Doc. N° 2339
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
113 - 2008/3
Comunidades de língua alemã nos países do Cone Sul História intercultural sob a perspectiva integrativa: Início do século XX
A.A.Bispo
El Tigre. Principal local de passeios e esportes dos círculos estrangeiros de Buenos Aires. Fotos H. Hülskath. Trabalhos da A.B.E. 2008 Com os atuais impulsos integrativos impulsionados pelo Mercosul, cresce o interesse pela procura e valorização de traços comuns na história cultural. Sob esse aspecto, os estudos relativos à imigração assumem particular significado. Os contingentes de imigrantes europeus, a partir do século XIX, dirigiram-se não apenas para um país, mas para as colonias e centros urbanos de vários países do Cone Sul. Há aqui a possibilidade privilegiada de realização de estudos comparativos de processos de integração, de manutenção de identidades e de diferenciação, assim como de relações entre as diferentes comunidades. Com a renovação dos estudos culturais a partir de perspectivas teóricas mais recentes de complexos temáticos afins, por exemplo aquelas dos Estudos Coloniais e Pós-Coloniais, a consideração de processos abrangentes surge como exigência indispensável ao próprio desenvolvimento da pesquisa. Por essa razão, a A.B.E. tem fomentado debates e até mesmo trabalhos de mestrado e de doutoramento que se dedicam ao estudo de complexos migratórios em contextos amplos, relacionando por exemplo a história da emigração alemã ao Brasil com aquela relativa à Argentina, ao Chile, ao Paraguai, a outros países latinoamericanos, aos EUA e à África. Para a fundamentação desses estudos abrangentes tem-se como pressuposto a releitura de fontes históricas. Entre elas, salientam-se os relatos de viajantes do passado, até hoje considerados sobretudo como repositórios de dados a serem utilizados em trabalhos relativos a contextos nacionais ou bi-laterais. Entretanto, tendo muitos desses viajantes percorrido vários países latinoamericanos, as suas observações surgem como de particular relevância para intuitos de cunho mais abrangente, correspondente aos esforços integrativos do momento.
Situação das colonias alemãs há 100 anos
1) Ernst von Hesse-Wartegg Um exemplo das possibilidades que oferecem relatos de viagens para a reconstrução da história da imigração em perspectivas supra-nacionais é o relato de Ernst von Hesse-Wartegg sobre as suas viagens pelo Brasil e pelos países da região do La Plata efetuadas entre os anos de 1903 e 1913 (Ernst von Hesse-Wartegg, Zwischen Anden und Amazonas: Reisen in Brasilien, Argentinien, Paraguay und Uruguay, 3a. Auflage, Stuttgart/Berlin/Leipzig. Union Deutsche Verlagsgesellschaft 1915). O autor salienta, nas suas palavras introdutórias à primeira edição, o significado único que via na América do Sul para os alemães, uma vez que representava talvez o maior campo de trabalho do globo. Assim, o seu objetivo primordial ao escrever o livro foi o de apontar as ilimitadas possibilidades dessa parte do mundo. Já tendo viajado pelos países dos Andes, da Venezuela até o Chile, constatava que, sob o aspecto econômico, essas regiões não teriam o significado transcendende da esfera situada entre o Amazonas e a Patagônia. Em cada visita convencia-se cada vez mais de que aqui se processaria um desenvolvimento apenas comparável com o da América do Norte. A Alemanha teria, através da atividade de seus comerciantes, adquirido uma posição líder na economia, e os imigrados teriam contribuído de forma relevante para a colonização de grandes regiões, sobretudo no Sul do Brasil. Entretanto, não haveria se empenhado tanto na criação de meios de transporte e de indústrias, havendo sempre o perigo de ser suplantada por outros concorrentes, em particular pela Inglaterra, França e Bélgica, além dos EUA. Não se poderia esquecer que só o Brasil e a Argentina, juntos, constituiam um território maior do que a Europa de então. Dos trópicos equatoriais à ponta antártica do Novo Mundo, esses países compreenderiam todas as zonas, possuiriam meios ilimitados sob diversos aspectos e a maior rêde de caminhos fluviais do mundo.
Montevideo como cidade preferida de europeus
Das grandes cidades das duas Américas poucas agradaram tanto a viajantes europeus como Montevideo. E v. Hesse-Wartegg também salienta ser essa uma das poucas que ofereceria todas as possibilidades para uma existência confortável, envolvida em eterna primavera e apresentando vegetação de todas as zonas.
"Contando quase com meio milhão de habitantes, situa-se na grande via mundial de tráfego entre as duas cidades da América do Sul com milhões de habitantes, Rio de Janeiro e Buenos Aires. A primeira é muito mais grandiosa, monumental, pictórica, mas durante o calor tropical do verão insuportável para uma estadia mais longa; Buenos Aires oferece uma maior concentração de pessoas, de comércio, de agitação intranqüila, de vida elegante, de palácios mais ricos, mas o clima não é de forma alguma agradável; pesadamente quento e úmido, com chuvas constantes que transformam bairros em lagos e ruas em rios, ou sensivelmente frio, assoprada pelo cortante vento Pampero, que traz o pó dos pampas para a cidade. Montevideo é, em comparação, um Edem, procurado na época de verão pelos habitantes de ambas as metrópoles que ali gozam dos magníficos parques e casas de veraneio das redondezas ou da praia arenosa que contorna a cidade a Leste. Quadro dias de viagem marítima a separam da capital do Brasil, meio dia de viagem fluvial daquela da Argentina (...)" (op. cit., 295-296)
O Uruguai, segundo E. v. Hesse-Wartegg, possuia uma imagem um tanto negativa na Europa, sendo muitas vezes confundido com o Paraguai. Este seria um dos motivos de ser praticamente desconhecido. O tráfego mundial passaria pelo Uruguai quase sem tocá-lo, a não ser a sua capital. Isso seria uma pena, particularmente para os interesses alemães, pois o Uruguai seria, na verdade, muito mais importante do que a sua fama. "É um dos mais promissores países desse continente, e a natureza nele derramou a sua cornucópia da mais pródiga forma. Um considerável número de alemães alcançaram aqui o bem-estar, até mesmo riqueza, mas é sobretudo a Inglaterra que, aqui participante com um bilhão de marcos, tirou do Uruguai o maior proveito.(...)" (op. cit., 288)
Comparações de comunidades alemãs: São Paulo e Montevideo
Clube Alemão, Montevideo O relato de E. von Hesse-Wartegg adquire interesse histórico-cultural para os estudos da imigração sobretudo pelas observações que faz das comunidades alemãs nas diferentes cidades visitadas. Assim, compara o espírito de solidariedade que vivenciou nos meios de língua alemã de Montevideo com a falta de coesão que marcava a comunidade em São Paulo. Na época de sua visita, os alemães de Montevideo haviam há pouco construído uma nova e representativa sede para o seu clube na Calle Buenos Aires, uma das ruas nobres da cidade. O projeto havia sido realizado juntamente com austríacos e suíços. "Eles tinham co-atuado fortemente para o florescimento e a riqueza do país, algumas das primeiras indústrias, dos primeiros bancos, das primeiras casas de comércio, depois estaleiros e empreendimentos agrícolas estavam nas suas mãos. Viviam na mais perfeita harmonia com os orientais, eram bem vistos na sociedade e mantinham apesar de tudo o Deutschtum de forma rigidamente solidária. Nas minhas visitas no Uruguai sempre fui convidado a proferir algumas conferências, na antiga e na nova sede do clube, até mesmo na bela, grande igreja alemã, construída pelos alemães com os seus próprios meios. A escola alemã era uma das melhores do país e era também freqüentada por crianças dos orientais. Eu não conheço no mundo uma colonia que, embora tão pequena numericamente, haja feito tantos sacrifícios para a conservação do Deutschtum. Além do mais, falta aqui o espírito de formação de grupinhos que fendeu a colonia de São Paulo. Nas noites do clube tive a ocasião de conhecer o mundo feminino alemão e ver que as jovens talvez floresçam ainda mais belas e cheias de graça em La Plata do que na pátria. (pág. 300).
Os Alemães de Buenos Aires
Um longo capítulo da sua obra é dedicado aos Alemães de Buenos Aires. O autor inicia o texto salientando ser de conhecimento geral que os alemães em muitas cidades do mundo alcançavam êxito e renome, capitais e até mesmo grandes riquezas. Seria porém lamentável que alguns deles perdessm a sua identidade alemã e se deixassem assimilar pelas populações locais. Em Buenos Aires, porém, o caso seria diferente; grande parte dos alemães permaneceriam alemães até a segunda e terceira geração, orgulhosos de sua origem na "mãe Germania". "Predomina um traço entre êles, que se manifesta em toda a ocasião através da ação comunitária e do sacrifício comunitário. Seria uma interessante história aquela de como um punhado de alemães ali se teria assentado para subir, através do trabalho, aos cumes da sociedade da metrópole de Buenos Aires e tomar a si a maior parte do comércio exterior da república argentina, sem perder um jota da sua identidade alemã, até mesmo permanecendo fiel e dedicado à comunidade alemã. Essa história seria gratificante para todos que considerassem o estandarte alemão. é verdade que, na cidade internacional, com a mais colorida mixtura de povos do mundo, também outras coloniaas de estrangeiros se fizessem notar. Só os inglêses, porém, teriam também sabido impor-se, como os alemães, acima do geral. Se isso foi-lhes possível, foi devido menos ao trabalho e a persistência, como dos alemães, mas antes ao capital inglês que se encontrava por detrás. (...) Diferentemente acontecera com os alemães. Vieram apenas com o pouco que possuiam. Sem dúvida haveria também representantes de grandes firmas da pátria entre eles, mas a maioria teria subido através da diligência e da previsão com as próprias forças ao significado atual e estavam agora em primeiro lugar em influência e bem-estar. Não a pátria trabalhou para eles, como para os inglêses, mas eles é que trabalharam para a pátria, e se as relações comerciais do Império Alemão e a Argentina chegavam anualamente a meio milhão, isso seria devido em grande parte ao punhado de alemães no La Plata. Punhado? Na relação com as colonias de outras nação, mesmo se o seu número na realidade é muito maior do que o registrado na estatística argentina. Esta fala de 25.000, na verdade, Clube Alemão, Buenos Aires porém, estão apenas contados aqueles que chegaram como imigrantes e que foram mantidos nos primeiros dias às custas do govêrno. Os milhares de passageiros trazidos pelas grandes sociedades de vapores, o Lloyd norte-alemão, a linha Hamburg-America e a sociedade de vapores hamburguesa-sulamericana não estão incluidos, assim como também não os seus filhos nascidos na Argentina e que são considerados pela Constituição como nacionais." "O que me surpreendeu positivamente é o grande espírito de sacrifício dos alemães de Buenos Aires, que todos os anos precisam dispender muito para manter os empreendimentos alemães em Buenos Aires e aumentá-los. (...) Üara igreja, hospital, escolas, clubes e sociedades cada família precisa dispender várias centenas de marcos, e as somas que foram gastas voluntariamente pelos alemães para a instituição e manutenção dessas instituições de utilidade geral alcançam muitos milhões" Sem dúvida são auxiliados pelos austríacos, suíços, em parte também pelos holandeses e escandinavos. Deve-se salientar louvando que não há no La Plata problemas de nacionalidade. Assim também não há nas instituições de interesse público dos alemães separações rígidas de nacionalidade, membros de todas as nações foram admitidos, permanecendo porém o fundamento: "A língua alemão é a língua de uso". De fato, ela é um pouco condimentada de espanhol. Onde o alemão usa da língua espanhola diariamente na vida comercial e do quotidiano é compreensível que alguns fragmentos sejam trazidos para as poucas horas de lazer que vive no clube ou na sua família. (...) Graças a Deus, o alemão da imprensa e nas escolas permanecem livres dessas palavras estrangeiras. Em Buenos Aires, ao lado de meia dúzia de jornais em espanhol, são editados dois em inglês, dois italianos, um francês e dois diários alemães, e em interesse do Deutschum na Argentina não se pode mais do que desejar que cada alemão ou aparentado receba o seu diário alemão. Aos alemães do Império e aos austríacos encontra-se à disposição uma folha excelente, "De Deutsche La-Plata-Zeitung". (...) Cada povo atrai a imprensa que merece, e da qualidade dos jornais que as colonias alemãs do Exterior possuem pode-se tirar conseqüências a seu respeito. (...) O centro do Deutschtum verdadeiro, puro, no melhor sentido da palavra é o Deutscher Klub. Desde pouco tempo, esse Club aleman, ao mesmo tempo um dos centros da sociedade elegante de Buenos Aures, recebeu uma sede nobre no lugar da sociedade ginástica da Calle Cordoba (...). Nas salas mobiliadas com conforto do piso térreo encontram-se as salas de refeição, de jogo e de leitura bem freqüentadas pelos membros. (...) O primeiro andar da imponente construção que é coroada por uma torre é ocupada por salas de festa, entre elas uma sala magnífica, na qual tive a ocasião de proferir algumas conferências. (...) Um segundo Clube alemão, a sociedade de canto Germania, já se instalou há muitos anos em terreno valioso na Calle Alsina. Fora, no labirinto de rios e de ilhas do Tigre, na confluência do Rio Paraná e rio Uruguai, sem dúvida o mais bonito local de excursão nos arredores de Buenos Aires, levanta-se em meio de uma longa série de clubes, fundados por amantes de esportes aquáticos, o Clube Teutonia. (...) Naturalmente não falta aos alemães sociedades de ginástica, de canto, de música e de ciências; ao lado dessas há uma série de potentes associações beneficientes, um recolhimento de mulheres, um orfanato e umda casa de marinheiros excelentemente dirigida, a melhor de seu gênero na Argentina. O modêlo porém de uma instituição a serviço da humanidade é porém o hospital alemão, que já à sua inauguração no ano 1878 foi assim qualificado por médicos argentinos. (...)" (pág. 345-355)
Alemães e ciência na Argentina
Sob o ponto de vista da história cultural, o relato de Hesse-Wartegg assume particular significado pela atenção que dá à presença alemã na vida cultural argentina e, sobretudo, na área do ensino universitário e da pesquisa. "Que os alemães também estão em primeiro lugar com relação às ciências, isso foi reconhecido até mesmo por diferentes presidentes da República. Nas Universidade atua um considerável número de professores alemães, e a um deles, Dr. Hermann Burmeister, levantou-se um monumento no mais belo parque de Buenos Aires." (pág. 354)
Buenos Aires, Escola Alemã Situação das colonias alemãs há 100 anos
2) Willi Ule Um outro relato de viagens que oferece subsídios significativos para estudos da história das comunidades de língua alemã nos países do Cone Sul do início do século XX é o da expedição de Willi Ule (Quer durch Süd-Amerika von Professor Willi Ule, Hamburg: Uhlenhorst s/d) Esse relato documenta, entre outros aspectos, os elos entre as comunidades e até mesmo a realização de excursões escolares internacionais. Na sua viagem do Rio de Janeiro a Buenos Aires, esse autor conviveu com um grupo de professores e alunos do ginásio alemão de Buenos Aires. "Grande deve ser a admiração por tal empreendimento! Nós não podemos mostrar nada de similar. Excursões escolares que fossem por exemplo de Hamburgo à Espanha seriam impensáveis. (...) Tinha tido a incumbência de enviar saudações de uma família de Rostock a uma Sra. de nome Hickethier no Pampa. Quando conversava com um professor, chamou êle um dos rapazes que ali passava por esse nome, certamente não muito usual. Ele era o filho daquela a quem deveria dirigir a minha saudação. Eu pude mais tarde visitar os seus pais no Pampa". (pág. 252) Willi Ule salienta o papel desempenhado pelos alemães em Buenos Aires.
"Os alemães ocupam sem dúvida uma posição respeitável. No campo da técnica, o nosso nome tem sido especialmente elevado pela instalação da usina elétrica, supostamente a maior do mundo. Durante as solenidades do centenário, em 1910, realizou trabalho monumental. A cidade nadou por assim dizer num mar de luzes. Mas também sob outros aspectos o alemão é muito considerado. Nenhum argentino quer empregar um alemão como operário, pois êle é bom demais para isso. Na sua imagem, apenas alemães decaídos vão querer trabalhar como operários. Um desses operários terá dificuldades aqui de subir pelo trabalho, pois não encontrará ofertas. Também na vida espiritual os alemães são condutores. Há várias escolas alemães e, como já citei, um ginásio alemão. Também é do conhecimento geral que nas universidades e em outras entidades científicas atuam muitos intelectuais alemães, que participaram já de forma excepcional na pesquisa do país." (pág. 257) Particularmente significativas são as observações de Willi Ule relativas aos alemães no Chile. Trata-se de um primeiro documento relativo à importância do intercâmbio acadêmico entre nações do Cone Sul e a Alemanha.
"Na vida pessoal, encontrei-me em Santiago quase apenas com alemães. Tomei as minhas refeições das salas da sociedade alemã e encontrei ali sempre uma sociedade agradável; aliás, aqueles senhores sem cuidaram de mim com extrema delicadeza. Muito me diverti numa tarde de boliche na seda da sociedade de canto "Fröhlichkeit". Foi a melhor pista que já usei, forrada de mármore do início ao fim. (...) O tema das conversações foi freqüentemente o da posição do Deutschtum no Chile. Das muitas manifestações instigantes e informativas que me chegaram aos ouvidos gostaria apenas de reproduzir uma delas, por ser de importância geral. Aqueles senhores constantemente lamentaram o absoluto desconhecimento mesmo de círculos influentes da Alemanha sobre as reais circunstâncias no Chile e a falta de compreensão por tudo que represente um apoio à influência alemã. Na época que lá estava, constatava-se uma grande influência de norte-americanos. Quando um posto deveria ser ocupado por um estrangeiro, este o seria anteriormente apenas por um alemão, agora, preferir-se-ia um americano. Isso os norte-americanos teriam conseguido por terem enviado uma comissão científica para o estudo da situação chilena ao Chile e prometido aos estudantes um apoio especial e facilidades para eventuais estudos em universidades norte-americanas. Isto deu uma boa impressão ao govêrno chileno (...). Por essa razão, sempre acenturam que é de extrema necessidade que também a Alemanha empreenda passos semelhantes e que se envie pessoas adequadas, talvez economistas, para estudos no Chile e, reciprocamente, que convide chilenos para a Alemanha. (pág. 279-280) Também no interior do Chile manifestava-se na época a necessidade de uma intensificação do intercâmbio com a Alemanha. Em Chillan, o autor foi convidado a visitar o Clube da cidade. Esse clube era freqüentado por todos os círculos mais privilegiados da sociedade, não apenas por alemães. "Na casa do clube encontrei um grande número de alemães. Quando esses souberam dos objetivos da minha viagem, pediram-me que visitasse imediatamente a redação do jornal local, para que pudessem publicar um relato pormenorizado da minha viagem. Isso não era muito do meu gosto. Deixei de por obstáculos, porém, quando me contaram o seguinte. Pouco antes, um francês estivera em Chillan e utilizou-se da colonia francesa local para uma grande propaganda para a França. Insinuou-se aos chilenos que a França teria um grande interesse pelo Chile, de tal forma que êle viajava pelo país para conhecê-lo melhor. 'Se o Sr. agora não nos der a oportunidade de fazer o mesmo", disseram-me, 'isso trará prejuízos para nós, alemães, e para todo o Deutschtum no Chile', de forma muito maior do que pode imaginar.' Isso forçou-me a decisão. Felizmente não lí o artigo elogioso que saiu no jornal, senão ficaria vermelho. Mas tirei do episódio uma lição para o meu procedimento futuro. Que só o aparecimento de um viajante cientista alemão possa ser tão importante para os nossos conterrâneos, essa idéia nunca me viera à mente. Desejaria, porém, que o nosso govêrno alemão aprendesse desse fato. Receio, porém, que isso não será o caso. Justamente no Chile sempre me pediram que, no meu retorno, relatasse as minhas experiências no Serviço das Relaçnoes Exteriores e que transmitisse os desejos que ouvira dos alemães no Estrangeiro." (pág.284-286) (...)
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).