Elos inter-atlânticos. Bispo, A.A.. Rev. BRASIL-EUROPA 132/18. Academia Brasil-Europa e institutos integrados (ISMPS).




Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

Fotos A.A.Bispo
©Arquivo A.B.E.

 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 132/18 (2011:4)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho Científico
da
Organização Brasil-Europa de estudos teóricos de processos inter- e transculturais e estudos culturais nas relações internacionais (reg. 1968)
- Academia Brasil-Europa -
de Ciência da Cultura e da Ciência

e institutos integrados

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2011 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2781


A.B.E.


Instituições em visita


O oceano na vida dos islandeses e elos inter-atlânticos
- o canto religioso na vida doméstica de comunidades marcadas pelo mar -

Área museal de Garðar, Akranes



Trabalhos da A.B.E. na Islândia pelos 200 anos de nascimento de Jón Sigurðsson (1811-1887)

 

Estudos culturais em contextos globais que focalizem contextos relacionais Islândia/Brasil não podem deixar de considerar de forma privilegiada a orientação marítima desse país insular do Atlântico Norte.

Foi pelo mar que a Islândia - o país mais novo da Europa - foi povoada e colonizada na Idade Média. Foi pelo oceano que islandeses mantiveram contatos com a Europa continental através dos séculos e atingiram a Groenlândia e mesmo o continente americano.

A subsistência e as relações comerciais com outros povos foram sobretudo possibilitadas pela pesca, fato compreensível em ilha marcada por geleiras e regiões cobertas de lava e inóspitas, com limitadas possibilidades de cultivo agrícola.

O significado do Atlântico para a Islândia, o papel desempenhado na sua história cultural pelas navegações e descobrimentos, assim como o condicionamento da vida pelo mar sugerem - para além de todas as diferenças - paralelos com Portugal.

Assim como Portugal surge como o Extremo Ocidente da Europa na Península Ibérica, a Islândia surge como Extremo Ocidente para o vasto universo nórdico-escandinavo. Assim como Portugal surge entre as primeiras regiões européias que alcançaram configuração nacional no passado medieval, a Islândia fundamenta a sua identidade própria nos remotos séculos de uma antiga "Commonwealth", testemunhada nas assemblêias que manifestavam e garantiam a sua unidade (http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Pingvellir.html).

Assim como Portugal definiu-se em processo histórico de diferenciação no mundo ibérico, marcando através dos séculos as relações com a Espanha, a Islândia o faz na esfera escandinava, tendo a sua história relativamente à Noruega e à Dinamarca marcada por laços, uniões, e, sobretudo, por tensões e anelos auto-afirmativos.

Pela sua posição em meio ao Oceano Atlântico, a Islândia apresenta uma situação geográfica similar à dos Açores, e estudos mais aprofundados poderiam levar aqui a cotejos mais sensíveis e ao reconhecimento de similaridades e diferenças condicionadas por desenvolvimentos geo-políticos.

Para além dessas e de outras comparações genéricas, o exame histórico de elos comerciais, de navegação e pesca entre povos que tiveram a sua vida marcada pelo oceano pode oferecer fundamentos para um desenvolvimento dos estudos atlânticos sob perspectivas mais amplas, reconhecendo contextos nos quais se relacionam o Atlântico Norte e o Atlântico Sul.

Bastaria lembrar do bacalhau nos hábitos alimentares dos portugueses - e o que marca até mesmo de forma singular e pouco refletida a imagem lusa no Brasil - para que se tome consciência da necessidade de uma consideração da Islândia nos estudos euro-brasileiros. A Islândia foi país que foi marcado pela pesca e pelo comércio desse peixe, ali salgado para possibilitar a sua exportação a distantes regiões e em longas viagens marítimas.

Os estudos culturais do Atlântico no campo das relações entre o Velho e o Novo Mundo exigem o conhecimento das pesquisas que vem sendo realizadas nos diferentes contextos, procurando superar perspectivações regionais e nacionais. Por esse motivo, a A.B.E. vem dedicando particular atenção a museus e instituições de estudos marítimos em diversos países.

Na Islândia, várias são as localidades e instituições que adquirem significado para os estudos de navegação e de uma vida determinada pelo mar. Uma delas, talvez a principal pelo museu que abriga, é Akranes.

Akranes e elos da Islândia com a Irlanda

Akranes, situada no oeste da Islândia, na baía de Faxaflói, defrontando Reykjavik do outro lado do Hvalfjördur, hoje aproximada à capital islandesa por um tunel que evita o contorno do fiorde, é uma das mais antigas e maiores cidades de pesca da Islândia.

Foi, nos séculos XVI e XVII, sob o nome de Skipaskaga, importante centro comercial. Essa dependência do mar, porém, é superada pela nova orientação industrial da cidade, que tem a sua economia na atualidade determinada pela produção de ferro-silício, alumínio e cimento de material de conchas da baía de Faxaflói.

A secular orientação marítima de Akranes manifesta-se seus grandes armazéns portuários,no seu farol e em memorial a perecidos em naufrágios.

O passado de Akranes é registrado e estudado no museu de Gardar, situado na sua periferia, um complexo museológico que adquire particular significado por relacionar a história com os estudos do modo de vida, das técnicas de trabalho, da cultura do quotidiano e do lore da antiga cidade de pescadores.

Para os estudos atlânticos, Akranes assume significado sobretudo por dar testemunho dos elos entre a Irlanda e a Islândia. A sua própria fundação remonta, segundo antigas referências, a irlandeses que ali se estabeleceram ao redor do ano 880. Como em muitos outros casos conhecidos na história cultural de cidades que fundamentam a sua história em pares de irmãos, a narrativa fala aqui de Pormódur e Ketill Bresason, que, vindos da Irlanda, ali se teriam fixado.

Essas relações entre a Irlanda e a Islândia continuam presentes na consciência da comunidade. Em 1974, a Irlanda ofereceu a Akranes um memorial de granito que recorda esses antigos elos.

Akranes, Islandia. Foto A.A.Bispo

O museu de Gardar

O museu encontra-se localizado em vasta área, incluindo casas antigas para ali transferidas, uma reconstrução estilizada de antiga igreja e edifícios que abrigam coleções. É, assim, um exemplo dos museus de cultura tradicional ao ar livre comuns em vários países da Europa, um procedimento museológico também conhecido no Brasil, em particular nos museus de colonização e imigração.

Procurando oferecer aos visitantes e pesquisadores vivências ambientais e percepção de contextos, relacionando intuitos de documentação, conservação, estudos com lazer e turismo, levanta naturalmente questões quanto a concepções museológicas, de história e de estudos culturais, em particular da compreensão de folclore.


A área é marcada sobretudo pelo Sigurfari, um grande barco de pesca de 85 toneladas para ali transferido, de madeira, construído em 1885.


Para a história regional da arquitetura, é de especial interesse o fato do museu possuir uma das mais antigas casas de cimento da Islândia, uma casa paroquial construida entre 1876 e 1882. Esse desenvolvimento foi resultado da dificuldade de obtenção de madeira no país e do fato de não se ter encontrado pedras adequadas na região para o levantamento das paredes. Pode-se, aqui, constatar a permanência de formas tradicionais apesar da mudança do material construtivo.


A cultura doméstica tradicional da região é exemplificada no interior da Gardahús, uma casa construída em 1882 e para ali transferida. Com objetos de diversa proveniência, foram nela reconstruídos ambientes.

Para além dessas possibilidades de vivenciar espaços e perceber contextos e associações, a conservação e o estudo sistematizado de objetos são possibilitados pelas coleções no edifício do museu. São esses materiais que fundamentam o interesse especial do museu para estudos culturais da vida marítima na esfera atlântica.

O pesquisador pode aqui constatar aqui, entre outros aspectos, as diferentes técnicas de navegação e pesca, do modo de vida dos homens do mar da Islândia, e, assim, das condições no início de uma corrente que, com o comércio, atingiu outras regiões do continente.



Aspectos da cultura festiva e do dia-a-dia

As exposições do museu salientam o papel exercido pela mulher na cultura doméstica em comunidades de pescadores de Akranes. Entre as coleções ali conservadas salientam-se, pelas suas dimensões e variedade, aquelas relacionadas com objetos de cozinha e de costura, entre elas uma das maiores de dedais de porcelana ornamentados.

Para além de objetos de cultura material, é dada à intelectual e espiritual atenção especial. Coleções de livros antigos provenientes de famílias da região oferecem um quadro das leituras praticadas e do  tipo de conhecimentos difundidos. Do ponto de vista religioso, a vida familiar era marcada por orações, em particular de salmos, assim como pelo canto de hinos religiosos.


Papel da música nas comunidades

O pesquisador externo se surpreende em constatar nesse museu e em outros da Islândia o grande número de harmônios e órgãos domésticos. Mais do que pianos e outros instrumentos, pequenos órgãos foram comuns em casas de famílias de melhores posses da Islândia.


Serviam também para o acompanhamento de cantos populares ou de cunho popular harmonizados, difundidos através de publicações importadas. Em geral pelo caminho de casas editoras da Dinamarca, propagaram-se cantos alemães com textos traduzidos na Islândia.


Considerando-se as condições precárias de vida do país no passado e os grandes custos de importações, é surpreendente constatar a existência de pianos importados, seja de firmas dinamarquesas, tais como Knudsen, seja alemãs vinculadas com Kopenhagen, como a de H. Lubitz, de Berlim.

A música desempenhou papel significativo no ensino e na vida comunitária. Personalidade lembrada no museu é a de Fridrik Hjartar, professor, regente e compositor.



Antonio Alexandre Bispo


Todos os direitos relativos a texto e imagens reservados. Reproduções apenas com a autorização explícita do editor.

Indicação bibliográfica para citações e referências:
Bispo, A.A. "O oceano na vida dos islandeses e elos inter-atlânticos.O canto religioso na vida doméstica de comunidades marcadas pelo mar". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 132/18 (2011:4). http://www.revista.brasil-europa.eu/132/Akranes.html





  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização Brasil-Europa, visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens relativos à Academia Brasil-Europa de Ciência da Cultura e da Ciência (culturologia e sociologia da ciência), a seus institutos integrados de pesquisa e aos Centros de Estudos Culturais Brasil-Europa: http://www.brasil-europa.eu


  2. Brasil-Europa é organização exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias e não considera nos seus textos dados divulgados por agências de notícias e emissoras. É, na sua orientação culturológica, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. Foi registrada em 1968, sendo continuamente atualizada. A A.B.E. insere-se em antiga tradição que remonta ao século XIX.


  3. Não deve ser confundida com outras instituições, publicações, iniciativas de fundações, academias de letras ou outras páginas da Internet que passaram a empregar designações similares.