Doc. N° 2164
Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica © 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova série by ISMPS e.V. Todos os direitos reservados - ISSN 1866-203X - urn:nbn:de:0161-2008020501
106 - 2007/2
Wilhelm Bruch (1854-1927) Estudo de relações histórico-musicais em contextos internacionais materiais do projeto de pesquisa de Wilhelm e Hans Bruch de Isolda Bassi-Bruch, São Paulo
No dia 5 de novembro de 2007 completar-se-ão 80 anos do falecimento de Wilhelm Bruch (1854-1927), em Nuerenberg, Alemanha. Apesar de ser um músico e compositor pouco lembrado hoje, e sem ter estado no Brasil, o estudo de sua vida e obra assume interesse para a pesquisa cultural das relações euro-brasileiras. Ele permite esclarecer fatos relativos à tradição musical e de pensamento transplantada posteriormente ao Brasil por Hans Bruch, pianista e professor de notável influência na vida musical do país. Esse estudo é de significado também pelo seu cunho de reciprocidade nos estudos culturais euro-brasileiros: a partir do Brasil e dos estudos da imigração cultural reconstrói-se uma esfera do passado musical europeu, em particular alemão, trazendo luz a correntes e rêdes sociais de regiões e cidades. Representa, assim, uma contribuição ao desenvolvimento de uma história de música regional em contextos globais e de orientação histórico-cultural.
A memória de Wilhelm Bruch se manteve viva em Nueremberg por várias décadas. Por ocasião da passagem dos 25 anos da sua morte, em 1952, publicou-se o seguinte texto, de autor infelizmente desconhecido (provavelmente Constantin Brunck):
Quando assumiu a custas próprias a regência da Orquestra Filarmônica, em 1901, a sua grande obra histórico-musical e artística foi a de ter aumentado, com raro espírito de abnegação, de 40 a 60 o número de músicos, possibilitando assim a execução estilisticamente adequada da música moderna de então. Apenas com parcos subsídios municipais dava anualmente 30 concertos sinfônicos populares a apenas 30 centavos de entrada, nos quais executava regularmente todas as sinfonias de Beethoven e aberturas de concerto, as mais importantes obras de Mozart e dos românticos até Brahms, com especial preferência de Wagner e Listz, e pelo menos algumas obras de Bruckner a Richard Strauss. Esses concertos alcançaram em pouco tempo grande popularidade, uma vez que Bruch era um regente excepcional, lotando regularmente a nova Sala Hercules, com 2200 lugares. Paralelamente, realizava ainda 5 ou 6 concertos da Sociedade Filarmônica com solistas de renome ou regentes convidados e com primeiras audições de compositores contemporâneos. Os moradores de Nuerenberg mais velhos lembram-se com prazer dessa época brilhante da vida de concertos da cidade.
Como, porém, Bruch era mais um artista do que um homem de negócios, e como a orquestra precisava ser mantida também na época de verão, mesmo com menores entradas, teve gradualmente de investir os seus meios pessoais, que eram bastante grandes, caindo em dificuldades econômicas. Quando a Guerra Mundial dezimou a orquestra e a necessidade e as confusões políticas se fizeram sentir, Bruch, então com 64 anos e sem lastros, não pode mais efetivar a sua reconstrução. Após um pequeno intermezzo de lutas intrigantes de concorrência, a orquestra foi nacionalizada, colocando-se um regente mais jovem à sua frente. Bruch, porém, depois que a inflação roubara-lhe o último centavo, recebeu uma pequena pensão pelos serviços por êle prestados ao público, de modo que pelo menos pode passar o resto da sua vida livre de preocupações mais graves. Dos seus cinco filhos, três se tornaram músicos executantes; entre êles, o que alcançou maior renome foi o extraordinário pianista Hans Bruch, que hoje atua em Buenos Aires como professor. (Trad. do alemão)
Na fase inicial do trabalho, Isolda Bassi Bruch organizou o material que se encontra em seu poder sobre Wilhelm Bruch , seu sogro. Além de informações verbais de fontes familiares, algumas cartas, recortes e programas - que infelizmente não passam do ano de 1902, de nada mais dispõe. Espera, porém, conseguir mais material em breve. Também conta com a colaboração de membros da A.B.E. na Europa no levantamento de novos dados e no seu estudo contextualizado in loco.
Um primeiro levantamento das fontes existentes no Brasil sobre Wilhelm Bruch foi realizado em 2005 e apresentado em fins desse ano no Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos. No decorrer de 2006, realizou-se um levantamento das partituras levadas ao Brasil e um estudo do tipo de repertório cultivado por Wilhelm Bruch. Durante a estadia de Isolda Bassi-Bruch no centro europeu da A.B.E., nesse ano, em encontros realizados conjuntamente com participantes de seminários relativos a temas de imigração e estética intercultural do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia, discutiu-se novos aspectos do tema, o desenvolvimento de estudos e a situação dos conhecimentos relativos a Hans Bruch.
Em encontro da A.B.E. pela passagem de ano, no dia 31 de dezembro de 2006, em São Paulo, tratou-se das possibilidades práticas de maior desenvolvimento das pesquisas. Como resultado desse encontro, a A.B.E. decidiu motivar viagens de estudos e reflexões destinadas a aprofundar o debate intercultural a partir dos documentos existentes nas diferentes cidades européias citadas nas fontes. Este órgão oferecerá relatos dos trabalhos desenvolvidos nas várias localidades. O presente número inclui referências às visitas de estudos culturais realizadas às cidades holandesas de Dordrecht e Arnhem.
A.A.Bispo
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).