Cristiano Souza, Expressões necessárias para falar inglês. Revista BRASIL-EUROPA. ACADEMIA BRASIL-EUROPA. Bispo, A.A. (Ed.) e Conselho Especializado. Organização de estudos culturais em relações internacionais

 
 

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 124/28 (2010:2)
Prof. Dr. A.A.Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e Conselho
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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2587




Publicações



     Souza, Cristiano.  Expressões necessárias para falar inglês. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 216 p. ISBN 978-85-7526-257-3



Comentários de publicações de cunho didático, também aquelas dedicadas ao ensino de línguas estrangeiras, não constituem, em geral, tarefas para os estudos culturais. A presente publicação, porém, pode ser vista como exceção, por diversos motivos. Independentemente de aspectos filológicos e didáticos, trata-se aqui de obra de um brasileiro residente no Canadá, bacharel em Administração e estudante de Teologia que havia sido professor de inglês em Belo Horizonte e que oferece, com esse livro, um registro de expressões que considera necessárias no quotidiano da vida em contexto cultural de língua inglêsa. A publicação adquire, assim, significado para estudos da presença, das atividades e das reflexões de brasileiros no Exterior. O próprio autor, porém, abre a publicação com uma longa introdução que, com características de um ensaio, levanta diversas questões de significado para reflexões teórico-culturais.

O autor parte da constatação de que é impossível manter uma conversação em inglês com uma pessoa que o fala como língua materna sem o conhecimento de suas expressões idiomáticas, locuções e seus provérbios. Não é suficiente que se possua um vocabulário amplo e o domínio da gramática e da pronúncia. Torna-se indispensável conhecer as idiossincrasias da língua, os coloquialismos, as expressões idiomáticas, locuções, "phrasal verbs" e provérbios.

Apresentando elucidações de renomados estudiosos do idioma, o autor trata da conceituação de "expressão idiomática". Lembra que, segundo Aurélio Buarque de Holanda, seria "uma sequência de palavras que funcionam como uma unidade; idiomatismo, idiotismo, frase feita, locução estereotipada, grupo fraseológico". Idiotismo, para Sílvio Edmundo Elia, poderia ser entendido de duas formas, como maneira de dizer própria de uma língua, singular com relação a outra do mesmo contexto cultural, como no caso de brasileirismos e lusismos, ou como formas de dizer anômalas relativamente às normas da língua culta, embora aceitas. Neste último caso, enquadrar-se-iam expressões como "a olhos vistos" ou "levar a breca".

Citando Antônio Houaiss, Oswaldo Serpa e Armando de Morais, o autor procura elucidar o que autores brasileiros e portugueses entendem pelo termo "idiom" em léxicos bilíngues. A seguir, considera a definição do termo em dicionários da América do Norte e em entradas em enciclopédias, também daquelas disponíveis pela Internet.

O interesse teórico-cultural dessa discussão evidencia-se quando o autor cita Pedro Moreira, que estabelece uma diferença entre expressões idiomáticas e expressões chulas. "Queimar a língua" ou "ficar feito uma barata tonta" representariam simples expressões idiomáticas, enquanto chulas seriam aquelas inconvenientes e que causam constrangimento. As expressões idiomáticas consistuem objeto de estudo de filólogos e o seu uso pode conferir a textos humor e leveza, sem, porém, cair na vulgaridade. Fazem parte da linguagem do quotidiano, oral ou escrita. Mencionando alguns exemplos, afirma que tais expressões possuem a "graça da síntese" e, por vezes, "a nuança literária".

Passando ao conceito de idiotismo, o autor cita Zélio dos Santos Jota, que o entende como um fato linguístico que resiste à análise sintática e à lógica, por exemplo, no caso de "Eu é que sou". Há expressões, porém, que contrariam o bom-senso, mas que podem ser analisadas, como no caso do infinitivo flexionado. No caso do inglês, mencionado Pamela McPartland, o autor lembra que expressões idiomáticas, embora menos formais que seus equivalentes de uma só palavra, não representam gírias ou formas menos corretas. Muitas das palavras utilizadas nas expressões idiomáticas vêm do Old English ou do Middle English, enquanto que os equivalentes de uma só palavra, em geral, do latim ou do grego. Sendo as palavras usadas nos idiomatismos inglesas em sua origem, as expressões idiomáticas possuem uma fundamentação na própria língua.

Tratando do objetivo do seu livro, Cristiano Souza afirma:

"Qualquer língua seria muito mais pobre sem as suas locuções e expressões idiomáticas. Elas são indispensáveis para falar e escrever bem. Dão vivacidade a uma língua, transformando-a no instrumento dinâmico que ela tem de ser, para adaptar-se a cada instante e ser o veículo de uma consciência social. Os idiotismos e as locuções mais freqüentes, inseridos aqui, freqüentemente têm sentido difícil de adivinhar. Eles causam, por vezes, embaraços aos que não estão ainda familiarizados com a admirável língua de Shakespeare." (pág. 15)

Considerando que a maior parte dos dicionários de expressões idiomáticas e locuções encontra-se em edição esgotada no Brasil, o livro procura preencher uma lacuna. Foi elaborado com fins didáticos, dando-se ênfase ao português do Brasil.

C. Souza menciona a canadense Ruth Baldwin, da Ontario Literacy Coalition, que teria afirmado, em 1990, que as expressões idiomáticas inglesas também excluem pessoas, como mulheres, pobres e indivíduos de outras culturas, sugerindo que esses grupos não seriam suficientemente importantes, que o texto escrito não seria a eles dirigido. (pág. 15)

Nas suas "Considerações sobre o fenômeno da diversidade lingüística", o autor lembra de início que a língua não representa um bloco homogêneo e compacto, mas apresenta diferenciações regionais, históricas e de classe (Hildo Honório do Couto). A língua diferencia-se segundo o espaço social e o espaço geográfico; quanto ao espaço social, pode ser culta, familiar ou popular (Sílvio Edmundo Elia). Língua culta seria a das classes mais polidas da sociedade, revestindo-se sobretudo de forma escrita; língua familiar seria a de pessoas cultas nas suas relações diárias; língua popular aquela transmitida de pais a filhos na prática quotidiana ou entre pessoas de pouca instrução. Quanto ao espaço geográfico, diversificar-se-ia em padrão, nacional, dialetos e falares.

O autor salienta que as expressões idiomáticas não são apenas utilizadas na linguagem corrente, mas sim também na literatura e em artigos de jornais e outras publicações: "Assim, todos recorrem às expressões idiomáticas. Daí a dificuldade de se compreenderem músicas, revistas, vídeos, entrevistas, manuais em inglês..." (pág. 13)

A falta de compreensão de expressões idiomáticas prejudica trabalhos de tradução e a comunicação. Citando A. Houaiss e C. B. Avery, o autor lembra que as expressões idiomáticas e as locuções representam, de modo especial, a maneira especial de cada cultura ver a realidade. Assim, mencionando Frédéric Dumont, salienta que a pesquisa desses modos de dizer também permite interrogar o imaginário de um povo, de considerar a sua percepção dos homens e das coisas. (ibidem). O autor lembra da "Hipótese de Sapir e Whorf", formulada em publicação de 1941, segundo a qual haveria uma relatividade lingüística, ou seja que a gramática da língua influenciaria a maneira pela qual o homem entende a realidade e se comporta.

O imaginário do homem de língua inglêsa surge, para o autor, como diferente do brasileiro. A diferença de línguas e aquela de de visões de mundo tornariam particularmente difícil o trabalho da tradução.

F. Azevedo

 

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