Doc. N° 2245
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
109 - 2007/5
Alemanha-Brasil Circuito euro-brasileiro de estudos da Baviera
Estudos semiológicos: Problemas e perspectivas para aplicações e uso interdisciplinar de aportes teóricos na análise cultural
Münsterschwarzach. Trabalhos da A.B.E. 2007
A.A.Bispo
Abadia de Muensterschwarzach. Visita da A.B.E., 2007. Fotos H. Hülskath Para o encerramento do circuito euro-brasileiro de estudos da Baviera de 2007, realizou-se uma visita à Abadia Beneditina de Münsterscharzach, na Francônia de Baixo. Fechou-se também, com essa visita, um ciclo de reflexões temáticas que se iniciara nas ruínas do convento de Hirsau. Apesar do atual edifício ser de construção relativamente recente, a fundação do mosteiro é de longa data. Foi fundada pelo Conde Megingaud em Oberlaimbach (Megingaudshausen), no Steigerwald, na Francônia Central, em 816. Anteriormente, ao redor de 788, já havia um mosteiro feminino no local. O seu primeiro abade foi Bento de Aniane. Já nos anos seguintes, porém, a abadia foi mudada para a confluência do Schwarzach, de onde provém o seu nome. A igreja, fundada no século IX, foi dedicada a São Bento, São Martinho e São Dionísio. Essa primeira igreja ruiu no século X, sendo reedificada na forma de uma basílica românico-primitiva sob o Abade Egbert, em 1023. Na sua forma ampliada, em 1066, possuia 3 naves, uma grande cripta, e coro. Nela eram educados nobres da Francônia. Em 1136, o mosteiro uniu-se ao movimento reformador que partira de Hirsau. Passou à proteção pontifícia em 1252. Ameaçada de decadência interna, no século XV, foi reformado segundo preceitos de Fulda. Em 1466, passou à Reforma de Kastler e, em 1480, à de Bursfeld. Durante a Guerra dos Camponeses, em 1525, foi totalmente destruído, com todos os seus acervos e livros. Após trabalhos de reconstrução, sobretudo sob o abade J. Burkhard (1563-1598), o mosteiro foi mais uma vez destruído durante a guerra contra os suecos. Mais uma vez deu-se início ao trabalho de reconstrução. Edificou-se uma igreja barroca de grandes dimensões, com uma cúpula do renomado artista Balthasar Neumann, consagrada em 1743 , e mais uma vez foi esse trabalho destruído durante a secularização no início do século XIX. Atingida por um raio, a grande igreja barroca foi demolida em 1825.
Restauração. Congregação de Santa Otília
A reconstrução e a repopulação monacal no início do século XX deu-se a partir da Congregação Beneditina de Santa Otília. Com esse trabalho, o mosteiro tornou-se uma das grandes abadias da Ordem, ali se formando e atuando centenas de religiosos, vários sacerdotes e numerosos alunos. A igreja atual foi construída segundo planos do arquiteto Albert Boßlet e consagrada em 1938. É dedicada a Nossa Senhora da Conceição, a São Bento e aos mártires Felicitas, a seus sete filhos e a São Sebastião. Durante o período nazista, a Abadia foi suspensa (1941). A construção é significativa para estudos da arquitetura sacral na década de trinta do século XX. Trata-se de um grande edifício de 88 m de comprimento, 31 metros de largura e 26 metros de altura. Interiormente é dominada por uma representação de Cristo na cruz, uma obra do beneditino Ir. Maurus Kraus (+1941). Em medalhões, à esquerda e à direita, estão representados símbolos do Antigo e do Novo Testamento. Em reforma realizada em 1987, foram incluidos 12 castiçais no altar representando os 24 da Apocalípse que cantam ininterruptamente o louvor a Deus. No coro, os monges se reunem cinco vezes ao dia para o canto dos ofícios e a celebração da missa. Ao lado dos púlpitos, há representações dos quatro doutores da Igreja: Ambrósio (como criador de hinos), Jerônimo (como tradutor da bíblia), Agostinho (como teólogo do amor divino) e Gregório (como inspirado codificador do canto gregoriano). O órgão da Abadia é de construção da firma Klais, de Bonn. Os altares laterais são dedicados a santos de particular relevância para a história beneditina, entre êles também ao precursor, São João Batista, considerado como paradigma da vida monacal.
Relações com o Brasil
Particular atenção merece o relacionamento do Mosteiro de Münsterschwarzach com o mundo extra-europeu. Mais de uma centena de professos já atuaram em missões da África do Leste e do Sul, assim como na Coréia. No âmbito das relações sociais e religiosas com o Brasil, cumpre lembrar a iniciativa de Lajedão para um abrigo de crianças abandonadas e os vínculos com as beneditinas missionárias de Olinda (Academia Santa Gertrudes, Centro Social de Casa Caiada, Escola em Ibura) e outras comunidades (Palestina, Ceará). Com ajuda de ginásios alemães e idealistas, crianças e jovens brasileiros, sem meios financeiros, podem realizar estudos secundários e profissionalizantes. Uma viagem do P. Anselm Grüns pela Argentina e pelo Brasil despertou recentemente particular atenção em determinados círculos religiosos e culturais. Durante essa viagem, P. Grüns realizou várias conferências, deu entrevistas e participou em debates. Na Universidade São Judas, em São Paulo, assim como em Belo Horizonte, A. Grüns tratou do tema "Espiritualidade na nossa época". Na capela da Universidade São Judas, várias centenas de pessoas participaram de uma meditação dirigida pelo P. Grüns. Realizaram-se discussões com o bispo de Belo Horizonte, o P. Antonio Moser, com o sacerdote e promotor de direitos humanos Julio Lancelotti, com o filósofo Mário Sergio Cortella e com a monja budista Monk Coen. Em Aparecida do Norte, juntamente com o Bispo de Aparecida, A. Grüns celebrou uma missa com grande assistência de peregrinos.
Semiologia e problemas do emprêgo interdisciplinar de aportes teóricos
Do ponto de vista dos estudos culturais, Münsterschwarzach é conhecido no Brasil sobretudo pelos estudiosos do Canto Gregoriano. A partir do trabalho de divulgação dos estudos semiológicos por Eleanor Dewey, em São Paulo, os esforços de realização prática do Gregoriano a partir dos conhecimentos ganhos na pesquisa dos manuscritos veem sendo observados e considerados por coros no Brasil. Münsterschwarzach, como um dos principais centros do cultivo do Canto Gregoriano nessa orientação interpretativa, tem oferecido possibilidades para estudos, reflexões e orientações.
A prática de execução baseada em estudos semiológicos, porém, tem não apenas entusiastas e adeptos, mas sim também críticos. As discussões já superaram, nas últimas décadas, os limites de mero debate científico. Coloca-se, por exemplo, em questão não apenas a viabilidade de execução prática de pormenores analisados das antigas grafias, como também as conseqüências dessa focalização dos interesses para a espiritualidade de um canto que é entendido sobretudo como oração. O problema da cientificidade pode ser tratado aqui sob vários ângulos.
Na discussão teórico-cultural, porém, as questões assumem uma complexidade ainda maior. O termo semiologia é utilizado na interpretação gregoriana no sentido de um estudo científico dos sinais (neumas) que teriam a sua correspondência na realidade sonora. No seu uso teórico-cultural, porém, o sinal é compreendido antes como uma indicação para algo outro: ou seja, um sinal de trânsito indica, por exemplo, o caminho a ser tomado, e aquele que o vê segue o indicado e não imita a placa que contém o sinal. Com esse exemplo pode-se entender a crítica que diz que o termo semiologia é inconvenientemente empregado pelos gregorianistas; no máximo poder-se-ia falar de semiótica.
Na análise de sinais na cultura, procura-se, também, em geral, um sentido externo, transcendente ou metafísico existente por detrás da estrutura simbólico-cultural. Como se tem discutido em várias ocasiões, esse procedimento apenas pode ser justificado em situações culturais de evidente fundamentação ontológica e metafísica, tais como nas expressões religiosas. Em outras situações, a suposição de um sentido outro, transcendente ao próprio sinal tem sido criticada, utilizando-se aqui argumentos correspondentes do pensamento pós-estruturalista.
A suposição do caráter semiótico da cultura tem marcado também estudos político-culturais. Somente aos poucos é que a diferenciação reconhecida nos estudos culturais passará também a influenciar a análise interpretativa na área politológica.
Esse complexo de questões do uso do termo Semiologia nas várias áreas do conhecimento e a necessidade de sua elucidação mais diferenciada foram tratados a partir das impressões recebidas pela visita de Münsterschwarzach.
Os debates terão prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).