Órgão de pedra na Boêmia. Bispo, A.A..Rev. BRASIL-EUROPA 133/22 (2011:5). Academia Brasil-Europa e ISMPS





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BRASIL-EUROPA

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 133/22 (2011:5)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2807




Música e natureza: o órgão de pedras como monumento nacional


Ciclo de estudos Boêmia-Brasil da A.B.E. No ano da morte de Otto von Habsburg-Lothringen (1912-2011).Herrenhausfelsen

 

A edição anterior desta revista tratou da Hallgrimskirkja de Reykjavik e das associações que desperta a sua fachada. Fundamentalmente neo-gótica, deve a sua originalidade e expressividade no contexto urbano ao movimento ascensional criado pela justaposição de elementos que lembram colunas de basalto da natureza do país.

Esses elementos verticais lembram muitos tubos de um órgão e dão à arquitetura externa da igreja uma conotação musical. Cria-se uma relação externa entre a arquitetura e a música com aquela que caracteriza o seu interior, marcado por um grande órgão, um dos mais extraordinários do país.

Essa relação da igreja com o órgão possui profundas raízes na linguagem simbólico-teológica. Esta se relaciona com conceitos de espiritualização da matéria e dá margens a amplas considerações teológicas e filosóficas. (Veja artigo no número anterior desta revista)

Essa associação entre elementos de basalto e tubos de órgão encontra-se também na Boêmia, aqui, porém, relativamente a uma formação natural, não a uma obra arquitetônica. Surge, aqui, como fenômeno geológico, uma configuração rochosa similar àquelas que podem ter dado impulsos ao arquiteto da Hallgrimskirkja. Trata-se do órgão de pedra de Herrenhausfelsen.

O "órgão de pedras" é formação rochosa numa pequena colina próxima de Práchen, entre Kamenicky Senov e Novy Bor.

Geologicamente, o conjunto de basalto resultou de atividade vulcânica na região, sendo as rochas elevadas a cerca de 30 km da profundidade há ca. de 30 milhões de anos. As rochas representam resíduos da corrente ascensional do interior da terra. O esfriamento gradativo levou à formação de colunas de cinco ou seis cantos, verticais ou enviezadas, com um comprimento de ca. de 20 metros. A fachada do "órgão" se eleva ao lado de um pequeno lago.

Devido às suas características únicas, foi a razão para que a área fosse declarada de proteção natural muito cedo, sendo a primeira do país e uma das mais antigas da Europa. Já em 1878 despontaram os primeiros movimentos para a sua conservação, impedindo o uso das rochas como pedreira. Em 1953, foi declarada monumento natural da nação.


Em 1739, deu-se a morte, por esfriamento em noite tempestuosa, de um artesão e de uma viúva. Para a proteção daqueles que ali se encontram, o responsável pela aldeia levantou uma coluna à Virgem com o menino Jesus.

O levantamento dessa coluna, prática comum à época da recatolização da Boêmia, e que marca grande parte das cidades do país, indica, no caso, um intuito de interpretação cristã da formação rochosa. A história da morte de uma viúva e de um trabalhador em noite tempestuosa em região marcada por pedras e por água parada corresponde a uma imagem conhecida da tradição em diferentes contextos. Traz associações à Humanidade carnal, decaída. O levantamento da coluna indica a sua dedicação a Maria. O órgão de pedras natural surge, à época da recatolização, como  figuração da Igreja.

Essa interpretação simbólica era corrente na simbologia de instrumentos da Idade Média e permaneceu na tradição nos séculos posteriores. O órgão surge, nessas interpretações, em contraposição á gaita de foles. A sua plenitude sonora é contrastada com o som estridente da gaita de foles, instrumento que é marcado por associações com animais e, portanto com a carne. Esse contraste entre a sonoridade do órgão e a da gaita de foles surge como figuração da plenitude de uma interpretação das Sagradas Escrituras segundo o seu sentido oculto de acordo com a tradição hermenêutica e aquele estreito da sua leitura apenas segundo o sentido literal do texto. Na tradição medieval, esse contraste era relacionado respectivamente com a Igreja e a Sinagoga. (veja a respeito: http://www.revista.brasil-europa.eu/128/Tradicionalismo-escoces.html)

No caso do órgão de pedras da Boêmia, embora sendo possível essa referenciação, uma vez que ali vivia uma numerosa comunidade de judeus, é provável que também tenha sido adaptado à leitura bíblica do Protestantismo.

Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "Música e natureza: o órgão de pedras como monumento nacional". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 133/22 (2011:5). http://www.revista.brasil-europa.eu/133/Orgao-de-pedra.html




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