Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

_________________________________________________________________________________________________________________________________


Índice da edição     Índice geral     Portal Brasil-Europa     Academia     Contato     Convite     Impressum     Editor     Estatística     Atualidades

_________________________________________________________________________________________________________________________________

Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 118/10 (2009:2)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2429


 


Costa Rica - Brasil - Europa


Musa sapientium: Da banana na história cultural e da banana como alegoria


Ao diplomata Eduardo de Affonso Penna, Embaixadas do Brasil da Alemanha e no Panamá, em gratidão pelos apoios





Museo Nacional Costa Rica. Foto A.A.Bispo. Copyright 2009
Este texto apresenta uma súmula de reflexões encetadas no decorrer de ciclo de estudos, contatos e observações realizados na Colombia, Costa Rica e Panamá no âmbito do programa Atlântico/Pacífico da ABE/ISMPS, em 2008. O evento inseriu-se em complexos temáticos tratados nos cursos "Música no Encontro de Culturas" (1998-2002) e do seminário "Pesquisa Musical e Política na América Latina (2008) da Universidade de Colonia, realizados sob a direção de A.A.Bispo,, responsável pelo complexo "Transplantes culturais europeus à América Latina no século XIX" do projeto "Music in Life of Man" do Conselho Internacional de Música/UNESCO.


O programa de trabalhos - o primeiro do gênero - concretizou impulsos partidos do Congresso Internacional "Música e Visões" pelos 500 anos do Brasil e triênio subsequente (1999-2004), do II° Congresso Brasileiro de Musicologia (RJ 1992), do Encontro Regional para a América Latina e Caribe ICM/UNESCO (SP 1987) e do projeto "Culturas Musicais Indígenas" patrocinado pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha (1992-).


Os trabalhos procuraram dar continuidade aos impulsos decorrentes do simpósio de renovação dos estudos interamericanos e transatlânticos (Leichlingen/Colonia 1983). A orientação teórica é marcada pela tradição de pensamento e de iniciativas remontante à sociedade de renovação de estudos e prática cultura fundada em S. Paulo, em 1968 (Nova Difusão), atual Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais. Principais colaboradores dos projetos interamericanos: Prof. Dr. Francisco Curt Lange (Montevideo) e Prof. Dr. Samuel Claro-Valdés (Chile).

Instituições envolvidas e visitadas: Academia Brasil-Europa, Institut für Studien der Musikkultur des Portugiesischen Sprachraumes e.V./IBEM,
Museo Nacional, Consejo National de la Cultura, Catedral de San Jose/Curia Metropolitana, Teatro Nacional, Museo Teatro El Coliseo ( Costa Rica), Museo de la Inquisitión e Museo Petrus Claver (Cartagena).






Teatro Nacional Costa Rica. Foto A.A.Bispo. Copyright 2009
Costa Rica é comumente inserida  - ao lado de Honduras, Nicaragua e do Panamá, - no rol das assim-chamadas „repúblicas de bananas“ devido à importância que assume essa fruta na economia do país, uma designação com conotações depreciativas. Este não é usualmente o caso do Brasil, apesar da importância da banana na economia interna e da posição particularmente relevante do país no quadro internacional do comércio desse produto.


Essa importância da banana para Costa Rica e o Brasil já justificaria, por si, estudos específicos relacionando os dois países, seja com relação à história de seu cultivo, de sua expansão e comercialização, seja com relação a aspectos sócio-econômicos das atividades e das estruturas sócio-políticas com ela vinculadas.


Significativamente, pode-se observar, nos últimos anos, em organizações e órgãos europeus voltados à América Latina, um acentuado interesse crítico pelas bases econômicas e políticas relacionadas com a plantação e a comercialização da banana de países da América Central.


Sobretudo os problemas sociais decorrentes dessas estruturas e processos teem estado no centro das atenções. Um dos autores que aqui mais se salientaram foi Klaus Jetz, especialista em estudos centro-americanos.


O Brasil não foi alcançado de forma relevante por esse debate, um fato justificável pelo fato de não se ter com relação ao país situações de predomínio empresarial norte-americano comparáveis com aqueles da América Central. Já esse fato demonstra a necessidade da consideração de contextos internacionais nos estudos específicos, dos elos, das similaridades e diferenças nas diversas situações.


Oriente/Ocidente e a banana nos Descobrimentos portugueses


Aliás, como no caso de vários outros frutos, também a história cultural global da banana tem sido marcada pela antiguidade e internacionalidade de elos, por complexos caminhos de difusão entre as mais distantes regiões do mundo. As suas remotas origens são vistas no Oriente, por alguns no arquipélago malaio. Já era conhecida pelos antigos egípcios e assírios, como registrada em monumentos, e afirma-se que os soldados de Alexandre Magno a encontraram na Índia.


Mais do que com as suas remotas origens orientais, a banana surge na história cultural sobretudo pela sua importância na África Ocidental. As ilhas atlânticas teriam representado a principal ponte da banana entre a África e a Europa de fins da Idade Média, e desde então a banana insular passou a ser consumida na Europa.


A partir da época dos Descobrimentos iniciou-se um processo de transplantação da banana africana para as Américas. Atribui-.se esta transplantação a um Pe. Tomás de Berlengas, que teria levado a bananeira à ilha de São Domingos, em 1516. Das Ilhas Ocidentais, a bananeira ter-se-ia difundido e alcançado o Brasil. Estabelece-se, assim, um vínculo das ilhas atlânticas com as ilhas do Caribe no vir-a-ser histórico da banana afro-americana.


Entretanto, como bem afirma José E. Mendes Ferrão, autor de uma das mais categorizadas obras a respeito de viagens de plantas na era dos Descobrimentos, a historiografia da banana apresenta lacunas e afirmações questionáveis que somente poderiam solucionadas por estudos mais pormenorizados (A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1992).


Relações Pacífico-Atlântico na história da banana


Independentemente desses elos transatlânticos, a banana já teria sido há séculos conhecida pelos indígenas. Afirma-se até mesmo um particular significado da fruta no império Inca. Ela teria atingido o continente pela costa do Pacífico, vinda da Ásia. Haveria, assim, no estudo da banana nas Américas, complexos relacionamentos e interferências de caminhos difusivos transatlânticos e transpacíficos.


Não se conhecendo as condições sociais do cultivo e do consumo da banana nas sociedades pré-colombinas, tem-se de partir da situação que se conhece da história colonial. Aqui, também as práticas indígenas teriam sido incorporadas em contexto no qual a banana se relaciona com camadas menos privilegiadas da população, com colonos e migrantes. Os estudos culturais da banana inserem-se, assim, em contextos da história do quotidiano desses grupos marcados por labilidade social e sujeitos a transformações culturais. Esse fato, decorrente da origem e da inserção social daqueles que a plantavam e que sobretudo a consumiam, não poderiam deixar de marcar a imagem da banana.


Imagens da banana


Há, portanto, possibilidades, mais profundas, de estudos culturais da banana para além de panoramas convencionalmente históricos de sua difusão. A história científica da banana é, por exemplo, singularmente marcada por questões de significado. Por ter sido alimentação de sábios da Índia, foi designada por Linné com o termo Musa sapientium. Uma prática alimentícia - decorrente provavelmente do valor nutritício da banana - teria estabelecido assim a seu vínculo com a Sabedoria.


Ou ter-se-ia aqui a vigência de antigas tradições imagológicas? A designação científica da banana a enquadra assim em complexo conjunto de significados mitológicos e bíblicos relativos ao Paraíso já conhecidos na Idade Média. A bananeira teria sido nessa tradição nada menos do que uma das árvores do paraíso, a árvore do conhecimento. A banana teria sido a fruta que levara Eva a pecar (Pomum paradisi). Gaspar Frutuoso, no século XVI, referindo-se às bananas da ilha de Santiago, fornece uma elucidação para essa interpretação: cortando-se o fruto, vê-se nele a figura da cruz, sendo por isso vedada no Paraíso terrenal perdido.


Aqui revela-se uma paradoxal teia de significados relacionados com a banana. De um lado, surge como fruto popular, conotada com o trabalhador proveniente de classes sociais menos privilegiadas, de situação social labil, sobretudo africano e afro-americano, de outro lado, nada menos do que com a Sabedoria e o Paraíso!


Atualidade dos estudos da banana


Há alguns anos, o termo „Bananenrepublik“ foi escolhido como „palavra do ano“ na Alemanha. O termo corresponde a concepções generalizadas de „república banana“, aplicada com o sentido pejorativo para designar estados pequenos, de poucos recursos, caracterizados por instabilidade econômica e política e pela fraqueza de instituições. Similar uso da palavra banana nesse sentido também é conhecido no Brasil, por exemplo no intuito desqualificador de personalidades da vida pública do passado. Quais seriam porém os pressupostos culturais - de imagens - que justificariam tal emprêgo do termo? Até que ponto as conotações negativas desse uso influenciariam outras considerações e visões da banana? Por que é que haveria sempre um sentido quase que cômico em textos que tratam da banana, o que não acontece com o café, o cacau, a borracha, o algodão?


Entretanto, precisa-se recordar que o fruto também foi relacionado com épocas econômicas conotadas positivamente, como o período pós-Guerra na Europa. Caso similar teria sido aquele de Costa Rica.


Apoteose da banana no Teatro Nacional de Costa Rica


Costa Rica não pode ser considerada como „República-Banana“, pois orgulha-se de sua estabilidade política e suas condições sociais até há pouco tempo vistas como invejáveis no contexto latino-americano.


Não tem a sua história assim marcada de forma tão evidente por golpes militares e empreendimentos grandiloquentes que seriam associados com as Repúblicas-Banana. Teve, além do mais, a fama de ser ou de ter sido um dos países mais europeus ou europeizados da América Latina.


Entretanto, há poucos países em que a banana assumiu e assume posição tão relevante no desenvolvimento econômico do que em Costa Rica, uma posição que é monumentalizada em pintura famosa das escadarias do Teatro Nacional e que ornamentou no passado as cédulas do país.


Não há exemplo mais expressivo da nobilitação da banana do que a grande obra pictórica de 1897 do italiano A. Vella na principal casa de espetáculos de Costa Rica. Tem-se aqui, claramente, não apenas uma questão de representação histórico-realística ou ilustrativa de uma realidade econômica que possibilitou o desenvolvimento da nação. Trata-se explicitamente de uma alegoria, de uma alegoria que engloba a banana e o café, cada qual com significados distintos mas unidos numa única representação.


O observador atual não percebe à primeira vista o cunho de alegoria da obra. Reconhece que as figuras centrais, relacionadas respectivamente com a banana e o café, possuem conotações de gênero e étnicas, sendo o cacho de bananas segurado por um homem de trajes populares e de tez aparentemente mais escura, o café sendo colhido por uma jovem de trajes antes europeus e tez clara.


Não se trata apenas de uma referência às situações imigratórias do cultivo dessas duas plantas no país, dos afro-americanos vindos de outras regiões do Caribe - sobretudo jamaicanos - para os bananais e de imigrantes europeus para os cafezais, do cunho popular da banana e do mais aristocrático do café, nem mesmo de uma conotação masculina da banana e de uma feminina do café. Sabendo-se da importância da alegoria no círculo ao qual pertencia o artista, em Milão, poder-se-ia supor uma relação entre essa representação e tendências de reclames e cartazes da época, na qual surgia Mercúrio nos seus elos com a comunicação e o comércio.


O cacho de bananas, representado no centro da tela monumental verticalmente e segurado de forma inconvencional, com os frutos dirigidos para cima, tem sido visto como um êrro por
desconhecimento da cultura da banana por parte do artista criador.


Tudo porém sugere o contrário, i.e. uma representação consciente, uma substituição do caduceus mercúrico pelo cacho na sua profusão de frutos. Tal qual um enorme lustre vegetal, o cacho de bananas traz aqui diferenciadas sugestões por assim dizer mercúricas, entre elas o seu relacionamento com o transporte e as comunicações possibilitadas pelos bananais de Costa Rica - as ferrovias das empresas bananeiras.


Ao lado do mais aristocrático e europeu café, a banana completa a alegoria com o elemento americano, simbolizando o popular nobilitado, indicador dos caminhos futuros do progresso. A banana e o café, conjuntos, tornam-se imagens repletas de significados sob a perspectiva de uma identidade nacional própria ou mesmo de uma americanidade.


Estudos culturais da banana no Brasil


No caso do Brasil, um dos maiores exportadores de banana do globo, sente-se uma falta de estudos específicos relacionados com essa fruta na história e no presente cultural. Que diferença para com o café, tratado em numerosos estudos das mais diversas disciplinas, vinculado na sua imagem a uma época de florescimento econômico e sócio-cultural, a grandes fazendas e mansões urbanas!


Também a cana-de-açúcar, a borracha e o cacau teem sido alvo da atenção de intelectuais e literatos, considerados em função da marca que deixaram e deixam na cultura regional e nacional. Se a mandioca e o milho estão presentes sobretudo na literatura de cunho etnológico, os estudos de folclore conhecem trabalhos específicos sobre plantas e frutos da terra menos conhecidos supra-regionalmente, tais como a salsaparrilha, o mesmo não se constata com relação à banana. Fala-se, em sentido epocal, até mesmo de uma cultura ou ciclo do açúcar, do café, da borracha. Mas da banana? Qual seria a razão da pouca significação da banana nos estudos culturais brasileiros?


Exotismo e a banana na cultura de salão: Le Bananier


Talvez um dos caminhos para a consideração da história cultural da banana no Brasil seria através de seus elos com o Exotismo. Os vínculos da banana com grupos populares da sociedade caribenha, em particular com afro-americanos, parecem ter fornecido uma das justificativas para o papel desempenhado por essa fruta no exotismo europeu.


Uma das mais primeiras e mais expressivas manifestações artísticas nesse sentido foi a composição „Le Bananier“ de Louis Moreau Gottschalk (1828-1869), um dos maiores vultos da história cultural euro-interamericana do século XIX, falecido no Rio de Janeiro. Após os seus primeiros sucessos em New Orleans, completou a sua formação musical em Paris, a partir de 1841. Freqüentando os salões, estudou com Stamaty, Hallé e Malmeden, sendo apreciado por Berlioz, Chopin, Liszt, Pleyel, Marmontel, Victor Hugo e Teofilo Gautier. Com apenas 19 anos, Gottschalk compôs também peças baseadas na cultura afro-louisiana, entre elas Bamboula, danse des nègres op. 2 (1844/5, Paris ?1849), Le Bananier, chanson nègre op. 5 (1845/6, Paris ?1850) e La Savana, ballada créole op. 3 (Paris 1848).


Como Francisco Curt Lange acentuou no seu estudo sobre o compositor, „o exotismo, que ganhara em Paris muitos adeptos, sobretudo a partir da segunda metade do século XIX, festejou as vívidas evocações do jovem americano, filho de uma região a que se achou vinculada a França por laços muitos estreitos.“ („Louis Moreau Gottschalk“, in: Die Musikkulturren Lateinamerikas im 19. Jahrhundert, ed. R. Günther, Regensburg: Bosse 1982, 372)


Essa obra surge não apenas como expressão emblemática de um complexo cultural africano, criolo, franco-afro-americano, mas como demonstração de complexas interferências de visões da própria cultura e visões do outro, não isentas de auto-exotismo. O Le Bananier, qualificado como chanson nègre, foi o grande triunfo do jovem Gottschalk em Paris: „His greatest triumph as a composer, however, came in January 1850 when he introduced Le bananier which, with the pieces from 1848, formed the so-called ‚Louisiana triology‘.  This exotic morceau made Gottschalk‘s name a household word throughout Europe.“ (in: The New Grove Dictionary of Music & Musicians 7, ed. 1980,  570-574. 571)


Tudo indica ter sido também a partir de uma visão marcada pelo exotismo que tenha ocorrido um despertar de interesses pela potencialidade e pelo significado da banana no Brasil. Não apenas o Le Bananier de Gottschalk foi executado no país. A bananeira passou a constituir elemento de arranjos decorativos e de jardinagens.


A modernidade da banana


A visão da bananeira como elemento estético-exótico parece ter antecido às considerações pragmáticas quanto ao fomento do seu cultivo. Assim, a obra  The New Brazil: Its resources and attractions,  Historical, Descriptive, and Industrial, publicado sob o presidente Manoel Ferraz de Campos-Salles (Philadelphia: George Barrie & Son, 1901), a banana somente é considerada em artísticas fotografias. Entretanto, foi nos primeiros anos do século XX que se observa um despertar maior das atenções pelo futuro da banana no Brasil.


Sob o título „Le commerce des bananes“, o Annuaire Economique, de 1913, publicou uma longa matéria que revela o despontar de interesses para o futuro comercial da banana no Brasil (Annuaire du Brésil Économique 1913, Rio de Janeiro/Paris/Londres, pág. 377-379).


O artigo se baseia no boletim do Ministério da Agricultura que publicara um capítulo sobre a cultura e o comércio de bananas e que salientara que essa representaria uma indústria de grande futuro. Sua exploração deveria ser organizada de forma racional no país, trazendo resultados incalculáveis aos agricultores e a negociantes.


O artigo lembra a „modernidade da banana“. Até meados da década de 90, a banana tinha sido praticamente desconhecida na Europa e nos Estados Unidos. Na época, porém, passados apenas 20 anos, o consumo do fruto já era considerável em Nova Iorque, Londres, Berlim e Hamburgo, assim como em Paris. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, graças à propaganda ativa de intermediários e à redução de preços, a banana teria passado a fazer concorrência para os frutos nativos, sobretudo a banana-maçã, particularmente apreciada na Europa.


Il y a vingt ans la banane était un fruit presque complètement inconnu en Europa et aux États Unis.

Aujourdh‘ui les statistiques enregistrent une consommation annuelle de: 13.000.000 de régimes à New York, 3.500.000 à Londres, 1.700-000 à Berlim et Hambourg et de 500.000 à 600.000 seulement à Paris, où la banane se vend à un prix relativement élevé!

(...)

Les bananes consommés en Europe viennent généralement des iles Canaries, les États Unis les importent des Antilles et surtout de Costa Rica et du sud de Panama, où une puissante entreprise, l‘United Fruits, possède d‘immenses plantations, desservies par des lignes de chemin de fer appartenant à la compagnie“  (op.cit. 378)


A voga da banana encontraria a sua justificativa naquilo que a ciência nutricionista revelava a respeito de seus valores alimentícios. O homem poder-se-ia alimentar exclusivamente de bananas, de pão e de manteiga, encontrando nessa combinação todos os elementos necessários para o seu desenvolvimento.


A cultura da bananeira caracterizava-se pela sua facilidade. Ela pode ser uma cultura acessória, feita para proteger do sol as plantações de cacao, por exemplo. No Brasil, onde existiria uma grande variedade de bananas, somente haveria grandes plantações no litoral sul, nas redondezas de Santos, Paranaguá e Florianópolis. Essas plantações possibilitavam a exportação anual de milhões de cachos às repúblicas do Prata, principalmente a Buenos Aires. As variedades mais cultivadas no Brasil e mais apreciadas nos países do sul seriam a banana-ouro e a banana-maçã.


Perspectivas para a banana brasileira na França no início do século XX


Considerando-se que um cacho de bananas contendo em regra 150 a 200 bananas e pesando até mesmo 50 quilos estava sendo vendido no Sul do Brasil de 0,75 a 1 franco e 50, compreender-se-ia os benefícios que traria uma expansão da banana brasileira na França, uma vez que, em Paris, cada banana se vendia a 0,10, 0,15 ou 0,25, dependendo da qualidade, o que representaria de 15 a 50 francos por cacho.


Como o artigo salienta, a população parisiense conheceria apenas bananas „muito medíocres“ - as das Canárias -, incomparáveis com as bananas da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Um empreendimento que se dedicasse à cultura racional da bananeira em qualquer daqueles estados do Brasil e à exportação em grande escala à Europa traria certamente benefícios extraordinários, comparáveis àqueles de sociedades inglesas da Jamaica e da América Central. Para isso, não seria necessário nem grandes capitais nem braços. Uma outra vantagem seria o fato de que a primeira colheita já poderia ser feita ao fim do primeiro ano.


Bananose para a Inglaterra?


Ao lado da venda de frutos no seu estado verde ou secos, poder-se-ia extrar das bananas uma farinha natural chamada de bananose. Esta seria muito apreciada na Inglaterra onde se venderia à razão de 45 a 55 francos por cada 50 kilos. Essa quantidade de farinha para os inglêses poderia ser fornecida por 10 bananeiras, e isso se se partisse apenas de 1 cacho por pé. Plantando-os a uma distância de 2 metros um do outro, e partindo-se de 2500 bananeiras po hectar, ter-se-ia uma produção anual de média de 3000 francos para os frutos e de 10 a 12000 francos para a farinha a ser enviada para a Inglaterra. Isso representaria uma vantagem colossal pensando-se nas despesas reduzidas dessa cultura.


A banana na Alemanha: Syndikat für Bananenkultur


Essas dados do Brasil Econômico, de 1913, demonstram a situação e as perspectivas que se abriam, no Brasil, para a banana em contextos internacionais. Costa Rica e Panamá, além de outras regiões da América Central, tinham a sua produção dirigida para os Estados Unidos devido ao papel exercido pela United Fruits. Jamaica e outras regiões do Caribe eram dominadas sobretudo por ingleses.


Para o Brasil, o futuro da banana não era os Estados Unidos, mas sim a Europa. Ao contrário da Grã-Bretanha, onde havia boas bananas provenientes do Caribe, as grandes capitais do continente consumiam apenas „mediocridades“ vindas em geral das Ilhas Canárias. O interesse, porém, era existente, considerando-se o já considerável consumo, e a preços elevados, da banana em Paris, Berlim e Hamburgo. Se na Inglaterra apenas haveria sentido um engajamento na exportação de banana em forma de farinha, o mesmo não se dava nos outros países.


Para a Alemanha, a banana representaria uma revelação nos hábitos alimentares pela passagem do século. Trabalhos acadêmicos recentes salientam o papel da banana no Reich e sob a república. O que se esquece, porém, é a função exercida por viajantes alemães ao Brasil e, assim, o papel da banana nas relações teuto-brasileiras. A difusão da banana na Alemanha deve ser considerada no âmbito da história colonial e, com ela relacionada, das comunidades alemãs no Brasil.


Nos Camarões, a Westafrikanische Pflanzungsgesellschaft Bibundi A.-G-, fundada em Hamburgo com um capital de 2 100 000 marcos, desenvolvia o cultivo da banana. Poucos anos antes da Guerra fundou-se uma segunda firma em Berlim sob a denominação de Syndikat für Bananenkultur G.m.b .H.


Interesse dos teuto-brasileiros pela banana


Uma das obras mais significativas do interesse alemão pela banana do Brasil é o livro Brasil: Um país do futuro“, de Heinrich Schüler, que conheceu várias edições (Heinrich Schüler, Brasilien: Ein Land der Zukunft, 3. ed. Stuttgart e Leipzig: Deutsche Verlags-Anstalt, 1912, 366, 1a. ed. 1911). Nessa obra, o autor dedica um longo trecho à banana:


A banana, apreciada e conhecida em todo o mundo, cresce em quase todas as partes do Brasil e nas mais diversas espécies. Há aquelas que são muito apreciadas como frutas de mesa, outras teem o gosto de peras, outras de ananás, e outras servem apenas para ser cozidas, assadas ou fritas, representando um requisitado meio alimentício.

A espécie que é exportada chama-se Ana ou Nanica. A árvore é baixa, por isso é fácil de ser colhida, tem um grande cacho e produz bananas belas, grandes, de ótimo sabor. Ela exige terreno fértil e clima litorâneo, quente-húmido.

Em Santa Catarina, Paraná e nas circunvizinhas de Santos planta-se muito essa banana, que é exportada para a Argentina. Nos últimos quatro anos, a exportação variou entre 1800000 e 2000000 cachos, em valor aproximado de 1250000 marcos.


Prova de como a cultura da banana pode ser ampliada pode-se ver no fato de que a Alemanha, em 1910, importou-as por cerca de 7 000 000 marcos, e os Estados Unidos por 12000000 dólares.

A exportação das bananas da América Central é monopolizada por um trust americano, The United Fruit Company. Em Nicaragua, a Central American Grown Transaction Cy tem 8000 morgen prussianos dessa cultura e alugou várias outras grandes áreas.

(...)


Em Nova Iorque paga-se em geral 10 marcos por 100 quilos de banana, um bom preço tendo-se em vista o baixo custo.

A área costeira do Estado de Santa Catarina, incluindo as ilhas fronteiriças, provou que é adequado de forma excepcional para a cultura da banana. Por isso, espera-se que esta terá ali o início do desenvolvimento a que faz jus. „ (Heinrich Schüler, op.cit., trad. AAB)


Outra obra indicadora do interesse teuto-brasileiro pela banana nas primeiras décadas do século foi a descrição do Brasil de Otto Bürger. O autor baseou-se sobretudo em dados de viajantes anteriores, entre eles Ernst von Hesse-Wartegg. .Como esses, também Bürger salienta o significado da Banana Nanica como produto de exportação, sobretudo à Argentina.


„Como por todo o lugar nos trópicos, a banana acompanhou o homem por todo o lugar que passou. Ela pertence a uma das maios importantes plantas alimentícias. Essa planta, também chamada de Pisang, da família Musaceae (Musa sapientium), cujo local de origem é visto no arquipélago índico ou malaio, já era propagada nas Américas à época dos Descobrimentos. O caule dessas grandes plantas, com as suas folhas verdes grandes, largas, que são cortadas pelo vento parecendo leques, produz apenas uma vez um cacho que não raramente pesa 25 quilos. Depois ele morre, depois de ter criado mudas de raízes. Os frutos não teem sementes e teem, assim, para o homem, a maior perfeição. A conservação da espécie por uma reprodução exclusivamente a-sexuada é entretanto riscante, pois a sua eternidade apenas é garantida por uma renovação da semente. A duração de vida de uma muda é de apenas 9 a 14 meses, uma prova evidente da extraordinária força reprodutiva da natureza tropical, da planta, ao contrário, 60 a 80 anos. (...) A Banana cresce e amaduresce os seus frutos dentro do cinto tropical até a altura de 1800 metros. O seu melhor desenvolvimento encontra-.se entre 0 e 1000 metros. Todo o nativo a deixa crescer ao lado de sua cabana, mas ela também é cultivada em largas proporções. No Brasil cultiva-se sobretudo uma variedade que não cresce muito, Ana ou Nanica, que produz frutas aptas à exportação, de bom sabor. Em especial Santa Catarina, Paraná e São Paulo (Santos) a cultivam. No Rio Grande do Sul, a bananeira tem excepcionalmente muitas folhas. O Brasil exporta grandes quantidades, em especial à Argentina. No porto do Rio de Janeiro pode-se observar como milhares de cachos desaparecem nos seios dos transatlânticos. As frutas são ainda verdes. Somente no decorrer da viagem amadurecem, obtendo uma cor amarela. A exportação é de 1800000-200000 cachos e representam um valor de 60 000 libras esterlinas (Otto Bürger, Brasilien, Leipzig; Dieterich‘sche Verlagsbuchhandlung, 186-187, trad. AAB)



A.A.Bispo



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: http://www.brasil-europa.eu


  2. A A.B.E. é entidade exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias. É, na sua orientação teórico-cultural, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. A Organização de Estudos de Processos Culturais remonta a entidade fundada e registrada em 1968 (Nova Difusão). A A.B.E. insere-se em tradição derivada de academia fundada em Salzburg pelos seus mentores, em 1919, sobre a qual procura sempre refletir.