Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 122/15 (2009:6)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2512


 


Memória, imagens do passado e consciência histórica
na perspectiva dos estudos culturais Alemanha-Brasil/Brasil-Alemanha


LAndau. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright

Este texto apresenta uma súmula de estudos motivados pelos 150 anos de Guilherme II (1859-1941). Sem objetivos políticos ou de engrandecimento da personalidade do último imperador da Alemanha, os trabalhos justificaram-se pela importância da época guilhermina para o Brasil, sobretudo sob o aspecto das regiões coloniais. Nesse sentido, inscreveram-se no programa da Academia Brasil-Europa dedicado a estudos do mundo de língua alemã e mundo de língua portuguesa.

A orientação teórico-cultural insere-se na tradição da sociedade dedicada à renovação dos estudos culturais (Nova Difusão 1968), a atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa.






LAndau. Foto A.A.Bispo 2009. Copyright
Arquivo ABE
Significado da Memória

Tem-se salientado, nas últimas décadas, o significado da Memória para a historiografia, para os estudos culturais e para a prática da ação e da política cultural. No Brasil, o termo passou a ser empregado com grande frequência, designando programas oficiais e inoficiais de fomento cultural e de pesquisa, museus, projetos, publicações e, mais especialmente, trabalhos dedicados à história de contextos sócio-culturais e à consciência histórica de grupos para os quais a documentação histórica convencional não é suficiente.

O termo tem sido usado assim sobretudo em dois sentidos diferentes: o da reconstrução do passado a partir de fontes diversas a serviço da memória de grupos, e o do emprêgo da memória, das recordações de pessoas e grupos de pessoas com a finalidade de reconstrução historiográfica.

Memória na reconstrução do passado e procedimentos empíricos

Neste último caso, o emprêgo de questionários e entrevistas, sobretudo de informantes com larga experiência de vida no contexto a ser estudado destina-se ao levantamento de dados pouco conhecidos ou documentados, à constatação de contextos pouco considerados, à visão particular de fatos e ocorrências por parte de protagonistas ou testemunhos de uma época. Trata-se de um procedimento conhecido dos estudos culturais de natureza empírica, em particular dos estudos de tradições populares e da cultura do quotidiano, e cujos resultados podem servir em geral como complementos informativos ou auxiliar à interpretação da história, sobretudo daquela local, regional ou de determinadas rêdes sociais.

Esse procedimento, porém, não é novo na história da história, uma vez que memórias escritas, recordações de vida, crônicas do vivenciado sempre constituiram significativa parte das fontes historiográficas. A tarefa daquele que se dedica a  uma história refletida não se limita a utilizar os dados assim obtidos simplesmente como elementos de um edifício histórico a ser construído. Diz respeito tambem ao considerar que tais testemunhos refletem focalizações determinadas, perspectivas de atores e observadores envolvidos em determinado desenvolvimento no tempo e, como participantes, particularmente a êle vinculados por elos emocionais.

Observar aquele que recorda

A tarefa que se impõe sobretudo tanto ao pesquisador cultura. empírico que se utiliza desse procedimento como ao historiador é sobretudo o de observar o observador, o de considerar a sua posição, as suas imagens e a sua perspectiva, a seleção que esta determina dos fatos, aquilo que se conservou e aquilo que foi esquecido, à vigência dessa maneira de ver e seus julgamentos em determinada rêde, apta a ser analisada quanto à sua estrutura, linguagem simbólica, sentidos, normas e transformações.

Significado para o estudo de processos culturais

Tarefa similar impõe-se aos estudos teóricos de processos interculturais em contextos globais, se compreendidos segundo o escopo da instituição dedicada à análise de mecanismos difusivos constituida oficialmente em 1968 e que hoje constitui a organização Brasil-Europa. Já naquela época constatou-se que reflexões referentes à memória oral ou escrita levam à necessidade de uma maior consideração da história nos estudos culturais empíricos, superando-se convencionais barreiras disciplinares baseadas na distinção de uma orientação ao passado ou ao presente, e, concomitantemente, a uma maior consideração de perspectivas de natureza empírico-cultural na historiografia, ou seja, no exercício de uma história de direcionamento teórico-cultural.

Do passado ao presente e a retrospecção

Nessas relações e interferências interdisciplinares, porém, logo se constatou um dos problemas fundamentais a serem levados em conta e que foi tratado então em curso especificamente realizado para a sua discussão. Esse problema reside nos diferentes caminhos de persecução do desenrolar de acontecimentos no tempo: do passado ao presente e a do presente ao passado.

No procedimento historiográfico convencional, o caminho da construção do edifício histórico é do passado ao presente, de trás para a frente, de origens ou causas às consequências, constituindo expressão de anacronismo questionável o projetar do presente no passado. No procedimento memorial, porém o caminho da reconstrução do passado é por assim dizer retrospectivo, ou seja, do presente do informante ao passado, da frente para trás, das consequências vividas às causas.

A complexidade dessa situação torna-se evidente quando se considera que também o historiador empenhado em construir o edifício a partir de suas bases procede a partir de uma visão geral a posteriori, ou seja do conhecimento de desenvolvimentos futuros, e que também aquele que recorda ou que escreve as suas memórias se empenha em apresentar as ocorrências de trás para a frente ou até mesmo de investigar as suas bases ou reavivar a sua memória através de obras historiográficas.

Reconstrução do passado a serviço da memória de grupos

No outro caso do emprêgo do termo memória acima mencionado, ou seja, no sentido de uma reconstrução do passado a partir de fontes diversas a serviço da memória de grupos, tem-se a questão das consequências práticas dos procedimentos teóricos. Servindo não apenas ao avivar de recordações, mas sim também ao reviver de fatos e ocorrências já esquecidos através de gerações, transmite imagens de edifícios históricos reconstruídos, fortalece ou cria uma determinada consciência histórica e contribui, assim, à revitalização ou mesmo à construção de identidades de grupos.

Arquivo ABE
Riscos: falsas consciência histórica e identidade artificial

Problemas teórico-culturais e historiográficos mal solucionados ou refletidos podem assim levar a unilateralidades ou mesmo à criação de falsa consciência histórica e identidades artificiais, com graves consequências político-culturais e mesmo políticas, de difícil correção devido à formação de estruturas sociais e mesmo de pesquisadores impregnadas por determinadas imagens e correntes de pensamento. Por outro lado, nas situações onde já vigora uma consciência histórica e uma imagem identificatória baseada em premissas historiográficas questionáveis, a consideração da memória pode trazer retificações. Também aqui trata-se antes de dirigir a atenção à observação dos observadores, ou seja, ao próprio memorialista, mais do que propriamente aos dados transmitidos.

Questões de memória nos estudos culturais da imigração alemã no Brasil

Essa discussão dizendo respeito sobretudo ao estudo cultural de grupos, é de particular significado para os estudos da imigração. Um caso que merece particular atenção é o da memória das comunidades de ascendência alemã no Brasil, sobretudo nos Estados do Sul e no Espírito Santo. Após várias gerações desde a chegada dos primeiros colonos no país, seria de se supor, numa visão pouco refletida do caminho integrativo, que a assimilação estivesse encerrada, diluindo-se as características culturais originais naquelas da sociedade de configuração luso-brasileira.

Como os estudos de performação cultural veem demonstrando, o processo de transformação cultural e de identidades é mais complexo, e as sucessivas gerações conhecem diferenciações e alternâncias nos vínculos com a cultura e a nação de proveniência dos antepassados. Constata-se, hoje, que em muitas regiões a arquitetura, o cultivo de danças e trajes típicos, a comida, o modo de vida e até o idioma expressam uma consciência de identidade e de diferenciação. É compreensível que, nessa situação, intensifique-se o interesse por questões de memória das respectivas comunidades.

Já no início da década de 70, quando, no âmbito dos trabalhos da entidade que hoje representa a organização Brasil-Europa e da Associação Brasileira de Folclore, realizou-se uma viagem de observações e estudos às regiões de colonização do Sul do Brasil, constatou-se a singularidade de uma situação caracterizada simultaneamente pela intensidade do cultivo de expressões culturais tradicionais e por um certo mal-estar relativamente a questões de memória e história. Na dificuldade de se obter informações, na reserva e até
mesmo no silêncio com relação ao passado constatou-se o quanto o problema da memória e da consciência histórica de comunidades de ascendência alemã no Brasil é complexo e sensível. Imagens em parte altamente positivas de um passado já remoto surgem como turvadas por acontecimentos posteriores, colocando em dúvida de forma particularmente intensa a veracidade das reminiscências para aquele que se recorda, manifestando por assim dizer uma insegurança na avaliação dos quadros transmitidos pela memória.

Se os estudos propriamente históricos levantam fontes relativas ao já longínquo passado das primeiras décadas da imigração, a memória e a tradição oral viva remontam às primeiras décadas do século XX, ao período que antecedeu a gravíssima fase crítica marcada pela Primeira Guerra Mundial e mais ainda aguçada com a Segunda Guerra Mundial. Nesse intento, sente-se a necessidade de um cotejo com a memória no próprio país de origem dos antepassados, àqueles que viveram na Alemanha nos anos anteriores à Primeira Guerra e que experimentaram, nas muitas décadas do século XX, os altos e baixos que caracterizaram de forma dramática a história alemã e que repercutiram de forma complexa nas comunidades de ascendência alemã no Brasil.

Questões de memória nos estudos culturais da presença brasileira na Alemanha

Para os brasileiros ou para aqueles de ascendência brasileira que vivem na Alemanha, as questões relativas à consciência histórica apresentam dificuldades ainda maiores do que aquelas que se colocam em outros contextos (Veja a respeito o número anterior desta revista).

Além dos problemas que poderiam ser vistos como generalizados, decorrentes de mecanismos do processo de transformação cultural, entre outros aqueles que dizem respeito à ordenação simbólica de grupos e que se manifestam em tendência ao original e característico, a um ufanismo patriótico ou a uma folclorização artificial em determinadas fases geracionais da integração, impõe-se o da necessidade de uma consideração mais diferenciada de questões relativas à memória. Esse problema é sentido diferentemente por aqueles brasileiros de ascendência alemã, em geral provenientes de áreas da antiga imigração no Sul do Brasil, e por aqueles sem elos com a Alemanha na sua história familiar.

Os primeiros sentem-se confrontados com imagens da Alemanha transmitidas ainda que de forma fragmentária pelos seus antepassados e aquelas que constatam na Alemanha. Os segundos, passada a fase ou a geração de afirmação de identidade de origem, sentem a necessidade, sobretudo aqueles já nascidos no país, de superar o abismo cultural que dificulta a integração através do estudo da história do país ou das recordações do meio que os envolvem. Confrontam-se aqui, porém, com grandes dificuldades. Constata uma acentuada discontinuidade, um pêso dado a determinadas épocas e ao apagamento de outras, uma dificuldade de obtenção de informações, um singular silêncio e uma inibidora complexidade quanto a conotações políticas no estudo da história e da memória.

Dificuldades de inquirição de memórias na Alemanha

O pêso dado a determinadas épocas na história não diz respeito, em absoluto, àqueles de maior brilho ou florescimento, e a pouca consideração dada a outras não corresponde exclusivamente àquelas especialmente negras do passado alemão. Assim, o brasileiro que deseja estudar a época que surge como de particular importância para o estudo da imigração alemã no Brasil, ou seja o século XIX, sente dificuldades em poder considerar aos universos regionais e locais nos quais se inseriram os emigrantes, as suas perspectivas históricas e as suas singularidades histórico-culturais.

Qual é o estudante alemão que conhece mais pormenorizadamente a história cultural dos muitos estados alemães do passado, em parte cidades-residências e pequenas Côrtes? Qual é o jovem alemão que sabe algo a respeito da história de Waldeck-Pyrmont, de Baden ou do reino de Württemberg? Para uma maior diferenciação, o estudioso sente-se obrigado a ocupar-se com uma literatura de mais difícil acesso, com revistas de sociedades históricas e culturais regionais, com jornais, semanários e magazines da época, ou seja, imergir em outras dimensões àquela da história normalmente ensinada nas escolas.

A inquirição de memórias é também muito difícil, em grande parte devido às trevas das décadas de 30 e 40, o que leva a uma situação caracterizada de forma aparentemente ambivalente por um digno intuito de confrontação refletida e crítica com o passado (Vergangenheitsbewältigung) e, em parte, por um querer apagar essa época da memória, e isso não apenas por aqueles que nela se envolveram politicamente.

O brasileiro ou aquele de ascendência brasileira que, sem possuir a carga representada por esse passado procura aprofundar-se na história alemã de épocas anteriores à Primeira Guerra, sente permanentemente o risco de ser involuntariamente inserido em determinadas correntes de orientação política, em parte revisionistas, em parte instrumentalizadoras da história mais remota. Seria, porém, justamente no fato de poder observar de uma certa distância, sem o pêso dos graves acontecimentos do século XX, é que o estrangeiro ou imigrado poderia até mesmo contribuir para o desenvolvimento de uma consciência histórica mais aprofundada no tempo e mais diferenciada quanto às perspectivas e interpretações.

Em todo o caso, a questão da memória deve ser refletida tanto pelas comunidades de ascendência alemã no Brasil, como por aquelas de ascendência brasileira na Alemanha. Somente um trabalho em comum, uma cooperação a partir de diferentes perspectivas promete aqui maiores resultados para os estudos culturais em contextos internacionais. Trata-se aqui, porém, de uma questão especificamente científica, a ser tratada por pesquisadores devidamente qualificados e especializados, integrados no contexto histórico do desenvolvimento dos respectivos estudos, não de emissoras ou de órgãos oficiais ou oficiosos de representação, de intercâmbio ou de difusão cultural.


Recordações de infância em diferentes perspectivas

A consideração da memória nos estudos culturais referentes ao início do século XX, ou seja, de época já remota, determina compreensivelmente uma focalização dirigida ao mundo infantil daquele que se recorda. Parece ser natural que muitas das informações assim obtidas dizem respeito à vida em família, ao ambiente doméstico, a impressões gerais de atmosferas, a brinquedos e folguedos, às relações com irmãos e empregados, à vida escolar e a determinados aspectos da vida pública. Apesar dos limites dessa focalização, as recordações oferecem subsídios relevantes sob o aspecto de uma história cultural da vida do quotidiano. O pesquisador pode tirar delas conclusões a respeito de expressões culturais que em parte desapareceram e não foram registradas em obras historiográficas, muitas delas também conhecidas em contextos da imigração. Não se pode esquecer que é justamente na cultura infantil que expressões culturais mais antigas muitas vezes sobrevivem, até mesmo aquelas provenientes do mundo adulto no passado.

Necessário é, porém, considerar os diferentes contextos sociais e culturais daqueles que se recordam. Do cotejo de diferentes perspectivas pode-se tirar conclusões a respeito de diferenças ou não de expressões culturais e modos de vida. Uma publicação que oferece subsídios para tais estudos é "Infância no Império", uma coletânea de textos com lembranças de alemães idosos provenientes de diferentes círculos sociais, de diferentes profissões e orientações políticas (Kindheit im Kaiserreich: Erinnerungen an vergangene Zeiten, ed. Rudolf Pörtner, Düsseldorf, Wie, New York: Econ, 1987 ISBN 3-430-17518-6)

Um texto que salienta as particularidades das lembranças de infância e o do seu significado para o estudo cultural do quotidiano, inclusive para uma história do "folclore do dia-a-dia" e da história de ruas e bairros é aquele Johann Baptist Gradl (*1904)  (Als Kreuzberg noch kaiserlich war, op.cit. 213-222). Nascido em Berlim, o autor, que viria ser redator do órgão do Partido do Centro e Ministro, reconhece que tomou consciência dos grandes acontecimentos da época apenas posteriormente, através de leituras. A época do império permanece, assim, sem maior profundidade na sua memória. As suas recordações dizem respeito antes a aspectos do dia-a-dia do seu bairro de Kreuzberg, sobretudo aos brinquedos de sua infância, entre outros o do empinar papagaios. Vivenciou a transformação urbana desse bairro e de sua gradual vinculação com o centro, as destruições causadas pela Segunda Guerra e, sobretudo, as descaracterizações causadas por uma política urbana mal orientada do período posterior.

Se a memória de Gradl oferece dados significativos sobre o folclore infantil de um bairro de Berlim que hoje apresenta características totalmente diferentes, o de Regi Relang (*1906) (Jedes Kind hatte seinen Feldgrauen, op.cit. 235-239), que seria posteriormente fotógrafa, oferece outra imagem desse mesmo folclore, tratando de brinquedos de crianças em outro contexto, o de Stuttgart, no antigo reino de Württemberg. Como salienta de início, para ela o império era algo abstrato, o que tinha presença para a perspectiva infantil era o rei e a rainha de Württemberg, cujos aniversários eram festejados com maior intensidade do que o de Guilherme II. Recorda-se de vários jogos e brinquedos de meninas, em casa e ao ar livre, entre outros o da imitação de soldados e aqueles baseados em textos de W. Hauff (1802-1827). Dentre os brinquedos, menciona que era comum às crianças de Württemberg de "brincar de índios" ao ar livre.

Kurt Bittel (*1907), nascido em Heidenheim, mais tarde professor das universidades de Tübingen e Istambul, também salienta que a casa real de Württemberg era muito mais próxima e até mesmo respeitada do que o imperador. Havia no quarto das crianças um grande mapa do Norddeutscher Lloyd com a Alemanha e as suas Colonias, o que dava às crianças um orgulho de ver o império representado em várias partes do mundo. Entretanto, quando os meninos brincavam de soldado, não se referiam às guerras de 1866 e 1870/71, mas sim à revolta Herero de 1904 na África alemão do Sudoeste. Em comparação com as atuais possibilidades, desejos e costumes de vida, tudo era muito mais modesto. Viagens de férias, somente de trem e de quarta classe, em geral consistiam em visitas a parentes ou estadias no campo. (Lateinunterricht bei Oberpräzeptor Ölschlager, op.cit. 247- 253)

Significado da forma exterior para o mundo infantil

Tratando-se de um período já tão remoto e que diz respeito apenas à época de infância daqueles que deixaram registradas as suas lembranças, deve-se dar particular atenção ao papel desempenhado por sinais e símbolos na configuração de imagens de um período marcado pela forma e suas representações. A imagem na recordação é aqui marcada ela própria por imagens, por um sistema de sinais e símbolos intrínsecos a um sistema.

Essa situação, que pode naturalmente dar margens a reflexões mais detalhadas, é exemplarmente descrita nas recordações de Herta von Schwerin (*1902)  (Wir feierten Kaisers Geburtstag, op.cit. 147-156). Nascida em Hamm, Vestfália, esposa de um Conselheiro de Estado, a informante salienta o significado da imagem do imperador para a vida infantil. Quando criança, sentia-se bem ao pensar no imperador. Ao contrário do expresso em poesias que declamava e que determinava o retrato que dele fazia, êle não era na realidade um homem simples, nem mesmo talvez amável, mas as crianças em geral sentiam-se orgulhosas em possuir um coroado na Alemanha, tendo pena da França, na qual apenas um presidente governava. O maior desejo das crianças era o de poder ver o imperador algum dia. No seu caso, esse desejo foi satisfeito durante uma visita de Guilherme II na Renânia, não o reconhecendo, porém, pois trajava um costume civil, enquanto que os seus ajudantes é que traziam uniformes vistosos. Uma segunda impressão, já em 1914, foi a de um homem abatido. Descreve com pormenores o cerimonial das recepções em Potsdam e, sobretudo, do impressionante procedimento utilizado na vinda do Príncipe Tschun, da China, para apresentar desculpas oficiais pela morte de diplomata alemão, em 1900. Relata também a vida numa pequena corte, a de Wied, a partir da perspectiva de uma amizade desenvolvida com as princesas. Descreve, também, festejos escolares e particulares por ocasião das comemorações do aniversário de Guilherme II.

Annelies Herrmann-Kupper (*1906), nascida na Silésia, mais tarde cantora de ópera e professora na Escola Superior de Música de Munique, possui a imagem de sua infância e do quotidiano no império como alguns anos de felicidade, de proteção na sua pequena família de funcionário público. Saber economizar era um ponto importante da educação. Um simbolo de status era o passear aos domingos em traje de marinheiro e botas laqueadas, com rede para borboletas e valisa de botânico. Outro sinal de prosperidade era enviar as crianças a escolas particulares, aprender piano e ter uma empregada doméstica. Dos raros automóveis da época, lembra-se apenas aquele do imperador quando de sua visita. Ficou decepcionada pelo fato de Guilherme II não trajar uniforme vistoso. Durante a Guerra, já não era bem visto aquilo que era adequado ao status. Em lugar de sapatos brilhantes, passou-se a usar sandálias de madeira. (Grosse Zeit im kleinen Rahmen, op.cit. 229-233)

Dolf Sternberger (*1907), nascido em Wiesbaden, mais tarde redator e Professor da Universidade de Heidelberg, Presidente de honra da Academia Alemã de Língua e Literatura, lembra-se da única vez que viu o imperador quando de uma parada em Wiesbaden. Uma imagem ficou gravada na sua memória, a de um menino que foi elevado a Guilherme II, a cavalo, para entregar-lhe um maço de flores. O imperador e a parada e o mês de maio ficaram marcados na sua lembrança, as imagens não ficaram apenas vinculadas ao que viu, mas uma época passou a ser representada pelo quadro conservado na memória. Sempre que ouvia um canto patriótico, essa imagem vinha-lhe à lembrança. Como muitos outros, uma situação que mais simbolizou o fim do sistema foi o ver os soldados vestidos de cinza retornando da Guerra, um cinza que substituia o branco e o colorido dos uniformes de então. (Der Kaiserjunge: Kornblumen für den Schuimmelreiter, op.cit. 255-260)

Fritz Fischer (*1908), nascido em Ludwigsstadt, mais tarde Professor de História em Hamburg, oferece imagens da sua infância na região mais ao norte da Francônia. Descreve a atmosfera da pequena cidade e a simplicidade das formas de vida. Com o término da guerra, e o fim da monarquia na Baviera, as impressões que ficaram são sobretudo aquelas de carater visual, por exemplo o do desaparecimento dos belos uniformes em azul celeste dos servidores de ferroviais. Na estrutura geral da sociedade, pouco se modificou: permaneceu a separação de classes, o isolamento da Democracia social, a antipatia pela República, a esperança de que o antigo voltasse. A eleição de von Hindenburg a Presidente deu a muitos confiança. (Sonnige Kindertage im nördlichsten Zipfel Frankens, op.cit. 271-279)

Imagens segundo identificações católicas

Os estudos da memória devem considerar que as imagens de Guilherme II e da época variam de acordo com o contexto cultural e social de socialização daquele que recorda. Entre os principais fatores contextuais que influenciam as imagens deve-se salientar aquele derivado da confissão religiosa. O pertencimento à Igreja Católica ou ao Protestantismo, e a identificação com uma esfera social determinada por uma das confissões ou pela respectiva tradição familiar desempenharam - e em parte ainda desempenham - um papel muito mais importante na Alemanha do que aquele no Brasil.

Também os emigrantes, sobretudo aqueles que saíram da Alemanha na segunda metade do século XIX, levaram consigo esses vínculos religiosos e que eram, ao mesmo tempo, político-culturais. Nos estudos da memória de regiões colonizadas por alemães no Brasil deve-se, assim, dar particular atenção à inserção daquele que recorda em determinada tradição religiosa ou esfera sócio-cultural marcada no passado por essa tradição.

Um testemunho da importância desse fator pode ser visto nas recordações de Ludger Westrick (*1894), publicadas na coletânea acima citada (Die Mutter war der Mittelpunkt der Familie, op.cit. 35-43). Nascido em Münster, ocuparia posteriormente vários cargos na Economia e Política, vindo a ser Secretário de Estado no Ministerio da Economia, Chancelaria Federal e Ministro. Nas suas recordações, lembra que a cidade onde nasceu e se formou, de população em grande maioria católica, sentia ainda as consequências da Luta Cultural (Kulturkampf) que ocorrera na Prússia após 1870.

Essa Luta do Estado contra a Igreja Católica da Alemanha, era apoiada por correntes anti-eclesiásticas, em particular, de tendências nacionalistas, inclusive aquelas nacional-liberais. Bismarck apoiara o movimento, pois considerava o então Partido do Centro, que representava as posições católicas, como inimigo do Império.Também o Imperador nada fêz contra essa Luta Cultural, embora tivesse sentido os seus efeitos negativos quando estudava em Bonn, tendo afirmado ter sido desconsiderado por nobres ultramontanos da Renânia-Vestfália. A Luta Cultural causou muita insatisfação nas cidades católicas da região de Münster. Rudolf Virchow (1821-1902), um dos co-fundadores do Partido Progressista, chegou a afirmar que a luta contra a Igreja Católica seria uma luta pela cultura. A lei contra os jesuítas, de 1872, com a proibição das atividades da Companhia, foi suspensa apenas em 1917. Assim, Guilherme II tinha criticado a Luta Cultural, mas nada feito substancialmente contra a mesma.

Westrick reconhece, porém, que o imperador procurara várias vezes dar sinais positivos de interesse pelos católicos do país. Assim, cultivou laços estreitos com a Congregação Beneditina de Beuron. Possibilitou que a Abadia de Maria Laach passasse novamente a ser utilizada, presenteando ao mosteiro o baldaquim sobre o altar. Em 1898, ao visitar Jerusalem, adquiriu do sultão a Dormition no Monte Sion e presenteou-a aos católicos, passando à responsabilidade da Congregação de Beuron.

Apesar dessas restrições com relação a Guilherme II como representante do Protestantismo na católica cidade de Münster, o seu aniversário, a 27 de janeiro, era também ali festejado solenemente. Na escola, um dos professores era designado para proferir uma conferência de cunho histórico, tratando de preferência temas da Casa dos Hohenzollern. A popularidade de Guilherme II, porém, não era grande, o que talvez valesse para toda a Vestfália. A participação de tantos voluntários na Guerra de 1914 explicar-se-ia por entusiasmo patriótico, não tanto por fidelidade ao Imperador ou á monarquia.

Outro testemunho que possibilita compreender uma certa reserva de regiões católicas ou grupos populacionais influenciados pelo Catolicismo com relação à época guilhermina é a de Franz Thedieck (*1900) relativamente à Renânia (Im Rheinland blieb man skeptisch, op.cit. 129-136). O autor, nascido em Hagen, na Vestfália, seria mais tarde Secretário de Estado e intendante do Deutschlandfunk. Nas suas recordações, oferece pormenores significativos da vida em Colonia no período do império guilhermino.

Nos anos anteriores à Guerra, a posição da população era segundo êle politicamente diversificada. Nas famílias renanas tradicionais reinava uma certa suspeita relativamente ao desenvolvimento político do império do período pós-Bismarck. Sobretudo a política da armada naval era vista com desconfiança. O desejo de presença da bandeira alemã em todos os mares tinha pouca ressonância nos habitantes de Colonia. Outros, concordavam com o Chanceler von Bülow (1849-1929), que desejava que os alemães tivessem um lugar ao sol. O autor salienta, porém, que em visão retrospectiva, e com a experiência da história posterior, a avaliação desse período diferencia-se daquela da própria época. Com a Guerra, um longo período de paz terminou. A posteriori, parece ser incompreensível que as pessoas pudessem ter sentido tal paz prolongada como perturbadora, uma paz que incluia tensões latentes. Tudo indica que muitos preferiram "um fim com terror" do que "um terror sem fim". Poder-se-ia dizer que as pessoas viviam bem demais, já não sabiam como aguentar tão boa situação.

Imagens segundo identificações protestantes

Paralelamente à necessidade de se considerar a inserção daquele que se recorda do perído guilhermeno em contexto cultural marcado pelo Catolicismo, deve-se levar em conta a identificação social e cultural do informante no Protestantismo alemão. Lembrando-se ser a Reformação um desenvolvimento histórico sobretudo na Alemanha e que marcou profundamente a sua história e a cultura de muitas de suas regiões, e considerando a tradição da família imperial e a formação marcadamente religiosa de Guilherme II, compreende-se se as imagens dessa época surjam de forma mais positiva na recordação daqueles inseridos em esferas marcadas pelo Protestantismo nas suas diversas orientações.

Como um exemplo de recordações da época guilhermina por parte de destacado representante do Protestantismo pode-se citar aqui o texto de Walter von Loewenich (*1903) (Es herrschte das Gefühl völliger Sicherheit, op.cit. 205-211). Nascido em Nürnberg, de família tradicionalmente vinculada com a história protestante da Alemanha, o autor seria mais tarde Professor de História da Arte e Arqueologia cristã, Reitor da Universidade de Erlangen e Presidente da Sociedade Luther. Salienta, ao descrever a atmosfera reinante na época, a sensação de absoluta segurança que reinava no período imperial alemão.

Havia, pelo menos na sua família e no contexto em que vivia, um sentimento de continuidade histórica. O seu pai recordava-se das guerras de 1866 e 1870, e o espírito do Império nascido em 1870/71 e da época de Bismarck permanecia vivo na sua família. Também as imagens das transformações ocorridas nos anos da Guerra denotam o prisma marcado pelo sentimento de continuidade.

Lembrando-se de muitos pormenores, cita entre eles o da campanha Ouro por Ferro, nas quais os habitantes entregavam moedas e outros objetos de ouro e de cobre em troca de aneis e correntes de ferro. O seu pai pertencia ao Partido da Pátria, que defendia a permanência da Guerra até a vitória final. Entretanto, retrospectivamente, conscientizou-se de que as ocorrências revolucionárias o influenciaram mais do que supunha. O fim do Império e a abdicação de Guilherme II foram acontecimentos de alta gravidade, uma decepção de difícil superação. O autor tem a consciência de ter aqui vivenciado uma das maiores quebras de autoridade da história alemã. Adquiriu aqui uma consciência fundamentalmente crítica relativamente a autoridades históricas.

Imagens da perspectiva feminina

Um fator pouco considerado nos estudos de imagens fornecidas pela memória é aquele relacionado com o fato de ser homem ou mulher aquele que recorda. Apenas com o desenvolvimento mais recente de perspectivas voltadas ao Gênero nos estudos culturais é que se toma maior consciência do significado desse fator para os estudos relacionados com a memória e a consciência histórica.

No caso dos estudos culturais de contextos da imigração no Brasil, pouco se tem considerado que a mulher alemã se socializara muitas vezes em situações que se diferenciavam daquelas da mulher brasileira, caracterizada sobretudo por maior emancipação e auto-afirmatividade.

Parece significativo que até mesmo a Duquesa Viktoria Luise, nas suas recordações, salienta várias vezes que preferiria ter nascido homem, que preferia usar roupas masculinas e a brincar com jogos de meninos, que se revoltara ao ter que aprender a se comportar como menina e a usar roupas femininas. Foi-lhe sempre difícil submeter-se a governantas, deixando sempre perceber a força de decisão de sua personalidade.

Nos estudos culturais da imigração não se pode sobretudo esquecer que o movimento feminista era bastante intenso em fins do século XIX e início do XX na Alemanha. Ainda que as imigradas em geral viessem de regiões rurais e mais tradicionais da população, deve-se levar em conta nas análises a diversa situação sócio-cultural e as tendências do feminismo alemão. A participação no trabalho e em atividades sociais no período da Guerra contribuiu também para um aumento de auto-consciência e independência.

Um testemunho do significado desse fator nos estudos da memória pode ser visto nas recordações de Elisabeth Flitner (*1894) (Auf dem Katheder brannte frühmorgens eine Kerze, op.cit. 45-53). A autora foi a primeira menina que alcançou o término escolar em ginásio público de Jena. Seria mais tarde membro do Instituto Social-Pedagógico de Hamburgo e Presidente de Honra da Liga de Proteção à Criança. Nas suas lembranças, oferece uma visão da vida quotidiana em grande família em ambiente determinado pelo desenvolvimento técnico-científico de Jena e por tendências sociais progressistas.

O seu pai tornou-se diretor da indústria Zeiss, havendo sido primeiramente assistende de Ernst Abbe (1840-1905). Este, professor de Astronomia e Matemática, dedicava-se também a questões sociais, introduzindo em 1900 o dia de 8 horas de trabalho, o apoio aos trabalhadores em caso de doença, medidas de proteção contra despedida de emprêgo sem razão e até mesmo direito de participação em lucros.

Em Berlim, Elisabeth Flitner entrou em contato com o movimento feminino dirigido por Gertrud Bäumer (1873-1954), Marie Baum (1874-1964) e Alice Salomon (1872-1948). Salienta que na época, já todas as universidades eram acessíveis a mulheres, também para o doutorado e a livre-docência, raras sendo as exceções de discriminação por parte de professores. Com as representantes do movimento feminino, dedicou-se a obras sociais durante a Guerra.

Diferenciações da perspectiva feminina

Outro testemunho, agora de cidade menor do Westerwald é o de Bertha Middelhauve, nascida em Montabaur, em 1893 (Mädchen konnten nicht aufs Gymnasium, op.cit. 21-23). Nas suas lembranças, percebe-se a necessidade de uma diferenciação da perspectiva feminina segundo o contexto sócio-cultural determinado em grande parte pelo vínculo religioso e, vice-versa, a do fator religioso segundo o fato de ser aquele que recorda homem ou mulher.

A pequena e tradicional cidade onde nasceu, conhecida na época como "Atenas da floresta", possuia instituições de ensino católicas e a sua vida religiosa, cultural e social era marcada pelas festas católicas, em particular pela procissão de Corpus Christi. Enquanto todos os seus irmãos frequentaram o ginásio episcopal da cidade, ela, como menina, não o pôde fazer. Para prosseguir os seus estudos, teve que se dirigir a Frankfurt a.M., onde passou a frequenter a escola feminina das Ursulinas. Apesar disso, identificava-se com a cultura católica da sua cidade, salientando que os muitos judeus que ali viviam devido ao comércio de gado na regiãõ se encontravam tão integrados ou se procuravam de tal forma integrar na sociedade que ornamentavam as suas casas por ocasião da festa de Corpus Christi. Um dos grandes acontecimentos foi a visita do Príncipe Herdeiro à cidade, em 1900, no mesmo ano em que ali viu o primeiro automóvel.

Memória, artes e música

Frequentemente se constata no estudo da memória referente ao período guilhermino referências ao significado das artes, em particular da música na vida cultural e doméstica. Também nos estudos da imigração encontram-se constantes menções de coros, de grupos instrumentais diversos, da prática de canto e de câmara nas várias localidades do Brasil e nas famílias. Tais menções contribuem de forma decisiva para a imagem da época. Entretanto, também aqui deve-se proceder a diferenciações e atentar a possíveis projeções anacrônicas. A Guerra não apenas modificou profundamente a vida cultural e artística da Alemanha. Ela marcou também a atitude daquele que recorda, intensificando muitas vezes uma tendência à introspecção, à reserva com relação a brilho externo.

Um testemunho dessa situação pode ser visto no texto de IIlse Langner (*1899) (...da aber dröhnte Marschmusik, op.cit. 94-98). Nascida em Breslau, faria posteriormente nome como escritora, tendo realizado também conferências em institutos Goethe. Nas suas recordações, transmitidas em texto de elaboração literária, salienta a função da música marcial como elemento importante da fascinação pelo brilho do aparato militar. A música de banda desempenhou um papel relevante na criação e no enflamar do entusiasmo patriótico por ocasião da deflagração da Guerra, unindo emocionalmente o povo, afugentando os receios e pressentimentos, e não deixando que se escutasse a voz da razão. Levou à ousadia e à perda de contrôle. A autora nunca pôde esquecer que, apesar de suas lágrimas, sentiu-se levada a vibrar com a música, a marchar com o corpo, em contradição àquilo que o raciciocínio sugeria. Desde então, a autora aprendeu a desconfiar de todos os grandes tons, de todas expressões grandiloquentes. Nunca mais quis escutar música militar, pois sente que nela existe uma magia perigosa.

Leopold Reidemeister (*1900), nascido em Braunschweig, mais tarde diretor geral dos museus da cidade de Colonia e da Galeria Nacional de Berlim, salienta nas suas recordações de infância e juventude, decorridas no Ducado de Braunschweig, que até o presente se sente vinculado à tradição do espírito artístico daqueles anos. Essa época desapareceu, mas permaneceu a tradição familiar de servir ao Estado e à comunidade pública com os seus conhecimentos. A época ofereceu a abertura artística que preparou a sua carreira como diretor de importantes museus. (Saatkörner, die nicht verwehten, op.cit. 115-120).

Imagens segundo socializações juvenis. Jugendbewegung

Nos estudos da memória deve-se levar em conta a inserção ou não daquele que recorda em movimentos de sua época de juventude. Para os brasileiros que se dedicam a estudos culturais no âmbito da imigração, tal inserção não é em geral considerada, uma vez que muitos desses movimentos do passado são expressões sociais e culturais especificamente alemãs, pelo menos na sua intensidade. Os jovens que nele atuaram obtiveram uma visão determinada da época, guardando um impressão de atmosferas e do estado de espírito reinante marcado pela experiência em grupo e pelo direcionamento ao ideário do respectivo movimento. Em particular, deve-se considerar aqui a assim-chamado Jugendbewegung, o movimento da juventude, assim como o dos Wandervogel. Este último, surgido em fins do século XIX em Berlim (Steglitz), praticado sobretudo por estudantes e colegiais, cujo mentor foi Karl Fischer (1881-1941), foi marcado por um direcionamento romântico à Natureza e à liberdade do viver natural.

O significado desse movimento torna-se compreensível sobretudo sob o pano de fundo da industrialização rápida das grandes cidades e das repercussões de idéias filosóficas e de concepções mundo que salientavam o retorno à natureza como pressuposto para o desenvolvimento humano integral e a dedicação a ideais não-materialistas. A movimentação da juventude dessa época marcou profundamente a cultura alemã do século XX, lançando as bases a desenvolvimentos específicos, em parte desconhecidos em outros contextos culturais, sobretudo aqueles relativos ao movimento da "reforma de vida" e mesmo à cultura naturista e nudista.

Embora no Brasil se conhecesse o movimento pedestriano, este não pode ser comparado na sua intensidade e influência com a atividade andarilha na Alemanha. A instituição do movimento do Wandervogel em Berlim como sociedade registrada em 1901, foi um fenômeno cultural da época guilhermina. Também aqui, porém, deve o observador atentar a diferenças na inserção daquele que recorda, uma vez que houve divisões e ramificações do movimento já antes da Guerra, marcadas por diferentes posições quanto à neutralidade política e à participação ou não de meninas. A Guerra determinou posteriormente uma nova situação e, sobretudo, deve-se levar em consideração que alguns dos impulsos dos grupos juvenís foram utilizados politicamente na década de 30 e 40, na assim-chamada Hitler-Jugend.

Um testemunho da relevância dessas experiências de juventude nas imagens da época guilhermina são as recordações de Theodor Sonnemann (*1900)  (Eine Jugend unter Schwarz-Weiss-Rot, op.cit. 121-127). Nascido em Hildesheim, Sonnemann chegaria a ser mais tarde Secretário de Estado do Ministério da Alimentação, Agricultura e Florestas. Salienta, nas suas recordações, a importância e a diversidade do movimento da juventude da época imperial. Manifestava-se tanto à esquerda como à direita do espectro político: de um lado, a Juventude dos Trabalhadores e a Liga dos Amigos da Natureza, de outro, o Jungdeutschlandbund. Comum a todos era o cultivo da alegria do redescobrimento da Natureza e da vida livre natural. Sentiam além do mais a satisfação ideal de reviver uma tradição esquecida. Nesse grupos predominava uma fidelidade sentida como óbvia ao imperador e ao império. Seria porém falso para Sonnemann ver nesse movimento um fenômeno precursor do racismo que mais tarde traria infelicidade para a nação. Mesmo que essa juventude se denominasse de völkisch, esse conceito nada teria a ver, na época, com antisemitismo.

Imagens segundo estratos sociais e sinais de posição

Em recordações da época surge frequentemente a menção da acentuada estratificação social reinante, marcada essa simbolicamente por títulos e condecorações. Dependentemente da inserção daquele que se recorda em determinada esfera social pode-se supor diferenças quanto às imagens guardadas. Honorificações e outros atos de natureza simbólica podem fundamentar elos de lealdade e deixar que o passado surja de forma mais iluminada. Entretanto, tratando-se de recordações de infância e de primeira juventude, no caso, esse fator deixa de ter significado para a própria pessoa do informante, não deixando porém de ser relevante para a sua consciência de origem familiar e de milieu. Ser filho de um oficial militar ou de um funcionário público do Império coloca aquele que recorda em situação que privilegia determinadas focalizações. Sob esse aspecto, poder-se-ia talvez considerar memórias dessa época que salientam a excelência da organização do funcionalismo e da vida militar do período guilhermino, assim como a ausência de corrupção. Também poderiam aqui ser consideradas as imagens da época marcadas por considerações positivas e negativas da ordem e da disciplina reinantes.

Como exemplo dessa imagem da época pode-se citar aqui o texto de Herbert Richter (*1899) na publicação mencionada  (Die Armee im roten Königreich, op.cit. 99-105). Nascido em Dresden, o autor viria a ser attaché no Serviço de Relações Exteriores, atuaria em embaixadas alemãs em diversos países e tornar-se-ia Presidente do Instituto Alemão do Oriente. O foco principal de suas recordações é dirigido à vida de oficiais na Saxônia, marcada que era pelo cultivo de virtudes militares. Salienta ter sido essa uma vida fatigante, pois trabalhavam diligentemente dia e noite, havendo pouco tempo para a vida particular. As virtudes principais eram disciplina, coragem, cavalheirismo e camaradagem. Havia porém rivalidade entre as diferentes armas e regimentos. Grande era o prestígio e o desejo de reconhecimentos, de ordens e condecorações. Os oficiais eram educados a lutar e morrer sem mêdo. Se a vida militar não era absolutamente fácil, a escolar era para muitos um verdadeiro martírio: excesso de lições de casa, excesso de disciplina, mestres de extrema severidade. O domínio do francês ainda era parte fundamental da boa formação. Para tal, algumas famílias contratavam professoras particulares. Assim como o exército, a administração pública do Império era muito bem organizada. Haviam poucos funcionários públicos, e esses possuiam grande prestígio. No funcionalismo mais elevado encontravam-se apenas juristas. Na falta de sentido político teria residido o maior problema do Império. Havia um aparato civil e militar de funcionamento exemplar.

Testemunho da estratificação da sociedade no seu todo oferece Günther Grassmann (1900) (Man liebte russische Literatur und fürchtete die russische Dampfwalze, op.cit. 137-145), Nascido em Munique, com estudos de Arquitetura e Artes Plásticas, seria mais tarde Professor da Escola Superior Städel de Frankfurt e Presidente da Müncher Secession. Grassmann salienta, nas suas recordações, que a sociedade da época era mais separada do que hoje em "um de cima" e "outro de baixo". A sociedade da Côrte, considerada como social, amável e alegre, era seguida, como colunas do Estado, pela nobreza e pelos militares, pela burguesia culta, na qual desempenhavam importante papel os círculos universitários e os funcionários públicos mais elevados, vindo depois os comerciantes, os empresários e os donos de lojas. A Côrte não economizava com títulos de todo o tipo e condecorações. Todo o funcionário público mais elevado, mas também professores universitários e artistas recebiam ordens. Muito difundidos eram os títulos de Hofrat e Geheimrat, usados mesmo no dia-a-dia. O título de Kommerzienrat parece poder ser obtido através de doações para fins culturais e artísticos.

Uma outra face dessa situação pode ser vista no testemunho de Werner Wachsmuth (*1900) (Wir vertrauten einem intakten Staat, op.cit. 107-113). O foco é aqui dirigido não à vida dos oficiais, dos funcionários públicos ou nas escolas, mas sim à atmosfera que reinava nas famílias burguesas. À rigorosidade, severidade, disciplina e incorruptibilidade salientadas nas lembranças de Herbert Richter corresponde aqui a uma sensação de segurança. Para Wachsmuth, nascido em Rostock, e que viria a ser Professor de Cirurgia e diretor da Clínica Universitária de Würzburg, a palavra que poderia caracterizar o período guilhermino até 1914 seria "tranquilidade". Não seria uma calma antes da tempestade, nem uma calma de letargia, mas uma calma resultante de uma sensação de segurança. Não haveria mêdo de incertezas. A notícia de Serajevo destruiu esse mundo sem preocupações. Os princípios de formação de uma família burguesa eram: economia, viver dentro de suas posses, sentido de dever, veracidade, auto-crítica e Noblesse oblige, assim como de respeito pelo trabalho dos antepassados e pelo valor da tradição. Hoje, o estado guilhermino seria visto como prototipo do Estado autoritário. Do ponto de vista dos contemporâneos, porém, não foi um estado de súditos escravizados, mas sim de pessoas que tinham confiança num Estado intacto. Sabia-se que os funcionários eram íntegros e os juízes independentes. O ensino era severo, mas não autoritário. Aprendia-se o auto-contrôle, o domínio de si e a conservação de porte. Entre os alunos não haveria distinção social nem de raça.

Karl Holzamer (*1906), nascido em Frankfurt a.M., mais tarde professor de Filosofia, Pedagogia e Psicologia na Universidade da Mogúncia, salienta que o subir na vida se processava lentamente, através de gerações. Dever-se-ia corrigir a idéia de que grande massa da população não conseguia subir na vida. As gerações de hoje não poderiam ter idéia da situação na época. Havia uma tranquilidade quase que pequeno burguesa, um clima no qual não se poderia imaginar que uma Guerra pudesse iniciar-se, que o império, satisfeito, pudesse se deixar atirar numa aventura bélica. Entretanto, negativamente, havia ainda o sistema eleitoral de três classes, exclusão de católicos de postos elevados de Estado, proibição de jesuítas. Positivamente, não havia o antisemitismo que marcaria épocas posteriores: os judeus eram tratados como todos os demais e os seus feriados eram tão respeitados quanto os dos católicos. (Der getopfte Sweater, op.cit. 241-246)

Imagens segundo socializações em cidades livres

Alwin Münchmeyer (*1908), posteriormente Presidente do Deutscher Industrie-und Handesltag e do Bundesverband Deutscher Banken, salienta nas suas recordações a situação especial de Hamburgo, onde havia uma forte consciência da alta burguesia. O mundo na época tinha a sua ordem que mesmo a renúncia do imperador não pôde por em perigo. Os seus antepassados criam que essa ordem seria eterna. Os antigos deveriam ser honrados, pois foram aqueles que haviam criado os fundamentos do bem-estar. A vida estava pronta como um terno sob medida. A prosperidade material e a posição social pareciam durar para sempre. Com a potência econômica, a posição perante o imperador era menos devota do que na Prússia. Já Bismarck teria comentado que os hanseatas teriam a ilusão de soberania e considerar-se-iam mais do que eram sob o ponto de vista político. O orgulho dos hanseatas se manifestava também em recepções de Guilherme II na cidade. O próprio ensino nas escolas tinha cunho elitário. Durante a Guerra,a vida social manteve-se; a forma era mantida, ainda que o racionamento obrigasse a mudanças nos costumes. O menos compreensível foi o surgimento de revolucionários no próprio país. Não compreendiam o que queriam e o que falavam, apenas sentiam que a ordem a que estavam acostumados estava sendo abalada a longo prazo. Embora não tivessem amado muito o imperador, por ser prussiano, sentiram que a queda do sistema consolidado trazia perigos para a sua sociedade.

Imagens da vida escolar e ginasial

Como testemunhado nos exemplos acima considerados, as lembranças da vida escolar assumem um pêso especial nas recordações de infância passada no período guilhermino, fato compreensível pelo fato de tratar-se já de período remoto, do qual apenas pessoas de avançada idade puderam ser entrevistadas. Algumas dessas recordações salientam aspectos relativos à disciplina e à ordem. Outras, porém, chamam a atenção a aspectos dos conteúdos transmitidos. Segundo as recordações de Hans Wendt (*1903), nascido em Magdeburg, que seria mais tarde redator, correspondente no Exterior e correspondente da Europa na Deutsche Welle, já durante a Guerra teve início uma douração, uma reconsideração, uma visão transfigurada do período Imperial. Na escola, onde se dava muita atenção ao aprendizado da história, Guilherme II era menos presente do que Bismarck. Os alunos não se sentiam tanto como prussianos, mas antes como alemães. Que ainda houvessem outros reis, príncipes, duques e condes no Império alemão, sentiam como estranho, um resto de pequenos estados que colocavam a Alemanha em situação desfavorável perante os outros estados nacionais. Haviam sido educados para um sentimento dirigido à grande pátria, ao amor pátrio, entretanto não a um ufanismo patriótico. Após a Guerra, com a ida de Guilherme II para os Países Baixos, alastrou-se a sensação de que a monarquia havia-se abandonado a si própria. (Als Hindenburg zum Ersatzkaiser avancierte, op.cit. 175-183)

Heinrich Lützeler (*1902), posteriormente Professor de História da Arte da Universidade de Bonn, salienta o significado da música, da prática de coro de igreja na sua família e no ginásio. Refere-se que, durante a Guerra, recebia informações através da revista Weltkrieg, que anunciava diariamente os acontecimentos. Era publicado pela associação de mulheres alemãs em Berlim a favor dos filhos dos homens que se encontravam em combate. A sua presidente de honra era Gertrud von Hindenburg. A renúncia de Guilherme II não podia ser compreendida pelos ginasiais. Sempre tinham acreditado no imperador e nos militares vitoriosos. (Der Weltkrieg kostete fünf Pfennig, op.cit. 191)

Imagens segundo orientações políticas de família

Não pode ser menosprezada nos estudos de imagens transmitidas pela memória a tradição de pensamento político familiar daquele que se recorda. Essa orientação política, que nem sempre foi necessariamente aquela do informante, exerceu uma influência positiva ou negativa na configuração de sua imagem e esteve relacionada em geral com o estrato social ou o milieu a que pertenceu. Dessa inserção em ambiente marcado politicamente explica-se muitas vezes também a avaliação dos acontecimentos da época.

Um exemplo deste fator a ser levando em consideração nos estudos da memória é o de William Born (*1895) (Staatsbürgerkunde bei Hausmeister Lischke... op.cit. 71-77). Nascido em Hamburgo, Born viria a ser posteriormente Membro do Deutscher Bundestag e do Parlamento Europeu. Na sua longa vida, experimentou seis formas de govêrno, de modo que sentia-se em condições de fazer comparações e tentar prognoses: o império, que conheceu na sua cidade - a republicana Hamburgo -, o Reino da Saxônia, a República de Weimar, a época de Hitler e ambos os estados alemães após a Segunda Guerra, assim como a zona de ocupação de Berlim Ocidental. Na sua família, havia a tradição de um espírito de Liberalidade, o que não significaria o mesmo que Liberalismo de partido. Essa tradição familiar encontrava-se porém em situação conflitante com aquela experimentada nas escolas e nos ginásios. No sistema educacional da época, não havia lugar para o tratamento e a troca de idéias políticas. Esta seria uma lacuna que explicaria a falta de democratas.

Uma outra orientação política é documentada nas recordações de Kurt Karl Doberer (*1904) (Der Pfennig war das Mark der Währung, op.cit. 223-228). Nascido em Nürnberg, de família socialista, formar-se-ia em engenharia e economia, tornando-se escritor. Salienta que as suas lembranças se perdem numa névoa, não podendo ser vinculadas a um tempo determinado, surgindo aqui e ali em fragmentos. Esses fragmentos, porém, dirigem-se claramente ao mundo dos pequenos, aos operários. São impressões de sentidos, do som de realejos em festas populares, do ruído de balanças em parques infantís, do cheiro de frituras e do grito de vendedores. Lembra-se de uma esfera de vida daqueles para os quais o centavo era a verdadeira moeda. A guerra foi sentida por essas crianças sobretudo devido ao racionamento de alimentos e as cada vez mais prolongadas estadias em zonas rurais. Com o término da Guerra, até mesmo os aprendizes nas fábricas fizeram revoltas e realizaram as suas pequenas revoluções.

Dados mais pormenorizados relativamente à imagem da época a partir de visões da classe operária oferecem as recordações de Walter Dirks (*1901) (Ade, Kaiser Wilhelm, gründlich ade, op.cit. 157-163). Mais tarde jornalista e um dos fundadores dos Frankfurter Hefte, nascido numa cidade industrial hoje integrada em Dortmund, o autor oferece uma imagem negativa de Guilherme II a partir da perspectiva de uma região marcada por trabalhadores. Lembra-se sobretudo da mobilização por motivo da Guerra nas escolas e nas associações. Salienta, porém, que não havia um tom nacionalista no ensino. O Estado prussiano passara até mesmo a considerar o aumento da população católica nas suas nomeações para o ginásio local, apesar desta ser vista como ultramontana. Na cidade, que era em grande parte protestante e de tendências nacionais, mesmo os católicos procuravam lembrar que também eram nacionais. Sob o ponto de vista literário, os jovens socialistas viviam em oposição à escola nacional, contra C.Th. Körner (1791-1813) e J.L. Uhland (1787-1862), próximos de H. v. Kleist (1777-1811) e F. Hölderlin (1770-1843), O. Flake (1880-1963) e G. Hauptmann (1862-1946). Ao lado da literatura, a natureza pertencia a uma atitude de resistência contra a escola, contra o estado, - uma resistência apenas na imaginação e no mundo particular. A música assumia uma particular relevância na vida juvenil e tornou-se o outro lado da existência do autor, ao lado da cristã e da política. Sob todos os aspectos, a época guilhermina foi aquilo do qual sempre procurou distanciar-se.

Willi Schäferdiek (*1903) (Der Krieg begann mit Glockengeläut, op.cit. 193-204), nascido em Mülheim (Ruhr), posteriormento escritor e radialista, oferece nas suas memórias pormenores da vida na região industrial do Ruhr. O seu pai, em Bielefeld, trabalhava em agência de informações que atuava em várias cidades, o Deutscher Anker. O objetivo dessa agência era a de fornecer informações sobre firmas e pessoas particulares, enviando-as a uma central. Posteriormente, como dono de uma venda, onde se reunia o grupo local do Partido Socialdemocrata em assembléias mais ou menos secretas, o seu pai sentia-se obrigado a tomar precauções, uma vez que poderia haver a suposição que ali se conspirasse. Assim, as crianças eram encarregadas de observar e dar alarme caso policiais se aproximassem. Lembra-se, em pormenores, da visita da delegacão búlgara ao império, em 1915, convidada a visitar o castelo de Landsberg pela firma Thyssen.

(...)


As discussões terão prosseguimento

Antonio Alexandre Bispo




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