Cultura nas relações nórdicas. Bispo, A.A.. Rev. BRASIL-EUROPA 132/17. Academia Brasil-Europa e institutos integrados (ISMPS).
Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
Cultura nas relações nórdicas. Bispo, A.A.. Rev. BRASIL-EUROPA 132/17. Academia Brasil-Europa e institutos integrados (ISMPS).
Revista
BRASIL-EUROPA
Correspondência Euro-Brasileira©
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Coluna: Casa Nórdica, Universidade
Texto: Biblioteca Nacional, Casa Nórdica, Museu Nacional
Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.
Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 132/17 (2011:4)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência
e institutos integrados
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2011 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
Doc. N° 2780
O papel da cultura nas relações nórdicas
e a "navegação através do tempo"
na compreensão e representação do passado
Norraena Húsið e Þióð-minjasafn - Casa Nórdica e Museu Nacional da Islândia
Trabalhos da A.B.E. na Islândia pelos 200 anos de nascimento de Jón Sigurðsson (1811-1887)
Na consideração da Islândia no âmbito dos estudos euro-brasileiros, impõe-se dar particular atenção às tendências atuais dos estudos nórdicos e da pesquisa da cultura islandesa em especial.
Essa atenção representa uma exigência relativamente a procedimentos adequados e um pressuposto para diálogos e cooperações. Corresponde aos objetivos da A.B.E. em desenvolver estudos culturais em estreito relacionamento com a pesquisa da própria ciência, dos contextos em que se desenvolve e das rêdes de pensadores envolvidos (science of science).
Na área da Universidade, em Reykjavik, encontram-se instituições que possibilitam uma aproximação à situação da pesquisa cultural nórdica no país e islandêsa em particular. Para além da própria Universidade e da Biblioteca Nacional, nas suas proximidades, devem ser salientadas a Casa Nórdica e o Museu Nacional da Islândia.
A Casa Nórdica: papel da cultura nas relações multilaterais do Norte
Quanto às tendências contemporâneas relativas aos estudos nórdicos, às relações culturais entre os diferentes países do Norte e à sua presença na Islândia, o principal centro a ser considerado é a Casa Nórdica (Norraena Húsid). Essa instituição, localizada na área universitária é instalada em edifício projetado pelo renomado arquiteto finlandês Alvar Aalto (1898-1976). Ali realizam-se conferências, encontros, concertos e exposições.
Com uma grande biblioteca, a Casa Nórdica testemunha os intentos de manutenção da consciência de um espaço nórdico, definido pela natureza, pelos laços históricos e, sobretudo, pela cultura. Apesar do reconhecimento das diferenças entre os vários países, a instituição chama a atenção a aspectos que possibilitam reconhecer elos, similaridades, continuidades, fundamentos comuns e, assim, a unidade na diversidade da esfera nórdica.
Por encontrar-se situada na área universitária, nas proximidades de outras instituições de pesquisa e ensino, a Casa Nórdica marca de forma especial a vida acadêmica islandesa.
Museu Nacional Islandês - tendências atuais do pensamento e da pesquisa
Para o conhecimento da situação atual dos conhecimentos e suas tendências no concernente à Islândia em particular, oferece-se sobretudo o Museu Nacional Islandês, instituição que se encontra em fase de acentuada modernização de suas instalações, sendo reconhecido internacionalmente pela suas concepções avançadas.
Com o seu intento em proporcionar conhecimentos sôbre o patrimônio cultural a partir de perspectivas amplas, examinando contextos à luz de questionamentos teórico-culturais, foi considerada como um dos melhores museus da Europa pelo European Museum Forum.
"Surge uma nação: 1200 anos de Cultura e Sociedade na Islândia" é o tema de uma exposição permanente do Museu Nacional que tem como objetivo trazer luz ao passado islandês tratando contextualmente o patrimônio cultural a partir de uma determinada questão: "como surge uma nação?". O objetivo, assim, é, a partir dos objetos e documentos imateriais conservados, - inclusive 47 edifícios em todo o país - contribuir ao estudo do passado sob uma determinada perspectiva, ou seja, a do processo formador da nação islandêsa. O museu procura realizar esse intuito com base em ca. de 2000 objetos, da época da colonização do país até o presente, assim como em ca. de 1000 fotografias.
Ao lado da conservação de "antiguidades" do país, tarefa determinada por lei, assim como do registro do patrimônio cultural, o trabalho do museu abrange também fontes imateriais de cultura popular.
O museu procura transmitir conhecimentos de forma refletida e atualizada, concedendo particular atenção a questões de comunicação e pedagogia. Cuidou-se que em cada parte da exposição esteja presente a voz humana através de estações auditivas que oferecem gravações de um adulto e de uma criança, além de exemplos musicais.
Navegações e viagem através do tempo
Essa exposição permanente é concebida como uma viagem através do tempo. Assim, a temática da navegação e das viagens recebe não apenas uma atenção privilegiada na exposição, mas surge como motivo condutor de todo o empreendimento.
A exposição inicia-se com o navio do colono, que leva a um novo mundo através do mar aberto e se encerra com o aeroporto do presente, apresentado como portão dos islandêses para o mundo que os circunda.
O intuito do Museu Nacional da Islândia é de interesse para todos os países que, independentemente de contrastantes situações geográficas e vir-a-ser histórico, tiveram a sua formação marcada pelas viagens marítimas e que hoje se confrontam com tarefas similares de compreensão de processos postos em vigência no passado.
A Islândia não foi apenas o novo mundo dos colonos vindos da Escandinávia e das ilhas britânicas em remotas épocas, mas sim também ponte para o Novo Mundo do continente americano.
Orientando-se segundo essa concepção de viagem através do tempo, o museu optou por uma apresentação histórica do material, tratando-o cronologicamente em sete partes que se relacionam entre si.
A serviço dessas linhas condutoras há vitrinas que oferecem informações gerais acerca de um determinado período histórico e que apresentam um objeto-chave para o entendimento de acontecimentos e inovações que deixaram vestígios na história do povo.
Embora mencionando-se elementos culturais que permaneceram constantes através dos séculos, a atenção é dirigida sobretudo a fatores históricos de transformações, mudanças e inovações.
Com relação ao século XXI, o museu procura trazer à consciência a rapidez que caracteriza a troca de informações de todas as direções e a quantidade e diversidade de bens disponíveis através da apresentação de objetos numa esteira rolante.
Atualização de perspectivas e inserção histórica da instituição
Essa orientação do museu testemunha intentos de atualização de perspectivas teórico-culturais no tratamento do patrimônio cultural do país. Esses esforços, porém, são condicionados pelo fato de que a própria instituição, pela sua história, insere-se no desenvolvimento histórico islandês dos últimos séculos, participando do processo de conscientização histórica e emancipação.
Antes de sua fundação, em 1863, as "antiguidades" do país eram conservadas em museus dinamarqueses. O início da instituição foi marcado por soluções provisórias para o abrigo dos materiais coletados e recuperados. Estes foram conservados em sótãos, na catedral de Reykjavik, na antiga prisão, nos edifícios do Althing e do Banco Nacional.
Em 1908, foi transferido para o edifício que hoje constituiu a Casa da Cultura Islandesa (http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Sagas_e_politica.html). A construção de um edifício novo, próprio, foi decidida à época da fundação da República Islandesa, em 1944, sendo vista como um presente à nação islandesa.
A consideração desses vínculos da instituição com a história do Estado islandês abrem perspectivas para a compreensão do intuito da exposição permanente do Museu. Um tratamento museológico do patrimônio cultural segundo a questão do surgimento da nação, apesar dos esforços de atualização de perspectivas e de apresentação criativa dos objetos e documentos, surge como intento explicável a partir das próprias características da instituição.
Problemas da concepção da história como viagem
A concepção da história como uma navegação no tempo merece ser refletida a partir da própria inserção cultural do museu.
Como tratado em outros textos desta edição, a cultura islandêsa foi, desde o século XVI, profundamente marcada pela Reforma protestante. A visão dirigida só às Escrituras e a seu sentido literal determinou transformações na concepção histórica. Favoreceu uma compreensão linear do continuum histórico, superando uma concepção do mundo e do homem marcada pelo campo de tensões entre o Velho e o Novo própria antes de leituras dirigidas ao sentido velado dos textos. Aqui, as relações entre o sistemático e o histórico eram determinadas por esse campo de tensões e correspondiam a estruturas e princípios sistemáticos inerentes às narrativas bíblicas e que eram objetos da leitura.
A compreensão linear da história, porém, expressa na imagem de uma navegação no tempo, corresponde apenas a uma esfera - a Velha - desse campo de tensões. Perdendo a sua referenciação segundo princípios sistemáticos intrínsecos, torna-se necessário projetar categorias artificialmente concebidas na decorrência histórica. Essa é a problemática que se percebe na exposição permanente do Museu Nacional da Islândia.
Problemas de relações entre a concepção histórica e a sistemática
A divisão em sete partes do exposto segundo categorias tais como arte e artesanato, história social e língua, condições de moradia e formas de colonização, trabalho e subsistência manifesta uma aplicação à história de de critérios próprios dos estudos culturais - do folclore, da etnologia, da antropologia e da sociologia -, não considera, porém, princípios sistemáticos intrínsecos à cultura do passado medieval.
Trata-se antes de complexas repercussões de processos de conhecimento na história. É como se um musicólogo procurasse analisar uma fato musical nele projetando categorias formais e estruturais externas ao invés de tentar reconhecer princípios intrínsecos de natureza sistemática da própria música. Aqui residiria, porém, a principal tarefa de um direcionamento teórico-cultural da consideração de uma decorrência no tempo.
Esses problemas das relações entre concepções históricas e sistemáticas colocam obstáculos para a compreensão adequada do patrimônio do passado, sobretudo pré-reformatório.
O participante da intendida navegação no tempo parte de achados arqueológicos, passa pela Antiguidade nórdica, pela Idade Média e, percorrendo os séculos, chega ao presente, sem confrontar-se de forma mais intensa com as fundamentais cisões determinadas por mudanças na leitura e de concepções da história, sobretudo com aquelas representadas pela Cristianização e pela Reforma.
Fomentar a reflexão sobre essas mudanças e discontinuidades seria contribuir a que o observador tivesse a sua sensibilidade aguçada para o seu próprio condicionamento cultural e para a sempre presente necessidade de reconsiderá-lo.
Antonio Alexandre Bispo
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Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "O papel da cultura nas relações nórdicas e a "navegação através do tempo" na compreensão e representação do passado". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 132/17 (2011:4). http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Casa_Nordica_e_Museu_da_Islandia.html
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