Doc. N° 2243
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
109 - 2007/5
Tópicos Multilaterais Alemanha-Brasil
"Dimensão sacramental da vida em universo que se desenvolve dinâmicamente" Multiculturalidade e política de ordens religiosas Relações de interdependência entre o mundo extra-europeu e a Europa
Schlehdorf. Atividades da A.B.E. 2007. Preparatórias do Seminário "Pesquisa da Cultura e Política"
A.A.Bispo
Schledorf. Atividades da A.B.E. 2007. (Fotos A.A.Bispo) No âmbito das preocupações politológicas no estudo da pesquisa cultural e da história das idéias tem-se dado insuficiente atenção à questão da política eclesiástica, em particular das ordens religiosas. Estudos dessa natureza, porém, possam num primeiro momento parecer inapropriados, surgem como de evidente significado em determinadas situações, por exemplo naquelas em que não há separação entre a Igreja e o Estado. Sobretudo para os países de formação cultural marcada pela missão, tal como é o caso do Brasil, a consideração da política das ordens religiosas surge como imperativo para os estudos político-culturais.
O complexo que se abre aos estudos e análises é múltiplo, tais como: política no encontro e na relação com outras religiões e culturas, política no tratamento com a autoridade secular na própria cultura, política com relação a comunidades cristãs de diferente denominação, política interna nas respectivas congregações e no seu relacionamento com outras comunidades religiosas.
Para o estudo de contextos interculturais e internacionais tem-se também um complexo de questões de relevância e que foi até hoje pouco considerado: o da reciprocidade, ou seja o da consideração da influência de países missionados na política interna das diferentes congregações. Tem-se aqui um campo produtivo para estudos da recepção de culturas extra-européias na própria cultura européia e da dinâmica de influências que então se desenvolve.
A fundamental relevância de acontecimentos e desenvolvimentos ocorridos na prática missionária fora da Europa para as ordens na Europa e para a própria definição da política missionária global foi até hoje tratada sobretudo com relação à Companhia de Jesus. A A.B.E. já dedicou vários estudos a esse fenômeno histórico-cultural, de tanta importância para o Brasil.
No âmbito dos preparativos para o seminário "Pesquisa Cultural e Política", a atenção foi dirigida a uma outra comunidade religiosa que demonstra, de forma bastante atual, o significado de desenvolvimentos extra-europeus para a política interna de instituições eclesiásticas: a das dominicanas missionárias de Schledorf, na Baviera.
Schledorf: Beneditinos e Cônegos de Santo Agostinho
A primeira referência documental de uma fundação conventual em Schledorf, com igreja dedicada a S. Dionísio, data do ano de 763. Em 769, ocorre a transferência do mosteiro beneditino de Scharnitz para Schledorf. Relíquias de S. Tertulino, trazidas de Roma pelo primeiro abade, tornam-se a partir daí no principal alvo do culto dúlico local.
A última notícia da existência do mosteiro é de 837. Em 1140, o bispo Otto I° de Freising, um tio do Imperador Barbarossa, entregou o edifício aos Cônegos de Santo Agostinho.
Em 1803, com a secularização, terminou a vida conventual. A igreja de S. Tertulino se transformou em paróquia.
Dominicanas missionárias de King Williams-Town
Em 1904, as dominicanas missionárias de King Williams-Town. pequena cidade na província do Cabo, África do Sul, adquiriram os edifícios conventuais para a formação de um convento irradiador de missionárias.
Essa congregação havia sido fundada por sete religiosas da comunidade das dominicanas de Augsburg, em 1877, e que organizaram, na África do Sul, primeiramente uma escola de economia doméstica.
Missionárias de Schlehdorf foram enviadas não só à África do Sul como também a Simbabwe, à Bolívia e ao Equador. Em 1960, o convento missionário de Schlehdorf foi elevado a Província. No presente, as religiosas convidam a jovens para atuarem como missionários por determinado tempo, com elas trabalhando solidariamente.
Questões de identidade
Em assembléia realizada em 1998, as religiosas definiram a sua identidade, designando-se como "comunidade multicultural e profética de dominicanas" conscientes da interligação da dimensão sacramental de toda a vida em um só universo que se desenvolve dinâmicamente. Os elos Alemanha - África do Sul - Alemanha levaram, assim, num ir e vir de influências e iniciativas, a uma congregação com consciência de sua multiculturalidade. Observando que a definição fala expressamente de comunidade multicultural, caberia a uma análise cultural examinar até que ponto essa multiculturalidade se manifesta em nível de conteúdo - se tal fato é possível ou não - , ou se se trata apenas de uma questão de participação de religiosas de várias nacionalidades num sistema que se mantém basicamente europeu, embora não mas restrito geograficamente ao continente.
A consideração de processos político-culturais referentes a ordens religiosas deverá ter prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).