Doc. N° 2292
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
111 - 2008/1
Congraçamento intercultural na lúdica e seus sentidos Empinando papagaios na Índia e no Brasil
Shekhawati, Índia. Atividades da A.B.E. 2007
A.A.Bispo
Brasileiros e indianos empinando papagaios. Shekhawati, Índia. Jornadas de estudos da A.B.E., março de 2007 Foto H. Hülskath Um dos livros de grande sucesso na atualidade trouxe à atenção dos interessados em estudos culturais a brincadeira do "empinar papagaios" (pipas, arraias, bariletes, quadrados, pandorga cometa na Espanha, Drache na Alemanha, cerf volant na França).
Trata-se da obra The Kite Runner, de Khaled Hosseini (* 1965), publicada em inglês e traduzida em outras línguas (aqui considerada na tradução alemã de A. Naujokat e M. Windgassen But, Drachenläufer, Berlim: Berliner Taschenbuch Verlag 2007, ISBN 3-8270-0516-7).
Referindo-se ao Afganistão, o autor rememora felizes dias da infância, quando êle e seu amigo brincavam de empinar papagaios e realizavam competições. Na situação trágica do Afganistão da atualidade, a memória de uma brincadeira de um passado mais tranqüilo adquire particular expressividade. Ela insere-se num contexto amplo através do qual o leitor percebe que situações dramaticamente conflitantes da atualidade remontam a antigas raízes.
O leitor brasileiro encontra nessas referências similaridades com práticas de jovens de várias regiões do país. Surpreende-se até mesmo em constatar analogias quanto a pormenores de uma brincadeira em países tão distantes um do outro. Entre elas, cita-se a prática de guarnecer o cordel com materiais afiados para, com isso, tentar-se cortar a linha de um outro papagaio no decorrer de uma "guerra" aérea.
Tais ocorrências similares, já observadas há muito por estudiosos e registradas na literatura, não podem ser estudadas sem a suposição de processos de difusão e transmissão através de países e continentes.
Tem-se aqui um brinquedo que demonstra a necessidade de estudos históricos em contextos culturais abrangentes e, consequentemente, do enfoque histórico nos estudos comparativos e interculturais. Essa perspectiva histórica, durante algumas décadas não bem vista por representantes de algumas áreas da Etnologia - por lembrar fases passadas de comparativismo e/ou difusionismo pouco fundamentados -, manifesta-se hoje novamente como sendo imprescindível, desde que desenvolvida de forma teoricamente refletida.
Ao mesmo tempo, o observador acostumado com as convencionais distinções das disciplinas voltadas à cultura se conscientiza das dificuldades inerentes às divisões de estudos culturais segundo a posição do observador.
Os estudos do "empinar papagaios" faz parte da literatura dos estudos do Folclore no Brasil. A consideração de práticas populares e tradicionais de países orientais, tal como a do Afganistão ou outro, é inserida em geral no âmbito de área específica da Etnologia. No caso do "empinar papagaios", porém, não se trata de elemento por assim dizer estranho àquele da sociedade do observador, no caso brasileiro. Dever-se-ia voltar a falar de Folclore Internacional? Ou de Folclore Comparado? Nesse caso, porém, a lógica exigiria a superação de distinções disciplinares baseadas na posição ou identidade do observador, o que tem sido, até agora, a proposta mais plausível de justificação das correspondentes áreas de estudo. De nada adiantaria suprimir o termo Folclore e conceitos correspondentes (p. e. Volkskunde), subsumindo todas as expressões sob o conceito de Etnologia e termos correspondentes (p.e. Völkerkunde). O problema continuaria existente, assim como a necessidade de diferenciações.
Naturalmente, pode-se evitar categorizações do objeto de estudo e estabelecer outras prioridades de enfoque. A questão que permanece, porém, é a de que aqui não se tem apenas uma expressão cultural similar ou análoga, mas sim de igualdade: uma mesma brincadeira tradicional em complexos culturais diferentes e distantes entre si. O "empinar papagaios" pode, assim, suscitar a reflexão sobre questões teóricas e metodológicas que cada vez mais se impõem com a crescente aproximação e influenciação recíproca das culturas.
O "papagaio" nos estudos brasileiros
O brinquedo já foi considerado por vários folcloristas brasileiros e ocorrem na literatura, nas artes e na música, como o demonstra o "Papagaio do Moleque", de H. Villa-Lobos e a canção "O Papagaio" de M. Camargo Guarnieri. Esta última, composta nos anos 30 para o bailado "A Nau Catarineta", destinada aos parques infantís de São Paulo, inseriu-se em contexto educativo de cunho nacionalista (veja exemplo abaixo). Os estudiosos brasileiros oferecem dados relativos à prática em várias regiões do país e enquadram-na em amplo contexto histórico na tentativa de elucidar as suas origens e os caminhos de sua difusão. Sob esse aspecto, constata-se uma repetição de informações, de hipóteses e de tentativas explicativas, tornando evidente a necessidade de revisões e novas aproximações.
Texto já clássico utilizado por estudiosos e pedagogos quando procuram informações sobre o assunto é o verbete respectivo no Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo (aqui citado na sua 5a. ed., Belo Horizonte: Itatiaia 1984, 577). O autor considera referências em obras mais antigas, tais como aquelas de léxicos e de Raimundo de Morais relativas ao Amazonas (O Meu Dicionário de Cousas da Amazônia II, 83). Cita a prática das guerras e das lutas no ar, para o qual os papagaios são providos de lâminas, assim como o uso de transmitir recados ("passar telegrama"). O autor reconhece que a origem da brincadeira no Brasil teria vindo do Oriente, trazida pelos portugueses. Para êle, a trouxeram do Japão e da China, onde seria popular. Em remoto passado, os chineses teriam utilizado o papagaio para a transmissão de notícias. Câmara Cascudo menciona a freqüente referência a esse brinquedo na China em relatos de viajantes e na literatura. Nessa suposição de origens chinesas e de caminhos de difusão, Câmara Cascudo e outros estudiosos brasileiros aceitam a opinião encontrada na literatura européia relativa ao assunto.
Entretanto, observa-se uma diferença singular nas exposições de autores brasileiros. Câmara Cascudo acreditava que teria sido através dos portugueses que o papagaio chinês ou japonês ter-se-ia difundido não só pelo Brasil como também pela Europa. Essa opinião não pode ser hoje mais aceita, uma vez que o uso do papagaio - como instrumento de transmissão de notícias - já surge documentado na batalha de Hastings (1066) e, como brinquedo, já se encontrava difundido no Norte da Europa em fins da Idade Média. Há autores que assinalam que a grande difusão do papagaio na Europa Central teria ocorrido a partir dos Países Baixos. Uma pesquisa histórica mais pormenorizada poderá talvez trazer mais elucidações relativamente às diferentes - e talvez concomitantes - vias de transmissão do papagaio na Europa.
Edigar de Alencar, autor de estudo a respeito ("Papagaio-Pipa-Arraia", Revista Brasileira de Folclore XI/29 (Janeiro/abril 1971), 5-23), também parte de uma origem chinesa dessa brincadeira, a qual ter-se-ia dali difundido pela Europa. Salientando a sua popularidade em Portugal - cita um mural que documenta essa prática na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa -, assinala porém que o brinquedo já existia anteriorimente na Alemanha.
A prática do brinquedo no Norte e no Nordeste do Brasil foi considerada por vários folcloristas, salientando-se a sua ocorrência sobretudo nos mêses de junho, julho e agosto. Um desses estudos, de autoria de Maria das Graças Santana da Silva, foi publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. A autora oferece uma hipótese singular para a elucidação da brincadeira, vinculando-a com o papel: a arte de recortar papéis de seda teria vindo dos portugueses e hoje essa arte estaria ainda representada na confecção de papagaios.
"A população ainda sentindo na pele o gosto colorido das festas juninas, onde toneladas de papéis de seda são gastos na confecção de vários adornos". Assim, para a autora, o papagaio seria "um resquício de uma arte de recortar papéis, que pouco está sendo substituído por outros elementos (plásticos, panos etc.) como foram substituidos as rendas e bicos de papéis de seda que ornamentavam os nossos pratos de doces e as prateleiras de nossas cozinhas". (Maria das Graças Santana da Silva, "Pássaros de papel que voam no céu: Os papagaios de Belém", Folclore 161 (1985): Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Instituto de Pesquisas Sociais, Departamento de Antropologia, Centro de Estudos Folclóricos, 1985, 35-40)
Alceu Maynard de Araújo, que tratou do assunto em diferentes ocasiões, oferece também uma descrição de várias práticas ocorrentes no Estado de São Paulo (Folclore Nacional II: Danças, Recreação, Música, São Paulo: Melhoramentos 1967, 353-355). No seu texto, assim como também outros autores, considera a própria vivência, baseando-se na memória da infância.
A prática em grandes cidades também já foi alvo de estudos, por exemplo o de Pedrinho Gâmbaro relativo à cidade de São Paulo ("Os papagaios paulistanos: pequena contribuição para o folclore paulista". Paulínia: Publicações do Museu Histórico de Paulínia 30, 1986, 4 ss.). Também esse autor anota que "as brincadeiras têm seu tempo, como as estações do ano. O tradicional tempo de papagaios em São Paulo geralmente se inicia com as férias escolares em fins de dezembro e no mês de julho quando sopra um vento mais apropriado para a prática" (pág. 6).
Vários são os estudos relativos à prática no Sul do Brasil, entre eles de Hélo Moro Mariante (Pandorgueando, Porto Alegre: Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore 1977) e A. Seixas Neto ("Pandorgas em festival", Boletim da Comissão Catarinense de Folclore, Florianópolis 18/33, 1980,22-4).
Problema de contatos culturais na Antiguidade
Não se trata, porém, apenas de melhor examinar os caminhos de difusão de um elemento de suposta origem chinesa na Europa Central. Pode-se até mesmo partir da constatação de que antes dos contatos efetuados pelos portugueses no Oriente, o Ocidente já conhecia o papagaio tanto como meio de transmissão de notícias como no seu uso lúdico. As dificuldades maiores, porém, são aquelas que dizem respeito ao conhecimento do papagaio na Antigüidade. Repete-se sempre, na literatura específica, a sua atribuição a Arquitas de Tarento.
Ora, a legítima tendência dos estudiosos brasileiros em salientar o papel dos portugueses como mediadores culturais e essa menção de sua origem no mundo grego tem colocado problemas de coadunação de idéias e de formulação. Assim, Mário Souto Maior, da Fundação Joaquim Nabuco, Recife, em estudo dedicado ao tema "Brinquedos e jogos: Contribuição ao estudo da lúdica regional - depoimento" (Folclore, Guarujá/São Paulo 14, 1989, 12-15) afirma, surpreendentemente:
"Arquitas de Tarento, amigo de Platão, fazia papagaios conforme modelos trazidos do Japão e da China pela mobilidade dos portugueses" (pág. 14). Naturalmente, essa suposição de um papel de portugueses na antiga Grécia e suas colonias é totalmente a-histórica e impossível de ser aceita. Deixa claro, porém, a questão de um relacionamento entre as culturas orientais e ocidentais na Antigüidade.
A descrição do papagaio pelo pensador, militar e matemático Arquitas de Tarento na primeira metade do século IV a.C. dirige o pensamento às características matemáticas e mecânicas de construção. Não se pode esquecer, porém, que a ocupação com a matemática e a mecânica desse renomado pitagórico não pode ser separada do edifício integral de concepções cosmológicas da respectiva tradição do pensamento. A questão que se levanta, portanto, é a dos elos entre esse sistema integral de concepções do Pitagoreísmo e o Oriente. Os caminhos aqui a serem investigados são complexos, uma influência do pensamento chinês, porém, não tem sido considerada nos estudos pitagóricos, antes da tradição egípcia ou, sobretudo, do antigo mundo persa. É possível, também, que um elemento cultural desenvolvido no Ocidente, embora inserido em edifício conceitual influenciado por conceitos persas tivesse sido conduzido ou reconduzido à Pérsia e à Índia, por exemplo pelos exércitos de Alexandre Magno, tornando-se um elemento a mais do processo amplo de helenização do subcontinente índico. A partir daí poderia também ter-se aberto o caminho para a China, uma vez que a história cultural chinesa apresenta provas da assimilação de práticas culturais de regiões mais ocidentais. Contrário a essa suposição, porém, seria o fato de que o papagaio já era conhecido na China no século V a.C.
As tentativas de identificação de caminhos históricos desse elemento cultural levam, assim, a problemas similares àqueles de reconstruções históricas de pontos de contato e de origens de sistemas cosmológicos, caracterizados por singulares analogias na distinção e denominação de constelações, entre outros aspectos. Tudo indica, assim, que os estudos histórico-culturais reconstrutivos relativos ao papagaio necessitam ser desenvolvidos considerando a sua inserção em sistema complexo de ordenação simbólica.
Questões da hermenêutica do papagaio
No estudo desse sistema e dos mecanismos de sua interpretação adequada, a pesquisa empírica das práticas vinculadas com o papagaio parece oferecer alguns dados significativos. O fato de ter sido um instrumento utilizado para fins estratégicos de transmissão de notícias e também como brinquedo, poderia fazer supor que haja ocorrido também aqui um processo conhecido nos estudos histórico-culturais, ou seja a permanência através dos séculos no repertório infanto-juvenil e lúdico de elementos culturais anteriormente destinado a outras funções mais relevantes. Entretanto, pode-se também supor aqui uma concomitância do lúdico com o não-lúdico que exige um cuidado especial na aproximação interpretativa. Seria imaginável que o papagaio representasse uma imagem simbólica transformada em brinquedo através da vigência de mecanismos de natureza hermenêutica inerente ao próprio sistema de ordenação simbólica no seu todo. Como se conhece do edifício religioso do Ocidente cristão, poder-se-ia ter aqui uma figura que representasse uma instância, um poder ou forças de conotação negativa que teriam sido superadas por uma mudança de posição ou de atitude do próprio observador. Tratar-se-ia, assim de um símbolo cujas conotações negativas haveriam sido desativadas, até mesmo transformadas no antípodo, ou seja, adquirido conteúdos positivos.
A forma de dragão que se conhece dos papagaios chineses, a própria denominação de dragão em alguns idiomas, tais como o alemão, faz com que se pense num vínculo dos papagaios com esse símbolo de tanta importância no sistema das constelações e nas concepções cosmológicas. As considerações acimas conduzem o pensamento nessa direção, uma vez que também o dragão, símbolo inicialmente negativo, maléfico, apresenta no mundo chinês uma transformação de significados, tornando-se imagem central de festividades.
Na tradição do Ocidente, a grande constelação do Draco, no alto dos céus, separando a Ursa Menor da Ursa Maior, também é considerada sob um aspecto ambivalente. Segundo a mitologia grega, ter-se-ia aqui a separação de dois dragões, inicialmente unidos, um macho e um fêmea, tendo o macho sido elevado aos cumes do céu, o fêmea permanecido abaixo da Eclíptica e simbolizada pela Hydra. Ter-se-ia aqui não apenas a explicação do fato de ser o papagaio conotado masculinamente - como brinquedo de rapazes - nas tradições populares. Ter-se-ia também a elucidação da idéia de enroscamento e derrubada por corte de fios no "guerreio" desenvolvido de forma lúdica, assim como os elos ambivalentes com o ar e o elemento aquático, este testemunhado pelo uso de formas de peixes (p.e."arraia").
O sentido oculto porém dessas imagens seria muito mais profundo e é explicado por representações simbólico-cristãs, desenvolvidas sobretudo por jesuítas a partir de antigas tradições. Trata-se de imagens do mundo espiritual caído, da representação de um dominador maléfico do mundo destronado com a incarnação da Sabedoria no mundo do Homem Velho. Assim, na representação cristã do céu estrelado, o Dragão é substituído pelos Santos Inocentes que, tais como esvoaçantes anjos, se encontram no alto dos céus. Esse conjunto de representações celestiais, tratado em diversas ocasiões em eventos da A.B.E., diz respeito a uma Antropologia Simbólica de fundamental relevância para a compreensão do patrimônio lúdico. Por essa razão, foi tematizada e discutida em colóquio internacional especialmente realizado para esse fim no contexto das relações Oriente/Ocidente (Joanopolis e Ubatuba, 1997).
Esse vínculo de senso oculto com o mundo angelical ou intelectual, permite que se elucide o vínculo do Dragão com a fala, a comunicação, a transmissão de notícias e informações,ou seja, com a mediação. Explica-se, assim, o seu uso como transmissor de notícias. Talvez resida aqui a própria explicação do uso do termo papagaio para a designação do brinquedo no Brasil. Já na Antiguidade, no Norte da África, como documentado por Hipólito de Roma, o papagaio surgia metaforicamente como ser falador que transmitia notícias e informações confusas ou carregadas de êrros, sendo até mesmo visto como imagem pejorativa de pregadores de cunho gnosticista que divulgavam doutrinas condenadas pela ortodoxia.
O papagaio e o "empinar papagaio", assim, apesar de toda a sua aparente irrelevância como objeto de estudos, pode representar um ponto de partida para reflexões e análises que levam a questões fundamentais no sistema de concepções e na organização simbólica da cultura. Pela sua ocorrência em diversos complexos culturais, permite além do mais tentativas de superação de limitações eurocêntricas na consideração desse sistema simbólico e de seus mecanismos intrínsecos. Aqui se levantam questões ainda mais complexas, uma vez que esse sistema, nas suas características tipológicas, tem sido considerado como próprio do Cristianismo. A argumentação acima esboçada leva à suposição de que esse sistema seria muito mais abrangente e remoto, situando-se também à base de outros edifícios conceituais e religiosos.
O papagaio no Norte da Índia. Congraçamento indo-euro-brasileiro
Um dos fatos considerados pelos estudiosos brasileiros é o da existência de organizações que se dedicam ao fomento da tradição desse brinquedo. Assim, Mário Souto Mayor, no seu estudo acima citado, cita uma "Associação de Empinadores de Papagaios" presidida por Will Yolen, nos Estados Unidos, um campeão mundial em empinar papagaios e que disputou o título com o marajá de Bharatpur (op.cit. 14). De fato, o Norte da Índia, é conhecido pela popularidade de suas festas de papagaios.
Uma possibilidade de comparação de práticas brasileiras com as da Índia ofereceu-se em Shekhavati (a respeito dessa cidade vejam-se outros artigos nesta edição). Ali, celebra-se a festa de papagaios no mês de dezembro, mais exatamente nos dias 21 e 22. Rapazes empinam os papagaios dos telhados das casas que, por serem planos, permitem que se desloquem de um para o outro, pulando por sobre corredores e escadas. Dessa forma, ocorre também na Índia fato constatado por estudiosos no Brasil, ou seja o de que o empinar papagaios é singularmente um brinquedo de rapazes e de regiões urbanas. Embora no campo fosse muito mais fácil tal prática pela ausência de fios elétricos, o brinquedo é praticado sobretudo nas cidades.
Como no Brasil, também na Índia se observa a competição, o "guerreio" de papagaios, para os quais se colocam objetos cortantes nos fios. Muitas outras similaridades podem ser constatadas. Especial menção deve ser feita aos carretéis de linha, profusamente ornamentados, o que dá às aldeias, juntamente com os papagaios, a visão multicolor tão decantada pelos estudiosos do Brasil, em particular do Nordeste. O que naturalmente não foi possível constatar foi a cor verde e amarela na confecção do brinquedo, fato de tanto significado para estudiosos e compositores que decantaram a brasilidade do papagaio.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).