Doc. N° 2371
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
115 - 2008/5
EUA-Brasil
Ruggero Ricci 1968 na História Contemporânea das Relações Interculturais Questões de difusão cultural refletida
pelos 40 anos de fundação da Sociedade Nova Difusão entidade constituidora da Organização Brasil-Europa
Trabalhos da A.B.e. 2008
A.A.Bispo
No âmbito das discussões sobre a necessidade de renovação da vida cultural e musical tratou-se, em 1968, entre outros aspectos, da questão do fomento do estudo e da prática de instrumentos de corda no Brasil. A falta de instrumentistas era vista por muitos como uma das principais causas da deficiência então observada da prática de câmara e orquestral no Brasil. A formação nos conservatórios, quase que exclusivamente dirigida ao piano, havia criado uma situação marcada pela quase que ausência de uma ou várias gerações de instrumentistas de corda. A solução, por muitos preconizada e seguida por instituições e políticos, consistia na contratação de músicos estrangeiros para a constituição das orquestras. Partia-se da suposição que esses músicos, uma vez estabelecidos no país, espontâneamente formariam grupos de câmara e passariam a dar aulas, contribuindo assim à formação de novas gerações de instrumentistas brasileiros. Seria, assim, uma solução por assim dizer de emergência. Essa opinião era criticada pelos jovens que discutiam a questão da difusão cultural convencional. Procurava-se causas mais profundas para a elucidação da situação sentida como deficitária, considerando-se a unilateralidade do ensino dos conservatórios como apenas um aspecto da questão. Via-se em processos histórico-culturais os principais fatores da falta de instrumentistas de orquestra no país. Entre os principais motivos, apontava-se a propaganda dirigida por círculos eclesiásticos restauradores do século XIX e do XX contra as orquestras de igreja, o que levara, sobretudo nas cidades menores e em esferas socialmente menos privilegiadas das grandes cidades ao desprestígio, à falta de oportunidades de ação e à conseqüente perda de sentido de formação de novos músicos. Apontava-se o fato de que, após essa verdadeira deconstrução de estruturas por assim dizer históricas da vida musical, teriam sido sobretudo imigrantes e músicos europeus que residiam nas grandes cidades aqueles que fomentaram o estudo de instrumentos de orquestra. O que a política de difusão cultural então pretendia, com a contratação de músicos estrangeiros sob a égido de um desenvolvimentismo orquestral, daria continuidade, sob novas situações, a essa situação de vínculo da prática instrumental com a problemática da imigração. Inúmeras seriam as questões culturais que aqui se levantavam, e essas não diziam respeito naturalmente a questões xenofobia, mas sim da inserção da difusão musical em processo consciente de reflexão e participação cultural. A consideração histórica da ação músico-educativa de imigrantes no passado e aquela dos que imigravam no presente não poderia ser separada de contextos histórico-culturais em nome de concepções dirigidas somente a questões de domínio técnico. Apresentava-se como injusto o desprezo a que se relegavam músicos imigrados do passado, sobretudo italianos, que também atuavam no ensino, prestigiando-se instrumentistas recém-contratados em nome da qualidade de execução. A discussão a respeito da necessidade de considerar-se o ensino e da prática instrumental sob o aspecto cultural, em particular naquele da imigração, levava também a reflexões sobre os elos entre a difusão cultural em movimentos migratórios na história mais recente. A vinda de artistas estrangeiros que haviam vivenciado a emigração e a imigração, alcançando mesmo assim projeção internacional, independentemente dos problemas colocados pelo fato de se situarem entre culturas, oferecia impulsos para o aprofundamento contextualizado e personalizado das reflexões. Esse foi o caso de Ruggero Ricci, que se apresentou em São Paulo, a 26 de julho de 1968. Executou a Sinfonia Espanhola, em ré menor, para violino e orquesta de E. Lalo, com a Orquestra Sinfônica Municipal sob a regência de Armando Belardi. O programa incluiu também a Sinfonia N° 40, em sol menor, de W. A. Mozuart e a Dança Brasileira, de C. Guarnieri.
Ruggero Ricci
De origem familiar italiana, Ruggero Ricci nascido em San Francisco, em 1928, Ruggero Ricci surgia como o grande modêlo de artistas da imigração italiana às Américas. Tendo estudado com Louis Persinger ee Georg Kulenkampf, Paul Stassevitch e Michel Piastro, apresentou-se em público com apenas dez anos, executando o concerto para violino e orquestra de F. Mendelssohn-Bartholdy, além de obras de Vieuxtemps, Saint-Saens e Wieniawski, dando início a uma extraordinária carreira de jovem instrumentista e que o levou às principais salas de concerto dos EUA, da Inglaterra, da Áustria e da Alemanha. O seu renome, devido à sua virtuosidade e técnica, dele fêz um dos principais executantes de Paganini. Tomou parte como soldado americano da Força Aérea na Segunda Guerra Mundial. Após a Guerra, retomando as suas atividades, com amplas viagens de concerto em vários países do mundo, foi um dos grandes nomes que tiveram as suas produções divulgadas por gravações. Tornou-se, assim, um dos artistas que não podem deixar de ser considerados em estudos dedicados à Difusão Cultural. Além do mais, foi um dos músicos que mais contribuiu para uma reavaliação do século XIX no contexto de um ambiente musical que procurava dele afastar-se, um fenômeno relativamente pouco estudado histórico-culturalmente. Também muito contribuiu para a divulgação de obras de compositores contemporâneos, executando em primeira audição composições, entre outros, de Alberto Ginastera.
Grupo redatorial dir. A.A.Bispo
Nova Difusão. 40 anos de fundação: 1968-2008
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).