Doc. N° 2207
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
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Tópicos Multilaterais Alemanha-Brasil
Greifswald: O Brasil e o problema da imigração alemã em Ernst Moritz Arndt
Circuito de estudos euro-brasileiros de Mecklenburg e Pomerânia Ocidental. A.B.E.
A.A.Bispo
Nos estudos histórico-culturais da imigração alemã no Brasil, o levantamento e o exame de coleções de livros e outras publicações de acervos familiares e de associações assumem significado especial. Dessas fontes, pode-se tirar subsídios para o estudo da recepção literária e de idéias nas várias fases do processo integrativo e/ou diferenciador.
Muitos dos autores que se encontram, porém, são pouco conhecidos dos pesquisadores, mesmo daqueles com conhecimentos da cultura alemã. Um dos nomes não raramente encontrados é o de Ernst Moritz Arndt (1769-1860), autor de vasta obra muito difundida no passado. A divulgação dos pensamentos desse poeta e escritor de orientação tão decididamente política e patriótica surge como significativa para os estudos de identidade cultural nos círculos de imigrantes.
Ernst Moritz Arndt
E. M. Arndt, de origem camponesa, após estudar teologia em Greifswald e em Jena, e realizar longas viagens, dedicou-se à história e à filosofia, tornando-se Professor em Greifswald. Na sua obra "Espírito do Tempo" (1806-18), salientou o sentido de respeito pelos poderes da realidade em contraposição ao peso dado ao pensamento puro, tornando-se um defensor do direito dos povos e das nações com base na sua história.
Foi um grande propagador da idéia de união alemã e inimigo de Napoleão. Por esse motivo, em 1806, foi obrigado a fugir para a Suécia. Em 1809, volta a Berlim e, em 1810, a Greifswald. Como secretário do Freiherr vom Stein viaja a S. Petersburg, onde escreveu "O Catecismo para soldados teutos". De retorno à Alemanha, em 1813, passa a publicar escritos e cantos patrióticos. Em 1818, assumiu uma cátedra de História na Universidade de Bonn, da qual foi suspendido em 1820. Em 1848, foi membro da assembléia nacional.
Patriotismo alemão do século XIX e imigração
Na imigração, s leitores da obra de Arndt não poderiam deixar de manter vivo um conjunto de concepções no qual a imigração surgia sob uma perspectiva claramente negativa. O Brasil é mencionado expressamente numa de suas poesias, de título "Os guerreiros alemães emigrantes", de 1851.
Oh, minha Alemanha, quer o seu lamento tornar-se cada dia mais amplo? Os teus melhores filhos não encontram lugar em terras alemãs? (...)
Sofrimento, que nenhuma canção pode cantar! Infelicidade, que nenhuma palavra pode conceber! Assim, os seus combatentes, abandonados da luta, da felicidade e da terra, precisam ir à Utopia, ao Brasil (...)
O mein Deutschland, will dein Jammer Breiter, täglich breiter werden? Finden deine besten Söhne Keinen Platz auf deutscher Erden? Klingt der bittre Fluch des Flüchtlings Durch der Angeln Land und Hessen? Wird so deutsche Lieb' und Treue Deinen Tapfern zugemessen? Jammer, den kein Lied kann singen! Unheil, das kein Wort kann fassen! Also müssen deine Streiter,Kampfs- und glücks- und landsverlassen, Nach Utopien, nach Brasilien
(...)
Reflexões em Greifswald
Para melhor contextualizar culturalmente a obra de Arndt, a A.B.E. realizou uma viagem de estudos à cidade de Greifswald.
Poucas cidades européia podem ser comparadas à pequena cidade universitária de Greifswald pela marca que história da Reformação deixou na identidade local. Entretanto, a sua história remonta à missionação cisterciense do Norte europeu. Em 1199, monges dessa ordem fundaram o convento Eldena na boca do Ryck. A primeira referência ao nome da cidade - oppidum Gripheswald é de 1248.
Outro aspecto fundamental a ser considerado na história de Greifswald é o da sua função no âmbito da Hansa. Em 1299, foi uma das cidades fundadoras dessa organização.
Universidade de Greifswald e o passado sueco
A universidade local foi fundada em 1456 pelo o burgomestre Heinrich Rubenow. Depois da de Rostock, é a segunda mais antiga do Norte da Europa. Em 1534, implantou-se a Reformação protestante. A universidade foi reinaugurada em 1539 como escola superior evangélica.
Em 1631, Greifswald foi cercada e conquistada pelos suecos. Em 1648, no tratado de paz de Osnabrück, passou a pertencer à Suécia, juntamente com a Pomerânea Ocidental. Em 1678, Bogislav XIV conquistou a cidade. Além das destruições ocorridas nessa época, a cidade foi afligida por incêndios, em 1713 e em 1736. Em 1815 foi vendida como parte da Pomerânea Sueca à Prússia.
A ampliação do porto e o desenvolvimento do comércio e da construção de navios levou Greifswald a um novo florescimento, apoiado pela construção de oficinas de estrada de ferro.
Nos anos vinte do século XX, realizaram-se grandes planos para novas construções da universidade. Apenas alguns edifícios de clínicas foram construídos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade quase que não foi atingida pelas bombas, tornando-se abrigo para fugitivos. Em 1945, foi entregue aos soviéticos. A partir de 1967, tornou-se centro de indústrias pesadas e de eletrônica. Os planos de demolição de casas antigas para a construção de edifícios pré-fabricados segundo modelos socialistas levou a protestos da população, que fundaram, em 1989, uma iniciativa para a defesa da cidade velha. Em 1989, reconsagrou-se a catedral de S. Nicolau, agora restaurada.
Nos anos 90, com o fechamento de uma usina atômica e a redução industrial, todas as atenções se concentraram na universidade.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).