Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 118/22 (2009:2)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

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ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2434


 


Costa Rica - Brasil


Memória local e história oral de bairros


Resenha



Eduardo Oconitrillo García (comp.-). Historias de mi barrio: el San Jose de ayer. San José: Editorial Costa Rica, 2005. 244 p.; 21 x 14 cm. ISBN 9977-23-651-8


                          


Historia di mi Barrio
O trabalho é resultado de um esforço interinstitucional de resgate da identidade da capital de Costa Rica. Nos primeiros meses de 1993, a Escola de Historia e Geografia e a Vice-Reitoria de Ação Social da Universidade de Costa Rica, juntamente com a Municipalidade de San José, planejaram o Festival San José Vive. Esse evento propiciou uma série de concursos sobre a identidade da capital, de desenho infantil, de fotografias antigas e de histórias de bairros.


A obra, após um prólogo de Francisco J., Enríquez Solano, apresenta textos de Vilma Loría Cortés (Otoya, mi puerto escondido); José Manuel Salazar Navarrete (Una historia de mi barrio: Barrio México); Eduardo Oconitrillo García (Mi barrio: El Santa); Carlos L. Vargas Lizano (Mi Merced); Willy Castro Durán (Barrio Plaza Víquez); Jorge Arturo Alvarado Cerdas (Añoranzas de un ayer... un barrio... una calle); Rufino Gil Pacheco (Mi barrio: La Dolorosa); Francisco Mirambell Solís (De la línea del tren p‘abajo); Jorge Arguedas Truque (La huelga del Amón); Hermes Valenciano Soto (De Desamparados al Laberinto); Abel Pachecco (De adolescentes, monjas y chaperones) e Eduardo Oconitrillo García (El Barrio Carit).


Na sua abertura, Francisco J. E. Solano, diretor do Departamento de Historia da Universidade de Costa Rica, salienta o papel da nostalgia por um passado que sobrevive em recordações como mola propulsora de aproximações à „intimidade da história urbana“.


San Jose, Costa Rica. Fotos A.A.Bispo 2008. Copyright

Fotos antigas de San Jose no Museu Nacional

e monumentos com decorações histórico-sentimentais da capital.

Fotos A.A.Bispo 2008

 
Assim, a obra não procuraria explicar o desenvolvimento da capital de Costa Rica, nem as suas implicações econômicas e sociais. Seria uma obra de história local dirigida à cultura do quotidiano. Os relatos permitiriam viver a alma dos bairros através de seus costumes, de suas famílias, de suas ruas. Tudo teria sido escrito com grande dose de emotividade e amor pelo detalhe, sem a formalidade histórica, uma vez que a história local estaria mais próxima da literatura do que trabalhos historiográficos o costumam ser. Os casos locais deveriam ser revividos com emoção artística para que se tornassem vivos.


Como o apresentador salienta, a capital de Costa Rica é marcada na atualidade por graves problemas urbanos e sociais. Esses problemas apenas poderiam ser solucionados se os seus habitantes tomassem consciência de suas possibilidades e limitações. Para isso, seria necessário que se identificassem com os lugares onde vivem. Com esse objetivo de reconstrução de identidades, pesquisa-se o passado e descobre-se laços que caracterizavam a comunidade urbana do passado. Procura-se conhecer a „josefinidad“ como „resgate de la idiosincrasia que tuvo San José y que hoy, en aras del progreso, ha sido casi borrada, lo que ha dado como resultado una ciudad fría, desolada y sin rumbo. Por ello, el tener conciencia de esta josefinidad permitirá romper la apatía y la inercia que caracteriza a los actuales vecinos de la capital.“


A história dos bairros de San Jose teria como objetivo sanar uma lacuna na literatura regional, procurando transportar aqueles que vivenciaram o passado a esquecidas lembranças de sua infância e juventude. Ao mesmo tempo, os jovens passariam a conhecer o mundo de seus avós e pais. Assim, a obra contribuiria para a educação à cidadania.


Nos diferentes textos, relembram-se fatos, figuras e ocorrências já desaparecidas. Registram-se por exemplo notícias e lembranças sobre os bondes da capital, sobre os vendedores de gêlo, sobre as carretas, as festas de fim de ano e figuras populares.


Essa coletânea insere-se no rol de publicações que, em vários países latinoamericanos, tratam de assuntos correlatos da memória urbana, da história local de comunidades e da reconstrução de identidades de bairros. Tais publicações nascem frequentemente de iniciativas e projetos de cunho pragmático, social e educativo no sentido amplo do termo. Refletem a situação desolada criada pelo desenvolvimento urbano caótico das cidades latinoamericanas, com as suas consequências sociais, ecológicas e culturais. Algumas dessas publicações e iniciativas, como aquelas fomentadas pela Municipalidade de Buenos Aires, revelam uma especial preocupação por aspectos metodológicos da recolha e do exame de depoimentos pessoais (veja resenha em número anterior desta revista).


De fato, o registro e a publicação de recordações de habitantes, para além do seu interesse histórico-cultural, colocam questões de difícil solução do ponto de vista científico. A cientificidade dessas coleções de ensaios, que se apresentam em geral como fontes escrito-orais para futuros trabalhos, surge como um problema básico que deveria ser discutido sob novas perspectivas e em contextos supra-regionais.


O intuito de se registrar memórias de bairros, de uma cultura do quotidiano, de histórias de comunidades locais e de tipos populares não é recente. A história dos estudos culturais foi marcada por uma fase em passado já remoto de livros de reminiscências e tradições, e parte do debate para o desenvolvimento de uma disciplina específica foi marcada através das décadas por esforços no sentido de criação de bases teóricas e metodológicas para procedimentos adequados. Corre-se o risco, na atualidade, sob o impacto da realidade urbana de bairros descaracterizados e degradados das metrópoles latinoamericanas, que haja um retrocesso no nível do debate teórico. O desenvolvimento de uma urbanologia de orientação teórico-cultural poderia abrir aqui novas perspectivas.


A.A.B.