Doc. N° 2263
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
110 - 2007/6
Tópicos multilaterais Hungria-Alemanha-Brasil
Ideologia de identidades e política cultural de estrangeiros em diversos contextos Estudos comparativos: concepções oficiais alemãs relativas ao Deutschtum no estrangeiro na década de 30
Trabalhos da A.B.E. preparatórios e paralelos ao Seminário Pesquisa da Cultura e Política, novembro-dezembo 2007
A.A.Bispo
Informação ao ar livre de colonos alemães na Argentina a respeito do significado econômico-político da anexação da Áustria No âmbito dos estudos culturais relacionados com a imigração e transformação de identidades devem ser estabelecidas necessárias diferenciações quanto às várias esferas de imigrados, residentes temporários e estrangeiros. Os estrangeiros, sem a nacionalidade dos países em que viviam, subordinados à política exterior de suas pátrias, permaneceram mais dependentes de influências conceituais e político-culturais de representações diplomáticas e de organizações externas. O estudo dos conceitos da política externa das diversas nações representa assim uma exigência para a pesquisa histórico-cultural. Estas questões assumem maior relevância com relação aos estudos histórico-culturais dedicados a grupos provenientes de nações consideradas inimigas na Segunda Grande Guerra. O estudo histórico-cultural de associações alemãs e italianas no Brasil não podem ser desenvolvidos adequadamente sem a consideração de conceitos de identidades definidos pelos respectivos países. Assim como válido para a italianidade, também o Deutschtum, nas suas conseqüências para a vida cultural e artística do Brasil das décadas de 30 e 40 exige a consideração da ideologia e das diretrizes estabelecidas pelos regimes da Itália e da Alemanha.
(...)
E. W. Bohle pronunciou, em 24 de janeiro de 1938, em Budapest, no âmbito de uma viagem realizada a convite da "Sociedade Húngara de Política Externa", um discurso que definiu o papel do alemão no estrangeiro. Este representaria um elo entre o império e os demais povos da terra. O interesse da Alemanha no Deutuschum húngaro não seria político, mas simplesmente cultural. A Alemanha teria, a partir do natural sentimento da união cultural e étnica bem aceito a declaração do Minitro do Interior da Hungria em julho de 1936. Esse discurso foi publicado pelo União das Associações Alemães no Exterior, em Berlim, em 1938 (Wir Deutsche in der Welt. Hg. von dem Verband Deutscher Vereine im Ausland. e.V. Berlin, 1938)
E. W. Bohle, a partir de 30 de janeiro de 1937 Secretário de Estado e chefe da Organização para o Exterior no Serviço das Relações Exteriores da Alemanha, também chefe da Organização para o Exterior do Partido Nacional-Socialista Alemão, era "Gauleiter", ou seja, potenciário do "Führer" para os "Reichsdeutsche" no Exterior. Como salientado pelo Ministro do Exterior, Freiherr von Neurath, em Stuttgart, na V° "Reichstagung der Auslandsdeutsche" de 1936, os princípios pelos quais se orientavam as atenções para com os Auslandsdeutsche eram estabelecidos pela política interna e se movimentariam nos limites estabelecidos pelo Ministério do Exterior. Essas diretrizes deveriam ser respeitadas pelas organizações alemães nos diferentes países.
E. W. Bohle salientou que organização para o Exterior do partido nacionalsocialista alemão representaria o conjunto de todos os cidadões do Reich no Exterior que fossem membros do Partido. Como esse Partido era o único detentor do direito de orientar o povo na sua visão do mundo e da política, a organização para o Exterior seria logicamente a líder de todos os Reichdeutsche no Exterior. O Partido teria conquistado o povo alemão na sua visão do mundo e da política, sendo o único portador da vontade política da nação. A lei sobre a unidade de Partido e Estado de dezembro de 1933 era a expressão desse fato.
Segundo Bohle, para o Reich já não haveria em geral o conceito de "Exterior". Partia-se, antes da existência de três categorias de estrangeiros.
Haveria um Estrangeiro que se comportaria com acentuada antipatia com relação ao Reich, ou seja, haveria países onde o alemão não seria bem recebido. Nas outras partes do Exterior, as relações tanto na política como no povo seriam normais, sem cunhos especialmente positivos ou negativos. Nesses países, o alemão se sentiria como qualquer cidadão de outro país fora de sua terra. Por outro lado, haveria para os nacionalsocialistas países com os quais o Reich se sentiria particularmente unido, seja pela tradição de antigos vínculos, seja por acontecimentos especiais na história mais recente. O alemão sentiria essa relação mais estreita mesmo que não fosse explícita.
Esse seria o sentimento do alemão que viesse à Hungria. No país da coroa de Santo Estevão, haveria no povo e na liderança de Estado uma simpatia para com os alemães. A visita do Ministro-Presidente (von Daranyi) e do Ministro do Exterior (von Kany) à Alemanha teriam testemunhado e solidificado essa amizade de antiga tradições.
Conceitos de Deutschtum. Auslandsdeutsche, Volksdeutsche
Quais seriam os conceitos que seriam imprecindíveis para os alemãs no Exterior? Conceitos claros nessa área impediriam mal-entendimentos, sobretudo de natureza político-externa. No passado, não teria havido essa clareza, porque qualquer um poderia estabelecer definições e conceituações. Sob as novas circunstâncias políticas, haveria a necessidade de novos conceitos e a sua integração no vocabulário de uso corrente.
Sob Deutschtum no Exterior seriam subentendidos tanto Auslandsdeutsche como Volksdeutsche. Entre ambos precisar-se-ia distinguir muito claramente. Auslandsdeutscher era o Reichsdeutscher no Exterior; o Volksdeutscher era aquele de raízes alemãs na língua e na cultura mas de outra nacionalidade.
Assim como salientado em discurso que E. W. Bohle pronunciou no outono de 1937 na colonia alemã em Londres, a organização para o Exterior do Partido não via como sua tarefa a organização dos Volksdeutsche. Todas as afirmações em contrário viriam da imprensa inimiga e seriam inventadas com o sentido de trazer dificuldades políticas. Seria um princíupio fundamental da organizaçãonão se imiscuir em assuntos internos de estados estrangeiros. Pelo contrário, o Reich e o Partido esperavam dos Reichsdeutsche no Exterior que fossem hóspedes leais e modelares dos países em que se encontrassem. Na sua aparência, na sua posição e no respeito às leis deveriam vir a ser os estrangeiros preferidos nos diversos países.
Os alemães, conhecidos como os melhores organizadores do mundo, organizariam os cidadões do Reich no Exterior de modo que se tornassem uma garantia para os govêrnos. A disciplina alemã, que deveria imperar nos "focos de apoio", nos grupos locais e regionais seriam prova de que as ordens estavam sendo seguidas à risca. Um membro de partido no Exterior que se ocupasse com assuntos que fossem exclusivamente da alçada do país que o hospedava seria condenado pelo partido e pelo Reich. A Alemanha Nova não toleraria que os seus membros no Exterior perturbassem as relações do Reich com o estado estrangeiro. Essas diretrizes já tinham sido lançadas em 1931 e estariam impressas nos documentos de todo o membro de partido e valeria, pela unidade de Partido e Estado, para todos os Reichsdeutsche no Estrangeiro.
Bohle salientou que, por definição, o Nacionalsocialismo seria a visão do mundo e a convicção política de todos os Reichsdeutsche. O Reichsdeutscher que afirmasse não ser nacionalsocialista ou não querer sê-lo, encontrar-se-ia em oposição à sua nação. Ele já não seria um membro da comunidade do povo alemão, mesmo que ainda o fosse nos seus documentos. Seria um traidor. Esta seria a concepção válida e vigente e não estaria em discussão; tratava-se de um assunto interno da Alemanha. Como conseqüencia lógica dessa concepção, o Partido e o Reich teriam o direito de fortmar os cidadãos no Exterior na concepção do mundo do Nacionalsocialismo. As "Grandes Jornadas dos Alemães do Estrangeiro" realizadas anualmente pela organização desde 1933, demonstraram que a grande maioria do Auslandsdeutschtum seria nacionalsocialista e fiel à Nova Alemanha.
Sociedades alemãs no Exterior
Quanto alguns membros do partido no Exterior se associassem, essas sociedades formavam um ponto de apoio do Partido. Se os membros fossem em maior númeiro, formavam um grupo local. Havendo vários focos e grupos locais, constituir-se-ia um círculo regional. Se esse fosse maior, tornar-se-ia um grupo regional. Seria falso dizer que os pontos de apoio do Partido representassem uma organização secreta militar ou de espionagem. Espiões e agentes não seriam públicos, e essa estrutura organizacional seria clara e explícita, havendo literatura a respeito. Esses grupos não seriam representações diplomáticas ou consulares.
O chefe do grupo regional ou do círculo regional seria o porta-voz dos Reichsdeutsche no respectivo país. Ele teria o cuidado pela orientação nacionalsocialista dos membros. Em trabalho conjunto com os consulados cuidariam daqueles que caíssem em necessidade. A Winterhilfswerk, obra social da Nova Alemanha, também seria mantida pelo Partido no Estrangeiro. Seria um testemunho que a "comunidade do povo" também estaria ativa no Auslandsdeutschtum.
Em conjunto com as representações diplomáticas oficiais, o Partico organizaria as grandes festividades nacionais, às quais seriam enviados conferencistas de renome do Reich para informar a respeito do Führer e da Alemanha. Os grupos no Exterior seriam - exatamente como na Alemanha - a expressão organizativa do novo pensamento da "comunidade do povo" e que formaria o fundamento da vida comunitária.
Todo o Reichsdeutscher no Exterior que fosse um fiel seguidor do seu Führer teria o desejo de configurar a sua vida nacionalsocialisticamente. Esses alemães teriam as mesmas tarefas dos residentes no próprio país natal. Esse fato valeria para todas as pessoas no Exterior que quisessem permanecer fiéis na sua essência, na sua cultura e na sua língua.Seria óbvia a exigência de que os Reichsbürger no Exterior pudessem configurar a sua vida nas colonias alemãs de acordo com princípios nacionalsocialistas.
Isso valeria também para outros estados. Seria evidente que o govêrno fascista na Itália, querendo propagar a forma de vida nova entre os italianos no Exterior, tivesse fundado a Oganização Italiana para o Exterior logo após a Marcha a Roma. Achava-se que seria melhor informar diretamente os italianos no Exterior a respeito do Fascismo do que deixá-los ser informados por outros canais. Também na Polonia reinaria a opinião de que o Estado polonês teria o direito de cuidar dos poloneses no Exterior. A "união mundial dos poloneses no Exterior" seria uma organização bem vasta e estruturada. Também a França possuiria a Aliança Francesa para a propagação de sua cultura e para o cultivo das relações com os franceses no Exterior. A Union des Français de l'étranger, cuja assembléia se realizara em outubro de 1937, teria demonstrado essa política de forma expressiva, contando com a presença do presidente. Na Suécia, existia já há 30 anos uma Associação do Reino para a conservação da identidade sueca no Exterior, e essa teria sido completada pela instituição de um órgão central na década de 30. O Secretariado para os Suíços no Exterior, em Berna, seria outro exemplo, e o presidente da federação helvética pertenceria à Comissão patrocinadora, tendo proferido um discurso na última "Jornada dos suíços do Exterior". Também o govêrno inglês tomaria a si questões de súditos britânicos no Exterior.
(As discussões tiveram e terão prosseguimento.)
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).