Sete Quedas e Gulfoss. Bispo, A.A.. Rev. BRASIL-EUROPA 132/16. Academia Brasil-Europa e institutos integrados (ISMPS).





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BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

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Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss
No texto, à equerda: Sete Quedas
Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 132/16 (2011:4)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2011 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2779


A.B.E.


As desaparecidas Sete Quedas e as quedas douradas de Gulfoss
Um exemplo da Islândia para o Brasil:
Sigríður Tómasdóttir (1874-1957)



Trabalhos da A.B.E. na Islândia. 200 anos de nascimento de Jón Sigurðsson (1811-1887)

 
Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo
Quando da destruição das Sete Quedas de Guaíra - até então um dos maiores monumentos naturais do Brasil - para a construção da usina hidroelétrica de Itaipú, realizou-se, em 1982, uma viagem para a sua documentação. Paralelamente, desenvolveram-se estudos histórico-culturais sobre o papel das Setes Quedas na imagem do Brasil na Europa e debates sobre relações entre a Natureza e a Cultura. Esses esforços foram recordados por ocasião dos 25 anos do fim das Sete Quedas. (http://www.revista.brasil-europa.eu/108/Guaira-Debate-Cultural.htm)

Principal questão então levantada e discutida foi aquela relacionada com a prioridade que deveria ser concedida ao patrimônio natural - que é parte integrante e fundamental do patrimônio de uma nação - relativamente a interesses e objetivos econômicos e desenvolvimentistas.

A perda para as futuras gerações de obras de extraordinária magnificência da Natureza, - resultados de de incontáveis milênios -, não pode ser compensada por progressos materiais medidos segundo critérios que apenas podem orientar-se segundo limitados períodos de tempo.

Tais empreendimentos, nas suas irremediáveis consequências, podem ser considerados como sinais de uma mentalidade de desrespeito à natureza, de desvalorização do patrimônio natural e, assim, de falta de amor aos bens pátrios, de falta de sensibilidade e cultivo, ou seja de grave deficiência cultural.

Numa história cultural refletida, não são nomes de políticos, engenheiros e técnicos que levaram à perda de irrecuperáveis bens naturais que deveriam ser perpetuados, mas sim aqueles que procuraram e conseguiram conservar o patrimônio natural para a posteridade. É até mesmo dever dos pesquisadores culturais descobrir e valorizar esses nomes, muitas vezes esquecidos, no sentido de contribuir a uma escrita da história orientada segundo critérios de responsabilidade e oferecer exemplos que possam incentivar o empenho daqueles que se dedicam de forma idealista e altruista à conservação do patrimônio natural.

Uma dessas figuras exemplares é a daquela que salvou a mais grandiosa cachoeira da Europa, a queda d'água dourada: Sigríður Tómasdóttir.

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

Gulfoss - a cachoeira da Europa de maior magnificência

A queda d'água dourada de Gulfoss é formada pelo Hvitá, o rio branco, uma corrente de águas límpidas e transparentes derivadas das geleiras de Langjökull. As águas se lançam, em duas cascatas, no total de 32 metros, primeiramente em formações aterraçadas de 11 metros de altura, a seguir numa queda de 21 metros.

Sobretudo na primavera, com o degêlo, a quantidade de água atinge até 2000 metros cúbicos por segundo. As águas se lançam numa garganta estreita, de ca. de 3 a quatro quilômetros, que se abre transversalmente à última queda, formando no todo, um conjunto de mudanças de direções da correnteza de 90°. Sobretudo por esse correr da água pela garganta faz com que venham à memória do observador as perdidas Sete Quedas.

Gulfoss. Islândia. Foto A.A.Bispo

A denominação da cachoeira - dourada - é explicada comumente pelo brilho de seus vapores em crepúsculos de dias ensolarados. No inverno, a água da cachoeira pode congelar-se, surgindo espessas camadas de gêlo.


Conhecimento de Gulfoss no Brasil: Carl Gottlob Friedrich Küchler (1869-1945)

A queda d'água de Gulfoss era conhecida na Europa através de descrições de viajantes e de geógrafos. No Brasil, foi conhecida sobretudo em círculos da imigração alemã por meio de relatos de viagens difundidos em publicações de cunho popular.

Uma delas, a mais expressiva na sua arte descritiva, foi a de Carl Gottlob Friedrich Küchler, publicada em "Ao redor da terra: modernas viagens ao redor do mundo, expedições e viagens de descobrimento ao interior de regiões inexploradas em exposição popular "), um excerto do livro Unter der Mitternachtssonne durch die Vulkan-und Gletscherwelt Island, publicado em Leipzig (Abel & Müller, 1906). (Carl Küchler, "An den heißen Springquellen von Haukadalur im südlichen Island", Rund um die Erde: Moderne Weltreisen. Expeditionen und Entdeckungsreisen in das Innere unerforschter Gebiete in populärer Darstellung, ed. Theodor Andersen, Berlin: W. Herlet, s/d, 74-85) (http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Geysir.html)

"Chegamos no Gullfoss (i.e. Queda de Ouro), uma das maiores e mais magníficas quedas d'água da Islândia, à qual não se encontra similar em toda a Europa e que se pode com todo o direito contar ao lado do Niagara entre as mais grandiosas quedas d'água do mundo. Deixamos os cavalos pastando nos altos e descemos pelas íngremes paredes da rocha para admirar de um plano rochoso nas profundidades, a queda, que já era tão imponente das alturas, de perto e de baixo em toda a sua grandiosidade e magnificência.

Imediatamente antes da queda em si, o rio, vindo do norte do Hvítárvatn e alimentado por numerosas correntes de geleira, se atira numa série de terraços rochosos selvagemente acidentados de ca. 12 metros de altura e 200 metros de largura, caindo então, estreitado por altas rochas de basalto pelos lados, trovejadamente e espumante em estreita fenda da rocha de 25 metros de profundidade, que, em consequência da enorme pressão de ar, ininterruptamente faz com que se levante uma parede densa do mais fino pó de água a 100 metros de altura, que nos serve à distância, por ser visível de longe, como indicador seguro de caminho à cachoeira. Se já tínhamos visto nos primeiros dias de nossa cavalgada as quedas d'água do mundo das geleiras do sul da ilha com admiração e maravilha, encontravamo-nos agora extasiados, estarrecidos e sem palavras diante dessa enorme massa de água que junto a nós caía trovejante nas profundezas, atrás da qual as paredes de vapor iluminadas pelo sol faziam surgir nada menos do que sete maravilhosos arco-íris que atravessavam o rio quase que como pontes. E bem ao fundo, sob nós, na fenda de rocha estreita, atiravam-se fervendo e sibilando as massas espumantes, brancas de neve, em selvagem confusão como que em luta encolerizada, lançando-se então com a rapidez de um raio através do estreito abismo de rocha entre as altas rochas de basalto ainda uma hora e meia em direção sul, conservando aquela correnteza rápida através da qual havíamos tido que deixar levar os nossos pobres cavalos e nós próprios, como dito, apenas havíamos podido atravessar cocm o bote com os mais extremos dispêndios de força. Apenas com dificuldade ade pude decidir-me libertar dessa visão maravilhosa, e tornou-se necessário repetida insistência de meu amigo para que, sempre voltando-me para trás, subisse por fim ao cavalo, dando costas à grandiosa queda." (op.cit. 79)

  

Planos de aproveitamento das quedas para usina hidroelétrica

Pela passsagem do século XX, despontaram intenções de aproveitamento das muitas cachoeiras da Islândia, país pobre, sem maiores recursos, necessitado de energia para o seu desenvolvimento. Pelas suas quedas, a Islândia oferecia condições ideais para projetos hidroelétricos.

Em 1907, em projeto similar àquele das Sete Quedas no Brasil, a estreita garganta que se segue às cachoeiras deveria ser fechada com uma barragem, represando a água e submergindo, assim, as cascatas. Esse projeto de relativa fácil execução permitiria a construção de uma grande usina elétrica capaz de gerar energia que não apenas supriria as necessidades da época mas abriria caminhos para o desenvolvimento de toda uma grande região, até então inóspita, pouco habitada e inpossibilitada, por falta de energia, de levar à frente empreendimentos de utilização de suas riquezas minerais, de fomento da agricultura e industrialização. Representaria uma modificação sensível em direção ao progresso de área relativamente próxima á capital e, portanto, de interesse para todo o país. Os argumentos então defendidos salientavam essa utilidade para a população, então pobre e sem perspectivas. Argumentava-se, também, que não haveria destruição, apenas submersão das quedas d'água. 

Um inglês de posses procurou adquirir a área das cascatas do camponês que era proprietárío da ares, de nome Tómas. Essa proposta foi negada, salientando Tómas estar ligado emocionalmente às cascatas, vendo-as "como um amigo". Em 1907, esse proprietário arrendou-a ao Govêrno, tendo este o objetivo de utilizá-la para a produção energética. Arrependendo-se logo, procurou primeiramente anular o contrato e, a seguir, não aceitar a renda, tornando-o inválido. O projeto, por parte do Estado, tinha o apoio de  políticos de influência e de pessoas de posses.

Sigríður Tómasdóttir (1874- 1957) e a salvação da Queda Dourada

Sigríður Tómasdóttir era uma das filhas desse proprietário da área onde se situavam as cascatas. Sem ter recebido ensino escolar sistematizado, possuia formação obtida por leituras e talento artístico, manifestando-se a sua sensibilidade em trabalhos de ilustração e de artes manuais. Com as suas irmãs, estava vinculada emocionalmente e por amor à terra às cascatas, servindo de guia a visitantes.

Sigríður Tómasdóttir passou a desenvolver uma luta em defesa da cachoeira, contra interesses e forças influentes de grupos e indivíduos. Chegava a ir a pé a Reykjavik, distante de acima de 120 quilômetros para lutar pela causa.

Em situação que parecia sem solução, Sigríður Tómasdóttir ameçou atirar-se na garganta da cachoeira ao primeiro bater de uma ferramenta.

Graças à intervenção de Sveinn Bjornsson (1881-1952), um advogado que assumiu a sua causa, conseguiu-se que o contrato fosse anulado, voltando as quedas d'água à propriedade da família. Sveinn Bjornsson tornou-se, posteriormente, o primeiro presidente da Islândia.

A efígie de Sigríður Tómasdóttir encontra-se hoje em memorial levantado na área das quedas. Obra do escultor Rikhardur Jonsson, e é objeto de preitos de respeito e gratidão daqueles que visitam as cascatas.


Antonio Alexandre Bispo



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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "As desaparecidas Sete Quedas e as quedas douradas de Gulfoss. Um exemplo da Islândia para o Brasil: Sigríður Tómasdóttir (1874-1957)". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 132/16 (2011:4). http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Gulfoss.html





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