Doc. N° 2242
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
109 - 2007/5
Alemanha-Brasil Circuito de estudos euro-brasileiro da Baviera
Ideais paneuropeus sob a perspectiva dos estudos político-culturais em contextos euro-latinoamericanos
Tegernsee. Trabalhos da A.B.E. 2007. Preparatórias do Seminário "Pesquisa da Cultura Política e Análise Cultural"
A.A.Bispo
Tegernsee. Visita de membros da A.B.E. 2007. Fotos A.A.Bispo Por repetidas vezes realizaram-se, nas últimas décadas, visitas de membros da A.B.E. à cidade de Tegernsee, na Baviera, tendo ali nascido impulsos para empreendimentos que envolveram o Brasil.
Em setembro de 2007, a cidade foi mais uma vez visitada para um encontro destinado a retomar elos e avaliar trabalhos já realizados, em especial aqueles efetuados no Brasil em 2002, por ocasião do término do triênio pelos 500 anos do Descobrimento.
Igreja de São Quirino do antigo mosteiro beneditino
Os referidos trabalhos realizados nas últimas décadas em Tegernsee inseriram-se em projetos relacionados com os beneditinos e seu papel na Europa e no Brasil através de elos com a Abadia de Maria Laach.
Um dos principais monumentos de Tegernsee é a igreja abacial de S. Quirino, hoje igreja paroquial. Esse mosteiro, cuja origem remonta ao século VIII, e que atingiu períodos de florescimento nos séculos XI e XV, foi reformado na segunda metade do século XVII (1684-89). É uma das principais obras arquitetônicas do Barroco na Baviera.
De alto valor artístico são sobretudo os trabalhos de estuque e as pinturas murais do seu interior, estas de autoria de Hans Georg Assam, pai de renomados artistas alemães. As capelas de S. Quirino e de S. Bento apresentam exuberante ornamentação rococó. Dentre os altares do interior da igreja, salienta-se o quadro do altar-mor, uma cena de crucificação (cópia de obra de K.Loth) e a escultura de Sta. Ágata.
Após a secularização, o edifício foi adquirido em 1817 pelo rei Max I. Joseph da Baviera e transformado em palácio por L. v. Klenze. Nesse ano, a fachada, foi modificada, que, com as suas duas torres, é a mais antiga do gênero na Baviera. O mosteiro beneditino representou o principal fator cultural de Tegernsee e razão de seu florescimento e significado. Como centro religioso e cultural, foi não apenas marco de primeira grandeza na história beneditina da Baviera mas sim de toda a Europa. Aqui desenvolveu-se uma das principais escolas de iluminuras e de caligrafia da Idade Média. Hoje, o edifício do antigo mosteiro continua a desempenhar importante papel cultural e educativo. De uma fundação a ser erigida espera-se a consolidação financeira para o ainda maior desenvolvimento de seus trabalhos.
Reflexões sobre o movimento paneuropeu e o Brasil
Um dos principais objetivos do encontro de Tegernsee foi o de uma troca de idéias com a Baronesa Marina von Baratta-Dragono a respeito dos trabalhos realizados desde o congresso efetuado no Brasil, em 2004, e os projetos em andamento.
Recordou-se a sua participação nas diversas sessões e as impressões que deixara e que trouxera do Brasil. Durante o encontro e as visitas realizadas em Bad Wiessee, Rotach-Eggern e no Westerhof, em Tegernsee, a Baronesa Baratta-Dragono mencionou a sua participação na comitiva que acompanhou o Dr. Otto von Habsburg a congresso paneuropeu em Skopje, na Macedônia.
Descrevendo o vivenciado e o observado, e salientando o papel desse movimento para os países do Leste, motivou a direção das atenções a essa temática, fazendo do encontro informal de Tegernsee um ponto de partida para futuras observações e reflexões.
Pelo escopo dos trabalhos da organização Brasil-Europa, torna-se uma exigência ocupar-se do ponto de vista teórico-cultural com a história e os objetivos desse movimento, uma vez que diz respeito à própria concepção da Europa e a de seus fundamentos culturais-religiosos. Os debates que vem sendo desenvolvidos na A.B.E. relativamente ao panamericanismo, ao interamericanismo, às modificações ocorridas nesses movimentos no decorrer do tempo e as diferenciações que se fazem necessárias a partir de novas concepções teórico-culturais do presente necessitam ser ampliados com a problemática teórica do paneuropeísmo.
União Paneuropa
A União Paneuropa se define como o mais antigo movimento de unificação européia. Fundado em 1922 pelo Conde Richard Coudenhove-Kalergi, considera-se como uma organização suprapartidária e tem representações em quase todos os países da Europa. Dela foram membros escritores, cientistas e políticos de renome. Com a perseguição nazista, o seu fundador e Otto von Habsburg, futuro presidente da organização, emigraram para os Estados Unidos. Após a Segunda Guerra Mundial, exerceu influência ativa no desenvolvimento do Conselho da Europa, da Comunidade e da União Européia. Em 1989, desempenhou papel significativo no processo de união das duas Alemanhas. O movimento defende uma Europa unida do ponto de vista político, econômico e militar como comunidade de direito, da paz, da liberdade e de valores cristãos. Esses objetivos foram formulados no "Programa de Bamberg", em 1996. Ela aspira a integração da Europa em todas as áreas da segurança interna e externa e a ampliação da União Européia no Leste para a estabilização do continente. Quanto aos problemas impostos pela Globalização, defende uma ação comum e autoconsciente da União Européia na política internacional.
Paneuropeísmo sob a perspectiva dos estudos culturais euro-brasileiros
Para uma organização de estudos científico-culturais como a A.B.E., a atenção se dirige exclusivamente às concepções, às argumentações e às implicações culturais do movimento paneuropeu no seu significado para os estudos euro-brasileiros Em primeiro lugar, cumprirá debater teoricamente, nas sessões do Seminário a se realizar, o ponto que é considerado básico do programa do movimento, ou seja, a definição da Europa como comunidade de valores cristãos. A União Paneuropa declara-se explicitamente cristã, considerando o Cristianismo como alma da Europa, defendendo sobretudo a concepção cristã do homem. Ela combate todas as tendências que possam prejudicar "a força espiritual e moral da Europa", entre elas, declaradamente, o Nihilismo, o Ateísmo e o "Consumismo a-moral". Assim, a União Paneuropa aspira a uma Europa cristã, um "continente da dignidade humana e do respeito perante Deus e de Sua Criação." No segundo ponto de seus fundamentos, a União Paneuropa se declara, entre outros, a favor do fortalecimento das comunidades naturais, em particular da familia, e também ao Princípio da Subsidiaridade, à responsabilidade pelo meio de vida das gerações futuras, em particular pela conservação da Criação, pelo direito dos povos e grupos populacionais de desenvolvimento político, econômico e cultural, pelo valor próprio de regiões desenvolvidas históricamente e pela economia de mercado. Ela combate as ideologias do Comunismo e do Nacionalismo, a soberania da tecnocracia e burocracia. Entre os aspectos do seu terceiro ponto, cumpre salientar que a Paneuropa almeja uma Europa de direito que, como força de liderança espiritual possa ser modêlo para os povos do mundo. Entre os aspectos do seu quarto ponto, cumpre mencionar que o movimento se declara a favor da diversidade das nações européias, culturas e tradições como expressões de um patrimônio europeu e da amizade com os seus parceiros atlânticos e com os seus vizinhos, em particular com a Rússia e com os estados não-europeus do Mediterrâneo, assim como com os povos do mundo. Ela se declara a favor de um "Patriotismo europeu que completa e coroa os patriotismos nacionais."
Necessidade de reflexões teórico-culturais
Já a menção sumária desses poucos pontos do programa da União Pauneropa mostra a fundamentação de natureza teórico-cultural do movimento. Independentemente de aspectos políticos, as reflexões devem ser dirigidas a essas bases explícitas de cunho cultural e religioso. Segundo a concepção da A.B.E., que vê a necessidade de uma consideração conjunta dos estudos culturais e da "science of science", as concepções culturais devem ser analisadas conjuntamente com os contextos de sua elaboração e sobretudo com as pré-condições do pensamento e da ação daqueles que as formularam e defendem. Esses estudos deverão ser desenvolvidos sempre à luz dos resultados dos debates relativos ao panamericanismo e ao interamericanismo no seu relacionamento com processos europeus.
Sobretudo tornar-se-á necessário uma renovada atenção a aspectos da Geopolítica, uma vez que o movimento Paneuropeu se dirige a fronteiras definidas geograficamente da Europa. É esse critério da Geopolítica ainda defensável do ponto de vista das ciências culturais? Não seria o caso de uma definição com base na Geografia Cultural, não necessáriamente coadunante com fronteiras continentais? O mundo virtual do presente não cria novos espaços que tornam obsoletos critérios geopolíticos tradicionais? E por fim: o colonialismo europeu não criou fatos na América Latina que fazem de muitos de seus países mais europeus do que aqueles que são considerados como partes da Europa segundo conceitos geopolíticos tradicionais? Uma organização que se baseia tanto em fundamentações espirituais e culturais não deveria muito mais considerar esses elos de Espírito e de Cultura do que fatores meramente exteriores de fronteiras geográficas como determinadores de um espaço denominado e identificado como Europa? Os trabalhos terão prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).