Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 121/18 (2009:5)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2495


 


Evento em destaque

Exposição "Toulouse-Lautrec e as estrêlas de Montmartre" no castelo de Cappenberg

Reflexões sob a perspectiva brasileira


Fotos H. Huelskath 2009
Realizou-se, de 1 de março a 21 de junho de 2009, no castelo de Cappenberg em Selm, Alemanha, uma exposição dedicada ao tema "Henri de Toulouse-Lautrec e as estrêlas de Montmartre" organizada pela Sociedade museológica Ernest Barlach e o distrito de Unna. Esse evento motivou reflexões no âmbito dos trabalhos relacionados com os 40 anos dos trabalhos de renovação teórica dos estudos França-Brasil e Alemanha-Brasil da Academia Brasil-Europa.

A exposição constou de mais de cem cartazes, litografias e livros provenientes de coleção particular, alguns dos quais de grande raridade pelo número reduzido de exemplares na época impressos. Além de Toulouse-Lautrec (1864-1901), foram apresentados também cartazes de outros artistas, tais como Jules Chéret, Pierre Bonnard e Théophile-Alexandre Steinlein.

A mostra teve lugar no castelo de Cappenberg, um antigo convento na localidade de Selm, situado numa colina perto da área do rio Ruhr. O visitante entra no domínio do castelo por um portal que leva a uma grande alameda, ladeada de carvalhos.

Os condes de Cappenberg pertenciam a uma família de poder na Idade Média e que entrou na história devido à intervenção de um de seus membros nas assim-chamadas guerras de investidura, em 1121. A propriedade foi entregue posteriormente a Norberto de Xanten, fundador da Ordem dos Premonstratenses. Gottfried II, último conde de Cappenberg, mais tarde S. Gottfried, ali eregiu um convento masculino e um feminino. A igreja local expressa o florescimento dessas fundações.

Durante a Guerra dos 30 anos, foi em grande parte destruído. A partir do início do século XIX, construiu-se o edifício barroco, em três alas, onde hoje se efetuam as exposições. A propriedade passou para a Prússia em 1803 e esteve sob a administração francesa e belga. Foi adquirida, em 1816, pelo então Ministro Karl vom Stein (1757-1831), que ali residiu entre 1824 e 1831. Vom Stein destacou-se pela sua posição antinapoleônica e, portanto, antio-francesa na época, entrou na história-cultural como um dos realizadores da Monumenta Germaniae Historica e como defendsor de interesses da aristocracia. Com a extinção da família, em 1926, a propriedade foi herdada pela família dos condes de Kanitz. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu para guardar obras de arte, evitando que fossem atingidas pelos bombardeamentos das forças aliadas. Desde 1985, abriga um museu, onde são realizadas exposições. Na igreja, organizam-se concertos, em especial no órgão de construção de Vorenweg, do ano de 1788.

O contraste entre a obra de Toulouse-Lautrec e o local da exposição não poderia ser maior e dirige a atenção a determinados questionamentos de interesse teórico-cultural. Também Toulouse-Lautrec provinha de família de antiga aristocracia, a sua vida e obra, porém, foi dedicada sobretudo à sociedade boêmia e à vida mundana de Paris, de bares, cafés, variétés e bordéis de Montmartre. Criou cartazes para o Moulin Rouge e para determinados artistas, entre elas Yvette Guilbert ou Jane Avril. A sua representação de Aristide Bruant tornou-se famosa. Suas representações mostram tipos humanos que frequentavam as ruas, os bares e os teatros de Montmartre, artistas de rua, de palco e da vida noturna de Paris.

O responsável por exposições da Sociedade museológica Ernst Barlach, Jürgen Doppelstein, salientou a forma de representação direta dos objetos tratados pelo artista, diferentemente da tendência antes ornamental de artistas da Art nouveau. A atenção foi dirigida a Toulouse-Lautrec como uma espécie de cronista da Belle Époque, retratando uma das esferas da sociedade, descrevendo-a por meios visuais. A visão que fornece dessa esfera, apesar de seus aspectos de crítica social, não seria aquela do olhar indiscreto, mas sim a de uma atitude natural, e que contribui assim à compreensão e à solidariedade com as figuras retratadas. Salientou-se também o fator da quebra de convenções para a efetividade da arte dos cartazes em fins do século XIX e início do XX. Essa arte passou a conhecer até mesmo certas estrategias de cunho psicológico, tais como aquela de representar artistas de lado ou de costas para melhor despertar a curiosidade do observador. Do ponto de vista estético, os fortes contrastes de cor das litografias e o elo entre letras e imagens marcaram o desenvolvimento da arte placativa.

Sob o aspecto dos Cultural Studies da atualidade, com a sua atenção voltada predominante à cultura do povo, da esfera proletária de sociedades industriais, a arte de Toulouse-Lautrec surge como de particular interesse. Ela dirige a atenção a um universo da sociedade parisiense de conotações subculturais e que ultrapassou as suas delimitações de bairro, marcando sob muitos aspectos a imagem da cidade no seu todo. Sobretudo sob o aspecto da sua ação aos olhos dos estrangeiros determinou em grande parte o retrato e a identidade de um Paris mundano e frívolo.

Do ponto de vista dos estudos euro-brasileiros, levanta-se a questão do significado dessa imagem de Paris no Brasil. Sabe-se que alguns artistas brasileiros visitaram e até mesmo residiram em Montmartre na segunda metade do século XIX, outros estiveram presentes na Exposição Universal de 1900, onde se mostraram trabalhos de Toulouse-Lautrec. Um outro caminho, talvez mais eficaz, para o estudo da recepção de uma imagem subcultural de Paris no Brasil seria o do exame de cartazes de teatro, em especial de revista, de reclames comerciais e de capas de música.

Levanta-se a questão, também, até que ponto a valorização recebida pela vida mundana e boêmia através de seu elo com a capital francesa não teria levado a tornar socialmente aceitável no Brasil expressões culturais caracterizadas por frivolidade, sensualidade, por divertimentos noturnos e vida de bares e que se tornariam também marcantes para a imagem do país, em especial do Rio de Janeiro.

Grupo redacional

Castelo de Cappenberg. Fotos H.Hülskath 2009




  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: http://www.brasil-europa.eu


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