Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 122/22 (2009:6)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2519


 


Rêdes sociais na História Político-Cultural
Vínculos entre as casas reinantes na Europa no período guilhermino
Waldeck-Pyrmont - Países Baixos


Reflexões encetadas em Waldeck e Bad Arolsen a partir de releituras das recordações de vida da filha de Guilherme II, Duquesa Viktoria Luise (1892-1980)


Arquivo A.B.E.

 


Bad Arolsen. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Este texto apresenta uma súmula de estudos motivados pelos 150 anos de Guilherme II (1859-1941). Sem objetivos políticos ou de engrandecimento da personalidade do último imperador da Alemanha, os trabalhos justificaram-se pela importância da época guilhermina para o Brasil, sobretudo sob o aspecto das regiões coloniais. Nesse sentido, inscreveram-se no programa da Academia Brasil-Europa dedicado a estudos do mundo de língua alemã e mundo de língua portuguesa.


A orientação teórico-cultural insere-se na tradição da sociedade dedicada à renovação dos estudos culturais (Nova Difusão 1968), a atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa.





Bad Arolsen. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Colunas à esquerda e à direita: imagens de Bad Arolsen. Fotos A.A.Bispo 2009

 
Bad Arolsen. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright
Nas considerações relativas às rêdes sócio-culturais constituídas pelos elos familiares das casas reinantes na Europa no período guilhermino cumpre dar uma particular atenção aos elos que unia a Alemanha aos Países Baixos, uma vez que foi esse país que proporciou asilo a Guilherme II após a Guerra e permitiu que ali vivesse por várias décadas. (Veja artigo sobre Doorn nesta edição).

Emma, Princesa de Waldeck e Pyrmont, Rainha dos Países Baixos (1858-1934)

Os estreitos vínculos entre ambos os países explicam-se em grande parte pelo casamento de Emma, Princesa de Waldeck e Pyrmont (1858-1934) com  Wilhelm III (1817-1890), tornando-se rainha dos Países Baixos e Arquiduquesa de Luxemburgo. Assumiu a Regência do país durante os últimos dias do seu marido (1890) e da minoridade de Wilhelmina (1880-1962).

Pela sua educação, pela sua atitude, pelo seu modo de ser pelo seu comportamento tornou-se altamente popular como "Rainha-Mãe" dos Países Baixos, sendo considerada como uma das principais consolidadoras da monarquia constitucional do país e da confiança popular na Casa de Oranje.

Muitas das características do seu estilo de vida e de seus procedimentos, que diferiam daqueles de seu marido, o pouco liberal Wilhelm III, podem ser vistas em parte como resultado de sua formação cultural em Waldeck e Pyrmont.

Ela trouxe, de sua região, a segurança fundamentada em antiga tradição de sua família e, ao mesmo tempo, a modéstia derivada do fato de ter nascido em país muito pequeno, sempre lutando com dificuldades econômicas.

Significado da convivência infantil e da memória

Emma e sua filha Wilhelmina visitaram a família imperial alemã em 1892. Segundo a memória familiar, transmitida pela filha de Guilherme II, Viktoria Luise (Herzogin Viktoria Luise, Ein Leben als Tochter des Kaisers, 12. ed., Göttingen-Hannover: Göttinger Verlagsanstalt, 1973), a convivência de Wilhelmine com os príncipes alemães ficou indelevelmente marcada na recordação de todos como dos mais felizes momentos da infância.

"Im Jahr meiner Geburt besuchte die Königin in Begleitung ihrer Mutter, der Königin-Regentin Emma, einer geborenen Prinzessin zu Waldeck und Pyrmont, das Kaiserpaar. Es muß, wie mir später meine Brüder erzählten, sehr lustig zugegangen sein. Es war eine komische Situation. Die Königin war gerade 11 Jahre alt. Während ihre Mutter und meine Eltern an einer offiziellen Veranstaltung teilnahmen, spielte sie mit meinen älteren Brüdern. Alle waren glücklich, den Kreis der Spielgefährten einmal verändert zu sehen. Die Prinzen waren allerdings zunächst etwas bedrückt, denn sie waren angewiesen, ihre Spielgefährtin mit Majestät anzureden." (op.cit. 43)

Wilhelmina visitou posteriormente de novo a Alemanha. Casada com o Duque Heinrich de Mecklenburg (1876-1934), esteve no país no ano da eclosão da Primeira Guerra, em 1914, juntamente com a sua filha Juliane (1909-2004), para visitar o seu marido quando este fazia uma estação de repouso em Bad Homburg.

Não apenas esses elos pessoais, mas também aqueles emocionais derivados da recordação dos momentos de infância ajudam a compreender o abrigo dado pelos Países Baixos ao ex-imperador da Alemanha após a Primeira Guerra, umo ato que, na época, não deixou de ser sensível e até mesmo riscante para o país nas suas relações com os vencedores.

Com o fim da guerra, o príncipe Friedrich (1865-1946) foi deposto por representante dos Comités de trabalhadores e soldados de Kassel. Foi o último soberano da Alemanha suspendido de seus cargos. Assim, também a Rainha-Mãe Emma sentiu nos Países Baixos as consequências da Guerra com o término da longa história de sua família no principado de Waldeck.

Permanência de elos

Esses elos emocionais e de simpatia mútua ajudam a compreender também a razão por que holandeses até hoje procuram, por razões culturais e de turismo, a região do ex-Principado de Waldeck e Pyrmont, hoje partes do Norte de Hessen e do Sul da Baixa-Saxônia. Nas cidades dessa região, em particular em Bad Arolsen, observa-se uma presença holandesa mais intensa do que em regiões alemãs que hoje se encontram muito mais no foco de interesses de visitantes estrangeiros do país.

A memória da Rainha Emma permanece continuamente presente na cidade, à qual enviou simbolicamente muda de uma árvore, em 1932, assim como a do imperador Guilherme II, eternizado em monumento no parque fronteiriço ao antigo palácio residencial do Principado.


Bad Arolsen. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Armas na parte exterior do antigo castelo de Waldeck. Foto A.A.Bispo 2009

 

Arolsen. Significado histórico-cultural e arquitetônico

Waldeck, condado independente no âmbito do Sacro Império Romano-Germânico desde a Idade Média (1180), tornou-se, Principado a partir de 1712. Com a Restauração Européia após o Congresso de Viena, passou a pertencer à liga dos estados alemães. Waldeck conseguira manter a sua independência no período napoleônico, não sendo integrado no reino bonapartista da Vestfália. O país constituia-se de duas partes separadas, o antigo condado Waldeck e aquele de Pyrmont. Vários outros territórios pertenciam ou eram pretendidos pelos príncipes de Waldeck, entre êles Tonna, na Turíngia, e, na Alsácia, Hohenach, Rappoltstein e Geroldseck.

Desde 1655, a residência e a administração localizaram-se em Arolsen, substituindo a anterior, no burgo Waldeck, às margens do Eder, castelo documentado já em 1120.

O palácio de Arolsen representa um testemunho vivo da cultura refinada de uma Côrte de pequeno Principado, apesar de encontrar-se sempre em luta com problemas financeiros e correndo o risco de perda de emancipação. É também uma das principais expressões do Barroco na história da arquitetura e do urbanismo, tendo sido inspirado no de Versailles.

A cidade foi planejada, sendo caracterizada por harmonia e singular unidade nas suas construções. O seu início deu-se juntamente com o do lançamento da pedra de fundação do palácio pelo Conde Anton Ulrich de Waldeck (1676-1728), em 1713. A direção construtiva coube ao major Julius Ludwig Rothweil e a seu filho Franz Friedrich.

O palácio, terminado exteriormente em 1720, apresenta-se em forma de ferradura. À sua frente projetou-se uma praça semi-circular para a realização de paradas, apenas parcialmente realizada. Dentre os edifícios do complexo, salientam-se os de govêrno e Marstall (1749-61), a Orangerie e os prédios de jardinagem (1819-1822). Interiormente, o palácio é profusamente ornamentado, salientando-se os trabalhos de estuque de A. Gallasini, de 1715-1719.

Os elos com a família imperial da Prússia devem ser procurados sobretudo na história política do século XIX de Waldeck e Pyrmont no contexto da gradual unificação do país. Em 1832, entrou para a união alfandegária e, com o apoio da Prússia, libertou-se em 1847 de elos feudais com Hessen-Kassel. Os elos tornaram-se mais intensos com a convenção militar de 1862, pela qual o Principado tomou o partido da Prússia na guerra contra a Áustria. Em 1867, por razões econômicas, assinou um contrato com a Prússia, segundo o qual, apesar de permanecer nominalmente um Principado livre, para ela passou a responsabilidade pelos déficits de estado, pela administração, pela justiça e pelos negócios da educação. A Prússia nomeou um diretor para o território. Em 1871, após a vitória na Guerra Franco-Prussiana, passou a constituir um estado do Império. Alguns anos depois, em 1879, Emma, a filha do Príncipe Georg Viktor (1831-1893), casou-se com o rei dos Países Baixos.

Papel da religião

Não se pode minimizar o papel desempenhado pela religião nos elos existentes entre Waldeck e a Prússia. Já na década de 20 do século XVI introduziu-se em Waldeck a Reformação Protestante. À época napoleônica, Waldeck viu-se obrigado a garantir a liberdade de exercício religioso aos católicos que ali residiam. Após o contrato com a Prússia, em 1867, uma das poucas funções que restaram ao Príncipe foi a dos negócios da igreja. Sob esse aspecto, a tradição de Waldeck-Pyrmont vinha de encontro ao significado que cabia ao Protestantismo na família imperial alemã. 

(...)

Síntese de trabalhos apresentados por estudantes em seminários. As discussões terão prosseguimento 




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: http://www.brasil-europa.eu


  2. A A.B.E. é entidade exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias. É, na sua orientação teórico-cultural, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. A Organização de Estudos de Processos Culturais remonta a entidade fundada e registrada em 1968 (Nova Difusão). A A.B.E. insere-se em tradição derivada de academia fundada em Salzburg pelos seus mentores, em 1919, sobre a qual procura sempre refletir.