Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 121/11 (2009:5)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2488


 


Brasileiros em Paris em fins do século XIX e início do XX

Sylvio Deolindo Fróes (1865-1948), André Dulaurens (1873-1932) e Georges Barrère (1876-1944)
Espiritualidade baiana, simbolismo e fascinação pela estética alemã na França





Foto A.A.Bispo 1980. Copyright
Este texto apresenta uma súmula de ciclo de estudos dedicados às relações França-Brasil/Brasil-França realizados em diferentes cidades francesas em 2009. Foram aqui lembradas as preocupações pelos estudos culturais franco-brasileiros na linha de tradição que remonta à época da fundação da sociedade dedicada à renovação dos estudos culturais (Nova Difusão 1968), a atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa.


Na Europa, a partir de 1974, esses trabalhos e iniciativas receberam a colaboração de muitos estudiosos franceses no decorrer das décadas, e, entre os brasileiros residentes na França, deve-se salientar Luíz Heitor Correa de Azevedo pelo seu empenho no desenvolvimento institucional e pela sua participação em muitas iniciativas. Ao encontro de Royaumont em 1984 sob sua égide remontam impulsos que marcaram a orientação antropológico-cultural do ISMPS e da ABE. Os  trabalhos seguiram impulsos do Colóquio Filosofia Francesa Contemporânea e Estudos Culturais pela morte de J. Derrida (2005), do Congresso Internacional "Música e Visões" pelos 500 anos do Brasil e triênio subsequente (1999-2004) e eventos precedentes, devendo lembrar-se da Primeira Semana de Música França-Alemanha realizada por iniciativa brasileira em 1983 em Leichlingen/Colonia.


Pareceu ser oportuno, para sumarizar e favorecer o prosseguimento ao trabalhos em seminários europeus, recordar alguns nomes de brasileiros e de franceses que atuaram sobretudo em Paris na contextualização de sua época. Essa aproximação antes pessoal facilita os estudos para estrangeiros e traz à consciência o papel mediador desempenhado por muitos brasileiros que estudaram e viveram na França, trazendo impulsos ao Brasil que devem ser analisados sob o pano de fundo da época em que estudaram e atuaram. Os estudos tiveram como objetivo principal oferecer uma contribuição à formação de uma consciência histórica adequada àqueles residentes na França ou descendentes de brasileiros.





Concerts Colonne. Arquivo ABE
Concerts Colonne. Arquivo ABE
Os estudos interculturais que focalizam a última década do século XIX na França podem iniciar considerando que esta foi preparada ou até mesmo aberta já em 1889, ano marcado pelo Centenário da Revolução Francesa e pela realização da Exposição Mundial, evento de extraordinária repercussão internacional, incluindo a inauguração da Torre Eifel e que viria a ser um dos principais emblemas de Paris.

Do ponto de vista dos estudos euro-brasileiros, também a década de 90 poderia ser iniciada no ano de 1889, uma vez que a Proclamação da República trouxe uma transformação sensível na representação do país, na sua imagem no Exterior, na mudança de simpatias e apoios oficiais a artistas e intelectuais, de concessão de bolsas, de cooperação com determinadas instituições e personalidades européias, de procura de estabelecimento de diferentes rêdes de contactos, de definição de outras orientações sob o aspecto cultural e estético.

Se ainda poucos anos antes a Embaixada do Brasil havia oferecido uma recepção a Pedro II que entraria na história cultural pelo significado dos artistas que ali se apresentaram (Veja texto correspondente nessa edição), agora o monarca encontrava-se de novo em Paris na qualidade de deposto, dando por pouco tempo, como estudioso particular, prosseguimento a seus estudos e contactos com instituições e personalidades. A representação do Brasil manteve-se ainda por algum tempo no espírito do regime abolido, sob a égide do Barão de Penedo, diplomata possuidor de altos merecimentos em atuações sobretudo no mundo anglo-saxão e que há pouco assumira o cargo do Barão de Arinos. Foi um daqueles que não renunciaram ao posto com a troca do sistema político, fato que foi notado por Pedro II, iria porém ser logo afastado pelos novos detentores do poder.

Paris da década de 90 e da passagem do século está, sob o ponto de vista brasileiro, sobretudo relacionado com Alberto Santos Dumont (1873-1932). Esse pioneiro da aviação, procedente de família de posses, veio para a França jovem, em 1890, acompanhando a sua família, em viagem que durou ca. de seis meses. Em 1892, retornou à França, agora para estudos, tendo-se dedicado à Física, Astronomia e Química. Essa época está relacionada ainda com o nome de um outro aeronauta brasileiro, o de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (1864-1902), que acidentando-se, tornou-se um "mártir da aeronáutica".

A importância dessa década de transformações na presença do Brasil em Paris deveria suscitar estudos mais aprofundados e diferenciados. O panorama que hoje se possui dessa época é, do ponto de vista dos estudos brasileiros, fragmentário. Personalidades de diferentes orientações e tendências oferecem um quadro complexo da situação.

Um dos intelectuais e artistas brasileiros que transferiu-se para Paris pouco antes da Proclamação da República, que visitou a Exposição Mundial, assistiu à inauguração da Torre Eifel, os feitos de Santos Dumont e o entêrro de Augusto Severo, desenvolvendo estudos e realizando eventos nos anos 90 e pela passagem do século, foi o baiano Sylvio Deolindo Frôes. O nome de Fróes permaneceria vinculado através das décadas ao Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador, sendo considerado como dos mais relevantes da história da música da Bahia da primeira metade do século XX.

Estudos relativos a Deolindo Fróes

O significado de Sylvio Deolindo Fróes, em especial para a Bahia, já foi há muito reconhecido, embora encontre-se a sua pesquisa ainda em estado insatisfatório. Pedro Calmon, na publicação a êle dedicada de Hebe Machado Brasil (Fróes: um notável músico baiano, Salvador, 1976, impresso sob o patrocínio do Govêrno do Estado da Bahia),  salientou, em Prefácio:

"(...) Deolindo Fróes não pertence apenas à província, embora nas manifestações artísticas a província fosse metrópole; vem da Europa, projeta-se no país, reorganiza o Conservatório, institucionaliza o bom gosto, educa as vocações e as platéias, comete a doce proeza de fazer, e deixar discípulos; e nesse parábola de beleza, associa a humildade ao triunfo. Conhecíamos o exímio professor, comparável aos maiores músicos que teve o Brasil. Faltava-nos conhecer o homem nos refolhos da modéstia e da benemerência, tão notável, que se equiparava aos gigantes da harmonia, tão simples, que se confundia com os pobres da terra." (op.cit. 10-11).

A autora dessa biografia salientou características da personalidade de Deolindo Fróes que oferecem subsídios para compreender o meio procurado pelo artista e intelectual baiano, os contactos que estabeleceu e a esfera em que viveu na multiplicidade cultural de Paris.

"Temperamento por demais introspectivo, quem o visse por estas ruas de Salvador, jamais poderia imaginar que naquele vulto humano, sisudo, de voz de barítono, pudesse abrigar-se um talento gigantesco, perspicaz, um verdadeiro sábio, um profeta que passaria a ser respeitado, logo após seu regresso triunfal da Europa, nos últimos anos do século XIX e lhe fosse oferecido um voto de confiança ilimitado, de seuzs conterrâneos, para empunhar a batuta definitivamente e liderar a educação musical baiana - liderança esta que perdurou durante mais de quarenta anos e ainda hoje ecôa em nossas almas." (op,cit. 14)

Aqueles que se ocuparam com a personalidade Deolindo Fróes salientaram frequentemente o fato de ser a sua obra injustamente pouco considerada na literatura específica e praticamente esquecida no ensino e no repertório de concertos. Uma das razões residiria no fato de Deolindo Fróes não ter acompanhado o movimento de orientação nacionalista. Tudo indica, porém, que o significado de Deolindo Fróes apenas poderá ser examinado a partir de uma perspectiva mais adequada do que a de um enfoque histórico-musicológico convencional. Uma orientação da atenção aos contextos histórico-culturais em que se inseriu no Brasil e na Europa segundo novos questionamentos científico-culturais abre aqui novas perspectivas.

França-Bahia e Alemanha-Bahia. Adelaide Emilia Fróes

Os elos com a França e a Alemanha na vida social, cultural e científica da Bahia do século XIX e início do século XX foram mais relevantes do que comumente suposto. Vários nomes de significação histórico-cultural realizaram estudos e desenvolveram atividades na Europa e vários europeus residiram e atuaram na Bahia, fato testemunhado pelo próprio Deolindo Fróes ("Carlos Gomes", op.cit. 101).

Entre as famílias franco-brasileiras, salientou-se a do Comendador Theodoro Teixeira Gomes, desposado com senhora de família francêsa residente em Salvador, que entrou na história da música como principal pessoa de referência do compositor Antonio Carlos Gomes nas suas muitas visitas à Bahia. Em sua residência realizaram-se discussões relativas a mudanças de orientação estética em fins do século, quando esta passava do predomínio da Itália ao da França e Alemanha.

Dentre aqueles que realizaram estudos na Europa, salientaram-se na segunda metade do século XIX a pianista Maria Elisa Lacerda, esposa do Dr. Egas Moniz de Aragão, de pseudônimo Pethion de Villar, amigo de Deolindo Fróes, de erudição em assuntos musicais, e o violinista Francisco Moniz Barreto, aluno de Jean-Delphin Alard (1815-1881), um dos mais renomados instrumentistas e pedagogos do Conservatório de Paris, professor de Pablo de Sarasate (1844-1908). Os elos com a cultura alemã eram sobretudo devidos à considerável colonia alemã no Recôncavo, sendo que vários alemães atuavam como músicos e professores de música. Entre êles, salientaram-se os violinistas Christiano Trautloff, Rudolph Scheel e sua aluna, a sra. Thate, e o professor de piano J. Wolf, este austríaco.

Em conferência proferida por Estela Fróes, filha de Sylvio Deolindo Fróes, a 26 de outubro de 1964, no Instituto de Música da Bahia (citada em H.M.Brasil, op.cit.), partiu esta nas suas considerações das origens alemãs do avô materno do compositor e da formação francesa de suas filhas. Aquele teria sido Secretário da Legação Alemã em Paris, em 1844. A mais jovem de suas duas filhas, Adelaide Emília, educada em Paris, viria a ser mãe de Sylvio Deolindo Fróes. De formação católica e inclinação profundamente religiosa, Adelaide Emilia teria tido inicialmente a intenção de seguir a vida contemplativa. Tendo conhecido uma família brasileira que residia em Paris, veio para o Brasil como preceptora das filhas do casal. Embora tendo primeiramente como destino Sergipe, permaneceu em Salvador junto à família do Dr. Luiz D'Utra Vaz. Nessa residência, por ocasião de uma recepção, travou conhecimento com o diplomata Dr. Salustiano Ferreira Fróes, de família descendente de portugueses e holandeses, e que havia estudado Direito em Paris. Adelaide Emília, dominando várias línguas e portadora de formação musical realizada com renomados professores europeus, tornou-se influente personalidade da vida social e cultural de Salvador. Dedicava-se à literatura, escrevia poesias e textos para modinhas; manteve um colégio na Calçada do Bonfim, ensinou em colégios particulares, entre outros no Colégio de São José e na Escola de Belas Artes. Também a sua irmã havia realizado estudos musicais em Paris, alcançando até mesmo prêmio do Conservatório.

"Tendo um traço de união espiritual - o mesmo amor à França - Adelaide Emília e Salustiano Ferreira Fróes se aproximaram e pouco depois de se conhecerem, formaram um compromisso de noivado. A nosso ver, não só o amor à França os uniu, mas o talento, o aprimorado gosto para as artes - fatores estes que os uniriam realmente" (H. M. Brasil, op.cit. 19).

Uma atenção especial merece o extremado catolicismo da família e que permite compreender o itinerário de vida e determinadas características da personalidade de Sílvio Deolindo Fróes. Se a mãe pensara em seguir a vida conventual, também o pai de Sylvio Deolindo Fróes (Deolindo Augusto Filogênio Fróes) era imbuído de profunda religiosidade e de concepções político-culturais católicas. Durante um conflito na Bahia, defendera as religiosas francesas que ali mantinham um recolhimento para moças, nele hasteando a bandeira da França, um ato que foi reconhecido pelo Govêrno francês através da concessão do "ruban rouge" da Legião de Honra. O catolicismo unia-se aqui com questões educacionais e político-culturais da retomada da ação de ordens religiosas européias no Brasil do século XIX e com o movimento de restauração católica nos seus vínculos com a França.

Engenharia e/ou música. Estudos no Rio de Janeiro

Sylvio Deolindo Fróes obteve a sua formação no Colégio São José de Salvador e no Ginásio da Bahia. Os seus primeiros ensinamentos musicais foram recebidos de sua mãe. Com apenas 10 anos realizou a sua primeira tentativa em composição, escrevendo a peça Harmonias. Da época de sua formação musical baiana parece resultar a sua admiração pela música de Robert Schumann e que se manifestaria também na sua obra.

A sua intenção, porém, era a de tornar-se engenheiro, seguindo, pelo que tudo indica, uma tradição profissional relacionada com a sua ascendência alemã. Com o intuito de estudar na Escola Politécnica, mudou-se em 1882 para o Rio de Janeiro. Devido a uma moléstia de olhos, porém, interrompeu os seus estudos e retornou à Bahia. A experiência do mundo cultural e artístico do Rio de Janeiro parece ter-lhe mostrado a excelência de sua formação musical e contribuído a que tomasse uma decisão profissional a favor da música.

Permaneceu porém incerto relativamente a essa opção e manteve-se vinculado com os estudos técnicos, tendo realizado cursos por correspondência mantidos por universidade americana. Não apenas a tendência à Engenharia e aos estudos matemáticos poderia ser levada em conta na consideração das obras e das concepções teóricas de Deolindo Fróes, marcadas por acentuada orientação construtiva. A escolha da música em desfavor de uma carreira profissional em outras áreas também poderia ser considerada sob um aspecto teórico-cultural mais amplo, uma vez que também é um problema conhecido da biografia de outras personalidades. Para jovens de sólida formação de cunho científico, que constatam uma superioridade de conhecimentos e aptidões teóricas relativamente àqueles que proveem exclusivamente do ensino musical, abrem-se perspectivas promissoras para o vir-a-ser pessoal e para uma contribuição relevante ao desenvolvimento teoricamente refletido e construtivamente elaborado da linguagem musical.

De volta ao Rio de Janeiro, em 1885, Deolindo Fróes passa a estudar matérias teóricas, em particular harmonia, com Miguel Cardoso (1850-1912), então renomado professor formado na Itália e autor de livros didático-musicais. Nas lições que dele obteve na Casa Bevilacqua do Rio de Janeiro, até 1887, foi colega de Francisco Valle (Veja texto nesta edição) e de Alberto Nepomuceno (1864-1920).

Deolindo Fróes transferiu-se para Paris em 1888. Com os seus múltiplos interesses, ainda trazendo a dúvida em dedicar-se à Engenharia ou a música, desenvolveu em Paris estudos diversificados, assistindo também a aulas na École des Travaux Publics.

Desenvolveu estudos de matérias teóricas, composição e órgão com Charles-Marie Widor (1844-1937)  (Veja número anterior desta revista). Através de Widor, Sylvio Deolindo Fróes tomou contacto com o movimento de restauração da música católica e do movimento organístico. Este teria ganho tão elevada consideração das aptidões do músico brasileiro que o convidaria posteriormente a tocar e até mesmo substituí-lo como organista da igreja de St. Sulpice. Esse fato representava não apenas um reconhecimento de sua capacidade organística, mas sim também uma honra especial sob o aspecto de sua formação católica de orientação restaurativa francesa, à qual St. Sulpice estava estreitamente vinculado.

Widor era aqui o sucessor de Louis Lefébure-Wély (1817-1869). Assumira a classe de órgão do Conservatório de Paris com o falecimento de César Franck (1822-1890), ocorrido já quando Fróes se encontrava em Paris. Em 1896, passaria a lecionar composição no Conservatório. A tradição de César Franck, a que Fróes sempre se sentiria vinculado, recebeu-a através de Widor, que tornar-se-ia seu mentor e amigo. Fróes dedicaria a esse seu professor a sua Sonata opus 6.

Grupo da pensão Lissonde

Desses primeiros anos da vida e das atividades de Deolindo Fróes em Paris tem-se informações em uma carta que dirigiu a Américo Pereira, biógrafo de Francisco Valle, em 1938. Reencontrou acidentalmente o colega brasileiro em Paris. A partir daí, aprofundaram-se as excelentes relações travadas no Rio de Janeiro. Entre êles haviam elos de nacionalidade, de formação com Miguel Cardoso e, em Paris, com Charles-Marie Widor. Visitavam-se mutuamente e com relativa frequência. Muitos dos encontros ocorriam na pensão onde residia Francisco Valle, mantida pelo casal Lissonde, situada na Place des Batignolles. Lissonde era fotógrafo, funcionário da Polícia de Paris. Chegou, como lembra Fróes, a oferecer-lhe um álbum dos Lieder de Robert Schumann, sabendo que Valle e êle eram fervorosos admiradores do compositor alemão.

Orientação estética e espiritual

O significado dos encontros na pensão da família Lissonde, porém, residiu sobretudo no fato de que Valle e Deolindo Fróes, impregnados da religiosidade que traziam respectivamente de Minas Gerais e da Bahia, conviverem com Charles Tournemire (1870-1939), que ali também residia. Charles Tournemire, organista e improvisador ao órgão, também discípulo de César Franck e Charles-Marie Widor, era um ardente defensor dos ideais da restauração católica segundo os princípios gregorianos representados pela Abadia de Solesmes. Para Tournemire, que seria organista de Sainte-Clothilde a partir de 1898, somente uma música a serviço da glorificação de Deus teria razão de ser. A tendência espiritualista de Francisco Valle e a religiosidade fervorosa do baiano Deolindo Fróes correspondiam assim a uma tendência determinada da vida cultural francesa da época e dos respectivos estudos teológicos e sacro-musicais, em que a atenção era sobretudo dirigida ao sentido místico do ciclo das featas do ano litúrgico. Houve, assim, um elo comum de aproximação e de simpatia entre os dois brasileiros e Tournemire. Esse contexto explica também a compreensão que Deolindo Fróes manteria na Bahia a respeito da função do músico na igreja e da prática organística como prece e serva da liturgia. 

Entretanto, como Deolindo Fróes salientou, as relações de amizade com Tournemire não foram tão estreitas quanto aquelas mantidas com o violinista e compositor André Dulaurens (1873-1932), também companheiro dos encontros realizados na pensão da família Lissonde. Dulaurens, grande amigo de Francisco Valle, manteve boas relações com Sylvio Deolindo Fróes após o retorno de Valle ao Brasil. Foi através de Fróes que passou a lecionar música às irmãs do clínico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. Eduardo de Morais, então residente em Paris. A família Fróes mantinha e manteve em Salvador, estreitas relações com o meio médico, e o próprio Deolindo Fróes chegou a assistir aulas de Medicina em Paris.

Um significado especial assumiu na vida de Fróes a viagem que realizou à Itália. Esteve em Nápoles e visitou as ruínas de Pompéia. Ponto alto da sua estadia foi ter participado de uma audiência do Papa Leão XIII, do qual recebeu uma benção, que passou a várias gerações. O significado extraordinário que Deolindo Fróes deu a esse ato durante toda a sua vida pode ser visto como mais um indício da necessidade de considerar-se a sua vida e obra no contexto da função da Igreja e de correntes católicas na vida cultural e política da França de fins do século XIX. Chegou, assim, por motivos confessionais, e a instâncias de sua mãe, a interromper uma relação sentimental com uma inglêsa, Florence Bienvenu, por ser ela anglicana.

Relações com outros brasileiros em Paris

O grupo de relações de Fróes nessa primeira fase de sua presença na Europa apresenta traços sugestivos quanto às suas orientações estéticas e de concepções. Distinguia-se de outros grupos de brasileiros que se encontravam na França. Assim, não houve encontro com Francisco Braga (1868-1945), que às vezes jantava na pensão da família Lissonde a convite de Valle e Tournemire. Muito menos houve relações mais próximas com Alexandre Levy (1864-1892), pertencente a outro meio social e de distintas tendências estéticas e de concepções. É possível, assim, com os devidos cuidados, reconstruir gradativamente rêdes sociais nas quais brasileiros estiveram envolvidos na vida parisiense da última década do século XIX em Paris e dos princípios que guiaram aproximações e processos integrativos.

Dentre os demais brasileiros residentes em Paris, relações estreitas de amizade foram mantidas com Alberto Cohen, músico amador, procedente da mesma cidade de Francisco Valle, Juiz de Fora, onde havia sido fotógrafo. Tais relações mantiveram-se também após o retorno de Francisco Valle, sendo através dele que Deolindo Fróes recebia notícias de seu antigo colega de estudos. Alberto Cohen havia sido apresentado a Deolindo Fróes pelo seu irmão, Paul Cohen. Este morara no Brasil e mantinha um pequeno hotel na Rue Riche, frequentado por brasileiros.

Ao contrário de Valle, Fróes dispunha de boas condições econômicas, não necessitando retornar ao Brasil com a suspensão das subvenções concedidas pelo Govêrno do Brasil a estudantes na Europa com a proclamação da República. Estava em condições de realizar viagens a outros países da Europa, tendo viajado pela Inglaterra, Suiça e Itália. Fróes permaneceu na Europa, nessa sua primeira estadia, até fins de 1894, retornando alguns meses depois, dirigindo-se à França e à Alemanha. Como êle próprio salientou, nas suas outras idas e vindas, encontrou sempre os mesmos amigos e o professor Charles-Marie Widor. As novas relações travadas nessas viagens subsequentes não prejudicaram as antigas.

Somente com o prosseguimento das pesquisas é que se poderá elucidar outras características da rêde social de Sylvio Deolindo Fróes em Paris. Indícios significativos são as dedicatórias das composições surgidas nesses anos. Assim, os seus Deux Romances op. 4, de 1893, constituídos das peças Evocation e Un Petit Cimetière, com letra de A.B. de Meneses, em versão francesa, editados pela firma Durdilly, trazem os nomes das senhoras F. d'A. Torres Bocayuva e Eugène Baron. Se a primeira sugere um elo com meios próximos ao Ministro das Relações Exteriores, então dirigido por Quintino Bocaiúva, o que necessitaria ser estudado e comprovado, o de Eugène Baron indica a sua proximidade a meios relacionados com o canto, de tendências wagnerianas e simbolistas. O fascínio pela melancolia e pela morte que se manifesta naquelas composições pode ser visto como um indício do estado de espírito e das tendências estéticas que predominavam nesse círculo. O fascínio de Deolindo Fróes pelo Simbolismo é testemunhado também pelo fato de ter posto em música texto de Gabriele d'Annunzio (1863-1938) na balada La Sirenetta, opus 9.

Estudos na Alemanha. Hugo Riemann (1849-1919) e Felix Josef Mottl (1856-1911)

Visitou várias cidades da Alemanha, entre elas Leipzig, Colonia, Bayreuth, Munique e Karlsruhe. Na Alemanha, realizou estudos em Leipzig. Nessa cidade foram gravadas tipograficamente algumas de suas obras, a que se sabe a Marcha Fúnebre, em arranjo para 2 pianos em fá sustenido menor e o Septetto para cordas e instrumentos de sôpro op. 7.

Uma particular atenção merece o fato de Deolindo Fróes considerar-se particularmente influenciado por Hugo Riemann (1849-1919), o grande teórico-musical alemão. Riemann estudara no Conservatório e na Universidade de Leipzig, fora professor adjunto de 1878 a 1880, e, de 1890 a 1895, em Wiesbaden, mantendo porém os seus elos com Leipzig. De Riemann recebeu Deolindo Fróes sobretudo a convicção da necessidade de uma elevação qualitativa do ensino musical e da compreensão do ensino do piano como um veículo para uma educação musical mais ampla. Assim, nas suas atividades pedagógicas posteriores na Bahia, dava particular atenção ao desenvolvimento da percepção sonora e do sentido pela fraseologia e pela trama polifônica. Com a sua filiação às concepções de Riemann, Deolindo Fróes insere-se no rol dos discípulos desse teórico e musicológo, entre eles Max Reger (1873-1916); Hans Pfitzner (1869-1949) e Walter Niemann (1876-1953), sendo que este último também manteria posteriormente contactos com o Brasil.

Durante a sua permanência na Alemanha, Deolindo Fróes assistiu a vários concertos e óperas. Particular atenção mereceu-lhe, em Leipzig, Arthur Nikisch (1855-1922), então primeiro regente do Teatro da cidade de Leipzig. Correspondendo ao fascínio que tinha por Wagner, despertado no meio wagnerista na França, procurou até mesmo entrar em contacto pessoal com o compositor, ainda que sem sucesso. Assistiu à Tetralogia em Munique e ao Parsifal em Bayreuth. Desta apresentação, na Casa de Festivais, local então exclusivo de apresentação do Parsifal, guardaria profundas e duradouras impressões. Em Karlsruhe, estudou com o regente e compositor austríaco Felix Josef Mottl (Unter Sankt Veit/Viena 1856- Munique 1911), ex-discípulo de Anton Bruckner e renomado regente de obras de Richard Wagner, desde 1876 assistente nos Festivais de Bayreuth. Foi, de 1898 a 1903, regente da Capela da Corte do Grão-Duque de Baden, em Karlsruhe, época na qual Deolindo Fróes com êle esteve. Era regente constante em Bayreuth, atividade que exerceria até 1906, sendo professor também do filho de Wagner, Siegfried Wagner.

Deolindo Fróes transmitiu as suas impressões relativas às apresentações de obras de Wagner na Alemanha à Bahia, sendo publicadas no Diário de Notícias da Bahia.

Franckismo, Grupo russo dos Cinco e outras tendências

Deolindo Fróes deixou significativo testemunho de sua orientação estética em artigo redigido por ocasião das comemorações do centenário de Antonio Carlos Gomes ("Carlos Gomes", Revista Brasileira de Música 1936, número especial, 96 ss., op.cit. 97).

Em 1895, já de retorno à Bahia, reencontrou Antonio Carlos Gomes, após 15 anos passados desde o primeiro encontro.

"Quanto a mim, já havia passado largos annos em França, na Allemanha e viajado por toda a Europa (exceptuando a Russia e os paizes Balkanicos) e era já homem feito, ainda com as illusões da mocidade em toda a sua plenitude, imbuido das idéas Franckistas pelo convivio com discipulos de Cesar Franck, e de outras de certos clans francezes ou allemães, entre os quaes alguns provenientes da então jovem escola russa dos 5,  idéas um tanto anti-italianas, por vezes, e muitas coisas mais que eram novissimas na occasião, mas que hoje em dia foram substituidas, após a grande guerra, pelas multiplas e divergentissimas hodiernas. Pessoalmente me filiava ás tendencias Widor e Riemann.
A atonalidade e a pluritonalidade apenas se esboçam sem afrontar ainda a luz do dia."
(op.cit. pág. 97)

O testemunho de Deolingo Fróes demonstra a orientação fundamentalmente teórico-musical que regia as suas concepções. Salienta, assim, a questão das cadências, um tema que voltaria a tratar mais pormenorizadamente em estudos. As cadências baseadas no acorde de quarta e sexta, assim como o uso de acordes de Sétima diminuta, marchas harmônicas de mais de dois termos "estavam parcial ou inteiramente anathematizadas, embora ainda empregadas pela maior parte dos musicistas que não etevam em contacto íntimo com Paris, com Leipzig, Berlim ou Vienna" (loc.cit.)

Em longas troca-de-idéias com Carlos Gomes, mencionou objeções contra certos procedimentos comuns à escola italiana, baseando-se em críticos franceses, alemães, e mesmo italianos ou da escola russa.

"Diga-me, Mestre, o que respondem os italianos á objecção ou critica que os Conservatorios de Paris, Franckistas, discipulos de Widor, de Debussy, de Rimsky Korsakoff e alguns de Leipzig fazem aos italianos de abusarem das cadencias de quarta e sexta e sobretudo da cadencia suspensa da qual Rossini e seus contemporaneos tanto usaram?...- Ainda não tinha eu concluido a pergunta quando elle me interrompeu ex-abrupto: - Como os francezes abusaram do Pedal, os allemães do accorde de setima diminuta e os Snrs. Russo do de sexta augmentada. (...) De outra vez faz-nos espontaneamente ver que muitos pretensos italianismos eram obra de primeira mão de allemães e francezes como tambem que mais de um que se julgava adiantadissimo Wagnerista não passava de mero italianista com todas as formulas mais batidas e realejadas dos contemporaneos de Rossini e Meyerbeer e que trechos da Tetralogia e de Tristão e Isolda, que elle ouvira representar e conhecia muito, seguiam as mesmas normas harmonicas já empregadas por italianos (no que aliás tinha toda a razão) e isso notado já por mim mesmo e por outros que ouviram, como nós ouvimos, esses dramas lyricos regidos pelo Weingartner, Richard Strauss, Hans Richter e sobretudo pelo incomparavel Arthur Nikisch nos theatros e concertos da Allemanha, inclusive Bayreuth, com orchestras allemãs, ou internacionaes e com as proporções de intensidade guardadas, e respeitadas religiosamente, entre os diversos naipes da orchestra Wagneriana." (op.cit. 98-99)

Em 1898, Deolindo Fróes foi nomeado a diretor do Conservatório de Música, anexo à Escola de Belas Artes da Bahia. Fróes desenvolveu múltiplos estudos teóricos, publicados na Revista Artística de São Paulo entre 1900 e 1901, cujo redator-chefe era Felix Otero (1868-1946), também de formação alemã. Eram sobretudo ensaios sobre cadências, sendo que o último manuscrito foi enviado da Bahia a São Paulo em fins de 1900.

Intérprete, regente e compositor no início do século. Papel de Georges Barrère (1876-1944)

Na sua estada em Paris nos primeiros anos do século XX,encontrou particular apoio na pessoa de Bourgarel-Baron, cantora e organizadora de recitais de canto. Esta passou a incluí-lo como compositor, regente e intérprete nos programas que organizava, interpretando algumas de suas obras. Assim, em 1902 e 1903, realizou concertos nas salas Herz e Pleyel. Nesses anos foram executadas várias de suas composições, criadas em diferentes épocas, entre elas Deux Feuilles d'Album, Barcarolla Noturno; Conversation des vielles gens; Allegro scherzando; Bluette; La Sirenetta opus 9, para canto e orquestra, ballada sobre versos de Gabriele d'Annunzio, Evocation e Un petit cimetière

Nesses concertos desempenhou papel importante o flautista Georges Barrère (1876-1944), um dos grandes talentos de sua época. Barrère, que estudara no Conservatório de Paris com Henri Altès (1826-1895) e Paul Taffanel (1844-1908), terminando os seus estudos em 1895, havia fundado o conjunto Société Moderne d'Instruments à Vent e era solista dos Concerts Colonne e da orquestra da Ópera de Paris. Tudo indica ter sido êle, com os seus contactos com os Concerts Colonne, aquele que possibilitou a participação de instrumentistas profissionais em programas de Bourgarel-Baron e Fróes. Era altamente considerado por Charles-Marie Widor, o mentor e amigo do brasileiro.

Para os estudos relativos ao meio frequentado por Deolindo Fróes em Paris e às tendências estéticas que seguia, torna-se importante considerar que Georges Barrère era professor da Schola Cantorum. A história dessa entidade remontava a Charles Bordes (1863-1909), ex-alundo de composição de Cesar Franck, que tinha o encargo musical de Saint-Julien des Ménétriers e que fundara, em 1894, com Alexandre Guilmant (1837-1911) e Vincent d'Indy (1851-1931) a Schola Cantorum.

A Schola Cantorum possuía, desde 1900, uma nova sede, em edifício de antiga abadia beneditina na rua de St. Jacques. Dentre os seus membros, além de Barrère, salientavam-se o oboísta Louis Bleuzet, o fagotista Louis Letellier, o clarinetista Prosper Memert, o saxofonista Adolphe Sax, o violinista Henri Casadesus e a pianista Blanche Selva. A Schola Cantorum diferenciava-se quanto a seus programas e concepções do Conservatório de Paris. Segundo Vincent d'Indy, que determinou o seu direcionamento, a formação do instrumentista não deveria limitar-se à virtuosidade brilhante, mas sim ser fundamentada em conhecimentos da história e da teoria da música, de modo que o artista se transformasse em servo da música. As grandes discussões da época diziam respeito ao confronto Debussy e Ravel e às relações da Schola Cantorum para com esses compositores e perante o Conservatório. A Schola Cantorum tornara-se, à época de Deolindo Fróes, um centro de conservativismo, Vincent d'Indy e outros músicos a êle próximos eram imbuídos de extremados sentimentos nacionais franceses, próximos a personalidades de orientação política de direita e anti-semitas.

Os primeiros anos do século XX caracterizaram-se na vida musical em que atuava G. Barrère e, portanto, do círculo de Deolindo Fróes, pelo interesse pela obra de compositores pouco conhecidos - e hoje em parte esquecidos. Ao rol desses compositores pertenceram, entre outros, André Caplet (1878-1925), maestro dos Concerts Colonne. Somente pesquisas mais aprofundadas poderão mostrar elos entre as obras desses compositores e aquelas de Deolindo Froes. Deve-se salientar aqui, apenas como exemplo, que Charles Bordes compôs, em 1887, um movimento denominado de Paisagem, com reminiscências dos "Murmúrios da Floresta", de Wagner, e que necessitaria ser confrontado analiticamente com as Paisagens Tropicais de Deolindo Fróes.

Em concerto de 28 de abril de 1902, promovido por Bourgarel-Baron na Salle Henri Herz, apresentaram-se novamente obras de Fróes, com a participação ao canto, violino, cello e flauta de Bourgarel-Baron e de E. Saucy, L. Dumas e G. Barrère. No fim desse ano, os músicos de Colonne fariam uma viagem a Espanha e Portugal.

Em janeiro de 1903, na Salle Pleyel, o compositor apresentou-se novamente em concerto promovido por Bourgarel Baron, contando com a participação da pianista Céliny Richez, do tenor A.Bernard e do Dr. João Gonçalves Martins, médico e cantor. Bourgarel Baron interpretou a Ballada e Bernard a Fleur Mourante.  As obras foram apresentadas com orquestra de cordas constituida por músicos dos concertos Collone e Lamoureux, dirigidos por Fróes. O comentário publicado no Le Gaulois, de 31 de janeiro, com referências altamente elogiosas do concerto, ao qual esteve presente numeroso público, menciona Fróes como um compositor conhecido e apreciado em Paris. Também o Courrier Musical, de primeiro de março, pronunciou-se de forma elogiosa sobre o concerto.

Céliny Richez (1884-1973), pianista que participou de um dos concertos de Deolindo Fróis, era uma musicista particularmente apoiada por Raoul Pugno, tinha sido menina prodígio, obtendo em 1898 o primeiro prêmio do Conservatório e seria, posteriormente, mãe do musicólogo Jacques Chailley.

Como o Le Gaulois anunciou a 30 de abril de 1903, repetira-se essa apresentação da Ballade de Fróes em evento organizado pela União Artística do XIV Arrondissement. Essa entidade juntamente com a Société d'Étude et de Propagation du Chant Classique dedicara a sua 19 audição pública, de 3 de abril, à apresentação de Fróes, mencionado expressamente como discípulo e amigo de Charles-Marie Widor. Também aqui a cantora Bourgarel Baron interpretou Fleur Mourante e Evocation.

No dia primeiro de junho de 1903, realizou-se, em La Maison Musicale (Rue de Petits Champs), um concerto matinal onde Fróes executou, ao piano, Eroica, op. 5 n° 1 de Adolf Henselt (1814-1889), composições de Robert Schumann e duas de suas composições, Barcarolle e Danse Négre. Esse concerto foi realizado para fins beneficientes, a favor da Obra do Réfuge Ouvrier.

Interesses filológicos e filosóficos

Do ponto de vista da contribuição musicológica de Deolindo Fróes, ainda pouco estudada, cumpre salientar o seu interesse por questões terminológicas e de relações entre a gramática e a ciência, entre a gramática e unidades físicas, e sobre a concepção do tempo e do espaço relativamente à origem do Cosmos. Correspondia, aqui, a uma tendência filológica existente nos meios intelectuais da Bahia e do meio em que viveu na Europa. Aproximava-se, aqui do seu conterrâneo Afrânio Peixoto (1876-1947), médico, erudito e politico, da Academia Brasileira de Letras e fundador da Academia Brasileira de Filologia.

(...)

Texto com base nos trabalhos apresentados no Forum França-Brasil/Brasil-França 2009 do respectivo Programa da Academia Brasil-Europa

Antonio Alexandre Bispo



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