"Escândalo do Panamá". Crise financeira e reorientação geo-político-cultural nas Américas
Da França aos EUA e contextos judaicos
Ciclo de estudos Atlântico/Pacífico da A.B.E. dir. A.A.Bispo. Viagem de estudos ao Canal do Panamá 2008
A história cultural dos elos entre as esferas atlânticas e pacíficas no continente americano é marcada de forma mais do que meramente simbólica pelo divisor de águas dessa parte mais estreita do continente: a montanha Culebra no ístmo do Panamá. Essa montanha representou o principal obstáculo na travessia do ístmo através dos séculos. Foi causa relevante das dificuldades encontradas na construção do canal, de falências e de grandes perdas de vidas humanas. Esteve, com os seus deslizamentos, no centro das atenções da engenharia e da técnica nas últimas décadas do século XIX e nos primeiros anos do XX. Superada sob a direção norte-americana do empreendimento, com o Gaillard Cut, representou não apenas a concretização de um projeto no qual haviam estado envolvidos nomes dos mais destacados da engenharia, da política e das finanças. Representou também uma mudança de lideranças político-tecnológicas e de orientações quanto a organização de empreendimentos e disciplina, de higiene e cuidados sanitários, ou seja, de uma cultura de trabalho nas Américas, tornando-se um marco expressivo do término de uma hegemonia européia nas ciências e na tecnologia. A transposição da Culebra adquire, assim um interesse histórico-cultural muito mais amplo e diz respeito, sob esse aspecto, também ao Brasil.
Na atualidade, a passagem de La Culebra voltou a ser lembrada e discutida devido aos projetos e trabalhos do alargamento do Canal do Panamá. Com a sua reduzida largura, em extensão de 13 km, o canal, nesse local, já não apresentava as condições que exigem a sua crescente importância com o incremento do comércio entre o Ocidente e o Oriente. Essa atualidade justifica uma tentativa de aproximação ao significado histórico-cultural de La Culebra na história das Américas e até mesmo do globo.
La Culebra na geografia européia
Uma das mais especializadas obras de geografia de fins do século XIX e início do XX, na sua edição de 1903, ainda não podia prever a concretização do Canal do Panamá. Nos primeiros anos do século ainda não se via garantida a transposição da Culebra e a continuidade das obras por parte dos EUA. Já se partia porém da convicção de que a continuidade dos trabalhos do canal interoceânico no Panamá o seria mais realista do que a abertura de um canal pela Nicarágua, projeto este por muito tempo acalentado pelos norte-americanos.
„Um desenvolvimento maior da navegação será dado com o Canal Centro-Americano; entretanto, não se pode contar com o seu término dentro de uma década, uma vez que a sua consecução por norte-americanos que parecia estar segura em 1902 mostrou-se incerta em 1903. Em todo o caso, o canal do Panamá pode apenas ser construído no trecho já iniciado de Chagres na costa atlântica subindo o Rio Chagres e através do divisor de águas da Culebra até o Panamá, enquando que o Canal de Nicaragua exigiria ser conduzido pelas baixadas do Rio San Juan, utilizando-o, até o Lago de Nicaragua e, a seguir, na região do porto de Brito.“ (W. Sievers, Süd-und Mittelamerika 2a. ed., Leipzig e Viena: Bibliographisches Institut 1903, pág 602, trad. AAB).
O escândalo do Panamá e a crise financeira
Os problemas trazidos por La Culebra representaram uma das principais causas da falência da empresa francesa do Canal do Panamá. O „escândalo do Panamá“ marcou a história econômica e política da França pela crise financeira e política que criou. Tratou-se de uma questão de suposta corrupção parlamentar. Com a falência da firma fundada por Lesseps, a Compagnie universelle du Canal interocéanique de Panama, em 1889, os nacionalistas franceses acusaram, em 1892, parlamentares de terem recebido ações para a autorização de medidas de levantamento de fundos para o canal. O processo foi sustido em 1894 e retomado em 1897. Esse escândalo assumiu dimensões globais. Também foi comentado e teve as suas repercussões no mundo de língua portuguesa. A revista O Occidente noticiou pormenorizadamente as ocorrências:
„Veio ultimamente à apuração um enorme escandalo, que está chamando a attenção publica em França, e que já transpõe as fronteiras em telegrammas que são lidos com avidez e curiosidade por todo o mundo civilisado.
Esse escandalo diz respeito á administração da Companhia do Canal de Panamá, onde as irregularidades são de tal ordem, que levaram o governo francez a mandar instaurar um processo contra os administradores da companhia, em que se encontra o nome glorioso e respeitavel de Fernando Lesseps, e o do celebre engenheiro Eiffel, auctor da gigantesca torre do seu nome, que fez a admiração de todos os visitantes da exposição de Paris, em 1889, e de outras obras notaveis de engenheria, como a Ponte Maria Pia da cidade do Porto, etc.
Ainda estava, por assim dizer, instaurado o processo, quando, na camara, o deputado boulangista Mr. Delahay, fez uma interpelação ao governo sobre a administração da Companhia do Canal de Panamá, interpelação que produziu ainda maior escandalo pelas graves accusações feitas por Mr. Delahay, que sustentou terem sido distribuidos trez milhões de francos, ou quinhentos e quarenta contos, a cento e cincoenta deputados para promoverem a approvação do projecto de lei relativo á emissão dos titulos com premios sorteados; sustentou mais Mr. Delahay que se tinham gasto cem a quatrocentos mil francos na compra de um jornal e um alto personagem politico para patrocinar aquelle projecto etc.
O effeito produzido por esta interpelação não se fez esperar. A camara levantou-se toda tumultuosamente pedindo inquerito e todos os esclarecimentos sobre o escandalo, e ao mesmo tempo que se nomearia na camara uma commissão de inquerito sobre o caso, e que o procurador da Republica trata de organisar o processo, a imprensa tem feito as mais compromettedoras revelações sobre o escandalo, sendo a Cocarde, a Libre Parole e o Intransigent os jornaes que mais se distinguem n‘essas revelações.
A este facto veio juntar-se o suicidio do Barão Jacques de Reinach, accusado por alguns jornais como envolvido tambem nos escandalos (...)
É grande o numero de accionistas e obrigacionistas que hoje lamentam, a perda do dinheiro que confiaram á Companhia do Panamá, e muitos deles ficam completamente arruinados (...) (O Occidente XV/502, 1 de dezembro de 1892).
La Culebra e o projeto Malgarini mundo de língua portuguesa
Após o escândalo e a crise financeira e política ocorrida na França, a nova companhia que se propunha levar a cabo a construção do canal passou a estudar novos projetos técnicos que permitissem a superação dos principais obstáculos que haviam dificultado até então a realização das obras. Entre esses salientavam-se aqueles que procuravam resolver a situação criada pelo monte Culebre.
A revista O Ocidente tomou aqui claramente partido de um projeto apresentado por A. Malgarini. Esse projeto permitiria aproveitar grande parte dos trabalhos feitos e material existente, o que significaria economia de dinheiro e tempo na conclusão da obra.
Segundo a descrição do órgão, o projeto previa um sistema de diques ou levadas. Na impossibilidade então vista de se cortar suficientemente a montanha e estabelecer o canal ao nível do Pacífico e do Atlântico, pensou-se em elevar o canal à altura da Culebre. Salvava-se assim também a via férrea do Panamá Railroad, que seria então conduzida por baixo do canal, em dois túneis.
Sobre a vertente do Pacífico haveria cinco diques e nove sobre a vertente do Atlântico. O comprimento dos diques ou levadas seria variável para se aproveitar o melhor possível os trabalhos de aterramento já feitos. Aproveitar-se-iam os estaleiros e o projeto apenas exigiria nivelamentos para a construção das levadas nos diversos planos. A largura das levadas variaria entre 58 a 100 metros. Seriam duplas, formando dois canais e permitindo assim a entrada simultânea de navios em dois sentidos. O projeto previa um sistema de adufas que permitiria empregar a água das caldeiras esgotadas para a caldeira que se queria encher. A alimentação da levada superior, na cota de 75 metros, far-se-ia por meio de um reservatório superior à levada formada na ribeira do Bispo, um dos principais afluentes do Chagres. Para a construção das paredes de todo o canal criou-se um cimento especial, denominado sidero monolito calcareo. Com esse cimento formar-se-iam monolitos calcáreos de resistência capaz, empregando-se uma mistura de cimento, areia de saibro, cal hidráulica e pó de pedra.
„Este systema facilita extraordinariamente a construcção e permitte por isso mesmo concluir obras em tres annos reduzindo a despeza a 300 milhões de francos, precisamente a metade da quantia calculada em outros projectos de acabamento do canal.
Parece emfim que o projecto de Mr. Malgarini é o mais vantajoso que se tem apresentado e que será o que a nova empreza vae adoptar.“ (O Occidente XV/502, 1 de dezembro de 1892).
Sucesso dos EUA visto pela França
Por ocasião da inauguração do canal, os órgãos franceses acentuavam que os engenheiros norte-americanos haviam apenas dado prosseguimento às obras realizadas pela França. Acentuavam que o dique de Gatun teria sido um dos trabalhos titânicos exigidos para a realização. O verdadeiro labor formidável realizado pelos americanos fora o corte da cadeia das cordilheiras que dividem as duas vertentes, a Culebra.
Aqui, os engenheiros dos Estados Unidos, que pensavam apenas em utilizar uma pequena parte dos trabalhos efetuados pelos franceses, teriam sido obrigados a se servir de tudo o que esses haviam realizado. Quando os Estados Unidos estabeleceram os seus canteiros, a altura das montanhas na Gold Hill já havia sido reduzida de 163 metros a 66 metros e os franceses haviam tirado ca. de 17 milhões de metros cúbicos de material. Os americanos tiveram que superar uma barreira de 95 metros e um volume de 85 milhões de mebros cúbicos. Deslizamentos de terras se produziram de forma freqüente e grave. Atribuiu-se a causa ao fenômeno da decomposição química de solos subjacentes sob a ação combinada da humidade e do calor. Tentou-se recobrir as paredes com uma mistura de cimento, percebeu-se poém logo que os resultados seriam efêmeros. Questionou-se se não seria necessário arrasar completamente a colina do Gold Hill que domina a Culebra.
Perda de auto-estima e de prestígio da França
Quando da inauguração do Canal, revistas ilustradas francesas de alta divulgação, também lidas no Brasil, manifestaram o estado de espírito com que a notícia do sucesso foi recebida na França. Por um lado, salientava-se o significado do Canal como uma das obras mais monumentais até então já realizadas pelo homem. Em termos grandiloquentes demonstram de forma expressiva o que representou a conclusão do Canal para o mundo anterior à Guerra:
„Doublement important par l‘effort colossal qu‘il a nécessité et par les conséquences économiques et politiques qui en résulteront, le percement de l‘isthme de Panama est une des oeuvres les plus gigantesques que l‘homme ait accomplies. A l‘instant où les travaux sont à la veille d‘être terminés, nous allons faire parcourir au lecteur les phases par lesquelles a passé cette audacieuse entreprise. Spectacle singulièrement impressionant que celui de l‘ingéniosité et de la persévérance humaines aux prises avec les obstacles de toute sorte opposés par une nature hostile sur ce chantier, le plus formidable que le monde ait jamais vu.“ ((„Deux Océans vont s‘unir a Panama“, Lectures pour Tous: Revue Universelle et Populaire Illustrée 15/1, Paris: Hachette 711-712, 701)
Recebia-se na Europa a notícia com sentimentos dubios, em mistura de satisfação por ver realizar-se um projeto nascido e desenvolvido no França, no qual estiveram envolvidos nomes de altíssimo prestígio, e pela tristeza de não ter conseguido levá-lo à frente, tendo sucumbido perante as dificuldades de sua realização.
„Comment, en France, resterions-nous indifférents devant une victoire que, chez nous plus que partout ailleurs, on avait prévue il y a trente ans, mais qu‘on avait cru devoir être une victoire de notre activité et de notre industrie? Comment ne pas nous souvenir que la percée de l‘isthme, qui séparait l‘Atlantique du Pacifique, a été une idée française, un projet français? Comment n‘éprouver pas un sentiment de profonde mélancolie en songeant à tous les espoir partis allègrement de notre patrie et qui son allés périr sur un roc des Cordillères?“ (op. cit. 702)
Organização e disciplina norte-americana
Os americanos, como acentuam os textos, não teriam conseguido a sua vitória sem a experiência francesa e sem o aproveitamento dos grandes trabalhos já realizados pelos franceses. Entretanto, os europeus eram obrigados a reconhecer que tinham tido recursos maiores e, sobretudo, empregado métodos mais adequados. Esses métodos diziam respeito tanto a aspectos técnicos e sanitários quanto a uma outra cultura de organização e de condução dos trabalhadores.
Les Américains ont réussi là où les nôtres avaient échoué. Instruits par notre expérience, ils ont eu recours à des méthodes plus sûres et meilleures. Ils ont su discipliner leur fougue; ils ont su joindre la prudence à l‘énergie dans cette affaire colossale où leur goût de l‘énorme et de l‘étonnant trouvait amplement à se satisfaire.“ (op.cit. 702)
Essa outra cultura, norte-americana, caracterizava-se por mais severa disciplina do que a européia e, sobretudo, por muito maior energia. O cunho quase que militar dessa organização era manifesto: os 45.000 homens sob a direção de Goethals formavam quase que uma armada. Ao mesmo tempo, a hierarquia era muito mais rígida do que sob os franceses. A elite das legiões de trabalhadores era formada por americanos, o engenheiro-chefe, os contramestres, os „skilled laborers“. Sob as suas ordens trabalhavam operários vindos da Europa, sobretudo da Espanha, da Itália ou da Grécia. A seu lado, uma multidão de originários da Jamaica, de Barbados, Haiti, Trinidad, Martinique.
O grande feito dos americanos teria sido o combate à febre amarela. A França tinha perdido muito de sua energia moral na condução dos trabalhos pelo elevado número de perdas humanas que tinha sofrido, pelos inumeráveis franceses mortos pela doença à época de Lesseps.
„Je ne crois pas qu‘il y ait pour des Français de pèlerinage plus douloureusement mélancolique qu‘une visite au cimetière d‘Ancon: d‘innombrables pierres tombales leur rappellent de toutes parts combien de leurs compatriotes ont trouvé la mort dans cet isthme de Panama où ils étaient venus chercher la notoriété et la fortune. Öes dates inscrites sur ces sépultures attestent que c‘est dans la force de l‘âge, ou parfois dans un âge bien tendre, que sont tombés ces collaborateurs de M. de Lesseps“. (loc.cit.)
Esses franceses - e trabalhadores de outras nações - não teriam sido vítimas do clima, como os europeus tendiam a crer, mas sim de condições de higiene desastrosas. Essas teriam sido sanadas pelo cuidado dos norte-americanos. O vômito negro não era a única doença que devastava o ístmo, uma vez que a febre palude causava inumeráveis mortes. Também essa foi vencida pela paciência enérgica, pela tenacidade e pelo método sistemático dos americanos.
„En résumé, la construction du canal de Panama coûtera aux États-Unis environ 2 millards de francs. Encore dans cette evaluation ne figurent pas les travaux du port futur de Balboa, sur le Pacifique, et les fortifications dont il sera doté! On comprend pourquoi l‘ancien président de la République des États-Unis, M. Th. Roosevelt, conseillait ardemment à ses compatriotes de se rendre à Panama: ils pouvaient trouver dans cette excursion une leçon de choses pleine de grandeur, et le spectacle que leur valait leur visite ne pouvait que fortifier leur vanité patriotique.
Il y aurait mauvaise grâce à contester que le monde civilise doit être reconnaissant aux Américains d‘avoir tenté et accompli la tâche colossale d‘ouvrir une route nouvelle entre deux océans. Cela ne va pas sans inspirer en Europe de réelles inquiétudes. En effet, le canal de Panama red singulièrement plus fortes non seulement la situation économique, mais aussi la situation militaire et maritime des États-Unis. Maintenant que les Américains se préparent à fortifier l‘entrée, la sortie et les parages du canal, certaines nations se demandent dans quelle mesure sera respectée la neutralisation d‘un passage qui leur ouvre si vite la route de l‘Extrême-Orient“.
(op.cit. 712)
Contextos judaicos e anti-semitas
Como salientado em O Occidente, o ponto culminante do escândalo financeiro-político foi a morte - suposto suicídio - do barão Jacob Reinach, conhecido como Jacques de Reinach (Frankfurt 1840-Paris1892). Reinach foi um dos mais prestigiados e influentes banqueiros do século XIX, envolvido na maioria dos empreendimentos de maior porte da época. Nascido na Alemanha, descendente do baron Adolphe Reinach e Clementine Oppenheim, estudou no Lycée Condorcet, estabelecendo-se em Paris em 1850. Fundou, em 1863, com Edouard Kohn, o banco Kohn-Reinach.
Algumas publicações procuram hoje analisar o envolvimento de círculos judaicos na construção do Canal do Panamá. Entre essas obras, menciona-se o livro A Hundred Years of Jewish Life in Panama, 1876-1976, publicado por membros da sinagoga Kol Shearith Israel, do Panamá. Dados a respeito também foram considerados em outras obras a respeito do canal.
Que os elos com círculos judaicos já eram mais antigos, isso tem-se reconhecido na figura de Augustin Solomon, cidadão francês de origem judaica residente na ilha de Guadelupe e que havia obtido, já em 1838, uma concessão da Colombia para a construção de vias interoceânicas, compostas de canal, estrada e ferrovia. Supõe-se que motivos anti-semitas hajam obstado a consecução dos planos, levando à revogação da concessão para o canal, em 1843, permitindo, porém, que continuasse a levantar capital para a ferrovia, intento prejudicado pelo colapso financeiro de 1848.
Tem-se salientado na literatura que também no escândalo do Panamá possam estar em jogo motivos anti-semitas. O editor do jornal La Parole Libre, Edouard Drumont, cujos ressentimentos anti-judaicos teem sido apontados, foi um dos acusadores do barão Jacques de Reinach. Uma das pessoas que ter-se-iam enriquecido de modo não esclarecido com as transações teria sido Cornelius Herz e que posteriormente faria investimentos no jornal de Georges Clemenceau. Essas e outras ocorrências e suposições estariam à base do deflagar do anti-semitismo na França e que levaria ao caso do Cap. Alfred Dreyfus (caso Dreyfus). Seria nesse complexo contexto internacional que poderia ser situada a ação do jornalista Theodor Herzl e de sua concepção segundo a qual a solução para os judeus europeus seria a criação de um próprio país na Palestina.
Nos estudos relativos ao papel de círculos judaicos no empreendimento do Canal tem-se também salientado a ação de Philippe Bunau-Varilla, engenheiro que realizou uma viagem de conferências pelos EUA para propagar a ideia da prossecução dos planos, viagem essa financiada e que deveria trazer o seu retorno para aqueles que a possibilitaram. Tem-se também sugerido elos com a família de um banqueiro de Nova Iorque, Jesse Seligman.
No círculo de pessoas que acompanharam Bunau-Varilla nos seus contatos com círculos governamentais norte-americanos tem-se apontado a presença do médico Manuel Amador Guerrero (1833-1909), que trabalhava junto à ferrovia do Panamá e ao Hospital Santo Tomás, membro do partido conservador, acompanhado por um membro da comunidade judaica do Panamá, Herbert De Sola. Em Nova Iorque, Manuel Amador teria utilizado escritórios de Joshua Lindo, também de família judaica panamenha. Seria o primeiro presidente do Panamá. Manuel Amador Guerrero, em cuja administração ocorreu a abertura dos portos ao comércio internacional, à reforma de sistemas e à abertura de escolas superiores e de arte. Foi um defensor do tratado Hay-Bunau Varilla.
Antiguidade da presença judaico-portuguesa na região
Essas tentativas de exame do papel desempenhado por banqueiros, comerciantes e empreendedores de origem judaica no Canal do Panamá - e de seus inimigos no contexto anti-semita na França - necessitariam ser aprofundadas e diferenciadas do ponto de vista histórico-cultural. Elas não consideram, por exemplo, a antiguidade da presença judaica na antiga Nueva Granada e a rêde de seus contatos com comunidades de outras ilhas do Caribe e outras regiões da América do Sul e Central, em particular também com o Panamá. A consideração dessa história, porém, leva incondicionalmente à questão dos portugueses judeus ou cristãos novos, cuja presença marcou, por exemplo, a história de Cartagena de las Indias.
Por caminhos inesperados e complexos chegar-se-ia, assim à inserção dos acontecimentos no Ístmo com contextos históricos relacionados com o mundo de língua portuguesa. Estudos mais aprofundados se fazem necessários.
(...)
A.A.B.
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