Revista

BRASIL-EUROPA

Correspondência Euro-Brasileira©

 

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Revista Brasil-Europa - Correspondência Euro-Brasileira 117/3 (2009:1)
Editor: Prof. Dr. A.A.Bispo, Universidade de Colonia
Direção administrativa: Dr. H. Hülskath

Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais (ND 1968)
Academia Brasil-Europa
Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS 1985)

© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1998 e anos seguintes © 2009 by ISMPS e.V. Edição reconfigurada © 2014 by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados
ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501

Doc. N° 2407


 


„Música antiga“ na América Latina. Da potencialidade renovadora e releitura interdisciplinar





Concerto Centro de Estudos Brasil-Europa.Concerto ABE.Foto A.A.Bispo 2008©
Este texto constitui um relato da sessão de encerramento do ciclo de estudos pelos 40 anos da Sociedade Nova Difusão - hoje Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - e 10 anos de abertura do centro de estudos da Academia Brasil-Europa em Colonia, sob o patrocínio da Embaixada do Brasil na Alemanha.


Os trabalhos retomaram preocupações remontantes aos estudos colonias e, em particular, ao conceito de "Música Colonial" tematizados à época da fundação da entidade, em 1968. A renovação de perspectivas passou a voltar-se ao Colonialismo como processos. Marco nesse desenvolvimento foi Festival de Música Colonial e Barroca realizado pela sociedade sob o patrocínio do Departamento de Cultura do Município de São Paulo na Basílica de Nossa Ssnhora de Fátima, São Paulo, em 1970. O tema voltou repetidamente a ser discutido em eventos posteriores.





Realizou-se, no dia 30 de novembro de 2008, na sede européia da Academia Brasil-Europa e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa, uma sessão comemorativa da passagem dos 40 anos de fundação da sociedade Nova Difusão, entidade constitutiva da Organização Brasil-Europa.


A sessão foi emoldurada musicalmente com um concerto da cravista portuguesa Suzana Mendes e do tenor argentino Rafael Montero.


Suzana Mendes. Concerto ABE.Foto A.A.Bispo 2008©
Rafael Montero dedica-se ao Lied, ao Oratório e à música de câmara, da Renascença à música contemporânea. Estudou no Conservatório Nacional de Cordoba, Argentina, e na Escola Superior de Música de Genebra, Ville Neuchatel, com Rosa Maria Meister. Foi bolsista do curso internacional „Música em Compostela“, assim como participante de seminários de música antiga. Realizou viagens artísticas pela Europa e por países sul-americanos. Participou, entre outros eventos internacionais, da Festa Bach de Cochabamba, Bolívia.


Suzana Mendes estudou cravo em Lisboa, sua cidade natal, e em Amsterdam, Oslo e Colonia, entre outros com Anneke Uittenbnosch, Richard Egarr e Ketil Haugsand. Diplomou-se em 1997 e realizou o seu exame-concerto em cravo e clavicórdio no ano 2000. Participou de vários cursos internacionais de música antiga sob a direção de alguns de renomados professores da área. Apresenta-se em concertos por toda a Europa, como solista e como membro de conjuntos. Realizou concertos na Filarmonia de Colonia, na
Suzana Mendes-Rafael Montero. Concerto ABE.Foto A.A.Bispo 2008©
Antiga Ópera de Frankfurt a.M. e no Konzerthaus de Berlim. Ao lado de produções de CDs, atuou em várias gravações das emissoras WDR e NDR. É professora de cravo no Instituto de Música Sacra da Escola Superior de Música Robert Schumann, de Düsseldorf e da Escola de Música de Siegen. Ministra regularmente cursos de aperfeiçoamento em cravo, clavicórdio e música de câmara nas escolas superiores de música do Porto e de Lisboa. Esteve recentemente no Brasil.


Música antiga e questões de difusão cultural


Durante a sessão salientou-se o papel singular desempenhado pela Música Antiga na história das iniciativas e das reflexões relativas à Difusão Cultural. Alguns dos temas tratados na edição anterior desta revista foram brevemente elucidados, salientando-se que, entre os movimentos destinados à renovação de repertórios e de público da década de sessenta vários deles se caracterizaram pela prática da música antiga, instrumental e vocal.


Esse empenho e a própria história do redescobrimento da música antiga, muito mais diversificada do que se supõe, surgem eles próprios como expressão de processos histórico-culturais. O estudo desse desenvolvimento e da história das diferentes iniciativas e de seus contextos revela-se como uma exigência para a análise da vida musical e das tendências renovadoras da difusão cultural do século XX e, ao mesmo tempo, para uma prática consciente na atualidade.


Em vários países da América Latina e da Europa estabeleceu-se por assim dizer uma cultura da música antiga que necessitaria ser contextualizada em processos histórico-culturais mais amplos. Questões de relacionamento entre a Europa e a América Latina surgem aqui como de relevância que transcende a esfera especificamente musical. Tratando-se de um repertório que diz respeito sobretudo ao período colonial de nações latino-americanas, apresenta vínculos com os intuitos científicos de levantamento e revalorização desse repertório.


Música antiga e interdisciplinaridade


Como discutido em vários eventos da A.B.E., surgem aqui, entre outros, problemas de interdisciplinaridade. Uma orientação histórico-musicológica em sentido convencional, hoje discutida polêmicamente nos grandes centros musicológicos internacionais, apresenta o risco de transmissão de categorias de pensamento de cunho eurocêntrico. Tal orientação surge como altamente questionável não apenas para os países latino-americanos como para a disciplina no seu todo.


Como em poucas outras esferas músico-culturais tem-se aqui a necessidade de uma orientação culturológica para a pesquisa musical. Não se trata, segundo se tem discutido nos últimos anos, apenas da consideração de pontos de vista e de conhecimentos sociológicos e etnomusicológicos no estudo de processos histórico-musicais. Trata-se da consideração de aportes especificamente teórico-culturais na pesquisa do passado colonial, fato que tem-se demonstrado na produtividade de aportes apresentados em eventos e seminários da A.B.E. e que salientam questões de identidade e diferenciação cultural, de mecanismos e processos de formação e transformação cultural, entre outras.


O interesse e o empenho pela Música Antiga e pela música do período colonial, que já constituiram parte importante de movimentos renovadores da difusão cultural no passado, não deveriam perder essa sua tradição de intenções inovadoras e transformadoras, conscientizando-se dos riscos que correm em tornar-se expressão de exacerbado conservadorismo.


Música antiga e o debate comunicativo e teórico-sistêmico


A história do redescobrimento e do cultivo da música antiga revela singulares intuitos educativos, instrutivos e esclarecedores. Iniciativas e movimentos dedicados à revalorização de épocas histórico-musicais, repertórios, compositores, obras, práticas de execução e instrumentos inseriram-se em contextos sociais e culturais marcados por impulsos renovadores, de inovação através da superação daquilo sentido como desgastado pelo anterior, pelo esquecido, pelo mais velho.


Questões de revalorização do mas antigo relacionam-se aqui de forma complexa com intuitos renovadores através de trabalho de difusão cultural. Intuitos esclarecedores, de cunho pedagógico e educativo, conscientes ou inconscientes, que aqui se revelam, denotam a vigência de um modêlo de pensamento no qual o artista e o pesquisador surgem como mestres, como agentes da informação e da transformação de receptores.


A mudança de modêlos teóricos relativos ao processo difusivo e à teoria da comunicação deveria aqui levar a uma mudança do espírito que orienta as atividades em círculos de música antiga. Já a própria Pedagogia, tendo mostrado há muito a necessidade de se compreender o mundo daquele a ser alcançado, indica a necessidade de se abandonar o cunho instrutivo convencional e as sugestões de supremacia esclarecida e esclarecedora que parecem influenciar essa esfera da prática musical. A superação de um conceito de comunicação baseado no modêlo da transmissão leva aqui necessariamente a uma revisão de concepções e atitudes.



Anotações sumárias da sessão. Grupo Redatorial



  1. Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não inclui aparato científico. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição e o índice geral da revista (acesso acima). Pede-se ao leitor, sobretudo, que se oriente segundo os objetivos e a estrutura da Organização de Estudos de Processos Culturais em Relações Internacionais - Academia Brasil-Europa (A.B.E.) - e do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Língua Portuguesa (Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes, I.S.M.P.S. e.V.), visitando a página principal, de onde obterá uma visão geral e de onde poderá alcançar os demais ítens: http://www.brasil-europa.eu


  2. A A.B.E. é entidade exclusivamente de natureza científica, dedicada a estudos teóricos de processos interculturais e a estudos culturais nas relações internacionais. Não tem, expressamente, finalidades jornalísticas ou literárias. É, na sua orientação teórico-cultural, a primeira do gênero, pioneira no seu escopo, independente, não-governamental, sem elos políticos ou religiosos, não vinculada a nenhuma fundação de partido político europeu ou brasileiro e originada de iniciativa brasileira. A Organização de Estudos de Processos Culturais remonta a entidade fundada e registrada em 1968 (Nova Difusão). A A.B.E. insere-se em tradição derivada de academia fundada em Salzburg pelos seus mentores, em 1919, sobre a qual procura sempre refletir.