honra da associação. A entidade criara também o Prêmio Urecchia de Pesquisa Etnográfica, primeiramente concedido em 1882.

Em 1881 e 1882, foi Ministro da Educação sob o Ministro do Partido Nacional Liberal no então proclamado Reino da Romênia. Continuou a manter intensa correspondência com romenos em Paris, em particular com Alexandru Odobescu 81834-1895). Tornou-se presidente da sociedade fundada ao redor do magazine Literatorul. Decepcionado com a política do partido nacional-liberal, votou contra o seu partido; ao redor de 1885, fez pazes com asociedade Junimea, que oferecia apoio ao Partido Conservador.

Com relação aos estudos americanos, correspondeu com Iulius Popper (1857-1893), desde 1885 na Argentina, o explorador que entrou nos anais históricos pelo seu envolvimento no genocídio dos indígenas da Terra do Fogo.

Na década de 90, fundou a "Liga Cultural para a Unidade de todos os Romanianos", voltada à identidade de romenos que viviam na Dupla Monarquia.

Pesquisas de Folclore e História

No fim da vida, concentrou-se na pesquisa de folclore e história. Em 1891, publicou ensaios, novelas, memorias e estórias baseadas no folclore. Publicou a "História dos Romenianos", em 14 volumes, de 1891 a 1903, e a "História das Escolas", em 4 volumes, de 1892 a 1901.

Esperava ver a Romenia unida um dia com Transilvania e Banat, até então inseridas na Austria-Hungria e administradas pela Hungria. Foi visto, assim, pelos austro-húngaros como agente de conflitos. Foi presidente do Senado em 1896-1897. Tornou-se Chevalier da Légion d'honneur, presidente honorário do Conseil Héraldique de France, membro da Sociedade Arqueológica Francesa, membro associado da Cruz Vermelha Espanhola e consul geral do Equador na Romania.

Ao presenciar, em 1899, o Congresso Internacional de Orientalistas em Roma, organizou uma festividade Pan-Latinista, levada a efeito simbolicamente na coluna de Trajano. Esteve presente em 1900 no congresso da União de Estudantes Latinos, na cidade de Alès, onde proferiu oração de abertura sobre o Pan-Latinismo.

O pedido de condecoração de Urechia a Pedro II insere-se, portanto, em contexto do movimento romeniano, e este como um movimento de fortalecimento de identidade romena baseada em elos comuns a todos os povos latinos. Para esses fins servia a pesquisa do folclore romeno, que surgia assim à luz do pan-latinismo. 

Desde cedo procurou encontrar uma posição do idioma romeno relativamente ao latim, ao italiano e seus dialetos. Defendendo a cultura como meio fundamental para o desenvolvimento nacional, chegou a salientar que os romenos teriam aperfeiçoado elementos da civilização antes de outros povos. Mais tarde, defendeu idéias compreendidas sob o termo do daco-romanianismo, baseando-se aqui na antiga Dacia com a finalidade de integrar no reino da Romênia povos que então habitavam fora de seus limites, em particular na Transilvânia/Siebenbürgen.


Círculo de estudos sob a direção de
Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "A Academia Română e a diplomacia cultural nas relações entre a Romênia, a França e o Brasil. Vasile Alexandrescu-Urechia (1834-1901), Louis Léon Prunol de Rosny (1837-1914) e Pedro II°". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 134/28 (2011:6). http://www.revista.brasil-europa.eu/134/Bucareste-Academia-Romana.html




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