Doc. N° 2253
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
109 - 2007/5
Alemanha-Brasil Circuito euro-brasileiro de estudos da Baviera
Ilusão e realidade em interpretações politológicas de imagens e análise de ordenações simbólicas na cultura
Abadia de Ettal. Trabalhos da A.B.E. 2007 Preparatórias do Seminário Pesquisa da Cultura e Política
A.A.Bispo
Ettal. Trabalhos da A.B.E. 2007 Fotos de A. A. Bispo A Abadia Beneditina de Ettal é talvez a obra mais representativa do Barroco na arquitetura religiosa, não apenas da Alemanha.
Fundada em 1330 com prebendas do Imperador Luís IV, o Bávaro, foi a sua igreja consagrada em 1370. Esse soberano trouxe para a igreja do mosteiro uma imagem de Nossa Senhora da Itália, inserida artísticamente na "escola de Pisa".
Desde o início, o seu projeto baseou-se em concepções número-cosmológicas, fato testemunhado pela planta dodecagonal da nave da igreja.
Tendo passado por reformas e remodelações desde a segunda metade do século XV, obteve a sua forma definitiva, barroca, a partir de 1709, sob a influência de Enrico Zuccalli.
Após um incêndio em 1744, foi reconstruída em estilo Rococó por Joseph Schmuzer, sendo o templo coroado por uma magnífica cúpula de 25 metros de diâmetro, edificada por Johann Georg Üblhör e Franz Xaver Schmuzer.
A sua pintura foi realizada por Johann Jakob Zeller a partir de 1748, podendo ser considerada como a mais grandiosa e significativa obra do gênero. Com mais de 400 figuras em relações mútuas, num impressionante conjunto, é um testemunho de primeira grandeza da concepção barroca do mundo e do homem.
A igreja possui seis altares laterais, de Johann Baptist Straub, construídos entre 1757 e 1762. O coro, representativo do primeiro Classicismo, é enriquecido por uma pintura de Martin Knoller. Esse pintor foi também o autor do quadro da Ascenção de Nossa Senhora sobre o altar mór, contendo este a imagem considerada milagrosa de Nossa Senhora de Ettal.
No século XVIII, o Abade P. Seiz fundou uma Academia de Cavaleiros que se tornou em centro de formação de nobres, talvez o mais importante de toda a Europa. Já esse fato basta para salientar o significado de Ettal na história político-cultural, demonstrando as relações entre a tradição cultural local e a formação de elites.
Ettal foi secularizado em 1803. Somente em 1900 foi restaurado e, em 1907, a Abadia. Nesse ano, terminou-se e a construção da fachada com as duas torres.
Desde 1905, os Beneditinos dirigem em Ettal um Internato e um Ginásio, dando continuidade a uma tradição secular de ensino humanístico.
Transfiguração e história político-cultural
No âmbito do tema especialmente considerado no ciclo de preparatórias para o seminário dedicado às relações entre a história político-cultural e os estudos histórico-culturais, a visita de Ettal decorreu sobretudo à luz da discussão das relações entre Ilusão e Realidade.
Nos debates relativos ao papel da cultura em regimes autoritários do século XX, tem-se salientado a questionabilidade - e o perigo - da mistura da ilusão ou de mundos imaginários com a realidade. Tem-se até mesmo apontado o mal-entendido da concretização de símbolos e imagens, com a sua necessária redutibilidade, como uma das causas de desenvolvimentos lamentáveis e até mesmo de tremendos crimes cometidos contra a humanidade. (Veja o artigo, neste número, relativo a Nürnberg)
Essa aproximação teórica, embora esclarecedora, necessita maiores diferenciações. As relações entre ilusão e realidade não devem ser confundidas com relações entre dimensões imateriais e materiais em concepções do mundo de natureza metafísica ou de direcionamento ontológico.
O estudo do Barroco, em particular nas suas expressõs máximas, como em Ettal, manifestam de forma explícita uma concepção do mundo e do homem caracterizada pela interação do físico e do metafísico, pela espiritualização da matéria e materialização do espírito. Essa concepção do mundo, adquirindo uma eloqüência expressiva especial no Barroco, não é porém apenas uma concepção epocal. Ela corresponde aos fundamentos teológicos da cultura católica.
Sem a consideração das particularidades do sistema de sinais próprio da hermenêutica teológica, que conhece além de sinais, signos e símbolos também um sinal especial, que é o sacramento, não é possível analisar e compreender esse tipo de relacionamento entre o material e o espiritual.
Na expressão barroca, o elemento ilusionista é evidente: a escultura e a pintura criam a impressão da realidade de uma transfiguração do material no espiritual através de recursos teatrais. Este é o caso, por exemplo, quando uma figura pintada no teto da Igreja tem um de seus membros que se prolonga para fora do teto em relêvo. O problema para a pesquisa é, porém, diferenciar e analisar os elos entre um sistema de ordenação simbólica baseado na concepção da existência de uma esfera espiritual e de relações com o mundo perceptível transfigurativas e metamorfoseantes, e uma cultura de expressão artística que recorre a elementos ilusionistas. Haveria aqui, apesar de toda a magnificência, uma certa bagatelização de conceitos abstratos, aproximando de fato a esfera transcendente a uma esfera da ilusão? Ou tratar-se-ia antes de um desilusionamento da realidade existencial? Em todo o caso, se a mistura entre Ilusão e Realidade tem sido vista como própria e indício de sistemas de fundamentação totalitária e unitarista, essa constatação tem de ser comprovada através de estudos contextualizados e diferenciada sob perspectivas teóricas e filosóficas.
As discussões terão prosseguimento.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).